Por Felipe Ernani e Tony Aiex
A história do Rap no Brasil é uma das mais bonitas que temos dentro da nossa música e certamente vem cada vez mais mostrando que se compara a outros gêneros onde somos grandes expoentes e exportadores de talentos.
Neste dia 6 de Agosto, é celebrado o Dia do Rap Nacional e a melhor forma de fazê-lo é sem dúvidas apontando tudo que vem acontecendo (e pode acontecer) de bom. Apesar de serem inúmeras as boas notícias para o gênero, o lendário Edi Rock, parte do Racionais MCs e dono de uma prolífica carreira solo, garante que isso é só o começo em fala exclusiva ao TMDQA!:
Ainda estamos no começo, mas na direção certa! O que o Rap tem hoje é o que foi feito ontem, construído, preso, morto e enterrado! O Rap não é mais apenas um movimento cultural, que um dia se sonhou… além de um gênero, é uma religião, um partido, uma organização, um negócio, uma empresa, uma máquina, vai além de cultura… O rap é o Hip Hop e o Hip Hop é um universo!
Ele ainda garante que se sente “realizado, honrado, satisfeito, orgulhoso” por ter visto “muita coisa acontecer e fazer parte desse acontecimento”, e descreve que tudo isso é como “viver um sonho”. Certamente tudo isso se desperta nele quando falamos de Filipe Ret, um dos grandes expoentes dessa geração, que falou conosco sobre a mudança do gênero nos últimos tempos:
O Rap se transforma junto com o mundo. É uma música viva e questionadora. O Rap nacional representa a possibilidade de uma transformação na juventude, que vai transformar o nosso país e o mundo.
Ele ainda completa frisando o quanto o estilo é uma “ferramenta de transformação social gigantesca” e pede para que ela “continue sendo uma crítica a tudo e todos”, além de aconselhar os jovens que começam a trilhar seu caminho de um jeito muito simples: “faça você mesmo!”.
Dia do Rap Nacional
“Dia do Rap pra mim é todo dia”, afirma Ret. E de fato, como ele mesmo diz, “é o que vivo e respiro 24 horas há mais de 10 anos”. Isso não anula, no entanto, a data que serve para “lembrar a importância de algo que transforma a vida de milhões de jovens pelo mundo”, como a da ótima Bivolt, que até conversou recentemente com o TMDQA! sobre seu novo disco homônimo.
Em papo sobre a ocasião celebrada hoje, ela abre o coração falando do reconhecimento que o Rap tem hoje depois de tanto tempo sendo marginalizado pela sociedade e os impactos em sua vida:
Fazer parte desse momento é uma sensação de reconhecimento, pois pra nós o Rap sempre foi um gênero musical, mas a sociedade sempre marginalizou muito esse gênero, excluindo o Rap dos principais movimentos musicais. Hoje você liga a TV e você vê o Rap, você liga o rádio e você ouve o Rap, você vai a grandes premiações e o Rap está lá, vencendo!
E eu me vejo nesses espaços, me reconheço, me integro a esses espaços, levando a minha música e esse gênero tão rico para todas as pessoas! O Rap é a música que te faz dançar, mas te faz pensar também, é porta-voz não só de um ritmo, mas também de um movimento cultural muito forte, que sempre dialogou diretamente com as periferias brasileiras.
A opinião da cantora e rapper é compartilhada por SPVIC, do Haikaiss, outro grupo que tem se destacado fortemente há anos. “O Rap nacional é o gênero musical mais importante de todos”, diz ele. “Foi subestimado por anos, pra ser a ferramenta que melhor educa e comunica com os jovens. Com um propósito muito maior do que simplesmente entreter ou te fazer dançar”, completa.
Por isso mesmo, SPVIC afirma que a data é “mais do que merecida” e ressalta a importância de lembrar “do que foi pavimentado até hoje na história do Rap e do Hip Hop nacional”. Ele finaliza: “Salve Thaíde e DJ Hum, Racionais MC’s, Athalyba e a Firma, GOG, DMN, RZO, Ndee Naldinho e tantos outros que construíram os pilares desse movimento que é mais que nosso trabalho, é nossa vida”.
Como resumir tudo que aconteceu de bom no Rap nacional nos últimos anos seria impossível — afinal, é coisa demais — resolvemos selecionar 15 rappers das mais diversas vertentes para destacar. Confira abaixo e se você está começando agora neste ramo, te deixamos com um conselho de Edi Rock: “faça tudo com muita calma e muito amor, pois sem isso não há razão e nem retorno”!
Bivolt
Bivolt faz jus ao nome e constantemente se mostra simultaneamente 110V e 220V. Em seu novo disco homônimo, ela entrega uma mistura de ritmos, temas, sensações e nos faz concluir na plurilateralidade de uma cantora que tem chamado cada vez mais atenção na cena.
Borges
Recentemente, o ótimo Borges lançou o que é sem dúvidas a sua obra-prima até agora. Recheada de críticas sociais e sem usar palavrões em uma espécie de “desafio pessoal”, a incrível “Lei Áurea” escancara o poder social do Rap e consolida o carioca como um dos nomes que precisamos manter no radar.
Cazasuja
Sem amarras às suas expressões, o potiguar Cazasuja entregou um dos belos trabalhos do ano com o incrível Dia de Preto. Por lá, ele mescla gritos e sonoridades não convencionais ao seu ótimo flow e caminha a passos largos em direção ao sucesso.
Djonga
Djonga dispensa apresentações, e está nessa lista porque ano após ano continua lançando um material incrível. Seu trabalho mais recente, Histórias da Minha Área, expande o sucesso do aclamado Ladrão (2019) e vale a pena ficar ligado nos próximos passos do mineiro que vem se transformando em uma lenda do cenário nacional.
Don L
Desde que Roteiro pra Aïnouz (Vol. 3) foi lançado em 2017 e entrou em diversas listas dos melhores discos do ano (inclusive por aqui), Don L tem estado constantemente em nossos radares e em 2020 ele já liberou a ótima “kelefeeling (verso livre)” que mostra que ele continua sendo um grande destaque da cena nacional.
Drik Barbosa
Drik Barbosa é daquelas artistas que traz uma mistura tão especial que não dá nem para classificar apenas como Rap, mas também não dá para deixar de fora de uma lista como essa. Depois do ótimo disco homônimo do ano passado, estamos bastante curiosos para saber o que vem por aí.
Filipe Ret
Como falamos acima, Ret é um nome já bastante conhecido na cena. Acontece que nos últimos anos ele tem se reinventado cada vez mais e a recém-lançada parceria com o MC Kevin O Chris, “Dentro de Você”, pode dar o tom para um novo e ótimo caminho no futuro. Vamos ver!
Haikaiss
O Haikaiss é um daqueles grupos que ajudou a derrubar barreiras e colocar o Rap no mainstream, e mesmo em 2020 se mostra mais relevante do que nunca ao dar ao mundo o ótimo Aquário. Que venham mais muitos anos de carreira!
Jup do Bairro
Com sua estreia, CORPO SEM JUÍZO, a incrível Jup do Bairro traz um respiro de alívio em meio a um ano tão difícil ao dialogar com tantos problemas diários da sociedade e ainda adiciona representatividade e ativismo LGBTQ+ em uma cena que precisa tanto disso. Que seja um prenúncio do futuro!
niLL
Desde que lançou Regina (2017), niLL conquistou muito respeito na cena e vem expandindo seu trabalho nos últimos anos. Ele agora prepara Good Smell, Vol. 2 e já divulgou “Dorothy”, uma prévia de uma nova pegada mais próxima do House — uma fusão que ficou pra lá de interessante.
Rico Dalasam
“Braille” está entre as músicas mais bonitas dos últimos tempos a sair do Brasil, e felizmente vem muito bem acompanhada no ótimo EP Dolores Dala Guardião do Alívio, o mais recente de Rico Dalasam, que parece só melhorar a cada dia. O futuro promete ainda mais para ele!
Rincon Sapiência
Se em pleno 2020 você ainda não acompanha Rincon Sapiência… bom, antes tarde do que nunca. Dono do disco nacional do ano em 2017 com Galanga Livre, Rincon já se estabeleceu como um nome gigantesco e tem aprontado nessa quarentena, e se a ótima “Malícia” for um indicativo do que vem por aí, é melhor preparar os prêmios.
Sidoka
Quando se fala em Trap no Brasil, se fala em Sidoka. O cara é uma verdadeira revelação e mesmo com pouco tempo de carreira já acumula sucessos, tendo inclusive lançado dois discos só em 2020 (Merci £ e Futuruz) e ainda com muito mais a oferecer. Vale a pena acompanhar.
Tássia Reis
Apesar de já ter sucessos como “Se Avexe Não” e “No Seu Radinho” no currículo, Tássia Reis se renovou ainda mais e conseguiu melhorar o que era bom no ótimo Próspera, de 2019. O trabalho de divulgação do álbum segue firme, mas já estamos ansiosos para os próximos passos dessa ótima voz da cena.
Zudizilla
Ainda muito pouco conhecido em relação a todo o potencial que tem, Zudizilla é aquele nome pra você ficar de olho e dizer que conheceu antes de todo mundo. O incrível álbum Zulu Vol. 1: De Onde Eu Possa Alcançar o Céu Sem Deixar o Chão é um dos melhores dos tempos recentes, e com a chegada de “Proveito”, parceria com Luedji Luna, podemos ver que a tendência é só melhorar.