Música

#TBTMDQA: MTV, Sting, homofobia e mais curiosidades sobre "Money For Nothing", do Dire Straits

Em 1985, o Dire Straits lançou "Money For Nothing" e chamou atenção por conta de polêmicas, críticas e, é claro, um inovador vídeo em computação gráfica.

Clipe de "Money For Nothing" (Dire Straits)
Foto: Reprodução / Youtube

Recentemente, no início deste mês, a MTV original completou 39 anos.

Com ela, veio toda uma revolução no mundo da música por conta dos videoclipes. Fazer um videoclipe passou a ser fundamental para a divulgação de uma música. A emissora ajudou a incentivar a indústria a investir em questões que lidam com a imagem, que vão desde a aparência até uma nova forma de se consumir televisão.

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Aparecer na MTV, com o passar dos anos, foi se tornando o principal objetivo de bandas e artistas. Mas não foram todos que engoliram a súbita revolução de primeira. O grupo britânico Dire Straits apresentou críticas sobre o novo sistema na canção “Money For Nothing“. Lançada em 1985, anos após o sucesso do hit “Sultans of Swing”, a canção ironicamente foi a que deu o pontapé inicial da versão europeia do canal.

Separamos algumas curiosidades e polêmicas sobre composição e repercussão da música. Confira abaixo no #TBTMDQA de hoje:

 

A primeira música a tocar na MTV europeia

Enquanto a MTV original nasceu no dia 1 de Agosto de 1981, a versão europeia do canal só foi surgir exatos 6 anos depois. Mas o primeiro clipe exibido não foi o de “Video Killed the Radio Star”, do The Buggles, tal como a irmã norte-americana (que, convenhamos, já não estava mais “em alta” na época).

O canal deu seu pontapé inicial justamente com “Money For Nothing”. A situação combinou com a proposta humorística da emissora, especialmente no que diz respeito ao verso “I want my MTV” (“Eu quero minha MTV”), repetido no início e no final da música.

 

CGI virou mainstream (ou quase isso)

A MTV inquestionavelmente mudou a maneira pela qual as pessoas consumiam música. A produção de videoclipes passou a ser essencial para a divulgação de uma música. Mas como inovar nesse sentido?

Em um tempo em que imagens de clipes mostravam com frequência (ainda mostram, na verdade) performances de bandas ou breves histórias protagonizadas por atores, o Dire Straits resolveu investir em computação gráfica. É claro que em 1985 as técnicas de animação digital não eram tão avançadas quanto nos dias atuais, mas vale o reconhecimento do ótimo videoclipe produzido por Ian Pearson e Gavin Blair e dirigido por Steve Barron. Para fins de comparação, o revolucionário filme “Toy Story“, o primeiro feito 100% em computação gráfica, é de 1995.

O inovador vídeo, não à toa, levou a categoria de Melhor Vídeo no VMA de 1986, ganhando, inclusive, do atemporal clipe de “Take On Me” (A-ha), também dirigido por Barron.

 

Traduzindo húngaro para inglês em tempos pré-Google Tradutor

Claramente fazendo referência ao conceito imagético da MTV de uma playlist de videoclipes, o vídeo de “Money For Nothing” apresenta uma proposta semelhante. Os trabalhadores feitos em animação, enquanto trabalham, acompanham a programação de um canal musical, que exibe uma série de vídeos.

Além de uma performance da própria Dire Straits, outros vídeos também ganham destaque na tela. Um deles foi o clipe para a canção “Állj, Vagy Lövök!” (algo como “Pare ou eu atiro”, em tradução livre), do grupo húngaro Első Emelet. Ciente de que pessoas não entenderiam o significado desses termos, a equipe do clipe tomou a liberdade de chamar a música de “Baby, Baby”. No entanto, o nome da banda, que se tornou First Floor, traduz corretamente o nomenclatura original. O nome da gravadora também é alterado e passa a se chamar Magyar Records (“magyar” significa “húngaro” na língua local).

Já o outro vídeo que ganha destaque é fictício: “Sally”, da Ian Pearson Band, canção “lançada” no “disco” Hot Dogs. Todos os clipes apresentados são creditados à la MTV, no mesmo padrão que nos acostumamos a ver.

 

Mark não era muito um “cara MTV”

Mark Knopfler não era muito entusiasmado com vídeos e com toda a revolução que a MTV vinha fazendo no mundo da música. A insistência veio da própria MTV, que viu no trecho cantado por Sting uma grande publicidade para a marca, e do diretor Steve Barron.

Barron, por sinal, viajou para Budapeste para convencer Knopfler do conceito. Segundo o próprio diretor, boa parte do convencimento partiu de sua então namorada, que também estava presente no encontro. Ele lembra:

Felizmente, ela disse: ‘Ele está absolutamente certo. Não existem tantos vídeos interessantes na MTV e isso soa como uma ideia brilhante’. Mark não falou nada, mas também não me mandou embora. Apenas fomos em frente.

 

Sting

A canção, na verdade, é uma composição do vocalista e guitarrista Mark Knopfler em parceria com Sting. O então líder do The Police ainda tem uma participação especial, sendo o dono da voz que canta a popular introdução “I want my MTV”. O verso vem de um famoso comercial da emissora.

Tudo aconteceu por acaso, já que o Dire Straits gravou a música em Montserrat e Sting estava passando suas férias lá. O músico foi ao encontro dos membros da banda no estúdio. Na ocasião, ele ouviu a canção e reagiu: “Vocês acertaram dessa vez”.

Boatos dizem que, por conta de sua curta contribuição, Sting não queria os créditos de compositor da música, mas acabou cedendo por causa de pressões da gravadora, interessada nos royalties.

 

Letra

O riff é pegajoso, a música é dançante e o vídeo, sensacional. Mas e a letra?

Em “Money For Nothing”, o eu-lírico é um homem da classe operária que, junto a um colega, comenta sobre os vídeos da fictícia programação do canal enquanto pega no batente. Os personagens criticam a obsessão das pessoas com a indústria da música, que fazia, pelo menos na época, com que estrelas do rock enriquecessem rapidamente. Na visão dos operários, música não é trabalho de verdade. “Dinheiro por nada, garotas de graça”, diz um trecho da canção.

O refrão faz uma lista de tarefas braçais que precisam ser feitas. São mencionados a instalação de microondas, entrega de cozinhas customizadas, manutenção de refrigeradores e de aparelhos de televisão. Enquanto isso, os artistas de rock estão na TV, faturando muito mais “apenas” tocando guitarra.

 

Acusações de homofobia

A letra, que joga os holofotes em um contexto que, por si só, já é polêmico, recebeu também acusações de homofobia. Isso porque o eu-lírico, na segunda parte da música, chama um hipotético artista de rock de “faggot” (em português, algo como “bicha”).

A palavra, repetida várias vezes na mesma estrofe, faz referência à aparência e estética visual dos músicos dos anos 80. Na época, grande parte dos músicos adotaram cabelos longos e, não raro, maquiagem e brincos.

Vinte e cinco anos após o lançamento da música, em 2010, ela foi proibida de ser reproduzida em rádios no Canadá, diante das denúncias e do maior consentimento social dos últimos anos.

Sobre a polêmica, em 1985, Knopfler defendeu que tudo se trata de um ponto de vista que ainda é presente na sociedade:

Além do fato de que existem pessoas estúpidas que são gays da mesma forma que existe qualquer tipo de pessoa estúpida, isso sugere que talvez você tenha que ser direto. Estou em dúvida se é uma boa ideia apresentar personagens e escrever canções que não estejam na primeira pessoa.

 

Música de não-psicopatas?

Já falamos disso por aqui uma vez, mas uma pesquisa publicada pelo The Washington Post em 2017 testou mais de 190 estudantes de psicologia para descobrir se a preferência por algum determinado gênero musical pode ser associado com psicopatia.

Submetidos a várias perguntas, a pesquisa associou níveis de psicopatia encontrados a uma variada gama de músicas, desde clássicos até hits recentes. Vinte músicas foram identificadas como populares ou não populares, dependendo do nível constatado pela “amostra” da pesquisa.

Dentre as músicas de maior correlação estão “Lose Yourself” (Eminem), “What Do You Mean?” (Justin Bieber) e “No Diggity” (Blackstreet). “Money For Nothing”, por outro lado, apareceu junto a canções country e de pop rock nas canções presentes para os estudantes que apresentaram os menores níveis de psicopatia.

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