Poucas coisas dizem mais sobre a música de uma determinada época do que os famigerados riffs.
Os fraseados que ditam o ritmo, tom, e muitas vezes até a melodia de canções que dominam as paradas ficam marcados por anos e anos e são eles que tornam aquelas músicas instantaneamente reconhecíveis, mesmo se ela não tiver um refrão tão grudento.
Vale lembrar, aliás, que pela definição do New Harvard Dictionary of Music um riff é uma “progressão de acordes ou refrão repetida na música”, de forma que pode ser “um padrão, ou melodia […] que forma a base ou acompanhamento da composição musical”.
É claro, portanto, que o próprio conceito em si foi variando muito ao longo dos anos e lá nos primórdios era muito mais difícil que tivemos os riffs como os conhecemos hoje, bem definidos e geralmente mais escancarados ao ouvinte geral.
É esse o objetivo dessa próxima série de listas que montaremos aqui no TMDQA!: promover um passeio pela história da música por meio dos riffs, celebrando desde os anos 1950 onde eles eram pouco comuns até os anos 2010, e sem se limitar a um único estilo ou instrumento.
Até o momento, fizemos listas com 20 riffs em cada. Isso porque nas décadas de 50, 60 e 70 o recurso ainda não era tão amplamente utilizado quanto hoje e acabava mais restrito à guitarra, quando aparecia. Com o tempo, principalmente desde 1980, outros instrumentos também foram passando a ter riffs famosos e portanto daqui pra frente nossas listas terão 25 canções!
Hoje, vamos justamente mostrar como isso aconteceu através da evolução dos riffs nos anos 80. Confira a nossa seleção logo abaixo (em ordem cronológica)!
Rush – “The Spirit of Radio” (1980)
O Rush tem um catálogo absurdo de riffs para escolhermos graças ao muitas vezes subestimado Alex Lifeson, mas por mais que “Tom Sawyer” e “Limelight” sejam verdadeiros ícones, o tema de “The Spirit of Radio” é simplesmente um absurdo por aliar técnica, musicalidade e criatividade de uma forma totalmente pioneira. Vale ressaltar que a música foi lançada promocionalmente em Dezembro de 1979, mas só chegou ao público em geral em 1980. Tá valendo!
AC/DC – “Back in Black” (1980)
O falecimento de Bon Scott fez com que o AC/DC precisasse se reinventar, e com o passar do tempo vimos que Brian Johnson não deixa a desejar. Mas é claro que um elemento mantém a banda coesa entre suas duas fases: as incríveis guitarras dos irmãos Angus e Malcolm Young, que ecoam com perfeição no inesquecível riff de “Back in Black”, um tributo ao próprio Scott.
Joy Division – “Love Will Tear Us Apart” (1980)
Quando se fala em riffs e baixistas, Peter Hook é (ou deveria ser) um dos primeiros nomes a surgir. A linha de “Love Will Tear Us Apart” é o grande exemplo disso, sendo quase um clímax em meio a todas as excelentes frases que compunham as músicas do Joy Division e abrindo caminho para o excelente trabalho do cara no New Order em anos subsequentes.
Ozzy Osbourne – “Crazy Train” (1980)
Logo depois de sua saída do Black Sabbath, muitos não sabiam bem o que esperar da carreira solo de Ozzy Osbourne. O que ninguém esperava, talvez, é que seria Randy Rhoads quem roubaria a cena para si no excelente Blizzard of Ozz, nos deixando algumas das linhas de guitarra mais memoráveis da história antes de seu precoce falecimento. A maior delas, sem dúvida, o riff de “Crazy Train”.
Journey – “Don’t Stop Believin'” (1981)
Ainda trazendo muita influência do Rock setentista, o Journey criou talvez o riff de piano mais reconhecível da história na inesquecível “Don’t Stop Believin'”, que a cada década parece se tornar mais popular.
The Clash – “Should I Stay or Should I Go” (1982)
Sendo até “plagiada” pelos Mamonas Assassinas, “Should I Stay or Should I Go” é até hoje um dos riffs mais reconhecíveis do Rock, quanto mais do Punk. Mesmo se você começar a tocá-lo para alguém que pouco conhece o gênero, é bem provável que essa pessoa pelo menos comece a cantarolar os acordes — sinal do sucesso. Não podemos esquecer da repopularização mais recente, graças ao seriado Stranger Things. Essa vai viver pra sempre!
Joan Jett & the Blackhearts – “I Love Rock’n’Roll” (1982)
Hoje em dia a maioria das pessoas sabe que “I Love Rock’n’Roll” é de autoria de Alan Merrill, com a sua primeira versão sendo gravada pelos Arrows em 1975. Mas a música ganhou nova vida com Joan Jett e sua banda, e muito disso se deve à atualização no riff que passou a soar como uma ponte entre o Punk e o Rock. Escolha a versão que quiser, o importante é que essa música seja lembrada!
Michael Jackson – “Beat It” (1982)
Muito se fala sobre o incrível solo de Eddie Van Halen em “Beat It”, e com toda razão. Mas o trabalho de Steve Lukather, que dedicou boa parte da sua vida à sua carreira no Toto, é deixado muito de lado e chega a ser uma injustiça que seu impressionante riff tenha parado na mesma música que o solo de EVH, já que leva muitos a pensar que toda a guitarra da canção é deste.
Iron Maiden – “The Trooper” (1983)
“The Trooper” é uma verdadeira revolução no gênero do Metal. O riff que mais se assemelha a uma “conversa” entre as guitarras de Dave Murray e Adrian Smith e o baixo de Steve Harris viria a influenciar gerações a fio, além da música se tornar um hino que une praticamente qualquer metaleiro vivo.
Os Paralamas do Sucesso – “Vital e Sua Moto” (1983)
“Vital e Sua Moto” pode não ser o maior sucesso (risos!) d’Os Paralamas do Sucesso, mas a canção praticamente marcou a chegada do Ska ao Brasil e importou uma sonoridade que até então era quase inexistente por aqui. Isso viria a ser mais explorado nos trabalhos subsequentes, mas não é exagero dizer que o primeiro e talvez mais importante passo foi esse.
The Smiths – “This Charming Man” (1983)
Você pode até não gostar do famoso Indie Rock, que se popularizou com força nos anos 2000 especialmente no Reino Unido, mas é preciso reconhecer a importância de Johnny Marr e de “This Charming Man”, que praticamente abriram as portas para toda essa geração de bandas que crescemos ouvindo.
A-ha – “Take on Me” (1984)
“Take on Me” é um dos primeiros casos em que o riff principal e marcante de uma canção não veio na guitarra nem no baixo, mas sim no sintetizador. Os noruegueses do A-ha praticamente colocaram o Synth Pop em voga e fizeram até os roqueiros mais “true” abrirem mão de suas restrições para curtir o divertido tema da música.
George Michael – “Careless Whisper” (1984)
Você pode não conhecer o nome Steve Gregory, mas você certamente conhece o inconfundível saxofone de “Careless Whisper”. É ele quem toca o instrumento no hit de George Michael, eternizando um dos maiores riffs de saxofone da história!
Marina Lima – “Fullgás” (1984)
“Fullgás” é mais um caso de como o baixo pode ser explorado como elemento principal de um riff, e a gravação do lendário Liminha deu o tom à performance incrível e inesquecível de Marina Lima. Pode ter certeza: até mesmo quem mal conhece o instrumento sabe cantarolar a linha da canção, que, aliás, foi inspirada em “Billie Jean”.
Van Halen – “Panama” (1984)
Eddie Van Halen é uma máquina de genialidades na guitarra, e é uma tarefa quase impossível selecionar apenas um riff — ainda mais se contarmos o sintetizador de “Jump” como um. Mas “Panama” é algo simplesmente impressionante, mostrando como toda a técnica de um dos maiores nomes da guitarra pode ser aplicada musicalmente para criar um ritmo espetacular.
Camisa de Vênus – “Eu Não Matei Joana d’Arc” (1985)
Unindo influências do Rock de décadas anteriores com o Punk que chegava com força ao Brasil, o Camisa de Vênus une diversas linhas de guitarra icônicas em “Eu Não Matei Joana d’Arc”; ainda assim, é o riff que serve como tema da faixa que carrega a canção do começo ao fim.
Dire Straits – “Money for Nothing” (1985)
Depois de lançar “Sultans of Swing”, muitos acharam que o Dire Straits já tinha feito seu maior hit e não sustentaria a fama. A parte do hit pode até ser verdade, mas a banda chegou a um patamar muito parecido, se não igual, quando “Money for Nothing” foi lançada e mostrou que Mark Knopfler ainda tinha algumas cartas na manga.
Tears for Fears – “Everybody Wants to Rule the World” (1985)
Diferentemente dos dias mais atuais, a guitarra era presença constante nas músicas Pop dos anos 80. E é justamente ela que comanda o hit “Everybody Wants to Rule the World”, com o excelente Roland Orzabal fazendo uma linha discreta porém inconfundível para abrir a canção.
Bon Jovi – “Livin’ on a Prayer” (1986)
É difícil pensar em qualquer música antes de “Livin’ on a Prayer” que tenha a presença marcante de um talk box, o instrumento usado por Richie Sambora para dar o som que sua guitarra assume na lendária canção de Bon Jovi. Foi uma verdadeira aposta, que deu muito certo somada ao baixo.
Legião Urbana – “Tempo Perdido” (1986)
Sem dúvidas, “Tempo Perdido” é um dos maiores clássicos da música brasileira. E é bastante claro que basta soarem as primeiras notas do riff que abre a música para que qualquer fã da Legião Urbana ou de música em geral saberem do que se trata!
Metallica – “Master of Puppets” (1986)
Você precisa de meio segundo para identificar “Master of Puppets”. Muito provavelmente, as pessoas que em 1986 ouviram o hit do Metallica pela primeira vez precisaram de dias, semanas, ou mais para processar o que tinham acabado de ouvir. O poder do riff de James Hetfield e Kirk Hammett era algo espetacular e nunca antes visto, mesmo com a banda já tendo outros sucessos antes disso!
Titãs – “Polícia” (1986)
Um dos maiores hinos do Punk no Brasil vindo de uma banda que não necessariamente se vê associada ao gênero, “Polícia” vê o Titãs absorvendo influências de diversos lugares para chegar no riff que marcou uma geração, tanto que ganhou uma versão do Sepultura anos depois.
Guns N’ Roses – “Sweet Child O’ Mine” (1987)
O Guns N’ Roses foi uma verdadeira revolução no Rock, fazendo a ponte que tantos esperavam entre o Rock, mais popular à época, e o Metal, que vinha ganhando espaço. Foi com riffs como os de “Sweet Child O’ Mine” e “Welcome to the Jungle” que isso aconteceu, e selecionamos o primeiro simplesmente por seu status de hino entre os guitarristas.
Living Colour – “Cult of Personality” (1988)
Vernon Reid é um verdadeiro revolucionário na guitarra e seu estilo único, que inspirou inúmeros músicos das próximas décadas como Tom Morello e mais, foi imortalizado no riff de “Cult of Personality”. A canção abre o disco Vivid mostrando o que fez os caras chegarem até ali: força, técnica e groove.
Mötley Crüe – “Kickstart My Heart” (1989)
Você pode até não ser grande fã do Mötley Crüe, mas é impossível refutar a influência que a banda teve em popularizar o Glam e trazer uma sonoridade mais Metal do que nunca ao gênero, que antes era mais associado ao Hard Rock. O riff de “Kickstart My Heart” é o exemplo magnânimo disso e dita o tom de um gênero que serviu como passagem entre os anos 80 e 90.
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