#TBTMDQA: Coldplay e "Viva La Vida", o conto sobre o rei que perdeu seu reino, seu povo e as chances de ir para o Céu

De referências bíblicas até acusações de plágio, confira algumas curiosidades sobre "Viva La Vida", o maior hit comercial do Coldplay.

Clipe de "Viva La Vida" (Coldplay)

Ele costumava dominar o mundo, mas agora está sozinho. Sentia o medo do inimigo apenas pelo olhar, mas hoje teme os revolucionários. Ele já teve poder, mas agora as paredes se fecharam.

Estamos falando do eu-lirico de “Viva La Vida“, grande sucesso da banda britânica Coldplay lançado em 2008 em seu quarto disco, Viva la Vida or Death and All His Friends. Trata-se de um monarca que cometeu diversos erros e, por conta disso, foi tirado de sua posição de prestígio.

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A letra mostra a ex-autoridade reflexiva sobre tudo que viveu e acabou perdendo repentinamente. Enquanto isso, a dor deste personagem é acompanhada por um grandioso arranjo instrumental, diferente de tudo que o Coldplay havia feito até então. Foi a ponte entre o som pelo qual a banda era conhecida (essencialmente guiado pelo piano) e a sonoridade cada vez mais abrangente que viria depois.

Dito isso, separamos algumas curiosidades interessantes sobre este hit. Confira abaixo:

 

Referências bíblicas

A análise das falas do ex-rei que consolidam a música possuem várias referências, a maioria delas no Império Romano e nas histórias contadas pela Bíblia.

Logo no início, o personagem se compara à figura de Moisés, que abriu o mar (no verso “Seas would rise when I gave the world“). Ele também se coloca no lugar de Jesus Cristo no verso “One minute I held the key“, em referência à alegoria da concessão das chaves do Reino do Céu para São Pedro.

Por falar em Pedro, a descrença do protagonista em ser chamado por ele (“I know Saint Peter won’t call my name“) implica que sua saída do trono pode ter relação a pecados. Aliás, uma vez que tem posse das chaves dadas por Jesus, São Pedro passa a ser responsável por convocar as pessoas para o Céu.

As referências também evocam o imperador romano Júlio César e a figura de Ló e sua família.

Quadro “Delivery of the Keys”, de Pietro Perugino

 

O clipe e a Revolução Francesa

Grande parte da divulgação do disco gira em torno do quadro “La Liberté Guidant le Peuple” (“A Liberdade Guiando o Povo”), do pintor francês Eugène Delacroix (1798 – 1863). Por sinal, é justamente essa imagem que estampa o fundo do clipe da canção.

O videoclipe, que acumula mais de 640 milhões de visualizações no Youtube, conta com animações dinâmicas e uma bela estética. O responsável pela direção é Hype Williams, que já trabalhou com Beyoncé, Snoop Dogg, Kanye West e mais.

Dado o contexto da Revolução Francesa, a canção pode se referir aos reis Louis XVI (que foi guilhotinado em 1793) e Charles I (morto em 1649). A famosa pintura de Delacroix, no entanto, diz respeito originalmente à Revolução de Julho de 1830, ocasião em que o rei Charles X foi exilado (e não morto).

Isso, por sinal, conversa com o viés “anti-autoritário” que está presente não só na letra de “Viva La Vida”, como também na de outras canções do disco.

 

Existe um videoclipe alternativo (e ele tem a ver com Depeche Mode)

A bela adaptação audiovisual retratada acima não é o único clipe disponibilizado pelo Coldplay para “Viva La Vida”. Poucos meses depois, um vídeo alternativo foi lançado, gravado na Holanda.

Com direção de Anton Corbjin, a nova versão é um tributo ao clipe de “Enjoy the Silence“, do Depeche Mode (clipe, vale dizer, também dirigido por Corbjin). Chris Martin interpreta, de fato, o rei ao qual a música se refere. O quadro de Delacroix também marca presença o tempo todo nesta versão alternativa, sendo carregado pelo ex-monarca pelos mais diversos cenários.

O vídeo também complementa a narrativa do álbum de uma forma que o vídeo original não consegue. Ao fim, o personagem de Martin é encontrado por seus colegas de banda, amarrando as pontas soltas deixadas pelo clipe do single anterior “Violet Hill“.

 

Título em espanhol e Frida Kahlo

O título da canção (e do álbum) tem base em uma pintura da influente artista mexicana Frida Kahlo. A pintura “Viva La Vida”, de 1954, conta com várias frutas e é entendida como a última realizada por Frida antes de sua morte. O quadro, tal como a força de sua autora, que sofria constantes dores físicas por conta dos efeitos da poliomielite, inspiraram parte do direcionamento temático do disco.

Questionado pela Absolute Radio sobre essa inspiração, Chris Martin comentou o poder da obra. “Ela passou por muitas coisas e, apesar disso, pintou um quadro em sua casa chamado ‘Viva a vida’. Adorei a coragem disso”, disse.

Apesar disso, o título sequer é dito ao longo da letra. Até a consagração do hit do Coldplay, apenas outras três músicas que se encaixam nessa categoria foram para o topo das paradas. São elas: “Dilemma” (Nelly e Kelly Rowland), “Foolish” (Ashanti) e “Family Affair” (Mary J. Blige).

Foto: Museu Frida Kahlo

 

Única música do Coldplay a chegar ao topo da Billboard Hot 100

Até 2008, Coldplay era uma banda mais conhecida por suas músicas guiadas por linhas de piano. E isso é ótimo, mas não é sempre o que há de mais pop no mercado. Apesar do talento dos integrantes, a banda nunca tinha sido contemplada com o prestígio de ter uma música no topo do mais importante termômetro da indústria.

Isso tudo mudou em Junho. Conquistando o topo e impedindo que hits como “I Kissed a Girl” (Katy Perry) se consagrassem, “Viva La Vida” se tornou o primeiro grande hit comercial da banda. Além da parada principal, a canção conquistou também o topo de mais cinco paradas da Billboard na época, incluindo categorias de rock.

 

O que Coldplay e as Spice Girls têm em comum?

Por falar em Hot 100, Coldplay é a primeira banda britânica a chegar ao topo da parada em mais de 10 anos. Em 1997, a girlband Spice Girls havia conquistado esse status graças ao megahit “Wannabe“.

Considerando como parâmetro o conceito de grupo, desde 2008 nenhum outro conseguiu chegar ao topo. Isso faz com que o Coldplay esteja mantendo o recorde há cerca de 12 anos. Desde aquela época, apenas artistas solos britânicos conseguiram tal destaque, como Adele, Mark Ronson e Ed Sheeran.

 

“Somos como calcário”

Coldplay é uma das bandas que impulsionaram as discussões sobre a situação comercial do rock no novo milênio. Viva La Vida foi o primeiro álbum do grupo a apresentar uma sonoridade mais pop, mesmo que ainda fiel ao rock alternativo dos discos anteriores.

Na visão da Academia do Grammy, os britânicos mereceram o prêmio de Melhor Álbum de Rock na edição de 2009. O grupo deixou Kid Rock, Kings of Leon, The Raconteurs e Metallica para trás. Na ocasião, após ser anunciado pela banda Blink-182, o vocalista Chris Martin comentou: “Não somos a banda mais pesada do rock. Na verdade, somos como calcário, suaves, mas encantadores”.

 

Nada se cria…

… tudo se copia. É o que dizem por aí, incluindo o guitarrista Joe Satriani. Em 2009, ele entrou com um processo contra a banda. Segundo Satriani, “Viva La Vida” incorpora elementos substanciais de sua música instrumental “If I Could Fly“, de 2004. O caso foi encerrado no mesmo ano, com ambos os lados optando por negociações fora da justiça. Mas ele não foi o único a acusar os britânicos.

Para a banda Creaky Boards, a música teve inspiração direta em “The Songs I Didn’t Write“, canção lançada na mesma época. O grupo alegou que Chris Martin chegou a ver uma performance ao vivo da música e que isso pode ter inspirado a melodia. No entanto, a defesa da banda argumentou, checando o diário de Martin, que ele não chegou a assistir à tal apresentação.

Um outro argumento convincente foi uma demo de “Viva La Vida” gravada em 2007, antes mesmo do lançamento de “The Songs I Didn’t Write”. A Creaky Boards retirou as acusações.

Outro artista que incomodou o Coldplay foi Cat Stevens, que acredita que o megahit tem similaridades com “Foreigner Suite” (1973). No entanto, o artista disse que não acredita que a inspiração tenha sido proposital.

Sobre as acusações, Chris Martin já alegou que as considera inspiradoras. “Se todo mundo quer tirar proveito da nossa melhor música, então que escrevamos 25 ainda melhores”, disse.

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