TMDQA! Entrevista: Kikito lança clipe intimista com Malu Guedelha para a inédita "Jogo de Espelhos”

Kikito estreia clipe em parceria com Malu Guedelha com exclusividade ao TMDQA! e concede entrevista sobre o lançamento e os próximos passos de sua carreira.

Foto por Adrianna Oliveira
Foto por Adrianna Oliveira

Clima intimista, roupas futuristas e uma riqueza de influências… mais um fim de semana se aproxima com um lançamento pra lá de especial. Com exclusividade, o TMDQA! adianta a estreia do videoclipe de “Jogo de Espelhos”, novo single do músico e compositor paraense Kikito. A faixa chega as plataformas digitais amanhã, 30 de Outubro, mas você já pode curtir em primeira mão por aqui. Após a estreia, confira nossa entrevista com o músico.

A novidade encerra a trilogia em parceria com a cantora Malu Guedelha, conterrânea de Kikito, com quem o músico já lançou os singles “Retina” e “Sai Dessa”.  A canção mostra mais uma vez o estilo pop de composição do artista e o resultado é aquele indie rock de festinha irresistível. Dançável como os glams do passado, mas com a timbragem certa para a contemporaneidade, a música chega redondinha, com versos e refrães que se intercalam proporcionalmente enquanto dão espaço para os vocais chamativos levados pela afinada voz de Malu.

Embora uma daquelas canções boas para embalar noitadas, “Jogo de Espelhos” não é assim tão festeira em seu tema central, que propõe pensar “nessa nossa tendência de se enxergar no outro quando estamos tentando buscar/entender a si mesmo”, como comenta Kikito. Malu Guedelha também tem sua interpretação a respeito da canção e compartilhou com a gente:

Eu curto muito a forma que o Kikito traduz o mundo nas letras dele. É uma crítica e uma viagem ao mesmo tempo. É um olhar atento e lúdico se namorando. Gosto disso. Jogo de Espelhos, aos meus olhos, fala sobre o quanto a gente costuma andar no piloto automático, o quanto que a gente se prende em besteira e propõe justamente a opção da gente se reinventar. De ser o que se deseja ser. É uma letra sobre libertação de mente, corpo e alma.

Para Kikito, esta composição pode desde não ser definida por estilo algum quanto ser definida por gêneros tão díspares quanto neopsicodelia, downtempo e até jangle pop. O músico conta que pegou emprestado elementos sonoros de nomes como Marina Lima, Daft Punk, John Frusciante e New Order: vocais com efeito new age robótico, guitarras swingadas, vibrafone e uma inspiração que vai de cantos tribais a Björk e disco music nos coros interpretados por Malu.

A música é mais um gostinho do conceito sonoro de Dark Tropical criado pelo músico, estilo com o qual experimenta samba com psicodelia, indie com MPB, orgânicos e eletrônicos, vocais limpos sob texturas sujas, futurismo com retrô e muita guitarra nos entremeios, seu instrumento principal.

“Jogo de Espelhos” chega acompanhada de um videoclipe produzido na base do faça-você-mesmo durante a quarentena. O roteiro, direção, edição e fotografia são de Adrianna Oliveira, videomaker paraense. Com cenas gravadas no Bagdá Café, em Belém, o vídeo tem ares de seapunk e profusão de cores, cenários e figurinos atrativos.

A boa sacada está no roteiro que usa cenas do single anterior, “Retina”, para propor um ‘jogo de espelhos’ em que a dupla interagem com seus eus do passado, é o que nos conta Malu:

O roteiro partiu da Adrianna Oliveira e achei simplesmente genial. Em ‘Retina’, terminamos o clipe com uma briguinha gerada numa partida roubada de Uno. Aqui a gente tenta voltar atrás, repetir os mesmos passos e tentar erguer mais uma vez aquela amizade. Até se dar conta de que o papo não é olhar pra trás, e sim pra frente. Permitir o novo tempo e o retorno de uma amizade não no molde do que já foi um dia, mas ao que ela pode e vai ser agora. Terminamos fazendo as pazes em ‘Jogo de Espelhos’ e não existe coisa mais fofa!

Nos próximos planos de Kikito está um novo álbum para o início de 2021, mas ele promete novos singles até o final deste ano. Outra novidade chega ainda mais cedo: O músico paraense é um dos nove selecionados para tocar no Festival Se Rasgum, que celebra a sua 15ª edição em versão virtual, adequada aos tempos de distanciamento. O festival inova com o formato TV Show, transmitindo música ao vivo, entrevistas, workshops e outros. Kikito se apresentará no sábado, 21 de novembro. Vale a pena anotar na sua agenda!

Assista abaixo à estreia do clipe de “Jogos de Espelho” e, em seguida, confira nossa entrevista com Kikito.

Entrevista exclusiva com Kikito para o TMDQA!

Conversamos recentemente com Kikito por telefone. O músico se encontra em Belém, onde mora e está em quarentena, falamos sobre o atual lançamento, as parcerias com Malu Guedelha, os próximos planos em sua carreira e sua apresentação no Se Rasgum 2020, que acontecerá em breve. Confira o papo na íntegra abaixo:

TMDQA!: Olá, Kikito! Como você está?

Kikito: Eu tô muito bem, tava te aguardando aqui. Tranquilidade!

Jogo de Espelhos

TMDQA!: Estamos aqui pelo lançamento de “Jogo de Espelhos”, seu novo videoclipe e single. A produção tá linda e super sensível. As cenas trazem um relacionamento passando por uma fase não-tão-ensolarada quanto costumava ser, e, pra mostrar esse contraste, teve a sacada genial de trazer imagens do clipe anterior, “Retina”, também com a Malu Guedelha. Como foi esse processo de gravar um clipe em meio a pandemia? E o quanto isso influenciou na ideia do filme?

Kikito: As coisas foram acontecendo num efeito meio cascata, sabe? Lancei “Sai Dessa” e o lançamento foi muito legal, deu tudo muito certo, tive muita ideia boa pra fazer a divulgação e tava fazendo tudo sozinho aqui na pandemia… E aí, quando passou o “Sai Dessa”, eu fiquei “caramba, e agora?”. Nessa mesma época, começou a dar uma liberada aqui em Belém, antes não tava podendo ir no estúdio. Uma semana antes da pandemia, a gente tinha terminado de gravar “Jogo de Espelhos”. Quando eu voltei pro estúdio, fomos ouvir a música, nem lembrava mais como ela tava. A gente ficou todo arrepiado. “A gente”, que eu falo, é eu e meu produtor, Marcel Barretto, a Malu não tava junto. Gostamos muito, sabe? Eu falei, “é, mano, vou ter que lançar essa parada ainda esse ano”. Aí eu comecei ir atrás.

Tive uma ideia de fazer um clipe, eu mesmo, com uma roupa futurista. Ia gravar eu e a Malu, só, com uma tela verde atrás. A ideia era a gente ser tipo um bonequinho, tipo aquele filme Querida, Encolhi as Crianças, sabe? A gente tocando pra gente mesmo, sendo fãs desses bonequinhos. Ia dar um play numa fita cassete e eles sairiam como se fossem hologramas, uma ideia meio louca… Eu falei com o figurinista do clipe de “Retina”, o Vinny Araújo, “bicho, tu não tem umas roupas futuristas, um negócio assim meio louco”, tudo na sorte e aí, do nada, ele é o rei das roupas futuristas, cara, nem sabia disso. Ele chegou com uma sacola gigantesca, um monte de coisa muito legal. Eu pirei aqui! E tinha as roupas que a gente usou no clipe. Eu fiz essa ideia dos bonequinhos, postei uns stories, e aí a Adrianna [Oliveira, diretora do clipe] começou a responder “Que isso? Que roupa é essa?”, já ficou querendo saber o que era, e aí eu respondendo ela e, paralelamente a isso, chamei meu vizinho, que é o Rubens Guilhon, do Joana Marte, uma banda muito legal que vai tocar no Se Rasgum também, pra tirar umas fotos lá na rua.

A gente foi, de máscara, só nós três. E na frente de onde eu moro é a locação do clipe. Moro aqui desde 97, sempre olhei pressa casa, a laje e as caixas d’águas são pintadas de cogumelos, um negócio meio louco. Eu sempre quis conhecer o cara, mas ele nunca deu atenção. Mas a gente tirando as fotos na rua, com aquelas roupas, aquela onda toda, ele começou a puxar assunto, acho que ele se identificou. Explicamos que era pra uma música, e pedimos pra tirar fotos lá dentro. Eu era muito a fim de conhecer. “Pô, chega aí, eu quero mais é que tire foto mesmo, tô decorando esse negócio e ninguém registra”. Quando a gente entrou, era uma loucura! Parecia um sonho, parece que tu entra na casa e sai do planeta. Cada andar é uma informação diferente. Tiramos as fotos lá dentro e era isso. Eu falei com a Adrianna, que já morou aqui na rua, que finalmente consegui entrar na casa e que o dono endossa da gente gravar um vídeo lá. Falei isso pra ela e mandei a música no WhatsApp, e fui dormir. Quando eu acordei, ela já tava com o roteiro pronto, ficou ouvindo a música a madrugada toda. Menos de uma semana depois a gente já tava gravando. Ela teve toda essa ideia, teve uma interpretação muito legal da música.

Eu compus “Jogo de Espelhos” há um ano atrás. Escrevi ela no meio de uma confusão. Tava em uma cidade de praia aqui perto, Mosqueiro, e tava vários carros, cada um escutando um tipo de música diferente, todo mundo usando coisas, uma cagada, e comecei a viajar nessa história, todo mundo pirando do seu jeito, mas fazendo a mesma coisa, ao mesmo tempo. E aí, quando eu mandei pra Adrianna, ela teve essa interpretação de relações interpessoais: além de querer se parecer com o outro, a gente quer que o outro se pareça com a gente, e a gente também quer se parecer com quem a gente era. E vira esse bolo de informação. Ela teve essa ideia foda de interligar com o clipe de “Retina”, onde a gente termina brigado. É um clipe bem mais descontraído, tranquilo, a gente briga por conta de uma partida de Uno. E aí ela trouxe esse negócio muito mais sério, o clipe de “Jogo de Espelhos” é muito mais sério, muito mais sensível, e eu adorei… Eu respondi a pergunta legal [risos]?

TMDQA!: [Risos] Com certeza! E o legal é como uma coisa foi puxando a outra, desde o início, até desaguar no clipe final.

Kikito: É, exatamente, um efeito cascata. Foi impressionante!

Continua após o vídeo.

Parcerias com Malu Guedelha

TMDQA!: E, como você já falou, tanto o “Retina” quanto o “Sai Dessa”, também foram com a Malu. Em que momento surgiu essa parceria e como foi a experiência de dividir as composições e vozes?

Kikito: A Malu é uma menina que já é muito marcante aqui na cidade. A voz dela e tal… e ela é de uma banda muito legal também, que tá em hiato agora, que é O Cinza. E essa banda sempre tocava nas mesma festas que eu. A gente começou junto sem se conhecer. Lancei meu primeiro EP, em 2016, e uma galera começou a falar “pô, do caralho, ouvi O Cinza também”, e eu nunca tinha ouvido. A gente começou a se sacar e a tocar nos mesmos lugares, por coincidência. Começamos a nos admirar muito nesses shows. E aí a primeira música que fiz depois do primeiro álbum [Kikito, 2018] foi “Sai Dessa”. A gente começou a gravar em 2018 ainda e era um sambão, e eu saco que a Malu tem toda essa escola de samba. O pai dela toca samba, ela escutou samba a vida toda. E a gente gravou essa música, um samba misturado com eletrônico e outras influências.

Desde o começo, sem ela saber, a gente já falava “vamos chamar a Malu pra cantar essa música”. Quando ela foi gravar [as vozes de] “Sai Dessa”, em 2019, um ano depois que a música tava gravada, a gente tinha gravado “Retina” dois dias antes, e falei “tem essa aqui também, quer fazer uns backing vocals?”. Virou uma participação muito foda. Ela gravou um monte de voz em 30 minutos. “Retina” e “Sai Dessa” ela gravou no mesmo dia, num clima bem descontraído. As minhas vozes já estavam lá, ela só somou. “Jogo de Espelhos” a gente já gravou pensando “tem que ter a Malu nessa”, porque a gente sentia que tinha uma conexão com essas outras. Tudo foi bem espontâneo, se divertindo. As músicas tinham a ver com ela e tudo…

TMDQA!: Que é até a melhor maneira de rolar, né? Se divertindo, de forma natural… ao invés de algo só pelo marketing.

Kikito: Eu nunca consegui trabalhar com gente que eu não esteja tendo uma afeição. Tanto que a minha banda eu toco com eles desde que eu tenho 12 anos, todas as minhas coisas é uma galera muito próxima. E, graças a Deus, é uma galera muito talentosa pra caralho, sabe [risos]?! Tive muito sorte.

TMDQA!: Quando vocês foram gravar, saíram três músicas, mas a ideia não era formar uma trilogia, exatamente? Tanto que a “Jogo de Espelho” ficou parada um bom tempo, quando já tinha começado os primeiros lançamentos…

Kikito: A ideia era elas serem de um álbum, são músicas que eram do meu segundo álbum. Mas a gente ainda não tinha a estratégia do que ia fazer com essas músicas. A gente só tava gravando mesmo porque tinha que gravar. Eram músicas que estavam aqui na cartola e eu queria muito gravar. Mas eu não tinha pensado nessa parte de como ia movimentar isso… Mas aí, quando tava gravado, a gente percebeu que as três conversavam entre elas.

TMDQA!: Quando ouvi “Sai Dessa” pela primeira vez, eu pensei que era uma música sobre a quarentena, um momento extremamente complicado que todos estamos passando… e agora você me contou que ela foi gravada bem antes. Quando você lançou, teve esse pensamento de que ela ganharia um novo significado pelo contexto? E isso seria um problema na mensagem que a música deveria passar?

Kikito: Cara, eu fiquei preocupadíssimo com isso, tanto que ela ia ser lançada na semana que começou o lockdown aqui em Belém. E aí eu cancelei. Porque, enfim, não tinha nada a ver. Nada a ver mesmo! Eu cancelei sem saber nada do que estava acontecendo, bem perdido, acho que como todo mundo ficou. Tava todo mundo cheio de planos e tal, e, do nada, rolou isso. Sei lá… o Brasil não tava botando fé que ia chegar aqui, a gente tava meio displicente. E aí, quando chegou, lockdown e tal, eu cancelei e falei “passa pra Agosto”. Eu só botei dia 07 de agosto porque eu gosto do 7 e não sabia mesmo o que ia acontecer. Aí parei, não podia mais gravar, fiquei gravando aqui em casa, pra caramba, várias músicas. Tô até pensando em fazer um EP com o que gravei nesse tempo.

Fiquei aprendendo a fazer outras coisas, aprendi a editar vídeo muito mais, fazer animação e tal… E, quando chegou em Agosto, percebi que já não ia ser tão mal interpretado, ainda mais se eu explicasse que foi uma música que eu escrevi muito antes. Eu me preocupei bastante em explicar isso, que não era pra sair de casa, que é uma mensagem que não fiz pra isso. Na época, eu tava só fazendo músicas muito introspectivas, tava saindo da adolescência, tendo umas reflexões meio deprê, aí fui escrever essa música… “ei, bora sair dessa” [risos]. É uma música bem simples, uma mensagem bem direta. De todas as minhas músicas, é a que tem a mensagem mais diretona.

TMDQA!: É uma auto conselho, então?

Kikito: Pois é, cara. A intenção dela era ser mais um acalento, uma música gostosa de ouvir, trazer uma boa vibração. Porque eu acho que sou uma pessoa assim, que gosta de rir, eu tenho essa lado, valendo. Sempre estou bem descontraído. E eu quis jogar essa energia em forma de música pras pessoas.

TMDQA!: E ser um samba, que já é um gênero bem pra cima, casou bem!

Kikito: Exatamente! E ela já veio nessa ideia de ser samba, desde o começo. Na época eu tava ouvindo Jorge Ben pra caramba, tava nessa onda de fazer aquele violão de nylon, bem suingadão. Tava bem empolgado com isso nessa época. O instrumental dela todo foi gravada em 2018, saca? E a letra também, a minha parte. A letra da Malu, ela escreveu em 2019. Mas a gente não tinha nem noção de pandemia nenhuma. Foi foda isso! Mas eu fiquei feliz que a galera entendeu que eu não tava falando disso, tava só trazendo um abracinho, dar uma paz rápida de 2 minutos e 30 [risos].

Continua após o vídeo.

Novo Álbum

TMDQA: Os planos seguintes é o lançamento de um novo álbum para o início de 2021 e até o final do ano já poderemos conhecer alguns singles. O que podemos esperar desse lançamento? Novas sonoridades, experimentações? Ou uma consolidação do “dark tropical”?

Kikito: Essas músicas vão evoluindo até chegar no ápice do dark tropical. Quando a gente tá em “Jogo de Espelhos”, você já percebe que o clima vai mudando um pouco. Vai ficando mais denso, vai entrando a parte do dark… entendeu? Vai rolando uma mistura. As próximas músicas vão chegar trazendo uma mensagem um pouco mais reflexivas. Eu tô tentando não perder a parte de trazer um otimismo, sempre. Trazer sempre uma mensagem boa, mesmo que fale de coisas que são meio delicadas, coisas existencialistas. Eu gosto de pensar que a gente é um monte de grão de areia, que a gente vê as coisas de um zoom muito grande. A gente podia ver as coisas menores, ver que a gente é menor, parar de achar que a gente é tão grande, achar que tudo é um problema gigante. E eu tento reforçar isso nas letras. Acho que as letras acabam sendo uma autoanálise do que eu penso, até pra eu lembrar disso mesmo, sabe? Essa que é a onda desse álbum [risos].

TMDQA!: As músicas estão sendo compostas agora? Ou são composições de antes da pandemia?

Kikito: Tem uma letra que eu compus na pandemia, a última música. Ela entra e eu acho que combina muito! O nome dela é “Parte de Tudo”, é uma letra bem legal, tem cara de última música. Mas as outras a gente já tava arquitetando há bastante tempo. Toda hora tá mexendo e tal, pra ficar o máximo desse conceito que a gente tá criando, esse dark tropical [risos].

TMDQA!: Queria voltar no ponto que você citou um EP que surgiu durante o isolamento… Ele viria antes do álbum? Um EP especial de quarentena? Como seria isso?

Kikito: Então, cara, ainda tô meio perdido nisso. São 6 músicas que eu gravei aqui em casa, elas têm todas uma vibe bem parecida com coisas que eu estava escutando na época. Eu tava escutando muito disco dos anos 70, escutando Santana… aí misturei música latina com um baixo meio groovado. Porque eu também já fui cover de Santana, por dois anos, aqui em Belém.

TMDQA!: Que foda! E você era o guitarrista?

Kikito: É, era o guitarrista [risos]!

TMDQA!: Que responsabilidade!

Kikito: Uma responsa do caralho, mas deu uma evolução muito legal pro leque de ideias. Mas aí, no dark tropical, tem umas músicas ainda não lançadas que já têm umas influências de Santana nos solos. Eu procurei trazer isso um pouco mais nessas músicas que gravei durante a pandemia. Enfim, a gente ainda fica meio incerto, como é independente o trabalho… queremos fazer um monte de coisa, a gente tem um monte de ideia, mas vai fazendo com calma, até pra aproveitar o máximo que dá das coisas. Então não sei se esse EP vai sair antes ou depois. Mas o ideal seria lançar ele em dezembro, o que eu queria fazer era isso.

Dark Tropical

TMDQA!: E falando em dark tropical, como foi cunhar seu próprio conceito sonoro? E quando você percebeu que o que tinha criado não se encaixava nos demais rótulos, digamos assim?

Kikito: Cara, assim, eu e Marcel Barretto sempre procuramos pegar influências de várias coisas, ele é meu parceiro desde o primeiro EP e tudo que eu gravei e tá na internet. Tivemos uma conexão muito muito forte quando nos conhecemos, a gente gostava das mesmas músicas, tínhamos a mesma escolaridade de guitarra. E, até hoje, parece que a gente “transa” fazendo músicas juntos, a gente gosta muito! Ontem eu tava com ele, de nove da manhã até de noite, pirando no show que a gente tá fazendo pro Se Rasgum, e a gente se diverte muito.

Você pode perceber que as músicas têm influências de muita coisa, de vários estilos, mas que formam uma coisa só. Desde o primeiro EP era isso, tentando pegar várias referências e, ao mesmo tempo, fazer um negócio minimalista, pegando só o cheirinho de cada coisa. No começo era muito isso, uma época que tava chovendo muito aqui, tava uma cagada, uma época mais dark mesmo [risos]. O primeiro álbum era tudo na vibe dark, a gente tinha muita influência de pós-punk e de coisas góticas, tava muito nessa liga. Depois eu fiquei pensando, “pô, tá todo mundo na bad, eu vou ficar falando de bad?”, fiquei nessa onda. Antes da pandemia a gente já tava uma bad do caralho, com esse negócio de Bolsonaro, tava um período sombrio.

Eu comecei a ouvir muita música antiga, fiquei obcecado pelo Jorge Ben e por essas coisas, e comecei a brincar aqui em casa, ainda, misturando violões suingadões com uns graves, desse jeito que a gente gosta, deixando o clima denso. A gente começou a pirar nessa mistura. Comecei a falar do dark tropical toda hora, e quando falei com Marcel disso, ele entendeu na hora e começou a somar muito mais nessa ideia de trazer novas influências, tanto do dark quanto do tropical, que eu não tinha na minha biblioteca. Começamos a ver que tem muita coisa pra aprofundar nisso. E o dark tropical nada mais é que uma união de muita cultura pop, de vários estilos musicais e várias coisas que a gente gosta e cresceu vendo. “A gente”, que eu falo agora, é eu e tu, e várias pessoas que gostam de toda essa onda, de consumir essa cultura pop, tipo música pop, rock, indie, trap… a gente ouve de tudo que dá e tenta pegar o máximo de influência possível e consolidar num som só.

TMDQA!: Eu acho massa e gosto dessa mistura, de pegar elementos do passado e junta com linguagens atuais…

Kikito: Exatamente! É aquela música lá do Daft Punk, “Giorgio By Moroder”, saca esse som? Ele fica falando essa parada. Eu pirei muito nessa onda, essa música eu ouço pra caramba até hoje. Ele fica falando “sound of the future” [“som do futuro”, em inglês]… Tem muita coisa, a galera pirando bastante em Fleetwood Mac, porra… Você deve gostar pra caralho de Fleetwood Mac também.

TMDQA!: Sim! E agora ainda voltou a bombar demais por causa de um viral!

Kikito: Pois é… eu amo anos 60, 70, 80, 90. E é uma delícia poder ter tudo isso de referência pra conseguir fazer um negócio novo, sem ter que parecer com essas coisas. Eu acho que isso é o som do futuro.

Se Rasgum

TMDQA!: Recentemente foram divulgados os selecionados para o festival Se Rasgum, e você foi um deles. Meus parabéns! Pode nos contar um pouco como foram as seletivas?

Kikito: Era uma inscrição, com quatro músicas já lançadas. Tinha que ser artistas filiados ao Ecad. O que eu percebi nas inscrições é que era pra ver artistas com o trabalho realmente na ativa e o Se Rasgum querendo mostrar esses artistas pra fora, querendo dar essa oportunidade. É um formato que eles nunca fizeram antes, não é um Se Rasgum comum, físico. É eles querendo mostrar a galera daqui. Eu percebo que os donos dos festivais têm essa intenção de divulgar a cultura daqui, mostrar toda essa cena que tá rolando aqui. Eu acho que a pessoa que for assistir esse showcase vai poder ter um gosto bem legal dessa diversidade e criatividade que tá rolando aqui. Tem um monte de banda foda de indie, neopsicodelia, toda essa vibe, mas também tem uma galera foda do rap, uma galera foda fazendo um negócio regional. Nesse Se Rasgum dá pra pegar um gostinho legal disso.

TMDQA!: Eu acho isso muito necessário porque a gente acaba consumindo uma cultura muito centrada no sudeste, como se tudo se limitasse a aqui. E bandas de fora daqui fazendo coisas incríveis sem a mesma projeção.

Kikito: Pois é, e aqui tá rolando uma cena muito forte, muito forte mesmo. Muita banda e eu gosto de quase todo mundo que tá rolando, e, com a pandemia, deu uma quebrada, porque não tá rolando show. O Se Rasgum vai dar essa oportunidade.

TMDQA!: Já que você curte muito a cena daí, indica umas 5 bandas pra gente.

Kikito: Raidol; Pelé do Manifesto; Joana Marte; O Cinza, que tu tem que ouvir, é do caralho; e Pratagy. 5 bandas! Escuta primeiro O Cinza que tu vai gostar, é a banda da Malu.

Continua após o vídeo.

TMDQA!:  Fantástico! Terminando aqui, eu vou correndo ouvir! Você já se apresentou no festival, em 2017, bem antes de todas as questões envolvendo a pandemia… Hoje o cenário é outro, exige cuidado. Quais as principais diferenças e desafios do novo formato do festival em relação a tocar no palco?

Kikito: Eu acho que a grande diferença é essa, de não ter a galera, vai ficar um clima bem de estúdio, de gravação, não vai ficar um clima de show, eu acho. Mas, do mesmo jeito, a gente tá com tanta saudade de tocar que vai ser um negócio único, vai ser tão único quanto um show. Quantas bandas vão tá tendo a oportunidade de tá se unindo pra tocar?! Eu tô sentindo isso como um privilégio muito grande. Tanto que eu fiz o teste de covid, não tô [contaminado], e vou ficar isolado até o dia desse show [risos]. Eu quero muito aproveitar isso, tô com muita saudades de tocar com a banda.

TMDQA!: Vai ser com banda completa? Tudo ao vivo ou vai rolar pré-gravação?

Kikito: Sim, vai ser todo mundo… bandão! Vai ser ao vivaço!

TMDQA!: Estão preparando alguma surpresa? O que pode adiantar pra gente?

Kikito: Cara, nesse show nosso, as pessoas vão poder ter um gosto do que é o meu trabalho. Vou tocar as músicas do dark tropical… Vou fazer meio que um greatest hits, com hits perdidos meus [risos]. Só as músicas de trabalho, pra galera sacar. Vai ter “Jogo de Espelhos”, posso adiantar.

TMDQA!: A Malu Guedelha vai participar?

Kikito: Vai! Vai ter participação da Malu também.

TMDQA!: Kikito, eu agradeço muito por ter separado um tempinho para batermos esse papo. Desejo muito sucesso com os lançamentos e com a apresentação que está a caminho. Gostaria de deixar algum recado? Esse espaço é seu!

Kikito: Eu queria deixar o recado pra galera me acompanhar no Spotify, YouTube, porque eu ainda vou fazer muito conteúdo além de álbuns e essas coisas. Eu quero fazer animação misturada com música, quero criar um conceito todo em torno de tudo que eu faço. É isso. Espero que a galera acompanhe.

Instagram: @kikitokikito_ | Spotify: Kikito | YouTube: Kikito

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Foto por Adrianna Oliveira