Jordan Childs é um nome que talvez você não conheça, mas deveria.
Produtor, compositor, arranjador, diretor musical, multi-instrumentista e pensador, o americano se descreve como um “analítico criativo e curador de vibrações” e há algum tempo vem fazendo excelente uso de sua graduação, já que se formou na prestigiada Berklee College of Music.
Os projetos de Jordan desde que se formou são múltiplos. Além de vídeos no YouTube fazendo arranjos incríveis para canções que vão de The Police a Kendrick Lamar, ele tem uma larga experiência como baterista e já tocou com nomes como Bipolar Sunshine, Chris Mann (finalista do The Voice) e Cheyenne Jackson (Glee).
Como se não bastasse, ele assume os teclados juntamente a ROK, fez turnê no Japão com a estrela Che’Nelle, um dos grandes nomes do Pop do país asiático, e ainda trabalhou com o cineasta Scott Bahler na trilha sonora do curta How to Be Lonely and Depressed, que deve ser exibido em festivais ao redor do mundo. Para fechar, também produz conteúdo stock para a Shutterstock e Premium Beat.
Essa vida única dentro da música certamente desperta curiosidade: quais os prós e contras desse (quase) anonimato? Vale a pena produzir música stock? Como conciliar tanta coisa? Conversamos com o próprio Jordan, que contou tudo isso a seguir!
Entrevista com Jordan Childs
TMDQA!: Oi, Jordan! Primeiramente queria te parabenizar pelo trabalho, que engloba tantas áreas diferentes. Como você “engatilha” essa transição entre os estilos quando você está trabalhando na sua própria música ou em música de stock ou tocando com outros artistas?
Jordan Childs: Em grande parte, eu credito a minha educação em música gospel por me permitir alternar entre diversos estilos musicais. Eu cresci tocando vários instrumentos na Igreja Pentecostal Afro-americana. A diversidade musical dentro nessa cultura é muito rica. Além disso, eu venho de uma família muito musical que também tem uma grande variedade de gostos musicais. Como resultado, eu estava imerso em muitos estilos diferentes de música desde muito jovem. Essa imersão me ajudou a reconhecer os
vínculos entre diferentes expressões musicais. Muito disso não teve nada a ver com
minha própria escolha, mas sou grato porque me permite conectar gostos diferentes em
minhas criações.
TMDQA!: Trabalhar com diferentes tipos de música do jeito que você faz definitivamente tem seus prós e contras. Existe algo que você faz que considera sua parte favorita?
Jordan: Eu acho que minha busca pela diversidade na expressão musical me permite crescer exponencialmente. Esse é o meu aspecto favorito de poder criar diferentes tipos de
música. Acredito muito na ideia de que as habilidades estão conectadas. Meu crescimento ao transmitir autenticamente um tipo de música influencia e aprimora minha capacidade de abordar, compreender e expressar outros estilos de música. Eu também sou uma pessoa muito atenta a detalhes e que quer aprender sempre mais. Isso me mantém engajado quando estou abordando estilos diferentes, porque há muitas nuances que contribuem para tornar o estilo da música o que é. Então, resumindo, eu diria que minha parte favorita é que abordar estilos diferentes me mantém na posição de estudante.
Anonimato na indústria da música e importância do estudo formal
TMDQA!: Entre esses prós e contras, acredito que exista a questão de um certo anonimato. Digo, você certamente é um nome bem conhecido no meio, mas não
necessariamente para o público em geral. Como você vê isso, como algo positivo
ou negativo? Por quê?
Jordan: Eu amo essa pergunta! Eu acredito que o anonimato é uma espécie de presente. Em recente conversa com o meu irmão comentamos sobre o fato de que, uma vez conhecido, você não pode ser “desconhecido” ou “não conhecido”. Seu nível de influência pode aumentar e diminuir, mas uma vez conhecido, isso não pode mais ser revertido. Você já reparou como pessoas realmente famosas parecem almejar um senso de anonimato depois de um tempo?
Eles se disfarçam em público. Eles adquirem casas em lugares remotos do país. Muitos deles optam por se retirar dos holofotes depois de algum tempo. Acho que essa é uma forma de dizer que estou muito confortável com o reconhecimento que tenho atualmente. Eu realmente vejo isso como um presente que traz menos distração ao que eu realmente amo, que é criar música. Reconheço que esse nível de fama pode mudar. Maior a fama, maior a influência. Eu acredito que o ponto da fama é gerenciar bem a influência que vem junto para o benefício de outros. Esse sempre será meu objetivo, independentemente do nível de fama e influência que eu tenha. No entanto, embora eu ainda seja relativamente desconhecido, vou aproveitar o máximo possível!
TMDQA!: Você se formou na escola de música mais estimada do mundo. Quão importante foi isso para sua carreira?
Jordan: Frequentar e me formar na Berklee teve um impacto enorme na trajetória da minha carreira. A educação nessa faculdade é excepcional. Os professores são incríveis. A experiência é tremendamente inspiradora e esclarecedora, mas o maior benefício na minha carreira foi, certamente, os relacionamentos que resultaram da minha conexão com esse lugar. Assim como muitas pessoas que vão para a faculdade, conheci alguns dos meus melhores amigos na escola. Acontece que meus amigos são algumas das pessoas mais talentosas do mundo.
Viver na região de Los Angeles realmente me proporciona um ótimo acesso a esses relacionamentos. Além disso, a rede de ex-alunos é tão robusta aqui que conheci e fiz amizades com colegas com quem eu não tinha um relacionamento na Berklee ou que podem até ter estudado em uma época diferente da minha. Esta indústria é sobre relacionamentos. Sou grato pelos relacionamentos e pela experiência que a Berklee me proporcionou.
Home studios e carreira como produtor de música stock
TMDQA!: Com os home studios se tornando cada vez mais acessíveis às pessoas em todo o mundo, tenho certeza de que muitos aspirantes a músicos gostariam de ganhar a vida com a música. Ao mesmo tempo, os criadores de conteúdo sempre precisam de músicas isentas de direitos para seus projetos. Então, você acredita que fazer música de stock é um caminho que as pessoas deveriam explorar? Como você começou?
Jordan: As pessoas deveriam, absolutamente, explorar a oportunidade de criar para bibliotecas!
Desde a faculdade, eu sabia que queria fazer música para esse tipo de mercado. Meu contato com esse lado da indústria foi por meio de um post aleatório na página do Facebook de ex-alunos da Berklee na região de Los Angeles. Estou sempre compartilhando os benefícios da minha experiência ao compor para o PremiumBeat. Eu mencionei anteriormente o quanto eu amo aprender. Bem, compor para o PremiumBeat tem sido como um curso de graduação para melhorar minha produção. O volume de trabalho disponível te mantém atualizado sobre o uso de suas ferramentas de produção. O feedback que eles dão nas faixas é extremamente útil para seguir adiante. O mais importante para mim, me tornei muito mais versado em meu próprio processo criativo, o que afeta tudo o que estou criando. Para profissionais criativos como eu, é incrível ter esse caminho para criar, especialmente em momentos de incerteza como esses.
Conciliação de diversos projetos, influências e vida em turnê
TMDQA!: Uma coisa que me impressionou muito foi que você fez uma turnê com a Che’Nelle! Eu amo J-Pop e ela é uma artista incrível. A música japonesa sempre fez parte de suas influências? Como foi a experiência de fazer uma turnê com ela?
Jordan: Che’Nelle é muito querida e uma cantora muito alto astral! Viajar com ela foi muito divertido. Eu acho que foi a minha primeira vez fora do país também, então eu estava nas nuvens. Todos da equipe dela são muito criativos e fáceis de conviver. Eu sou baterista, antes de qualquer coisa, então foi muito divertido para mim que meu primeiro encontro internacional tenha sido tocando teclado com ela. Só fiquei mais por dentro da música japonesa nos últimos anos, mas adoro o que artistas como a Che’Nelle estão trazendo para o meio.
TMDQA!: Novamente, isso só mostra o quão versátil você é como artista. Com certeza há muitas, mas qual você acha que é a maior diferença entre atuar como músico em turnê e gravar suas próprias músicas?
Jordan: A maior diferença entre ser um músico de turnê e gravar suas próprias coisas é o tipo e a magnitude da influência que você tem sobre a direção criativa da situação. Como músico de turnê, você é realmente um artista, mas está servindo a música por meio da visão artística de outra pessoa de uma maneira muito específica. Como artista/produtor, ainda estou servindo a música, mas o faço por meio da minha própria visão. Eu tenho influência executiva sobre o resultado de todo o trabalho. Para mim, acho que eles andam de mãos dadas. É como a ideia de que, para ser professor, você deve primeiro se tornar um aluno ou a ideia de que os melhores líderes já foram realmente bons seguidores. Penso que aprender a servir humildemente a música através da visão artística de outra pessoa é um excelente passo para aprender a servir música através da sua própria visão.
TMDQA!: Finalmente, olhando o seu canal do YouTube, você gravou alguns covers incríveis de clássicos como The Police e música contemporânea como Kendrick Lamar. Há sempre muito debate sobre “as antigas são melhores” e tudo mais, mas para mim parece que as pessoas não conhecem a música nova e incrível que está rolando no mundo. De qualquer forma, como um músico incrível e estudado, qual sua opinião sobre isso, objetivamente falando?
Jordan: Bem, como você provavelmente pode perceber, eu aprecio todos os tipos de música. Pessoalmente, não concordo com a ideia de que “as antigas são melhores”. Algumas coisas mais antigas são muito ruins e outras mais novas são muito boas (e vice-versa). Eu acho que o importante é ver o terreno comum que une o novo e o antigo. Um dos maiores conceitos que acredito que une artistas mais velhos mais dinâmicos com outros novos e espetaculares é a capacidade de ser honesto em sua arte. Na verdade, estou escrevendo um livro sobre tudo isso agora, mas não vou escrever tudo aqui. [risos] Vou apenas dizer que acredito que a capacidade de sermos honestos em sua expressão artística, que neste contexto é dizer que aprender a fazer música que realmente ressoa consigo mesmo, é o elo entre toda arte atraente. Pode não comover a todos, mas ressoa em alguém.