Quem viveu o final dos Anos 90 e início dos 2000 certamente se lembra da febre do Nu Metal e sabe que o gênero foi um dos maiores divisores de opinião dentro da música em muito tempo.
Enquanto alguns celebravam a volta do Metal ao mainstream com força depois de uma queda nos anos anteriores, outros criticavam a sonoridade — que trazia novas influências de gêneros como o Rap — e principalmente a estética, com as roupas largas e chamativas.
O fato é que, em meio a tudo isso, muita música boa surgiu para aqueles que tiveram a cabeça aberta o suficiente para absorver as coisas interessantes que o movimento tinha a oferecer.
Diversas bandas tiveram “passagens curtas” pelo que foi chamado de Nu Metal, como foi o caso dos brasileiros do Sepultura, mas criaram verdadeiros clássicos nesse período.
Então, resolvemos relembrar os 10 discos mais importantes do polêmico gênero. Os álbuns escolhidos estão aqui por vários motivos, desde o quanto foram aclamados pelo público e crítica até a influência que geraram em outros grupos. Confira!
Por Felipe Ernani e Tony Aiex
Glassjaw – Everything You Ever Wanted to Know About Silence (2000)
Uma das bandas mais subestimadas dessa cena, o Glassjaw tem uma das sonoridades mais refinadas do estilo e mostra isso muito bem em seus trabalhos mais veteranos, mas foi com Everything You Ever Wanted to Know About Silence que eles moldaram uma geração.
Seja pelos vocais inconfundíveis de Daryl Palumbo que faziam o grupo ter um pé no Emo ou pelo peso de suas composições, que soavam muito mais experimentais do que a maioria das bandas do Nu Metal, o disco de 2000 é um dos mais subestimados daquela década.
Incubus – S.C.I.E.N.C.E. (1997)
O Incubus encontrou o sucesso mainstream alguns anos depois do lançamento de S.C.I.E.N.C.E., já com um som bem mais comercial e radiofônico (ainda que trabalhos como o clássico Make Yourself tenham ali suas influências do Nu Metal).
Acontece que o disco de 1997 é um verdadeiro marco para os caras e traz alguns dos melhores usos da inclusão de um DJ na formação em músicas como “A Certain Shade of Green”, além das incríveis linhas de baixo que dão o tom à obra. Discão!
Papa Roach – Infest (2001)
“Last Resort” é, para muitos, o grande hino do Nu Metal. É possivelmente a música mais popular do gênero e expõe tudo que ele tinha a oferecer, com muito groove e uma linha vocal que se assemelhava ao Rap.
No ótimo Infest, o Papa Roach trazia elementos em canções como “Between Angels and Insects” que serviriam de base para toda uma geração de fãs de Rock, Metal e Punk e abriu portas para o sucesso de outros grupos como o Sum 41 que transitavam entre essas cenas.
Slipknot – Slipknot (1999)
Ao lado do Incubus, o Slipknot talvez seja o responsável pelo melhor uso do DJ dentro do Metal e o álbum homônimo dos caras é a prova disso. O disco perde algumas posições porque, na verdade, tem uma influência gigantesca do Sepultura desde o uso dos tambores até os vocais gritados e os grooves utilizados.
Mas nada disso tira o mérito da poderosíssima estreia dos americanos, que gerou clássicos como “Wait and Bleed”, “Surfacing” e “Spit It Out” e deu o tom para algumas das bandas mais pesadas dentro do Nu Metal.
Limp Bizkit – Chocolate Starfish and the Hot Dog Flavored Water (2000)
Nenhuma banda incorpora melhor o conceito do Nu Metal mais “farofa” do que o Limp Bizkit. O grupo é a personificação de tudo que o estilo representa, para o bem e para o mal: Fred Durst com seu característico boné vermelho e roupas largas, Wes Borland sempre fantasiado e performático, Sam Rivers com seu estilo mais Punk e John Otto com suas regatas e a famosa cara de quem fumou um negocinho.
Musicalmente falando, o grupo também sintetiza bem o que o estilo trazia e, por mais que seus dois primeiros álbuns tenham verdadeiros hinos, foi com Chocolate Starfish and the Hot Dog Flavored Water que eles dominaram o mainstream graças a hits como “Rollin'”, “Take a Look Around” e “My Way”.
Linkin Park – Hybrid Theory (2000)
Apesar de termos outros gigantes na lista, é fácil cravar que o Linkin Park é a banda mais popular a sair dessa cena. A dualidade dos vocais de Chester Bennington e Mike Shinoda vem escancarada em Hybrid Theory, que chamou a atenção do mundo inteiro.
Os versos de Rap de Shinoda e os refrães melódicos (e por vezes agressivos) de Chester criaram um padrão que tentaram repetir inúmeras vezes, sempre falhando em atingir a mesma maestria da dupla.
Em cima de tudo isso, o som dos caras condensou influências de outros grupos da época como o Deftones em algumas das maiores obras-primas dos anos 2000. É claro que o fato de praticamente qualquer fã de música conhecer pelo menos “In the End” também pesa para subir esse disco de posição!
System of a Down – Toxicity (2001)
É sempre um grande debate considerar ou não o System of a Down como uma banda de Nu Metal. Por aqui decidimos colocá-los na lista, pelo menos até o disco Toxicity, que é uma obra verdadeiramente genial.
O fato de uma música tão pesada como “Chop Suey!” ter atingido tanto sucesso mostrou que o SOAD encontrou o equilíbrio perfeito entre o peso do Metal e a melodia que agradava as rádios, fazendo com que Toxicity se tornasse um trabalho fundamental dentro do gênero.
Vale lembrar também que o disco de estreia da banda, homônimo, era mais ligado a traços que caracterizavam o Nu Metal com elementos pro lado do “caricato”.
KoRn – Follow the Leader (1998)
Sim, o disco de estreia do KoRn foi praticamente a pedra fundamental do Nu Metal e canções como “Blind” são tão importantes quanto quaisquer outras do gênero.
Acontece que Follow the Leader foi o disco que abriu caminho para toda essa cena chegar ao mainstream, e hits como “Freak on a Leash” e “Got the Life” salientaram a importância do groove indo além do peso cru comum ao Metal — e muitas vezes, aliás, até deixando esse peso de lado por alguns momentos.
Deftones – Around the Fur (1997)
O Deftones é uma banda verdadeiramente única. É impossível deixar trabalhos como White Pony presos na caixinha do Nu Metal, mas o fato é que Around the Fur é um disco que se encaixa majoritariamente no gênero e que serviu como base para que todos esses elementos fossem trabalhados de maneira a fugir do padrão dali pra frente.
E isso serve não apenas para a própria banda: como falamos acima, outros grupos como o Linkin Park admitem uma forte influência do que o grupo fez antes e tudo isso só foi possível graças ao trabalho que trouxe clássicos como “My Own Summer (Shove It)” e “Be Quiet and Drive (Far Away)”, a última uma das canções mais belas do Nu Metal e que já dava indícios da pegada etérea que caracteriza o Deftones até hoje.
Sepultura – Roots (1996)
Alguns podem nos acusar de clubismo — e não estariam necessariamente errados — mas não poderia ser diferente. O trabalho dos brasileiros do Sepultura sintetiza muito do que o Nu Metal tem a oferecer sem os clichês midiáticos: grooves ferozes, peso, batidas que tornam muito difícil ouvir sem bater cabeça e vocais furiosos.
A influência de Roots é imensurável, e dezenas de bandas ao redor do mundo só existem hoje graças ao disco de 1996 e aos inúmeros hinos como “Roots Bloody Roots”, “Attitude” e “Ratamahatta”.
Além disso, o uso dos ritmos tradicionais brasileiros em canções como “Breed Apart” destacou os caras dos demais, surpreendendo muita gente por aqui mas simplesmente deixando os fãs internacionais boquiabertos e abrindo caminho para a percussão se tornar presente no Nu Metal, como ocorre com o Slipknot.
Claro, muito do que foi construído em Roots veio graças ao pontapé inicial de bandas como o KoRn, mas é bem provável que o álbum brasileiro seja ao mesmo tempo o Nu Metal em sua melhor forma possível — que inclui um pouquinho de Thrash Metal — e um dos trabalhos mais influentes do gênero.