#TBTMDQA: "Na Sua Estante", Pitty coleciona referências a "O Mágico de Oz", prêmios e milhões de visualizações no Youtube

Um instrumental envolvente, uma letra comovente e um videoclipe à altura fizeram com que o quarto single do disco "Anacrônico" se tornasse sucesso nas rádios e nos canais de televisão.

Pitty - Na Sua Estante

Amanhã (21), o disco Anacrônico, da cantora baiana Pitty, completa 15 anos de idade. Sim, já se passou bastante tempo desde que o segundo álbum da cantora veio ao mundo embalado de sucessos, riffs pesados e uma impecável produção.

Uma das faixas mais emblemáticas do disco (e um dos maiores sucessos comerciais de Pitty até hoje) é “Na Sua Estante“. Abaixo, vamos analisar alguns pontos sobre a música, como seu sucesso, sua produção e, especialmente, o seu legado.

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“Calmaria”

Coitado do ouvinte que associa Anacrônico apenas à “Na Sua Estante”. Na verdade, é a música mais calma do disco, apesar de sua temática pesada (da qual falaremos adiante).

O disco, no geral, é guiado por um som mais encorpado, com elementos oriundos do hard rock e de vertentes alternativas. É dele que nasceram os hits “Deja Vú“, “Memórias” e, é claro, a faixa-título. Sendo a nona música da tracklist, “Na Sua Estante” se destaca por ser um respiro em meio ao mergulho proposto pela sonoridade geral.

As outras músicas que representam essa “pausa” no disco são “Ignorin’u” e a essencialmente instrumental “Querer Depois“. No entanto, apenas “Na Sua Estante” ganhou o status de single.

 

“Essa abstinência, uma hora, vai passar”

Que atire a primeira pedra quem nunca sofreu por amor (juro que o paralelo com “Teto de Vidro” não foi acidental)!

O descaso é um problema sério da nossa sociedade. Muitas vezes não damos valor ao que temos e ao que está na nossa frente. Foi o caso do interesse amoroso do eu-lírico da música, cuja poesia evidencia o quão tóxica pode ser uma relação unilateral. A desilusão é evidenciada em versos como “Eu estava aqui o tempo todo e só você não viu” e “Eu não ficaria bem na sua estante”.

A parte final da música, mais intensa do que todo o resto, mostra que essa paixão pode se tornar danosa para a pessoa apaixonada. A expressão “Só por hoje”, repetida duas vezes nesse trecho, evidencia o problema em depositar seus sentimentos em uma única pessoa, fazendo ainda um paralelo com dependentes químicos. A certeza, no entanto, é a de que “Essa abstinência, uma hora, vai passar”.

Em entrevista concedida à Folha de S.Paulo na época do lançamento do álbum, Pitty contou que:

(…) ‘Na sua Estante’ é a mais dirigida ao relacionamento amoroso, pois realmente fala sobre desilusões e ressentimentos. As obras artísticas que mais me emocionam provêm de tragédias. Talvez eu só saiba falar de tragédias (risos).

 

A produção de Rafael Ramos

Anacrônico, tal como todos os demais álbuns de Pitty, conta com a produção de Rafael Ramos. Ele também assina trabalhos com grupos como NX Zero, Los Hermanos, Dead Fish e mais. Obviamente, isso inclui o hit “Na Sua Estante”.

Recentemente, um documentário sobre a produção em estúdio das músicas do disco foi disponibilizado no canal oficial da cantora no Youtube. Na parte que diz respeito à canção tratada aqui (aproximadamente em 49:50 no vídeo), Rafael conversa com os integrantes da banda sobre sua gravação. Ele sugere que a música siga um caminho mais “stoner”, guiado pela intensidade da guitarra de Martin Mendonça, mas também sugere que seja uma faixa “sem firula”. É o que vemos na versão que conhecemos: sem solos de guitarra ou intensas viradas de bateria. Ele ainda fala sobre a importância de manter um “clima pesado” na faixa.

No mais, o documentário nos mostra o estilo de gravação. A guitarra de Martin, ao contrário do resto, foi registrada diretamente da mesa de gravação. As imagens também dão foco para os pedais utilizados pelo guitarrista para chegar ao som característico.

 

AQUELE clipe

A música é linda e emocionante, e é claro que a banda faria um clipe à altura. Para impulsionar o single, foi produzido um vídeo sensacional, em animação, que hoje é referência para videomakers no Brasil inteiro.

O clipe, o único da fase Anacrônico que não conta com a aparição de Pitty, acompanha um personagem que não tem seu amor correspondido. Brilhantemente dirigido por Sérgio Guilherme Filho e Thalita Galvani, o vídeo conta com um visual melancólico e monocromático, acompanhando o “baixo astral” da canção.

Um dos poucos elementos que destoam do padrão de cores pasteis do vídeo é o coração do protagonista, uma espécie de relógio que ele carrega como um cordão. No final das contas (SPOILER ALERT), ele não aceita muito bem o rumo dos acontecimentos, e arranca fora seu coração. Assim, acaba se tornando apenas uma sucata utilizada posteriormente para a fabricação de uma bicicleta (que, para fechar a dor com chave de ouro, ainda é adquirida por sua ex-amada).

 

100 milhões de visualizações não é para qualquer um!

O clipe, inquestionavelmente incrível, atingiu em 2019 a marca de 100 milhões de visualizações. Na verdade, atualmente, o vídeo já passou os 123 milhões.

De fato, é um vídeo atemporal, e essa conquista apenas prova isso. O carismático protagonista pode gerar identificação com outras pessoas por conta do descaso amoroso. Além disso, a animação foi usada de forma a intensificar a discussão sobre o tema de uma forma que atores humanos não conseguiriam.

No Youtube, os mais de 39.000 comentários nos apresentam a histórias e reflexões pessoais sobre este delicado tema. “Se você está passando por isso hoje, por favor, acredite: ‘ESSA ABSTINÊNCIA UMA HORA VAI PASSAR'”, reflete uma usuária em um relato sobre tentativa de suicídio. “Vai ter gente que nunca vai enxergar nosso valor. Só nos resta nos retirarmos dali”, conclui outra fã sobre a mensagem do vídeo.

 

“O Mágico de Oz”

Mas e se o tal protagonista fosse, na verdade, o Homem de Lata, conhecido personagem do clássico “O Mágico de Oz“? Além da aparência que obviamente remete ao visual do filme de 1939, algumas referências delicadas do clipe dão força à teoria.

Na época do lançamento do clipe, alguns blogs já falavam sobre isso. Se, na história original, o Homem de Lata vai até Oz justamente por causa da ausência de seu órgão vital, a versão atualizada (ou continuação) de Pitty mostra que o personagem encontrou o que queria, pelo menos momentaneamente.

A teoria ainda é sustentada pelos sapatos vermelhos da colega de trabalho pela qual o protagonista é apaixonado. No livro original, eles pertencem à personagem Dorothy. Juntando as duas histórias, concluímos que o tal robô, que tanto lutou para conseguir um coração, acabou morrendo por sua causa.

 

O VMB ficou bem na estante na Pitty

Aos olhos da MTV, Pitty sempre foi um dos mais inovadores nomes da música brasileira (e com razão). Após sair de mãos vazias na edição de 2003 do VMB, a cantora ganhou pelo menos um prêmio em cada uma das cinco edições seguintes.

Em 2007, ela levou a categoria Videoclipe do Ano graças ao sucesso de “Na Sua Estante”, superando nomes como Charlie Brown Jr., Skank e Autoramas. A canção ainda foi indicada ao prêmio de Hit do Ano, mas perdeu para “Razões e Emoções“, do NX Zero.

No mesmo ano, a música também concorreu a duas das categorias principais de outra importante premiação da música nacional, o Prêmio Multishow. No entanto, não levou nenhum troféu, perdendo para “Senhor do Tempo“, do Charlie Brown Jr. (na categoria Melhor Música) e para “Dor de Verdade“, de Marcelo D2 (na categoria Melhor Clipe)

Bons tempos!

 

Live Acústica na Twitch

Para comemorar a data, amanhã (21) a Pitty irá se apresentar em seu canal da Twitch com uma Live acústica ao melhor estilo Luau, celebrando justamente o seu segundo disco.

Tá marcado para as 22 horas por aqui.

 

Outras versões

Naturalmente, assim como a grande maioria das músicas que relembramos aqui no #TBTMDQA, “Na Sua Estante” incentivou interessantes releituras ao longo dos anos.

Como a atmosfera intimista da música talvez peça, muitos dos arranjos usados nas covers têm ambientação acústica. Isso vale para as notáveis versões da cantora DAY e do cantor paranaense Marc Yann.

No entanto, uma versão que chamou atenção de forma diferenciada foi a releitura da Orquestra Petrobras Sinfônica. Em 2016, eles gravaram a canção durante uma iniciativa de fazer versões orquestradas para canções brasileiras populares, um projeto que ficou conhecido como O Clássico É Pop.

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