A missão de The Boys era difícil: igualar ou superar a qualidade da primeira temporada. Para alegria dos fãs, esse objetivo foi alcançado de forma incontestável, melhorando praticamente todos os núcleos da história.
A série economizou no tom satírico do primeiro ano e deu mais atenção aos personagens em si. A mudança é significativa, mas não comprometedora. Os arcos pessoais tanto dos heróis quanto do grupo The Boys também deu espaço para as esperadas críticas sociais e para a ironia, marcas registradas da produção.
A mudança de foco para os personagens esclareceu algumas conexões entre os protagonistas. Uma das principais foi a ligação entre Billy Bruto e Hughie, que apesar de representarem dois extremos completamente opostos, passaram a entender gradualmente que um precisava do outro para saírem da inércia na qual ambos estavam presos até chegarem ali.
A partir daqui, o texto contém spoilers.
A ruptura de relações também serviu para exemplificar como as conexões são importantes. É o caso do Capitão Pátria, que matou Madelyn no final da primeira temporada como uma forma de libertação, mas descobriu que um mundo de liberdade não significava exatamente fazer o que quiser.
Sem a figura materna e protetora que ela representava, ele teria que desbravar esse novo mundo sozinho. O problema é que ele não foi capaz de fazer isso e logo encontrou em Tempesta alguém para preencher essa lacuna.
Falando nas tentativas de conexão do Capitão Pátria, a única pessoa que despertou nele o mínimo esforço para criar um vínculo foi seu filho. Ryan. Por mais erradas que fossem as tentativas, a ligação com o garoto foi um grande gatilho para mover a trama nesta segunda temporada.
O defeito nesse núcleo foi a aparente ignorada no importante fato de Ryan ser a primeira pessoa a nascer com superpoderes na história. A Voght deveria tratá-lo com um pouco mais de atenção, já que ele representa algo tão relevante.
Por enquanto, ele tem sido apenas um motor para que algumas histórias andem. Até na surpreendente conclusão da série, o garoto foi uma ferramenta para que a imagem do Capitão Pátria fosse suavizada.
A intenção de poupar o filho de ter uma infância sofrida como a dele soou verdadeira, porém, o líder dos Sete já demonstrou ter uma personalidade tão bizarra que nem esse esforço conseguiu dar uma “humanidade” para ele.
Críticas sociais
Assim como fez na primeira temporada, quando alfinetou sem piedade a sociedade de consumo e os valores questionáveis nos quais estamos profundamente mergulhados, The Boys não aliviou na crítica aos problemas da vida real, especialmente utilizando o subtexto racial.
O racismo de Tempesta nem precisou de muitas linhas de diálogo explícitas que ficasse óbvio. E quando o roteiro resolveu tornar isso público… o tapa dado em uma grande parcela da população foi certeiro.
Quando ela falou sobre o “ataque que as pessoas brancas estão sofrendo” e sobre o “genocídio branco”, o conceito de “racismo reverso” se mostrou escancaradamente absurdo a ponto de o próprio Capitão Pátria reagir com um disfarçado estranhamento. No mesmo episódio, ela ainda soltou uma das falas mais potentes de The Boys até aqui:
As pessoas adoram o que eu tenho a dizer. Elas acreditam nisso. Só não gostam da palavra nazista.
Para não dizer que tudo foi perfeito, o núcleo da Igreja do Coletivo se mostrou fraco desde o início, tentando fazer do Profundo um alívio cômico que definitivamente não funcionou. Apesar da importância para o desfecho geral, o arco em si sofreu um grande golpe com a morte do grande líder da igreja. Será que ainda tem jeito de aproveitar algo ali para a próxima temporada?
Outro ponto bem questionável desse ano foi a utilização do Facho de Luz, herói ex-Sete que poderia ter sido muito melhor aproveitado durante sua curta participação.
E agora?
A segunda temporada de The Boys fez algo que é arriscado em séries de fantasia, que é fechar quase todas as histórias que propôs até agora. Tempesta teve seu começo, meio e fim; a Igreja do Coletivo também; o próprio Billy teve sua narrativa supostamente encerrada com a morte de Becca.
Isso, porém, pode ser algo extremamente positivo. Depois de uma temporada de apresentação daquele universo e outra sobre a consolidação dos personagens, nada mais interessante do que retornar com histórias completamente novas.
É claro que algumas pistas já foram deixadas, como a revelação bombástica que a congressista Victoria Neumann era a responsável pelas cabeças explodindo. Também existe a super que escapou do hospital psiquiátrico e parece ter potencial, além do próprio Ryan.
No fim das contas, The Boys manteve o nível e também deixou as expectativas tão altas quanto os fãs gostariam.