#TBTMDQA: Van Halen, "Jump" e o sintetizador mais marcante da história do rock

Reportagens sobre tentativas de suicídio, sintetizadores e um simples videoclipe resumem o maior hit do grupo Van Halen, "Jump", lançado em 1983.

Van Halen no clipe de "Jump"
Foto: Reprodução / Youtube

O mundo da música sentiu bastante a morte do incrível guitarrista Eddie Van Halen, que acabou não resistindo a uma batalha contra um câncer de garganta. Diversas homenagens internet afora têm relembrado seu legado como um dos melhores guitarristas da história.

Eddie ficou conhecido principalmente por seu trabalho na banda que leva seu sobrenome. Complementando a base instrumental guiada pelo hard rock e pelo glam rock, ele deixou os amantes de música boquiabertos com sua admirável habilidade técnica na guitarra.

Tappings e arpejos à parte, o grande sucesso comercial da banda nasceu de linhas de sintetizadores. “Jump“, faixa lançada nos dias finais de 1983, captou um novo público para o grupo e ajudou em sua consagração no mundo do rock (e do pop). A canção é o single principal do disco 1984, lançado pouco tempo depois (pasmem, em 1984).

Da composição ao legado deste hit, separamos algumas curiosidades interessantes. Confira abaixo:

 

Eddie nos teclados?

A música definitivamente não seria a mesma se não fosse a grudenta linha de sintetizadores que está presente do início ao fim. O responsável por isso tem nome e sobrenome: Eddie Van Halen.

O guitarrista teve sua iniciação no mundo da música através do piano, ainda criança. A tal linha tinha sido composta originalmente em 1981, mas o vocalista David Lee Roth era contra a ideia de Eddie tocar teclado. Anos depois, com a ajuda de um empurrãozinho do produtor Ted Templeman, Roth revisitou a ideia e escreveu a letra, o que deu origem ao maior sucesso comercial da banda.

 

A história da letra

Por falar em letra, Roth ganhou inspiração ao se relembrar de uma matéria televisiva, na noite anterior, sobre um homem que estava ameaçando se suicidar pulando de um prédio alto. Ele pensou, na ocasião, que um dos espectadores da tensa cena poderia ter gritado “vai, pula” (“go ahead and jump”).

No entanto, ao invés de ser uma canção sobre suicídio, a mensagem foi traduzida para um tema mais “abrangente”. Graças ao apoio do roadie Larry Hostler, o tal “pulo” passou a ser entendido como uma imersão a uma espécie de “convite ao amor”.

 

Inspiração em Hall & Oates?

Em uma entrevista, em 2006, Daryl Hall, metade da dupla Hall & Oates, falou sobre a produção de algumas música em entrevista. O assunto era como “Billie Jean“, grande sucesso de Michael Jackson, teria sido inspirada pelo uso de drum machines da música “I Can’t Go For That“. Ao justificar que não se incomoda com isso, o músico citou Van Halen, que supostamente teria feito algo semelhante:

Tudo bem! É algo que todos nós fazemos. [Eddie] Van Halen me disse que ele copiou a parte de sintetizador de ‘Kiss On My List’ e a usou em ‘Jump’. Não tenho nenhum problema com isso.

 

Um som mais radiofônico

Até então, o Van Halen era conhecido por sua sonoridade hard rock, mas “Jump” expandiu ainda mais os horizontes da banda. Muito por conta do protagonismo dos sintetizadores, o grande hit abraçou uma sonoridade mais agradável para as rádios da época, o que foi decisivo para seu sucesso comercial.

No entanto, os elementos pop utilizados não apagaram a fundação clássica de rock da música, com guitarra, baixo, bateria e potentes vocais. Muito pelo contrário, serviram como complemento para essa visão cada vez mais aceitável do pop rock dos anos 80. Solos de guitarra e notas bem demarcadas no baixo ajudaram a criar um padrão para esse movimento, também seguido por nomes da época como Duran Duran, Depeche Mode e mais.

 

Um vídeo simples (até demais)

Não restam dúvidas de que os videoclipes feitos atualmente, em sua grande maioria, seriam impensáveis nos anos 80. O avanço tecnológico possibilitou novas alternativas para se contar uma história em vídeo e beneficiou a narrativa multiplataforma de muitos artistas.

Lá em 1983, ainda no início da MTV, os vídeos começaram a sair cada vez mais da caixinha. Isso poderia, justamente, ter condenado o vídeo de baixíssimo orçamento feito para “Jump” ao fracasso. Mas não foi o caso.

Dirigido pela própria banda e por Pete Angelus, a adaptação consiste em gravações da própria banda tocando com um cenário preto de fundo. Sem muitas pretensões, a gravação mostra os membros se divertindo, fazendo palhaçadas e interagindo com a câmera. Virou uma espécie de padrão para vídeos de baixo orçamento no mundo do rock, recebendo indicações, inclusive, ao VMA.

Não podemos deixar de citar também o salto de David Lee Roth, que, ao ser apresentado em câmera lenta na versão final do vídeo, ganhou o coração dos fãs e o status de “fenômeno pop”.

 

Topo na Billboard

Apesar de os anos 80 terem sido uma década muito frutífera para o rock, o gênero foi, verdade seja dita, um tanto ofuscado no ano específico de 1984. Em termos comerciais, o pós-disco e o dance-pop levaram foram responsáveis pela grande maioria dos hits #1 daquele ano. Isso inclui, vale destacar, o sucesso “Like a Virgin“, de Madonna.

Também flertando com o “som da época”, o rock foi representado no topo da Billboard através de nomes como Yes, Hall & Oates e Duran Duran. Foi justamente nesse cenário que o Van Halen encontrou seu maior hit, que, por sinal, foi uma das músicas que mais resistiu na primeira posição dentre os 20 grandes sucessos a conquistar o topo em 1984. Empatado com “When Doves Cry“, do Prince, o grupo teve sua colocação intocável durante 5 semanas seguidas! Começou em Fevereiro, quando tirou “Karma Chameleon” (Culture Club) do #1, e ficou até o fim de Março, quando “Footloose” (Kenny Loggins) assumiu oficialmente o posto.

 

Bombando no cinema

“Jump” é uma música icônica por diversos motivos. Sua atmosfera épica, proporcionada especialmente pela linha de sintetizador, ganhou sobrevida ao ser relembrada diversas vezes no mundo do cinema. Vai desde o seu uso sutil em uma mensagem de caixa postal em uma cena de “O Paizão” (1999) até a trilha para uma cena de batalha em “Herbie – Meu Fusca Turbinado” (2005).

E o próprio mundo do cinema confirma sua atemporalidade. Só ao longo da última década, a música apareceu nas trilhas de filmes diversos. Vai desde a comédia “Voando Alto” (2016) até a ficção científica de “Jogador 1” (2018). O hit ganhou também espaço nas animações “Sing” (2016) e “Meu Malvado Favorito 3” (2017).

https://www.youtube.com/watch?v=P2fqF27XXlY