Liga a TV. Notícias tristes, desde pessoas desrespeitando as recomendações das autoridades de saúde até a Amazônia em chamas. Desliga a TV. Vai comprar algo. Os preços são todos caros. Desiste de comprar. Puxa assunto com um familiar. Divergências políticas. Melhor cortar o assunto antes que gere uma briga. Conclusão: é preciso uma válvula de escape, para nos tirar, nem que seja momentaneamente, da dura realidade à qual estamos submetidos.
A alternativa encontrada por Bola foi a música. Com a pandemia, o músico, mais conhecido por seu trabalho à frente da banda Zimbra, decidiu estudar e aprimorar ainda mais os seus dons musicais. Eis que surge Calma, não vamos falar da vida, seu novo EP solo, como forma de manter a sua sanidade mental em meio a tempos tão adversos.
“Única forma de escapar de inúmeros sentimentos ruins”
Para um músico, o fazer musical em si é um processo terapêutico. Para se esquivar da avalanche de notícias ruins e da sua incessante preocupação com o mundo e com as pessoas que o habitam, Bola mergulhou na composição das novas faixas. Sozinho, teve que lidar com algumas lacunas técnicas, como ligar uma placa de áudio no computador.
A iniciativa de lançar novo material fez com que ele consumisse horas de vídeo-aulas na internet, fazendo cursos online e pedindo ajuda para amigos. Além das gravações de voz e violão, o material conta também com contribuições de Pedro Pelotas (pianos, cordas e produção), Vitor Fernandes (slides), Bruno Pelloni (mixagem e masterização) e Leo Daruma (capa).
Sobre o processo, ele conta:
Foram assustadores os primeiros dias do desconhecido. A única forma de escapar de inúmeros sentimentos ruins que eu tinha era fazer musica, e fiz essas musicas. Eu passei praticamente o dia todo compondo, gravando, apagando, errando e aprendendo, perguntando… Dessa forma, pude me distrair durante os dias difíceis que atravessávamos. Não me importava mais o resultado final, pois o processo estava me salvando de dias ruins.
Um presente para o ouvinte
Mais do que um “mero” processo de cura espiritual, o novo trabalho de Bola é um presente para nós, ouvintes. Ao lançá-lo no mundo, o músico partiu do pressuposto de que existem pessoas que diariamente tentam fugir da realidade. Ele conclui:
Meu desejo pra você que me ouve agora é que ele te anestesie como todo o processo dele me anestesiou em dias ruins. Obrigado, música, por me salvar todos os dias.
Pois bem, nossa dica é: reserve uns minutos do seu dia para se desligar do mundo. Pela sua janela, admire o céu. Separe um copo da sua bebida favorita ou mesmo um pedaço de uma comida que te dê prazer. Coloque os fones de ouvido. Ouça o EP do Bola. Feche os olhos e esqueça da realidade por um momento. De nada.