Rock nacional dos anos 80 se beneficiou do remix e, de quebra, impulsionou a profissão de DJ

Conversamos com dois pioneiros do remix no Brasil pra relembrar versões clássicas de RPM, Guilherme Arantes, Leo Jaime e outros.

(imagem: Reprodução)
(imagem: Reprodução)

Por Diego Franchi e Rafael Teixeira

A história do pop rock brasileiro e da profissão de DJ no país se misturam muito. Ambas tiveram um ponto de virada na época em que as rádios ditavam tendências e as gravadoras dominavam o mercado fonográfico nacional, nos anos 80.

O “remix”, versão de uma música voltada para a pista de dança, é a principal assinatura de um DJ. Mas ele só se popularizou por aqui quando artistas pop daquela década, como Dominó e Guilherme Arantes, e astros do rock, como RPM e Camisa de Vênus, sentiram a necessidade de ampliar a duração de suas canções.

Foi por isso que, em 1985, a CBS Records encomendou o Dance Mix Vol. 1, que contava com versões de “Cheia de Charme” e “Louras Geladas”, e outros sucessos de Ritche, Leo Jaime, Fagner e outros.

No Sampleado, podcast sobre soul e dance music do TMDQA!, conversamos com Sylvio Muller, um dos maiores DJs do Brasil na época e responsável por esses remixes, ao lado de DJ Grego e Julinho Mazzei. Segundo ele, já se usava por aqui as mesmas técnicas de mixagem e overdub que estavam estourando nos remixes na Europa e Estados Unidos. Mas ainda faltava espaço para trabalhar.

Antes, só existiam versões extended, que os engenheiros de som e às vezes os próprios músicos faziam. A batalha dos DJs pra melhorar o nível das produções dependia muito dos diretores do estúdio, não só pra nos eferecer equipamentos como samplers, baterias eletronicas e gravadores pra edição, mas também pra adicionar o toca-discos no set, que é o instrumento do DJ. Foi só com os remixes do pop rock, nos anos 80, que o DJ passou a ser respeitado como parte do processo artístico, e pode ter acesso a estúdios profissionais junto dos radialistas, produtores e músicos.

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O remix no Brasil a partir dos anos 90

(Sylvio Muller e DJ Grego na mesa de som da Rádio Transamérica, em São Paulo, em 1986 / foto: Mila Maluhy)

O DJ Anthony Garcia, outro entrevistado no episódio do Sampleado, acompanhou a transição do analógico para o digital nos estúdios nos anos 90, e contou curiosidades sobre um dos estilos mais populares por aqui na época, o sertanejo.

Quando entrei em rádio, em 1995, ainda não tinha ‘filé mignon’ para os DJs. Os remixes do pop internacional, como Madonna e Michael Jackson, já chegavam prontos. Por aqui, João Paulo & Daniel é que estavam fazendo muito sucesso, então me pediram pra trabalhar em “Estou Apaixonado”, que não estava estourando por ser muito lenta. Fiz uma montagem soul na faixa, com batidas mais marcantes, e a rádio passou a tocar só essa versão. Aquilo impulsionou a música, a emissora e a minha carreira.

Depois disso, ele passou a fazer canções internacionais, e em 2013, sua versão não-autorizadada da música “Harlem Shake” conquistou a Europa e foi licenciada por uma gravadora italiana, que a fez bombar no mundo inteiro e levou Anthony Garcia para uma turnê europeia.

Até hoje, Sylvio Muller segue trabalhando com grandes bandas de rock. Com o Copan Brothas Remixes, ao lado do DJ Marcelo Paixão, ele lançou em 2019 versões como “A Chave da Porta da Frente”, do Barão Vermelho e “Sol de Domingo” do Frejat.

O Sampleado vai ao ar mensalmente por aqui e em todos os reprodutores de podcast. Nesta terça, dia 15, já tem episódio novo, que vai falar sobre o “rock para adultos” do estilo AOR. Siga @podcasttmdqa para acompanhar!