Em 1997, o Incubus (quase) abraçou o Nu Metal no aclamado S.C.I.E.N.C.E. e conseguiu chegar a grandes palcos do mundo ao lado de alguns dos maiores grupos da época.
Acontece que, em 1999, tudo mudou de vez para a banda liderada por Brandon Boyd graças ao inesquecível Make Yourself, um disco que marca de forma magistral a transição entre os anos 90 e 2000.
Completando 21 anos neste dia 26 de Outubro de 2020, a obra conseguiu trazer uma roupagem mais radiofônica para a já característica união de belos timbres, grooves sensacionais e peso que o Incubus oferecia desde seu primeiro trabalho, Fungus Amongus.
Em uma nova entrevista à Kerrang! onde fala sobre o aniversário do álbum, Brandon destacou justamente a “oportunidade” que foi apresentada a eles de usar os recursos do que viria a ser conhecido como Rock/Metal Alternativo para trabalhar de uma forma diferente do que os outros vinham fazendo:
Essa é apenas a minha opinião, mas havia em grande parte uma falta de substância quando se tratava da música pesada popular. Era mais pesada só para ser pesada. Eu achei que isso era uma oportunidade perdida. Para mim, havia uma oportunidade de usar o poder de uma guitarra alta e de uma bateria dinâmica para transmitir mensagens maiores.
No mesmo papo, Boyd ressalta que foi na época do surgimento de Make Yourself que ele descobriu artistas como PJ Harvey, aprendendo de uma vez por toda o poder das letras dentro da música — “eu curti muito a ideia de deixar os ouvintes interpretarem as músicas ao invés de falar algo a eles de maneira literal”.
Foi assim que surgiram alguns verdadeiros hinos da época, que abriram espaço não só para outras bandas que trilharam caminhos parecidos mas também para o próprio Incubus, que seguiu se reinventando disco após disco com os ótimos Morning View (2001), A Crow Left of the Murder… (2004) e todos os outros que vieram depois.
Make Yourself
Relembrar esse disco é quase desnecessário para quem viveu essa época, pois basta ouvir Make Yourself dentro do contexto certo para entender o porquê de ser até hoje considerado uma obra-prima e um passo fundamental para a carreira da banda e do Rock alternativo.
Canções dele ecoam até hoje na cultura popular — como a inesquecível “Drive” e as incríveis e pioneiras “Pardon Me” e “Stellar”, que traziam um elemento de emoção e mistério à sonoridade pesada e cheia de groove que os consagrou em S.C.I.E.N.C.E..
O álbum é tão bom que algumas de suas melhores músicas, como “The Warmth” (uma favorita pessoal) e “When It Comes” são deixadas de lado. Do começo ao fim, Make Yourself atesta a capacidade do Incubus de ser extremamente único enquanto não abandona as tendências do momento (vide “Battlestar Scralatchtica”).
Para finalizar esse especial, resolvemos retirar um trecho da entrevista citada acima (que você pode conferir na íntegra por aqui) em que Mike Einziger e Brandon falam sobre “Pardon Me”, “Stellar” e “Drive”, que acabaram por ser as três canções mais importantes da carreira do Incubus por representar essa transição extremamente bem-sucedida e genuína para o mainstream.
Confira a seguir e relembre as faixas ao final da matéria!
Brandon Boyd e Mike Einziger falam sobre faixas de Make Yourself
“Pardon Me”
‘Pardon Me’ foi muito transformadora na nossa carreira. Ela abriu todo tipo de portas para nós, mas o single veio e acabou sendo deixado de lado. Tiveram algumas rádios na Costa Leste que perguntaram se a gente poderia ir e tocar ‘Pardon Me’ acústica e isso espalhou como um incêndio. Foi isso que realmente fez a música bombar. As rádios começaram a tocar as versões acústicas que nós gravamos e a demanda ficou tão grande que nós acabamos gravando um EP de versões acústicas porque nós não conseguíamos acompanhar todas as estações que queriam que nós fôssemos lá tocar. Isso fez com que a versão do álbum fosse tocada e isso cresceu de uma maneira muito orgânica. – Mike
“Stellar”
‘Stellar’ foi a minha experiência de me apaixonar de novo e foi um amor muito diferente do que eu vivi como adolescente. Parecia muito mais expansivo, por isso a imagem do ‘me encontre no espaço sideral’. Eu também só me sentia estupefato — como ainda fico — com o Mikey como um guitarrista. Ele me fascina desde que éramos pequenos. Nós confundimos um ao outro, o que faz com que sejamos bons parceiros criativos. Nós jogamos as intuições um do outro em uma floresta, e aí corremos atrás delas e encontramos gemas realmente legais como resultado. Ele me mostrou aquele riff de guitarra [de ‘Stellar’] e era tão estranho e como algo que eu nunca tinha ouvido antes que foi bem fácil escrever melodias para aquilo. Inspirou um bom número de ideias. – Brandon
“Drive”
Eu me lembro de gravar os pedaços musicais de ‘Drive’ em casa e aí sentando no carro com o Brandon. Ele tinha passado um tempo com ela e eu lembro dele cantar a letra pra mim no carro da forma como ela aparece no álbum. A versão que nós fizemos antes de gravarmos de maneira definitiva foi realmente a mesma. Eu nunca poderia prever que seria um grande hit, mas eu sabia que parecia especial para nós. Parecia um encapsulamento honesto de estar vulnerável e parecia que as pessoas iriam se conectar com aquilo. Eu me conectei com aquilo. – Mike
Vários desses tópicos [em ‘Drive’] ainda são coisas com as quais eu luto. A música é sobre um ajuste de contas com o medo e a incerteza e eu ainda estou meio que em uma dança ativa com isso, como provavelmente estarei pelo resto da vida. Só porque você escreve algo, põe uma melodia naquilo e um monte de gente curte não significa que foi um pensamento que está completo agora — não é como se eu tivesse [de repente] me iluminado em relação à ideia de não deixar o medo ditar o curso da minha vida. Foi basicamente uma proclamação de, ‘Eu estou fazendo essa dança assim como qualquer um de nós está — aqui vai uma melodia bonita para acompanhar!’. – Brandon
Foi gratificante quando [Drive] se conectou com o público. ‘Pardon Me’ foi um passo importante para nós, ‘Stellar’ foi a segunda música que saiu e foi bem na MTV, e aí quando ‘Drive’ saiu realmente mudou tudo. Nós já tínhamos vendido um milhão de álbuns antes mesmo de ‘Drive’ sair [como single], então quando rolou, foi uma loucura. ‘Drive’ fez tudo explodir completamente. – Mike