Os profissionais da “graxa”, como são carinhosamente apelidados os trabalhadores de bastidores da indústria da música, têm passado por um momento extremamente difícil por conta da pandemia do Coronavírus.
A ajuda a esse grupo é totalmente necessária, e SANDRO sabe disso. Além de artista, ele também tem uma longa trajetória no ramo e encontrou uma forma de colaborar unindo os dois mundos na nova música “tumtum e dance”, que ele mesmo define como um eletro-mantra.
A faixa é daquelas que não tem como ouvir sem dançar, e ele mesmo reconhece isso. Não tinha como ser diferente, afinal veio inspirada em um dia que ele ficou dançando sozinho em casa ao som da clássica “Baby Doll de Nylon”, de Robertinho do Recife.
E foi isso que ele colocou o pessoal do backstage pra fazer no clipe para a inédita, ajudando a dar visibilidade a essas pessoas que muitas vezes são invisíveis para o público geral mas fundamentais para fazer os espetáculos acontecerem.
Abaixo, você confere um papo que tivemos com SANDRO sobre a nova música e, claro, sobre a situação dos profissionais dos bastidores nesse momento tão complicado. Vale destacar a importância de projetos como o Backstage Invisível, que tem tomado a iniciativa de ajudá-los e contam com o seu apoio.
Entrevista com SANDRO
TMDQA!: Oi, SANDRO! Queria começar te agradecendo por nos dar um belo motivo pra sorrir durante a quarentena — aliás, dois. Além de “tumtum e dance” trazer uma energia boa, ainda temos um clipe em que os profissionais dos bastidores da música estão em evidência. Como o pessoal recebeu essa ideia quando você chegou com a proposta?
SANDRO: “tumtum e dance” foi um presente pra mim também. Quando uma música nasce ela ainda tem um caminho pra percorrer e muita coisa a ser feita. Normalmente a gente define estrutura, verso A, B, refrão, ponte… (termos da linguagem de produção musical) e nesse caso ela já nasceu dizendo que seria um refrão pra dançar e ponto final. [risos] Logo veio a ideia de filmar em casa, com o celular, um clipe em plano seqüência. E foi numa conversa com a Iza, minha assessora de imprensa, que surgiu a ideia de trazer a galera do backstage e a galera que trabalha no projeto SANDRO comigo pra dançar junto, todos das suas casas. Confesso que fiquei apreensivo, imaginando que a galera não ia topar, que iam achar que estavam pagando mico e tudo mais, mas pra minha surpresa e alegria, o convite teve uma aderência incrível, um ou outro não conseguiu fazer por falta de tempo, mas geral ficou muito empolgada e super afim de fazer parte.
TMDQA!: Mais do que essa exposição, a nova música tem a proposta de ajudar o Backstage Invisível, um projeto realmente incrível. Você pode falar mais sobre essa iniciativa e a importância dela pra “cena” da “graxa”?
SANDRO: Eu trabalho nos bastidores há bastante tempo e fiz muitos amigos. O profissional que trabalha nos shows e eventos tem muita responsabilidade e nenhuma exposição. Nesse momento a grande maioria teve que se virar trabalhando fora da sua área, e muitos acabaram ficando sem nenhuma opção diferente dos artistas, que normalmente têm os royalties e merch pra ajudar de alguma forma a se manterem (e nem todos). Senti que de alguma forma, eu estando dos 2 lados, tinha que fazer minha parte e vi no “Backstage Invisivel” uma forma de contribuir divulgando essa ação. O Backstage Invisível é uma iniciativa independente de uma galera que trabalha nos bastidores e ficou sabendo de muita gente do mesmo setor que estava passando necessidades reais nessa pandemia. Então eles começaram a arrecadar doações para reverter em cestas básicas para esse pessoal. É um setor que no geral ficou desassistido e não temos nem previsão de quando isso vai entrar em algum tipo de normalidade, então toda ajuda conta pra esse pessoal. São pessoas com famílias, contas e compromissos a arcar, de alguma forma o projeto dá um suporte pra elas nesse sentido.
TMDQA!: Muita gente acaba separando completamente os artistas dos bastidores, mas imagino que um influencie muito o outro. Quão importante tem sido a sua vivência como profissional de bastidores dentro da sua carreira como artista?
SANDRO: Um grande artista trabalha com grandes profissionais. Aquela luz linda naquela música, aquele delay na hora certa, uma troca de instrumentos que o público nem se dá conta que aconteceu, o artista chegar e ter a tranquilidade de subir no palco sem ter que se preocupar com a quantidade de perrengue que aparece porque a produção já deu conta e filtrou tudo pra deixar o músico preparado pra fazer seu trabalho com foco na hora do show. Normalmente as equipes são uma irmandade e um abraça o outro pra amenizar muita coisa pesada do processo.
TMDQA!: Agora, como alguém que está dos dois lados, acho que seria legal se você pudesse contar pra gente um pouco sobre o quanto o trabalho dos bastidores é essencial para a indústria da música e como esses profissionais têm passado pela pandemia!
SANDRO: Só pra ter uma ideia, no clipe de “tumtum e dance” temos 30 profissionais, entre eles, técnicos de som, de luz, roadie, produtores, filmmakers, galera que vende merch… Além da galera que trabalha no SANDRO, como músico, design, stylish, assessoria e tudo mais. Essas pessoas não estão conseguindo se manter, muitos estão endividados, vivendo de doação, e aí mais uma vez temos que exaltar o Backstage Invisível e muitos outros projetos destinados a essa área. Imagina no macro, quanta gente tá sem trabalhar e quanto isso influencia principalmente no setor em si, mas também na economia de um modo geral? Um festival que acontece em Brasília por exemplo, desloca gente de vários lugares, aí temos aéreas, estadias, alimentação, galera cuidando da logística, tiazinha vendendo a pipoca do lado de fora, guardador de carro, e por aí vai…
TMDQA!: Sei que é difícil depender disso na atual conjuntura, mas quais medidas você acredita que os governos locais e/ou federal poderiam tomar para ajudar esses profissionais? Ouvi alguns dizendo que têm tido dificuldade para receber o auxílio emergencial; acha que isso poderia ser feito de uma forma melhor pra essa classe?
SANDRO: Olha, eu sinceramente não sei como o governo poderia ajudar mais. Claro, seria ótimo existir um cadastro e um valor adequado pra cada profissional, mas aí eu não saberia dizer como implantar isso, foge muito da minha alçada. Mas como profissional da música tenho sentido muita falta de uma articulação dos artistas. Tem muito artista grande com milhares de fãs e com bons números no digital que estão passando tranquilos por esse momento e poderiam fazer uma ação, como uma live ou algo do tipo pra ajudar a equipe e não estão fazendo nada disso. Como eu canto em “Dança”, minha primeira música: “Eu sinto um silêncio apaziguando”.
TMDQA!: A nova música tem a sonoridade eletrônica que marca seu trabalho, mas vem como um eletro-mantra. Acho que essa espécie de meditação dançante é quase necessária nesses tempos, né. Você concorda? Como a música e a dança têm te ajudado nesse período?
SANDRO: Eu desafio você a dançar toda “tumtum e dance” e não sair suado. Tá todo mundo em casa entrando em parafuso, sem entender o tempo das coisas, perdidos em pensamentos que ficam em loop distraindo a gente. A tradução para “Bate no tumtum e dance” é meio que: faz no teu ritmo as coisas e não sofre por não conseguir fazer tudo. [risos] Dançar, cantar, rir, chorar.. É hora de se revisitar, descobrir alguma coisa nova sobre a gente, não se culpar por não render como antes ou por não conseguir fazer nada. Estamos todos perdidos, numa situação que nunca imaginaríamos estar. Somos humanos e não estamos preparados pra isso. Enquanto isso, vai lá e põe SANDRO no repeat que vai te ajudar a passar por isso!