Stewart Copeland é muito conhecido por seu trabalho com o The Police, banda que ainda envolvia seus dois irmãos Miles III (empresário) e Ian (agente), mas seu pai teve uma vida recheada de entrevistas para revelar segredos de outro ramo.
Miles Copeland Jr., que nasceu em 1916 e faleceu em 1991, era um agente do governo dos EUA durante a Segunda Guerra Mundial e esteve diretamente envolvido no Dia D (através da campanha de desinformação) e logo após o fim da guerra se tornou um dos primeiros agentes da CIA, a polêmica companhia de inteligência do país norte-americano.
Ele se mudou para a Síria e passou anos no Oriente Médio — ainda que Stewart tenha nascido em 1952 na Virgínia, nos EUA, passou a maior parte de sua infância em Beirute, no Líbano, e em Cairo, no Egito. Algo que ele relembra em entrevista ao The Guardian, inclusive explicando que seu estilo de batidas foi fortemente inspirado pelos ritmos árabes.
Nós nos sentíamos sem privilégios, como se estivéssemos perdendo essa terra inalcançável de perfeição onde tudo era brilhante e moderno e legal. Só quando crescemos que percebemos, na verdade, que o lugar em que vivíamos tinha muitas vantagens culturais.
Stewart Copeland e seu pai
O papo com o jornal inglês aconteceu justamente para falar sobre seu pai, que é assunto de um novo podcast chamado My Dad the Spy (“Meu Pai o Espião”) dividido em nove partes e disponível exclusivamente no Audible.
Entre outras revelações curiosas, Stewart conta que só descobriu o que seu pai fazia de fato em 1969 — 12 anos depois dele sair da agência e graças a um livro publicado por Miles, The Game of Nations: The Amorality of Power Politics (“O Jogo das Nações: A Amoralidade das Políticas de Poder”).
Apesar de não escolher um lado no espectro político, Copeland deixa bem claro que seus julgamentos sobre as ações do pai — que se tornou um consagrado jornalista conservador após sua saída da CIA — não são objetivas. Até por isso, ele convida diversos nomes de países como Irã e Síria para falar no podcast, trazendo uma perspectiva mais dura sobre as ações dos EUA por lá.
Ainda assim, e mesmo destacando que o objetivo do governo nunca foi a paz mundial e sim conseguir petróleo barato, o baterista defende que as coisas pioraram muito depois que seu pai saiu:
Ainda que eles estivessem com as mesmas práticas ardilosas, elas eram muito menos bem-sucedidas. Kennedy, Nixon, todos eles foderam tudo. Kennedy não entendia o jargão militar. Ele não entendeu que ‘uma boa possibilidade de sucesso’ significava ‘você está fodido’.
Ao invés do meu pai ir lá e mexer uns pauzinhos — um pouco de suborno aqui, um pouco de desinformação ali, e pronto, você tem um novo cara por lá que é muito mais complacente com as nossas necessidades de petróleo — eles foram lá décadas depois e mataram 100 iraquianos. Isso. É. Fodido.
Impacto no The Police e “olhar torto” de Zack de la Rocha
A carreira dos filhos de Miles e dele próprio nunca andaram muito juntas, mas é claro que quando ele deu uma entrevista à Rolling Stone em 1986, o assunto do The Police surgiu.
O pai de Stewart basicamente falou que a banda era uma operação confidencial que tocava shows para “70 mil mentes dispostas a ouvir qualquer coisa que o The Police quisesse enfiar neles”, e o baterista garante que era uma das inúmeras piadas de seu pai — mas até o próprio Sting ficou com raiva.
Sabe, ele pegou o velho Sting em um dia ruim. [risos] Ele conhecia meu pai muito bem, e ele se arrepende agora mas ele não levou na boa a sugestão de que ele seria um peão da CIA.
Apesar de toda essa separação, algumas bandas mais politicamente engajadas tiveram ressalvas com Copeland pelo seu histórico familiar. Foi o caso do Rage Against the Machine, em especial do vocalista Zack de la Rocha que protagonizou uma cena no mínimo engraçada:
Eu acho que pelas nossas costas as pessoas de fato assumiam que os irmãos Copeland eram uns monstros da extrema direita, mas eu me dava bem com todo mundo. Décadas depois eu me lembro de estar de rolê com o Rage Against the Machine e o Zack estava me olhando torto mas os outros caras foram gente boa. O problema principal dele era que eu jogava polo.
Coisas que a gente queria ter visto!