Sarará, Coala e FARO: festivais dialogam e revelam particularidades dos eventos de 2020 ao TMDQA!

Responsáveis pelos festivais brasileiros Sarará, Coala e FARO falam sobre as edições online dos evento e trocam perguntas entre si.

Coala Festival 2019
Foto do Coala Festival 2019 por Wesley Allen

Foto do Coala Festival 2019 por Wesley Allen

Não é novidade pra ninguém que o mundo do entretenimento foi chacoalhado de forma bastante dura pela pandemia do novo Coronavírus.

Casas de shows, bandas, artistas, técnicos, festivais, curadores e tantos outros nomes envolvidos em produtos que contam com aglomerações tiveram que parar suas atividades e infelizmente não há previsão de volta.

Aqui no Brasil o circuito dos festivais estava pra lá de aquecido já há alguns anos, e é realmente um baque perceber que há um longo caminho até que todos possamos ver nossos artistas de perto novamente.

Festivais Online

Acontece que nos próximos dias teremos versões online de alguns dos festivais mais importantes do país.

O Sarará, de Belo Horizonte, acontecerá no próximo sábado (29), enquanto o Coala, de São Paulo, deixa o Memorial da América Latina para ser realizado em um local secreto e distante do cimento em 12 de Setembro.

Por fim, o FARO, do Rio de Janeiro, irá acontecer entre 14 e 18 de Setembro, e nós aproveitamos essa proximidade toda para conversar com organizadores dos festivais e para que eles conversassem entre si a respeito de tudo que vem acontecendo.

Com exclusividade, o TMDQA! fez algumas perguntas base para os organizadores desses festivais e eles se fizeram perguntas entre si, como você pode ver logo abaixo.

Viaje com a gente e não deixe de anotar no calendário esses próximos eventos!

Coala Festival

Por Gabriel Andrade, sócio-fundador/curador

Tenho Mais Discos Que Amigos!: O festival acontece em um local físico, mas sem público. Qual foi a maior dificuldade para organizar a edição 2020? Qual é a estratégia pra manter a essência do evento na transmissão?

Gabriel: A maior dificuldade foi mudar totalmente o pensamento e também a equipe para pensar um “programa televisivo” de 8 horas. São demandas às quais não estamos acostumados e temos um nível de exigência alto em nossas produções; até por isso, passamos mais tempo planejando e só decidimos anunciar o festival em junho.

 O Coala se propõe a evoluir todo ano e isso se mantém em 2020. O Coala.VRTL é a versão digital do festival e vai ser executada com muito amor, muita música boa e com uma identidade própria, que é algo que valorizamos muito. Não quisermos perder a grandiosidade de um festival, fizemos um line-up que poderia facilmente ser replicado na edição física e agora estamos focados em gerar esse senso de comunidade para o dia do festival, pra que se torne uma experiência compartilhada e para que possamos estar todos juntos sem que isso seja, necessariamente, um ato físico.

Tenho Mais Discos Que Amigos!: Como como foi pensada a programação? O que muda na hora de pensar em uma programação que será transmitida online?


Gabriel: O pensamento muda, mas quisemos manter a essência do que o Coala vem construindo nesses últimos anos, mesclando shows inéditos, artistas consagrados e apresentando novos nomes como Nego Bala, por exemplo. 

Geralmente temos um grande nome por dia e esse ano teremos dois, que é algo pensado para gerar audiência. Assim como no Coala, vamos intercalar os shows de artistas consagrados com os artistas mais novos, mantendo a programação balanceada e garantindo que o festival cumpra seu papel de apresentar novas sonoridades ao público, que esse ano será bem maior.

Tenho Mais Discos Que Amigos!: Quais experiências foram criadas para estabelecer uma conexão com o público durante a transmissão?

Gabriel: Vamos manter a cobertura do festival nas redes sociais, vamos ter os influenciadores ajudando nesse processo, estamos comunicando esses novos rituais de assistir em casa para que as pessoas possam ter a melhor experiência e estamos estudando possibilidades de criar salas para que as pessoas possam interagir.

FARO pergunta para Coala: A cada ano o Coala surpreende o público com uma programação diferente dos demais festivais do circuito independente. Quais principais critérios da curadoria do Coala?! O que vocês levam em consideração na hora de convidar um artista e promover um encontro musical?

Gabriel: A nossa curadoria vem evoluindo/amadurecendo a cada ano e acho que o público amadurece junto e vai se abrindo cada vez mais ao diferente. Mesmo assim, nossa curadoria precisa ser cirúrgica, porque são apenas 6 shows por dia, totalizando 12 no fim de semana. 

O conceito que norteia a nossa curadoria é ser uma materialização da transição que está acontecendo na música brasileira do séc. XX para o séc. XXI, com todas suas nuances. Então, dentro dessa programação, tentamos fazer uma síntese da música brasileira contemporânea, reverenciando artistas consagrados, promovendo encontros e abrindo caminhos para a nova geração. 

Não temos restrição nenhuma em relação a gênero musical e tentamos buscar um bom balanço entre artistas consagrados, artistas em começo de carreira, artistas que estão em ascensão, encontros inéditos e atrações que você não veria normalmente em um festival no Sudeste, como Mestre Anderson Miguel e Orkestra Rumpilezz, por exemplo. E claro, a cada ano aprofundamos nossas pesquisas, rodamos o Brasil e isso acaba se refletindo também na programação; cada vez mais, esse trabalho de pesquisa vai ser importante para diferenciar os festivais.

FARO pergunta para Coala: O Coala cresceu muito em sete edições. Vocês tem planos de expansão pros próximos anos? Ir pra um lugar maior ou aumentar o número de dias de festival?

Gabriel: Sim! Costumamos falar que o Coala é um festival em “beta”, ou seja, está sempre em construção e ainda estamos longe da nossa VFinal. Tem muitas possibilidades de crescimento, mas vamos dando um passo de cada vez. Esse ano tínhamos muitos planos mas que foram pausados pela pandemia. Espero que em 2021 a gente possa fazer tudo que estava planejado.

 

FARO

Por Fabiane Pereira, responsável pelo evento

Tenho Mais Discos Que Amigos!: O festival acontece em um local físico, mas sem público. Qual foi a maior dificuldade para organizar a edição 2020? Qual é a estratégia pra manter a essência do evento na transmissão?

Fabiane Pereira: A maior dificuldade foi conseguir viabilizar financeiramente esta edição. O Festival Faro é a extensão do programa de rádio FARO, logo, sempre tivemos sonoridades diversas no line up com artistas de todas as regiões do país. Mas por conta das limitações impostas pela pandemia (circulação, logística e fluxo de caixa), optamos por promover uma edição só com artistas moradores da cidade do Rio de Janeiro, ou seja, com a cena musical produzida em solo carioca. Por incrível que pareça, nossa escolha curatorial acabou afastando as marcas que alegaram baixo engajamento nas redes dos artistas do line up. A maior dificuldade foi sensibilizar as marcas para apoiar um festival que já vai pra sua sétima edição e sempre priorizou artistas independentes que já estão prestes a entrar no que chamamos de “circuito dos festivais”. Mas mesmo com essa dificuldade que quase nos fez desistir do evento, conseguimos apoios que permitiram que mantivéssemos nossa essência que é fomentar a cena independente, democratizar os espaços midiáticos e formar novas plateias.

Tenho Mais Discos Que Amigos!: Como como foi pensada a programação? O que muda na hora de pensar em uma programação que será transmitida online?

Fabiane Pereira: Estou na curadoria do Festival Faro desde sua quarta edição, que aconteceu em 2012. E desde então eu penso a programação do mesmo jeito: mais mulheres do que homens no line up porque precisamos igualar essa conta e como mulher faço questão de contribuir para isso. Esta é a primeira premissa da minha curadoria, depois os critérios são mais subjetivos: artistas que já tocam na programação do FARO, artistas mais pedidos pelos ouvintes, artistas que circulam entre o cenário independente fazendo shows, dando entrevistas, engajando seguidores nas redes. A única mudança significativa desta edição é que foi a primeira vez que todo o line up é formado por artistas moradores da cidade do Rio de Janeiro. No mais, os critérios de seleção foram os mesmos. Sei da importância de se gerar engajamento nas redes sociais, de ter apresentações (lives) com um bom número de views e justamente pelo FARO sempre ter priorizado a formação de novas plateias, acredito que o público de um artista acabará sendo impactado pelas demais apresentações e assim somaremos escutas e espectadores.

Tenho Mais Discos Que Amigos!: Quais experiências foram criadas para estabelecer uma conexão com o público durante a transmissão?

Fabiane Pereira: A transmissão do Festival Faro acontecerá através do meu canal no Youtube, o Papo de Música. Pela primeira vez, consegui unir minhas duas frentes de trabalho num único projeto. Ficarei pessoalmente no chat durante todas as apresentações e os artistas também estarão no chat nas apresentações uns dos outros. Acredito que essa interação estreite a relação público e festival e permita uma participação ativa de todos.

SARARÁ pergunta para o FARO: O Faro vai para sua sétima edição neste ano. Qual o principal desafio desta edição digital e qual principal motivo de manter o festival mesmo em meio à pandemia?

Fabiane Pereira: O principal desafio foi realizar essa edição com muito pouco recurso financeiro. Decidimos realizar uma edição on-line do festival no início de junho e em agosto já estávamos com todo material na rua. A principal motivação foi a de querer ajudar, de alguma forma, a cadeia produtiva da música – em especial os profissionais que trabalham no mercado independente porque todos estão sem receita desde março. Então a urgência e a escassez de verbas foram os principais desafios. Esta edição do festival nasceu da mais genuína empatia e essa foi a mola propulsora. Ver profissionais da música, moradores da cidade do Rio de Janeiro, sem qualquer assistência pública e privada foi muito perturbador. Hype não paga conta e sabemos que muitos ainda acreditam que a arte na cidade do Rio de Janeiro vai sobreviver só pela fama conquistada em décadas passadas mas não vai. Precisamos arregaçar as mangas e executar e foi o que fizemos.

SARARÁ pergunta para o FARO: O Faro aposta na nova música brasileira. Qual a principal aposta da edição de 2020? E como vocês imaginavam a crescente do festival físico em 2020, 10 anos após a primeira edição do festival?

Fabiane Pereira: Ao contrário das outras edições, o evento deste ano não tem só uma aposta, mas são dez apostas. Todas as atrações são artistas que estão prestes a entrar no circuito dos festivais independentes e a intenção do Festival Faro é dar visibilidade a todos eles. O Rio de Janeiro é uma cidade sem circuito de shows e isso prejudica muitíssimo a cena musical. É uma cidade com pouca mobilidade urbana, as pessoas da zona sul dificilmente vão até a zona norte ou oeste assistir a um artista em inicio de carreira e uma edição on-line permite que todos possam conhecer novas sonoridades sem sair de casa. Isso é interessante. Quando a 1ª edição do Festival Faro foi organizada pela saudosa rádio MPB FM, ninguém imaginaria que o evento chegasse tão longe. Hoje o festival sobrevive até mesmo sem o programa de rádio e ver como esta estrada foi sendo pavimentada é muito gratificante. Espero que em 2021 tenhamos uma edição com milhares de pessoas aglomeradas, suadas, purpurinadas e cantando todas as músicas. Música é conexão e isso pandemia nenhuma vai nos tirar.

 

Festival Sarará

Por Bell Magalhães, uma das idealizadoras do evento

Festival Sarará 2019

Tenho Mais Discos Que Amigos!: O festival acontece em um local físico, mas sem público. Qual foi a maior dificuldade para organizar a edição 2020? Qual é a estratégia pra manter a essência do evento na transmissão?

Bell: A maior dificuldade foi de a ficha cair quanto a não presença de público, do encontro catártico. E também a adaptação de recursos financeiros. A estratégia para manter a essência do evento no ambiente digital foi trabalhar a conexão entre as pessoas para que não fosse apenas mais uma live, e o desafio de retratar toda diversidade e multiplicidade que o festival tem na sua essência, a voz e tom do festival – representados neste ano pela Linn da Quebrada. Além disso, a locação é a nossa casa – Mineirão. Estamos fazendo o festival do Mineirão para o mundo!

Tenho Mais Discos Que Amigos!: Como como foi pensada a programação? O que muda na hora de pensar em uma programação que será transmitida online?

Bell: A programação foi pensada para representar todos os universos que o Sarará permeia na música brasileira, do mainstream ao Rap. Nesta edição, exaltamos principalmente a cena e a efervescência cultural de BH.

Tenho Mais Discos Que Amigos!: Quais experiências foram criadas para estabelecer uma conexão com o público durante a transmissão?

Bell: Teremos uma plataforma digital onde todas as conexões e interações acontecerão – festivalsarara.com.br. Teremos palco principal transmitido do Mineirão, Tenda Despertar com o coletivo 101Ø que é o ambiente eletrônico, Praça de Alimentação com dicas de restaurantes locais de BH com serviço de delivery, Bares – com serviço de entrega de bebidas delivery, Espaço Conectar – que é o ambiente de troca de energia do público através do ShotGun, Fila do Camarim – onde alguns sortudos serão contemplados e terão 2 minutos de videochamada com seu artista predileto. E muito mais!

COALA pergunta para SARARÁ: Muitos festivais optaram por cancelar suas edições de 2020 e voltar apenas em 2021. Porque vocês preferiram seguir com a edição 2020?

Bell: Para manter a plataforma e energia do festival ativa, conectada e principalmente como forma de acalento para nós organizadores e produtores, público e a cadeia da indústria da música. Importante vivermos isso para o bem da nossa saúde mental em um momento de crise, para nos sentirmos vivos!

COALA pergunta para SARARÁ: O que não pode faltar no Sarará, seja em sua forma física ou digital?

Bell: Os encontros! Mesmo que agora em um outro ambiente! Eles são fundamentais para a gente se renovar e acreditar em um mundo mais humano, mais tolerante e plural.