Alguns anos atrás, durante uma passagem do Arcade Fire no Rio de Janeiro, me ofereceram uma entrevista com a banda.
Eu entrei na casa de shows momentos depois da passagem de som. Alguns integrantes conversavam, inclusive Richard Reed Parry com quem falei. Mas em um dos cantos do palco estava Will Butler, ainda mexendo em seus instrumentos com o perfeccionismo de quem quer fazer perfeitamente o que se dispôs a realizar.
Essa imagem me surpreendeu. Ao ver a performance dele no palco, tão explosiva, muito da delicadeza e do detalhamento parece ficar em segundo plano. Mas é exatamente essa dualidade que faz do trabalho dele algo tão singular, seja dentro do Arcade Fire ou na sua carreira solo.
Diretamente de um estúdio montado em um porão, cercado de instrumentos, conversamos com Will sobre sua carreira e sobre seu novo disco solo, Generations e sobre o que significa pensar no passado e no futuro nos tempos incertos que vivemos.
Leia a entrevista exclusiva do TMDQA! logo abaixo.
TMDQA!: Antes de tudo, obrigado pelo seu tempo. Como tá sendo sua quarentena? Conseguindo se manter criativo?
Will Butler: Olha, está estranho. Varia muito. Quanto tempo faz mesmo, 5, 6 meses?
TMDQA!: Acho que pouco mais de seis meses.
Will Butler: Parecem anos! E eu tenho 3 crianças pequenas em casa. Então quando estava na primavera aqui no hemisfério norte não deu pra fazer nada. Era só tentar lidar com a energia deles e não surtar. (Risos)
TMDQA!: Nas músicas que você já lançou do novo disco tem uma luta interna muito forte, com as emoções. O quanto disso foi feito durante esse período maluco e o quanto sou só eu projetando coisas?
Will Butler: (Risos) Por incrível que pareça, é tudo anterior. Tem músicas que fiz em 2015. Desde as últimas eleições aqui nos Estados Unidos, tudo está muito… estranho. E parece que só vai piorando e não parece que vai ter uma melhora.
TMDQA!: Algumas semanas atrás eu estava ouvindo novamente o disco The Suburbs por causa de seu aniversário de 10 anos e meio que maratonei os outros discos e emendei nos seus trabalhos solo. E foi uma transição ótima, fez sentido. Você sente que tudo que você cria meio que alimenta uma outra criação futura?
Will Butler: Acho que sim. Tudo que faço seja no Arcade Fire ou solo vem da vida. Dos lugares que passamos, onde vivi. Por mais que tudo mude, os lugares, as pessoas… Eu continuo. Sinto que muito mudou desde 2010 (ano de lançamento do The Suburbs) mas realmente fico feliz que tudo soe coerente no meio dessa loucura.
TMDQA!: Assim como você, sou um pai recente. E desde que minha filha nasceu fico pensando muito sobre gerações e legado. Quando vi o nome do seu disco, pensei na hora nisso. Isso era algo planejado pro você? E pensando em legado, em gerações, daqui a 20 anos no futuro, o que você acha que as pessoas vão achar quando ouvir o seu disco?
Will Butler: Nossa, difícil. Mas acho que gostaria que funcionasse com o tempo e que seja coerente, assim como estávamos falando. Esse pensamento de gerações está muito próximo do meu modo de criar música. Meus avós, meus pais eram músicos… Sinto que muito do que fazemos e somos é moldado através das gerações.
TMDQA!: Eu gostei muito da trilha que você e o Owen Pallett fizeram para o filme “Ela” e eu li que você recentemente fez uma trilha para teatro. Você curte criar para outra mídia? O que muda no seu processo criativo em trabalhos assim?
Will Butler: Ah, é bem difícil pois você tem que se entregar a visão de outra pessoa. O filme era do Spike Jonze e não meu. Teve vezes que entregávamos a música e o Spike falava “tá muito triste” e eu ficava… “mas não tá triste”! (Risos)
Tentar criar com o olhar de outro artista te faz evoluir não só como artista, mas como pessoa.
TMDQA!: Você tem mais discos que amigos?
Will Butler: Mas é claro!
TMDQA!: Qual disco você diria que é um amigo?
Will Butler: (sem hesitar) Power, Corruption and Lies, do New Order. Sempre, sempre. Esse é um disco que faz parte da minha vida da primeira até a última faixa. Tem muita coisa acontecendo ali ao mesmo tempo mas sinto sempre que estou seguindo em frente quando ouço ele.