Música

"Resposta aos haters": artista cria clipe com xingamentos que recebeu após música sobre Bolsonaro

O cantor, compositor e instrumentista Limonge lançou um clipe mostrando xingamentos preconceituosos que recebeu após criticar o atual presidente.

Limonge no clipe de Temporal (Qual é seu Deus?)

Limonge é um músico que aparece com frequência aqui no Tenho Mais Discos Que Amigos!

O músico costuma lançar canções a respeito de questões bastante pessoais, várias delas em formato de voz e violão, e recentemente decidiu publicar o seu olhar a respeito do que vê acontecendo na gestão do atual presidente da república, Jair Bolsonaro.

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Para tanto, lançou uma música chamada “Dom Quixote, o Presidente do Brasil”, e a canção reverberou com um vídeo visto (e elogiado) por muita gente.

Acontece que estamos em 2020 e não há lugar para discussões: se alguém não gosta do que você defende, ou mais especificamente, se você critica alguém que o outro admira, há grandes chances que tudo acabe em uma triste série de ofensas pessoais, com seres humanos desmerecendo outros seres humanos.

Segundo o artista, vieram ofensas de 600 pessoas em dois meses, sendo a maioria delas com amostras claras de preconceito.

Limonge e a “resposta aos haters”

Após a música, Limonge foi criticado e teve que lidar com uma enxurrada de ódio, mas ao invés de se abater, compôs uma canção chamada “Temporal (Qual é seu Deus?)”, que entre outras coisas fala sobre a hipocrisia das “pessoas de bem”, que tanto pregam os bons costumes mas não se importam em ferir as pessoas que não concordam com elas.

Ao falar a respeito da canção, ele explica:

Nesse single, quero aproveitar tudo que foi escrito (e dito) sobre minha opinião política para expor uma visão sobre a hipocrisia dos que se dizem religiosos, mas ofendem em nome de Deus, e dos preconceitos que escorrem pela internet de forma clara, desaguando no mundo real de forma velada.

Em declaração para o TMDQA! sobre a dualidade de ver a música “dando certo” e a enxurrada de críticas, ele disse:

Quando escrevi e resolvi lançar, não pensei muito nas consequências, só senti que precisava externar o que sentia com tudo que estava acontecendo. Sempre acreditei na arte como algo capaz de abrir olhos, gerar reflexão, externar pensamentos e gerar discussão, sabia que a mensagem poderia gerar críticas, mas era um grito tão forte entalado na garganta que seria hipócrita da minha parte lançar algo sobre amor ou aceitação observando tudo que acontece no país. No fim, minha ideia era sim que os apoiadores do presidente vissem, mais do que as pessoas que são contra, a mensagem é direcionada a eles, tanto que a associação de Bolsonaro com Quixote é uma ironia com a visão que os apoiadores têm dele (que Cervantes me perdoe por isso) tipo “olha só tudo que tá rolando, você acha isso legal? Você realmente acha que esse cara é um ‘louco do bem’? Bora refletir um tanto?’ e alguns realmente se abriram à conversa, tanto que tive ótimos debates em posts da música nas redes sociais e fiz questão de responder todos que comentavam, pois a premissa era expor minha verdade e tentar fazer com que mais gente entendesse o outro lado, mas a grande maioria preferiu me xingar, ofender e ameaçar.

Nós também perguntamos para ele sobre como as pessoas têm a tendência de sempre dar mais atenção aos lados negativos, já que se entrarmos no vídeo dele, há muito mais reações positivas do que críticas.

Sobre isso, ele falou:

Nesse caso, acredito que o que me motivou foi a quantidade e o teor dos feedbacks negativos. Os positivos sempre fazem com que um artista ganhe força pra seguir, saber que tem gente que ouve, sente o mesmo, se conecta, assim como os negativos servem de aprendizado pra evoluir, tanto que já fui muito criticado enquanto artista e, por mais que doa, no fim acabo tirando algo positivo de uma crítica ruim. Nessa música, as críticas (que ficaram em sua grande maioria restritas ao Facebook, pois um comentário em YouTube parece muita exposição pra um fake) não foram direcionadas à arte, mas à minha pessoa… me ameaçaram de morte, pediram a Deus (?) que me matasse, me acusaram de ser financiado por partidos, pelo George Soros (?) e, óbvio, destilaram racismo e preconceito, associando orientação sexual e cor de pele como xingamento, tive inclusive que ocultar posts que fiz nas minhas redes porque eles estavam atacando até meus fãs, mandando inbox pras pessoas e ofendendo também. Isso, pra mim, é inadmissível, não dá pra ficar quieto… entrava no perfil das pessoas que escreveram e, os que não eram fakes, só postavam sobre Deus, sobre a salvação, sobre oração… e aí? Que hipocrisia toda é essa? Que Deus doido é esse que essas pessoas acreditam? Fiz um vídeo resposta sobre algumas ofensas duas semanas depois de lançar a música, mas elas não paravam de chegar, aí resolvi compor uma música que respondesse ao ‘best of’ de comentários que separei entre os mais de 600 que contabilizei. Se uma música gerou isso, nada melhor do que outra música pra combater tudo isso.

Por fim, o TMDQA! perguntou sobre a decisão de não apenas botar a cara em um vídeo mas colocar os comentários lado a lado, deixando tudo pra lá de explícito, e Limonge disse:

Eu aprendi com o tempo que a omissão é um tipo de ‘aceitação velada’. Sou o tipo de pessoa que gosta de discutir, não fiz uma música sobre política, questionando um lado oposto ao meu, sem estar disposto ao debate, nós só evoluímos com exposição de ideias… e essa é uma das premissas da arte. Foi meio natural querer responder a tudo isso usando a música, eu dou minha cara a tapa pra expor o que penso, não tenho vergonha de dizer que nunca apoiei, nem vou apoiar, um cara que pensa como o presidente desse país. Se as pessoas que me atacam se escondem, na maioria, atrás de fakes, ou apagam o que escrevem assim que eu digo que providências serão tomadas (em caso de ameaças), eu prefiro usar o que sei fazer pra conscientizar. A arte precisa ter esse papel, hoje quando ficamos putos com o país cantamos músicas de 20, 30 anos atrás, por quê? Acho que é hora de gritarmos contra tudo isso que acontece, falando sobre o hoje, não revisitando o ontem… se a minha música servir pra mudar a cabeça de uma pessoa, ou fizer com que ela enxergue o mundo de outra maneira (seja pra ao menos respeitar quem pensa diferente ou entender que esse Deus louco que elas acreditam é uma hipocrisia sem fim), já acho que valeu a pena.

Assista aos dois clipes logo abaixo.

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