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"Jogo do Bicho": em poderoso disco de estreia, Balla e os Cristais dizem o que precisa ser ouvido

Em sua estreia, Balla e os Cristais fazem mais do que um disco. "Jogo do Bicho" evoca reflexões sociais para seus ouvintes.

Balla e os Cristais
Foto: Gabriela Perez

O mundo da música ainda é assombrado com a ideia recorrente da “morte do rock”, defendida por diversos profissionais do meio. Mas não é bem assim na prática. O gênero, tal como todos os outros, tem se reinventado. A música contemporânea tem se mostrado cada vez mais fluida e inclassificável (e isto é ótimo).

Temos um ótimo exemplo dessa fluidez no disco de estreia da banda carioca Balla e os Cristais. Intitulado Jogo do Bicho, traz rock no violão e vários elementos de inspiração na música tipicamente brasileira, além de uma agressividade lírica da qual facilmente poderia nascer uma poesia punk. Junto, tudo isso dá origem a um som original em uma mistura homogênea, onde não conseguimos distinguir se é rock com MPB ou MPB com rock.

Com mixagem de JR Tostoi e masterizado por Carlos Freitas, o álbum conta com cinco músicas autorais e duas covers sensacionais. No mais, a capa, ilustrada por Luitz Terra, também merece destaque. Feita no melhor estilo “Onde Está o Wally?”, ela sintetiza bem o caos social que dá contexto para as músicas.

Capa de "Jogo do Bicho" (Balla e os Cristais)
Foto: Luitz Terra

 

“O underground é quase um insulto comendo fruta com faca e colher”

Inquieta, a banda usou o disco de estreia para se mostrar engajada em importantes pautas sociais e políticas. Ninguém é poupado, nem mesmo a cena underground do Rio de Janeiro, como exemplifica a faixa “Andam Dizendo“, divulgada como single prévio.

Enquanto isso. “Matando Moinhos de Vento” reflete sobre todas as consequências da consagração do dinheiro como finalidade da vida humana. “É um desabafo acerca do mundo caótico e hipócrita que a gente cultiva”, conta Balla. A letra afirma que “a língua do diabo nunca foi nenhuma outra”.

Outra faixa que se dirige ao meio artístico é “Fala, Quer Invadir“. A música fala sobre esforço e mérito, fazendo referência a um jovem “playboy” que estraga uma partida de futebol entre amigos porque o time está perdendo. De acordo com Balla:

Esse moleque cresceu e tá pagando 100 mil pra bombar a música dele nas plataformas. Não faz um show, um corre, não carrega equipamento, não pega busão lotado e fica convencendo o mundo inteiro todo dia de que aquilo pode ser bom. Um belo dia, a gente vê que o playboy bateu um milhão de views. Não é por mérito, e essa é uma música de vingança, tipo ‘Bastardos Inglórios’.

Completando a seleção de autorais do disco, estão “Vocês São Todos Idiotas” e “Canta“, que, respectivamente, abrem e fecham o disco.

 

“Nunca se esqueça de quem você é”

As releituras apresentadas em Jogo do Bicho também são dignas de destaque. Primeiramente, as faixas foram muito bem escolhidas e complementam muito bem a narrativa da parte final do disco.

Primeiramente, temos a cover de “Comportamento Geral“, de Gonzaguinha. Uma música infelizmente atemporal, ela critica a submissão à qual o trabalhador brasileiro é submetido. Os graves vocais de Balla e o belo arranjo instrumental dão uma percepção mais proativa à canção.

A outra é uma releitura de “Zé do Caroço“, clássico de Leci Brandão que se baseia em uma história real. Além da crítica social, a canção tem um significado pessoal para vocalista. “Volto às lembranças da minha família, o que eu acho que sou de verdade, um misturado de tudo isso, e às vezes eu me esqueço, nessa roda viva do mundo. É uma mensagem pra mim mesmo”, conta Balla. O final da faixa é emendada em um apelo importante: “nunca se esqueça de quem você é”, destacando a importância das singularidades.

Ouça no player abaixo o disco completo e deixe sua opinião nos comentários!