Poucas coisas dizem mais sobre a música de uma determinada época do que os famigerados riffs.
Os fraseados que ditam o ritmo, tom, e muitas vezes até a melodia de canções que dominam as paradas ficam marcados por anos e anos e são eles que tornam aquelas músicas instantaneamente reconhecíveis, mesmo se ela não tiver um refrão tão grudento.
Vale lembrar, aliás, que pela definição do New Harvard Dictionary of Music um riff é uma “progressão de acordes ou refrão repetida na música”, de forma que pode ser “um padrão, ou melodia […] que forma a base ou acompanhamento da composição musical”.
É claro, portanto, que o próprio conceito em si foi variando muito ao longo dos anos e lá nos primórdios era muito mais difícil que tivemos os riffs como os conhecemos hoje, bem definidos e geralmente mais escancarados ao ouvinte geral.
É esse o objetivo dessa próxima série de listas que montaremos aqui no TMDQA!: promover um passeio pela história da música por meio dos riffs, celebrando desde os anos 1950 onde eles eram pouco comuns até os anos 2010, e sem se limitar a um único estilo ou instrumento.
Começamos as décadas de 50, 60 e 70 com apenas 20 riffs em cada lista, já que o recurso ainda não era tão amplamente utilizado quanto hoje e acabava mais restrito à guitarra, quando aparecia. Com o tempo, principalmente desde 1980, outros instrumentos também foram passando a ter riffs famosos e portanto desde a “década passada” nossas listas têm 25 canções!
Hoje, vamos fazer uma viagem pelos diversos estilos, nacionais e internacionais, que tanto influenciam a música atual e que surgiram nos Anos 90. Confira a nossa seleção logo abaixo (em ordem cronológica)!
AC/DC – “Thunderstruck” (1990)
Se há uma banda de Rock que sobreviveu ao teste do tempo, essa banda é o AC/DC. Os caras estão marcando presença nas nossas listas desde quando falamos sobre os anos 70, e era impossível deixá-los de fora dessa já que “Thunderstruck” é um clássico não apenas da banda, mas de eventos esportivos ao redor do mundo, graças ao seu riff.
Alice in Chains – “Man in the Box” (1990)
O Grunge ainda engatinhava quando Jerry Cantrell resolveu, a la Richie Sambora, explorar o uso de um talkbox para transformar o riff de “Man in the Box” em um dos mais icônicos da história da música e em uma das pedras fundamentais do gênero no mundo — não só pelo talkbox, claro, que pouco foi explorado dali pra frente.
Metallica – “Enter Sandman” (1991)
Quando muitos achavam que o Metallica estava pronto para se entregar depois da morte de Cliff Burton, a banda continuou trilhando seu caminho em …And Justice for All, mas foi com o famigerado Black Album de 19991 que o grupo expandiu sua sonoridade, encontrou um novo elemento em Jason Newsted, e consagrou o hino “Enter Sandman” graças ao seu inesquecível riff.
Nirvana – “Smells Like Teen Spirit” (1991)
“Smells Like Teen Spirit” é sinônimo de Grunge, é sinônimo de Rock, é sinônimo de riff. A canção do Nirvana tem uma série de riffs, aliás, e todos são extremamente marcantes: o do começo, as simples duas notas que comandam o verso, o baixo de Krist Novoselic, e por aí vai. Não poderia faltar.
Pearl Jam – “Even Flow” (1991)
Foi bem difícil escolher já que temos a clássica “Alive” ou mesmo o inesquecível baixo de Jeff Ament em “Jeremy”, mas a repetição constante de “Even Flow” tornou o riff um dos mais marcantes e influentes dentro do Grunge, estabelecendo um patamar que seria bastante difícil de atingir por quem quer que fosse.
Red Hot Chili Peppers – “Under the Bridge” (1991)
É simples: John Frusciante é um dos maiores gênios da guitarra dos tempos modernos e “Under the Bridge” é provavelmente a maior demonstração de toda a sua genialidade de forma melódica e sensível. A canção já está eternizada na cultura mundial, e o riff que dá início a ela é tão característico de Frusciante que acabava sendo a maior crítica feita a Josh Klinghoffer em seus anos com a banda.
Pantera – “Walk” (1992)
A grande maioria das bandas de Metal ativas atualmente devem boa parte de seu som ao Pantera, e é claro que Dimebag Darrell era um show à parte na banda. É muito difícil também escolher apenas um de seus incríveis riffs, mas o fato é que “Walk” estabeleceu um novo padrão de peso dentro da música, em especial por sua pegada mais “marchante” em oposição ao que se via normalmente no Metal.
Rage Against the Machine – “Killing in the Name” (1992)
Ah, a bendita aula de guitarra de Tom Morello! Caso você não saiba, te contamos por aqui que o icônico riff de “Killing in the Name” surgiu durante uma lição de Morello e mudou a vida dos membros do Rage Against the Machine e, claro, possibilitou a criação de outros riffs incríveis como “Sleep Now in the Fire” (que quase roubou essa vaga!) e “Guerilla Radio”.
Angra – “Carry On” (1993)
A revolução que o Angra trouxe ao Brasil quando apresentou ao público o seu inesquecível disco Angels Cry é extremamente respeitada, e ainda assim não seria grande exagero dizer que ela é subestimada. A guitarra ganhou novo significado graças aos riffs velozes e técnicos que a banda propunha, em especial na clássica “Carry On”.
Bad Religion – “American Jesus” (1993)
O Bad Religion sempre foi e sempre será uma banda única dentro do Punk, e “American Jesus” é um dos grandes exemplos disso. A música que acabou se transformando em um hino do gênero é comandada por um riff sensacional que condensa as diversas influências que formam a banda.
Lenny Kravitz – “Are You Gonna Go My Way” (1993)
Sabe aquela velha expressão de que a guitarra fala? É o que parece acontecer quando Lenny Kravitz toca o riff de “Are You Gonna Go My Way”, um de seus maiores sucessos e definitivamente um tema que foge do padrão não apenas dos anos 90 mas também dos riffs em geral.
Sepultura – “Refuse/Resist” (1993)
O que o Sepultura fez pelo Metal brasileiro nunca será descrito à altura, mas é possível entender quando se ouve um riff como o de “Refuse/Resist” — que não se limita a copiar algo que já existia no exterior, mas transforma a influência importada em algo com um viés brasileiro que viria, curiosamente, a inspirar inúmeras bandas de outros lugares do mundo.
The Smashing Pumpkins – “Cherub Rock” (1993)
O Smashing Pumpkins é mais uma daquelas bandas que não dá pra cravar uma única escolha com grande certeza, já que riffs como o de “Today” são absolutamente incríveis e inovadores. Mas o fato é que “Cherub Rock” é o resumo de toda a sonoridade única do grupo, que transitava tranquilamente entre o Metal, o Shoegaze e mais.
Green Day – “Longview” (1994)
Claro que Billie Joe Armstrong tem inúmeros grandes riffs na guitarra, mas pense bem: será que realmente há algum que seja tão marcante quanto o baixo de Mike Dirnt em “Longview”? A canção, inclusive, certamente inspirou uma geração de músicos que curtem Punk a explorar o som do baixo com mais cuidado.
No Doubt – “Just a Girl” (1995)
É impossível falar dos anos 90 sem falar do No Doubt, e o hino “Just a Girl” já nos recebe com um riff absolutamente inesquecível logo de cara. O tom “brincalhão” da guitarra se contrasta com a atitude Punk e Ska que permeia a canção como um todo, e mostra mais uma vez por que a banda é símbolo da década.
Planet Hemp – “Mantenha o Respeito” (1995)
Sem nem entrar no mérito das importantíssimas letras, a contribuição do Planet Hemp à música brasileira é imensurável. Talvez a melhor forma de descrevê-la seja com o riff de “Mantenha o Respeito”, que incorpora o espírito do Rap Rock que chegava com força ao país depois do lendário disco Usuário.
Raimundos – “Eu Quero Ver o Oco” (1995)
Sim, claro que os Raimundos estouraram muito mais graças ao ótimo riff de “Mulher de Fases”. Mas antes disso a banda já trazia um som especial ao Brasil, em especial com o baixo de Canisso que dá o tom de “Eu Quero Ver o Oco”, um dos grandes hinos que comprovam que a mistura de Punk, Hardcore e Metal do grupo daria (e estava dando!) muito certo.
Blur – “Song 2” (1997)
A música britânica demorou um pouco para engatar de vez nos anos 90, mas a explosão do chamado Britpop levou o país europeu a um novo patamar de sucesso com grupos como o Oasis e, claro, o Blur. A banda de Damon Albarn nunca foi muito bem compreendida com relação a “Song 2”, mas é claro que o riff ficou eternizado juntamente aos gritos de “woo-hoo!” do vocalista.
Charlie Brown Jr. – “O Côro Vai Comê” (1997)
Se o Raimundos chegou com o Hardcore Punk ao mainstream brasileiro, o Charlie Brown Jr. trouxe o Skate Punk à linha de frente e grande parte da sonoridade da banda está representada nos riffs de guitarra e baixo que compõem “O Côro Vai Comê”. Eventualmente, claro, o grupo expandiu ainda mais seu som e surgiram outros temas inesquecíveis como “Zóio de Lula” e “Te Levar Daqui” — mas esse é representativo demais, hein?
Daft Punk – “Around the World” (1997)
Quem disse que música eletrônica não tem riff? Os pioneiros do Daft Punk ainda estavam longe de colecionar prêmios como têm feito nos últimos anos, mas quando “Around the World” chegou ao mundo ela serviu para, entre outras coisas, mostrar que a repetição de uma linha de baixo por muito tempo poderia ser interessante se trabalhada por dois gênios da música.
The Verve – “Bitter Sweet Symphony” (1997)
Tem espaço até para orquestra nessa lista! Tá, sabemos que não é bem um riff, mas não podíamos deixar de falar da marcante linha que carrega o clássico do The Verve praticamente do começo ao fim e que todo mundo reconhece instantaneamente ao ouvir. Vale lembrar, no entanto, que trata-se de um sample de “The Last Time”, dos Rolling Stones (com a interpretação da Andrew Oldham Orchestra), e essa história rendeu uma treta homérica entre os integrantes pelos direitos de “Bitter Sweet Symphony” — que acabaram ficando com os Stones até recentemente.
Hole – “Celebrity Skin” (1998)
Uma resenha da época descreve o riff de “Celebrity Skin” como “olhar diretamente para o Sol”, e tal descrição é a mais precisa possível. O poderosíssimo tema que carrega a canção faz com que ela seja um dos maiores hinos dos anos 90 até hoje, e ao mesmo tempo dava um tom Punk à obra.
The Offspring – “The Kids Aren’t Alright” (1998)
Há uma número limitado de riffs tão incríveis no Rock e no Punk como o de “The Kids Aren’t Alright”. A música não é a maior do Offspring, e possivelmente nem é a que tem o riff mais marcante dos caras já que existem clássicos como “Self-Esteem”, mas é impressionante como cada uma das linhas de guitarra e baixo se complementa e cria essa verdadeira obra prima dos anos 90.
blink-182 – “What’s My Age Again?” (1999)
Essa foi mais uma decisão difícil. Afinal, anos antes do icônico Enema of the State o blink-182 já tinha trazido um baita riff ao mundo com “Dammit”, mas o fato é que “What’s My Age Again?” dá uma nova perspectiva ao que poderia ser um riff Punk e, sinceramente, pode ser considerado a grande pedra fundamental do Pop Punk.
Foo Fighters – “Learn to Fly” (1999)
A transição entre os anos 90 e 2000 não poderia ser feita de um jeito melhor do que com a excelente “Learn to Fly”, cujo riff parece ter sido escrito com esse propósito de criar uma ponte entre as duas décadas. Isso sem contar o fato de ter uma figura como Dave Grohl consolidando de vez uma nova faceta e mostrando o que viria por aí.
Menção honrosa: Mamonas Assassinas (1995)
Não dá para deixarmos de falar dos Mamonas Assassinas quando falamos de música dos anos 90. Ainda assim, a ideia de colocá-los em uma menção honrosa é justamente porque praticamente todos os riffs do disco homônimo de 1995 são impressionantes — ainda que alguns, como “Chopis Centis”, não sejam exatamente da banda. Fica, portanto, a nossa homenagem ao incrível Bento Hinoto e todo o legado que foi deixado à música brasileira por seu trabalho na guitarra.
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