#TBTMDQA: A Turma do Balão Mágico deixou a música brasileira bem mais divertida com "Superfantástico"

Parceria atemporal entre a Turma do Balão Mágico e Djavan, então chegado à gravadora CBS, traçou rumos para uma nova era na música infantil brasileira.

Capa de "A Turma do Balão Mágico" (1983)
Foto: Divulgação

Com as recentes comemorações em prol do Dia das Crianças, é interessante relembrar que o Brasil nem sempre foi uma potência quando o assunto é música infantil. Mas tudo mudou nos anos 80! Sendo, até o início da década, um público menosprezado pela indústria musical brasileira, as crianças logo se tornaram um dos principais públicos alvos de gravadoras. Na época, surgiram também Xuxa, Trem da Alegria e muito mais!

Para este #TBTMDQA, poderíamos ter escolhido nomes que vão desde os sucessos da época até o recente fenômeno da Galinha Pintadinha, mas optamos por uma canção específica. Estamos falando de “Superfantástico“, o maior destaque da carreira da Turma do Balão Mágico. A canção, faixa inicial do segundo disco do grupo, foi lançada em 1983 e certamente tem espaço reservado na memória afetiva de muitas gerações.

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Abaixo, separamos algumas curiosidades sobre a produção e o legado deste grande sucesso. Muitos dos tópicos listados foram resultados da pesquisa registrada no livro “Pavões Misteriosos“, do jornalista André Barcinski (inclusive, fica aqui a recomendação).

 

Nada de MPB no segundo LP do Balão Mágico

Não era certo se o grupo teria ou não a oportunidade de gravar um segundo disco. No entanto, o sucesso do primeiro álbum A Turma do Balão Mágico (1982) fez com que a gravadora CBS fizesse da turma, da noite para o dia, uma prioridade.

O compositor Edgar Poças foi recrutado novamente para a produção do novo trabalho, que deveria ter uma orientação mais radiofônica. Por isso, estava decidido que o disco seria composto por versões em português de sucessos da música infantil internacional.

Apenas uma exceção fugiu a essa regra: a canção “Mãe-Iê“, do sambista Osvaldo Nunes. No geral, o viés mais poético da estreia, focado na MPB de nomes como Ary Barroso e Braguinha, teria ficado para trás.

 

A música perfeita

A música principal do disco já estava até escolhida: “Juntos“, em uma versão em português que contaria com a participação de Baby Consuelo. Mas a equipe responsável pelo disco não imaginava o que viria a se tornar o maior sucesso da história do grupo.

Estamos falando de “Super Fantástico“, composição de Ignacio Ballesteros que fez sucesso na Espanha, no ano anterior, através da dupla Enrique Y Ana. No entanto, o presidente da gravadora, Tomás Muñoz, inicialmente foi contra a ideia.

 

Versões conflituosas da mesma história

Sobre a autoria do gênio a trazer a canção para o português, existem duas versões diferentes. No livro “Banda de Milhões“, de Tom Gomes, o então diretor da CBS Marcos Maynard disse que selecionou e gravou a canção, mesmo com o “não” de Tomás.

A versão de Edgard Poças, no entanto, é diferente. O músico, ao “descobrir” a canção original, ficou surpreso com seu potencial, mas Tomás pediu para a canção ser deixada de lado. Bom, ainda bem que o conselho não foi seguido.

 

“Ei, meu amigo Roberto…”

Em depoimento ao livro “Pavões Misteriosos” (registrado também na série documental História Secreta do Pop Brasileiro), o compositor Edgard Poças disse ter imaginado originalmente uma participação de Roberto Carlos na canção.

“Eu imaginei que pudesse ser ele. Aí eu comecei a pensar que ele poderia não gostar ou não querer.”, disse em referência a uma versão inicial da letra. No entanto, alguns pontos poderiam reforçar essa ponte que ligaria o cantor ao grupo infantil. Mauro Motta, produtor de Roberto, era o nome responsável pelo LP. Além disso, Lincoln Olivetti e Chiquinho de Moraes, os arranjadores do disco, já haviam trabalhado com ele anteriormente.

Mas, como sabemos, outro nome importante da música brasileira veio a se tornar a voz adulta a colaborar com a turma do Balão. Roberto até viria a colaborar com a Turma do Balão Mágico, sim, mas somente no disco seguinte, em 1984, motivado em parte graças ao sucesso do álbum de 83.

 

Enfim, Djavan

A história contada por Poças tem um “plot twist” interessante. Após desistir da ideia de colaborar com Roberto Carlos, Poças foi botar sua filha Céu para dormir (sim, a nossa querida musa da nova MPB) e se deparou com um boneco que o lembrou de Djavan.

O timing não poderia ter sido melhor. Na época, o cantor havia trocado de gravadora recentemente, da EMI para a CBS. Com a nova equipe, lançou o estrondoso Luz em 1982, que trouxe ao mundo grandes sucessos como “Sina” e “Samurai“. Na letra, a solução foi fácil. A parte que inicialmente citava Roberto se tornou “Ei, Djavan, meu amigo, que bom estar contigo no nosso balão”.

No entanto, para se resguardar de uma reposta negativa, veio mais uma alteração que, desta vez, seria definitiva. “Eu pensei que ele também pudesse não gostar. Então, coloquei logo ‘superfantástico’ no verso”, disse Poças.

Facilmente, o compositor conseguiu convencer Claudio Condé, um dos diretores da gravadora, de que a participação de Djavan agregaria para todos os lados. Condé ligou alguns dias depois confirmando que o tal “feat” iria acontecer.

 

O clipe

Com direito a uma viagem de balão, bonecos dançantes e a participação de Djavan, o clipe de “Superfantástico” foi um sucesso instantâneo. Afinal, não é todo dia que crianças pilotam um balão em torno do Cristo Redentor.

Em tempos ainda pré-MTV, o clipe foi elogiado por José Itamar de Freitas, o então diretor do programa Fantástico, da Rede Globo. A reação dos espectadores foi muito positiva, e o programa recebeu diversas cartas solicitando uma nova exibição do vídeo. O que jamais havia acontecido na história do programa, aconteceu: o clipe foi reexibido logo na semana seguinte.

 

Outras versões, do rock ao sertanejo

“Superfantástico” não foge à regra. Assim como qualquer grande sucesso, a canção ganhou uma quantidade enorme de homenagens e versões diferentes.

O hit ganhou espaço no repertório de outros nomes de sucesso da música infantil nos anos seguintes ao lançamento, como Papati Patatá e Sérgio Mallandro. Mas também contemplamos artistas de outros estilos, voltados a outros públicos, que também ajudaram a tornar essa canção imortal.

Em 2002, Érika Martins (ex-Penélope) regravou a música sob uma perspectiva mais rock que, vale destacar, conta com a participação vocal de Arnaldo Antunes. A versão entrou no disco Superfantástico (Quando Eu Era Pequeno), que conta com outras releituras de clássicos infantis nas vozes de nomes que vão desde Los Hermanos até Vinny. Oito anos depois, em 2010, a cover ainda foi reaproveitada por Érika em seu segundo disco solo, a coletânea Curriculum.

Em 2012, Kelly Key lançou uma versão mais dançante no disco Festa Kids. A versatilidade da música ainda encontrou o sertanejo, registrada em uma versão ao vivo lançada pela dupla César Menotti & Fabiano em 2008. Isso tudo sem falar, é claro, da versão lançada por Simony, a frontwoman do grupo, em 2008, quando também regravou outros sucessos da Turma do Balão no disco Superfantástica.

 

Bônus: a palavra “superfantástico” existe?

Em 2018, o título da canção foi tema de um programa de rádio chamado “Na Ponta da Língua“, da CBN Goiânia. Na ocasião, o professor Carlos André esclareceu a dúvida sobre a existência da palavra em nosso idioma. “Não existe, porque prefixos, como ‘super’, devem estar ligados a substantivos”, esclareceu. Segundo o nosso padrão formal, apenas palavras como “supermercado” e “super-homem” podem aparecer juntas. Em “É quase pleonástico, se pararmos para pensar”, comentou o professor sobre o significado das palavras.

O termo amplamente cantado por aí, que marca até hoje a infância de muita gente, é, na verdade, um neologismo. O título da canção original, ao separar as duas palavras (“Super Fantástico”), faz com que o ‘super’ tenha mesmo valor adverbial de “muito”.

 

Bônus 2: a versão ao contrário

Ah, a internet!

O canal Te Levaram do Mundo, no Youtube, tem colocado algumas músicas de trás para frente e analisado as “letras” resultantes. Dentre as versões, temos canções de Gugu, Chaves e Xuxa.

Ao colocar “Superfantástico” ao contrário, no entanto, encontrou-se uma versão fora da curva. Ao contrário da maioria, essa versão apresenta um lado “cristão extremista” dos intérpretes, difundindo fundamentos da religião. “Somos extremistas e já invadimos o mundo”, “diz” uma das partes da letra.

Confira (e se assuste, ou não) abaixo:

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