Entrevistas

Machine Gun Kelly fala com o TMDQA! sobre novo disco de Pop Punk e planos ambiciosos para o futuro

Em entrevista exclusiva ao TMDQA!, Machine Gun Kelly fala sobre seu novo e ótimo disco Pop Punk e seus planos bastante ambiciosos para os próximos anos.

Machine Gun Kelly
Foto via Divulgação

Machine Gun Kelly é a voz — e personalidade, ocasionalmente — de uma geração.

Com suas origens musicais no Rap, o músico de Cleveland cujo nome verdadeiro é Colson Baker vem trilhando um caminho extremamente único no mundo musical. Ao mesmo tempo em que se estabeleceu dentro da cena do Rap, logo quis sair e agora busca se renovar trazendo à tona um gênero que o marcou durante sua fase mais jovem: o Pop Punk.

E para isso ele se juntou a uma das grandes referências mundiais do gênero, Travis Barker (blink-182), em seu novo disco Tickets to My Downfall. Os fãs acompanham a mudança, e canções como “forget me too”, parceria com Halsey, já estão entre as mais queridas por aqueles que o admiram.

Além da música, a vida de Colson também lhe leva aos holofotes. Seja por meio do recém-assumido relacionamento com Megan Fox ou com seu trabalho como ator, que já o levou a interpretar Tommy Lee (Mötley Crüe) no aclamado filme The Dirt.

Tudo isso está refletido no novo trabalho do cara, e tivemos uma bela conversa sobre toda essa fase que parece unir o melhor de todos os mundos que ele já esteve envolvido.

Curta o papo na íntegra a seguir com essa entrevista exclusiva do TMDQA!

Entrevista com Machine Gun Kelly

TMDQA!: Oi, Colson! Tudo bem por aí?

Machine Gun Kelly: Tudo certo, sua camiseta [da revista Thrasher] é irada!

TMDQA!: Obrigado! Eu queria inclusive começar já falando de algo que tem a ver com isso, que é o game Tony Hawk’s Pro Skater 1+2. Tenho jogado bastante e seu single “bloody valentine” está lá! Como foi o processo de colocar a música ali e quão especial é essa música em específico pra você?

MGK: Eu acho que a parte mais legal dela ter começado toda essa fase do Tickets to My Downfall e esse revival do Pop Punk é que foi literalmente a primeira canção que eu e o Travis [Barker] fizemos quando fomos ao estúdio gravar. E isso, tipo, foi a primeira gravada e o primeiro single, então o fato de que ela saiu tão bem foi uma indicação de que estávamos começando essa onda, ou até tsunami eu diria, porque vai mudar a música pelos próximos 10 anos, como uma boa onda faz, como tem feito o Hip Hop pelos últimos 10 anos, sabe? Eu acho que agora os instrumentos ao vivo voltarão a dominar na década de 2020.

Também é tão irado que ela está no jogo do Tony Hawk porque boa parte da minha infância foi influenciada por aquela trilha sonora. Tipo, a primeira música que ouvi do Offspring, do Rage Against the Machine, tudo veio da trilha sonora do Tony Hawk.

TMDQA!: Sensacional! Por aqui também a influência foi enorme. Bom, precisamos falar sobre o novo disco…

MGK: Espera, espera, espera! Mano, a música tá soando bem no jogo?

TMDQA!: [risos] Está demais!

MGK: É? Ah, foda! Eu acabei de pegar o jogo ontem e ainda não consegui jogar!

TMDQA!: É uma das minhas preferidas, daquelas que eu coloco pra tocar quando estou tentando encaixar alguma sequência de manobras para me inspirar!

MGK: Aí siiiiim!

Tickets to My Downfall

TMDQA!: [risos] Agora sim, chegando no novo álbum. Eu estou muito empolgado para ouvi-lo [a entrevista foi feita antes do lançamento] e acho que “my ex’s best friend”, em especial, mostra isso que você falou: o Hip Hop e o Rap dominaram os últimos anos, mas os instrumentos ao vivo estão voltando com força e nas suas músicas você consegue conciliar os dois.

MGK: Sim! A vibe realmente não é tão diferente.

TMDQA!: E o resto do disco, como você o enxerga?

MGK: Você vê que há algumas músicas bem Pop Punk raiz, com 2 minutos e 15 segundos, sabe? Você tem letras ótimas, porque elas são sinceras e baseadas em momentos reais e há muita vulnerabilidade em quão pessoal eu deixei um dos interlúdios ser [“banyan tree”, provavelmente] e há um convidado surpresa no interlúdio “kevin and barracuda” [Pete Davidson, humorista americano], o “kevin” é um dos meus melhores amigos e eu fiquei muito feliz porque ele conseguiu me ajudar a carregar a tradição de fazer uma esquete no meu álbum.

TMDQA!: Legal! E uma das coisas que chama a atenção no disco é justamente isso de você convidar muita gente para participar, e certamente pelo que eu já vi você era um grande fã do Travis antes de trabalhar com ele. Como foi isso pra você?

MGK: Mano, ele é literalmente o novo Rick Rubin [lendário produtor]. Sério. Ele sabe como trazer o melhor de um artista e foi uma honra.

TMDQA!: Outra pessoa que também trabalhou com o Travis foi o YUNGBLUD, e inclusive vocês já gravaram a ótima “I Think I’m OKAY” juntos e outras coisas. A gente aqui no site teve o prazer de falar com ele um tempo atrás, e perguntamos sobre a importância dessas músicas que vocês têm feito estarem quebrando as barreiras de gênero. Isso é importante pra você também, não ficar preso ao que está na moda ou ao que você fez no passado?

MGK: Eu acho que você precisa olhar para os que fizeram isso antes de você e confiar na luta, sabe? Porque você olha para um cara com o Prince ou o [DavidBowie e a apreciação póstuma é provavelmente muito mais… tipo, muito maior do que eles provavelmente jamais pensaram durante o tempo em que estavam vivos. Sempre foi uma coisa meio “eles são estranhos”, “eu não entendo”, “por que estão fazendo isso?”, “por que eles se vestem assim?”, “por que ele está fazendo música assim quando no começo ele fazia música de outro jeito?”, sabe? É tipo, você sempre percebe, ou é sempre bom perceber, que outras pessoas quebraram essas barreiras de gênero e de vestimentas, de masculinidade, e saíram com amor, que é a coisa mais irada do mundo.

Todo mundo está procurando amor no mundo, não é diferente com os artistas. Quer dizer, alguns fazem pela grana, mas os que ficam até o fim, aqueles cujos nomes ecoam pelas décadas, esses são os que só estão procurando por e expressando amor. E é meio que isso que esse álbum é pra mim, e o próprio Hotel Diablo também. A história de um garoto solitário que só está tentando se encontrar… e meio que fazendo umas merdas enquanto isso. [risos]

TMDQA!: [risos] Entendo! E ainda falando sobre o YUNGBLUD, você disse em um Tweet recentemente que a sua música nova com ele e uma outra com o The Used estarão em um lançamento especial no futuro. Pode nos contar o que é?

MGK: Bom, obviamente haverá uma versão deluxe de Tickets to My Downfall porque é simplesmente o certo a se fazer. Há obviamente músicas que gravamos durante o mês e meio, dois meses que eu e o Travis o fizemos, mas além disso eu ainda diria que seria uma pena não aproveitar mais desse… efeito Pop Punk que tem acontecido. Então eu não esperaria que o Tickets to My Downfall seja o último projeto nessa vibe que vocês vão ver de mim, e eu também não ficaria na expectativa de esperar muito tempo.

Inspirações para Tickets to My Downfall

TMDQA: Aí sim! Melhor ainda. Bom, o ano de 2020 tem sido uma loucura né? E pra você acho que isso tem rolado tanto positivamente quanto negativamente. Você, sei lá, ganhou um VMA, entrou em um novo relacionamento, mas ao mesmo tempo tem uma pandemia por aí, você não pode fazer shows, enfim. Você escreveu essas músicas antes de tudo isso ou essas coisas boas e ruins te inspiraram no disco?

MGK: Absolutamente [inspiraram]. Tipo, “concert for aliens” foi escrita tipo uma semana antes de fecharmos o disco, essencialmente. “concert for aliens” também é, se você ouvir com atenção, uma verdadeira cápsula do tempo do que 2020 é, tipo, o tempo mais estranho de todos. Cheio de manchetes dizendo que o mundo acabou e todos nós confusos pensando tipo, “Eu pensei que o futuro iria ter ar limpo e carros voadores, mas tudo que temos é guerra racial e brutalidade policial e políticos estúpidos?”. Me entende? É como se a minha perspectiva fosse, tipo, o que os aliens estariam pensando se estivessem olhando pra Terra agora. Eles ficariam tipo, “Olhem esses idiotas, é o melhor reality show de todos”.

E aí eu acho que, no que diz respeito à parte de encontrar o amor, isso também entrou no álbum. Porque isso aconteceu durante o processo de gravação do disco e… bom, você pode ouvir, você pode literalmente ouvir e entender do que eu estou falando. [risos]

TMDQA!: Sobre essa questão da mensagem de “concert for aliens”, eu lembro de ter visto no Twitter que você respondeu às críticas de pessoas por você ter aparecido em fotos usando rosa e sei lá o que. É um sinal dos tempos, né? Difícil demais ter que lidar com isso enquanto o mundo pega fogo, literalmente.

MGK: Mano, a masculinidade tóxica é uma parada nojenta. Ao mesmo tempo, a masculinidade tóxica é tipo… [risos] a mesma “qualidade” que você em figuras históricas que eram pessoas terríveis, tiranos, que queriam que todas as pessoas fossem como eles eram. E é tipo, “Cara, você é imperfeito pra caralho, por que diabos eu iria querer te usar como modelo?”, sabe?

TMDQA!: E ao mesmo tempo que sua música fala dessas coisas, ela também tem uma vibe feliz — como eu disse, até jogando Tony Hawk’s rola uma inspiração, uma coisa meio “ok, eu consigo fazer isso”. É algo que você tem em mente quando está escrevendo?

MGK: Sim, eu acho que é importante conseguir entregar emoções complicadas em frases realmente simples e ao mesmo tempo entregar letras bem tristes em uma ambientação meio triste/feliz, sabe? Tipo, até “bloody valentine”, aquele segundo verso é só sobre um cara que é totalmente incompreendido pelo mundo e todo mundo acha que tudo que brilha é dourado, sabe? “I’m overstimulated and I’m sad” [“Eu estou superestimulado e eu estou triste”] é meio que tipo, “Pô, eu tenho tudo mas eu ainda estou sentindo falta de algo”.

Planos de trazer o “passado” para o futuro

TMDQA!: Uma coisa que eu acho legal demais que você e outros artistas dessa geração — em especial, de novo, o YUNGBLUD — têm feito é trazer às pessoas mais jovens um contato com músicas que nós crescemos ouvindo, como é o caso do próprio Travis. Quão importante é isso pra você?

MGK: Cara, ótima pergunta. É meio que da mesma forma que será a responsabilidade da próxima geração passar essas músicas através dos tempos, sabe? É isso que eu estou fazendo, temos que manter a música boa viva. Quem quer que tenha sido a geração que veio antes da nossa teve certeza de que nós conheceríamos o Nirvana, o The Doors ou o Jimi Hendrix ou o Eric Clapton ou o Tupac, ou o Biggie [Notorious B.I.G.], porque tipo, eu tinha cinco anos ou zero anos quando essas coisas estavam acontecendo.

Então é tipo, eles fizeram com que essas boas músicas e essas inspirações e essas figuras icônicas chegassem na gente, da mesma forma que professores nos passam sei lá, o George Washington ou o Napoleão, sabe? Então eu acho que só estou cumprindo a minha responsabilidade.

TMDQA!: E certamente você viveu isso na pele no The Dirt, quando interpretou o Tommy Lee, do Mötley Crüe! Foi seu papel preferido no cinema?

MGK: Com toda certeza, com certeza! Eu li o livro quando era jovem, tinha uns 14 ou 15 anos, e eu só lembro de ficar tipo, “Eu quero crescer e ser assim”. E aí eu acabei, tipo… olha, o primeiro vídeo pornô que praticamente todo mundo viu na vida foi o de Tommy Lee com a Pamela Anderson, então ele era um ícone tão grande da cultura Pop, sabe? Com as suas tatuagens e sua atitude fodona, seu jeito de tocar bateria, as polêmicas que cercavam essa banda.

E aí de repente eu o conheci e ele é um cara tão amigável e um ótimo mentor naquele processo do filme, tipo, ele esteve comigo quando eu precisei ou então sempre atendia o telefone quando eu tinha perguntas, às vezes até ia na minha casa. Eu sou muito grato pela amizade dele e por ele ter me dado a bênção para o papel.

TMDQA!: Que irado! Olha, chegamos na última pergunta e confesso que é algo que não resisti a perguntar. Você repostou esses dias um vídeo em que você acerta um home run [melhor jogada do baseball] em um jogo de celebridades e comentou que fez isso enquanto estava doidão de LSD [risos]. Você lembra disso? Como você se sentiu na hora?

MGK: Mano, você viu minha cara quando eu dei um carrinho até a última base e levantei meu braço? [risos] Eu estava tão doido que eu literalmente pensei que estava na World Series [nome dado à final da MLB, maior liga do esporte] ou algo do tipo. Eu achei que eu era o Babe Ruth acertando um grand slam [risos]. Eu achei que era um gladiador naquela hora, eu esqueci completamente que estava em um jogo das ligas menores de softball [risos]. E, mano, eu acho que eu corri mais rápido do que eu jamais havia corrido na vida. A câmera nem conseguia acompanhar!

TMDQA!: Eu fiquei muito impressionado! [risos] Até antes de saber da parte do LSD. Infelizmente acabou o nosso tempo, mas obrigado pelo papo, foi ótimo! Até a próxima, Colson!

MGK: Ah, beleza! Valeu irmão, até mais!

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