"A invisibilidade tem que ser só no palco": em Brasília, profissionais do Backstage fazem ato pelo reconhecimento da classe

Em Brasília, ato reúne dezenas de profissionais do Backstage para buscar reconhecimento da classe. Entenda os pleitos e o movimento em papo exclusivo.

Ato do Backstage em Brasília
Foto por Marcelo Augusto

A crise do Coronavírus afetou com força os trabalhadores de Backstage no Brasil, e já falamos por aqui de uma manifestação que rolou em São Paulo usando os cases, tão frequentes nos camarins de shows Brasil afora, para simbolizar a força desse movimento.

Em Brasília, algo bem parecido aconteceu no último dia 12 de Agosto. Para chamar atenção à causa, o Coletivo Backstage Brasília organizou um ato em plena Praça do Complexo Cultural da República e usou os cases (com nomes dos trabalhadores) para deixar a sua mensagem: a necessidade de deixar de ser invisível, pelo menos por enquanto.

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“A invisibilidade tem que ser só no palco”, explica Marcel Papa, roadie de grupos como Natiruts Bloco das Divinas Tetas e membro do coletivo, em conversa com o TMDQA!. “A lei Aldir Blanc diz que o auxílio deve chegar aos técnicos — está escrito lá, explicitamente, mas como que o governo vai saber que um profissional como um carregador, que trabalha no ramo há 10 anos e tem isso como principal fonte de renda, é um profissional da Cultura?”.

Esse é o objetivo principal do movimento neste momento. Fazer o benefício chegar a todos que têm direito parece tarefa simples, mas não é, até pela recorrente informalidade que vai desde grandes casas de shows até igrejas e pequenos bares espalhados pelo país. “Estamos em um processo de mapeamento muito bom”, conta Marcel, que completa dizendo que “esse é o primeiro e mais importante passo: classificar, categorizar, tirar a invisibilidade”.

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Backstage Brasília

Na nossa conversa, Marcel havia acabado de terminar uma tarefa com a banda que o contrata e estava se preparando para organizar material do Backstage Brasília. “É um trabalho incessante, e digo isso como técnico que está acostumado a trabalhar horas a fio”, relata sobre o que tem acontecido nos últimos meses dentro do movimento.

“O coletivo está desde Março fazendo várias ações, como distribuição de cestas básicas, e já teve gente indo até Goiânia para buscar as arrecadações, virando a noite para fazer essa coordenação”, conta. Ainda assim, tudo vale a pena: “é tão recompensador pra sua profissão e pra categoria, ainda que eu praticamente acorde e durma resolvendo coisas do Backstage”.

Uma das questões que mais faz esse trabalho aumentar é o fato de que as campanhas de arrecadação e doação não pararam, mesmo com a entrada de pautas políticas que buscam os benefícios que são de direito da classe por lei. No ato do dia 12, por exemplo, foi estabelecido um drive-thru para receber as doações e Papa conta que há uma organização muito grande para que tudo chegue a quem precisa — os pedidos são constantes e a prestação de contas é feita com frequência pelo Instagram do projeto.

O pleito vai um pouco além do acesso à lei de auxílio, ainda que Marcel ressalte que essa é a demanda mais urgente e “é preciso ver respostas a partir do mês que vem”. Entre as outras causas apoiadas estão a definição de jornada e condições dignas de trabalho, a criação de um programa de capacitação e treinamento e formalização e certificação profissional, a imediata admissão da categoria no Cadastro de Entes e Agentes Culturais (CEAC) e a inclusão nos editais do FAC (Fundo de Apoio à Cultura).

Um dos próximos passos é a integração com os outros movimentos espalhados pelo Brasil, ainda que cada estado tenha seu próprio formato de engajar na luta. “Estamos nos consolidando e nossos pleitos estão começando a ser ouvidos”, destaca o roadie e membro do coletivo, lembrando que “nada ainda foi realizado, porque ainda é uma conversa”.

O movimento de Brasília é apenas um de tantos ao redor do país, e o sonho é que todos consigam em breve ter a sua tão grande importância à Cultura reconhecida e contemplada pelas leis.

“É uma responsabilidade muito grande atender o máximo de trabalhadores possível, buscar qualificação e certificação, mas o mais importante é tirar a invisibilidade. Na hora de receber um auxílio, um apoio governamental, nós queremos ser visíveis”, finaliza Marcel.

Se você é um profissional do ramo, quer conhecer mais sobre o projeto ou ajudá-los com as arrecadações, acesse o Instagram oficial por este link. Se você não é de Brasília, pode procurar outros projetos como o Backstage Invisível.

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