TMDQA! Entrevista: mxmtoon fala sobre "dusk", inspirações em animes e games e exalta fãs brasileiros

Em entrevista exclusiva ao TMDQA!, a simpática Maia (mxmtoon) fala sobre seu novo EP "dusk", cita inspirações em animes e games e exalta fãs do Brasil!

mxmtoon
Foto por Cesar Balcazar

No começo de 2020, mxmtoon — nome artístico da jovem californiana Maia — deu um passo importante em sua carreira com o EP dawn, que abriga ótimas canções como “fever dream” e “lessons”.

Agora, ela dá sequência ao projeto com o seu mais novo trabalho dusk, que serve como uma peça complementar ao lançamento do início do ano e mostra que ela continua em sua evolução como compositora e produtora, trazendo arranjos sofisticados e melodias sensíveis à sua já característica sonoridade que tem o ukulele como base e explora temas como solidão, isolamento e empoderamento.

O novo EP, aliás, consolida Maia como uma das vozes dessa nova geração. Se não bastassem as ótimas músicas que transitam entre o Folk, o Indie e até a Bossa Nova, há também uma parceria com Carly Rae Jepsen que coloca a jovem no radar do Pop de vez e mostra que é questão de tempo até ela dominar cada vez mais segmentos.

Maia atendeu o TMDQA! para falar sobre o novo trabalho e o papo super bem-humorado acabou indo bem além da música, falando também sobre suas atividades como streamer na Twitch, sua relação com o Brasil e os fãs que tem por aqui e muito mais. Confira na íntegra abaixo!

Entrevista com mxmtoon

TMDQA!: Oi, Maia! Como estão as coisas por aí?

mxmtoon: Oi! Eu estou bem, quer dizer, tão bem quanto podemos estar quando o mundo está pegando fogo. [risos]

TMDQA!: [risos] Entendo completamente. Bom, queria começar te parabenizando pelo novo EP — que, convenhamos, é um disco, né. [risos] Tudo por ali tem um pouco da estética lo-fi, mas ao mesmo tempo dá pra perceber muito cuidado nos arranjos, em especial nas partes de orquestração. Eu sei que você tem um treinamento clássico, mas quando você escreve essas músicas, elas vêm de um jeito muito mais cru, né? Como você se sente quando vê elas tomando forma e virando o que a gente ouve no álbum?

mxmtoon: Ah, é tão legal! Não há nada como a experiência de ver as músicas meio que evoluindo e as partes se adicionando e você pensa tipo, “Isso era exatamente o que eu imaginava, eu só não conseguia fazer no meu ukulele!”, tipo, não funciona dessa forma. [risos] Mas é tão divertido, é uma das coisas com as quais eu mais me empolgo, esse processo de decidir a produção e bom, como você disse, começa de fato de um jeito bem mais cru — metade do tempo eu estou tentando explicar o que eu sinto, porque eu penso mas não consigo verbalizar completamente. [risos]

Mas é tão legal, e com o Dusk e especificamente os arranjos clássicos que aparecem nele, eu meio que realmente me apoio nas pessoas com quem eu trabalho. Eu fico, tipo, “Quer saber? Você é o expert nisso, pega e faz o que achar melhor, eu confio no seu conhecimento, vai ficar ótimo.” e, bom, literalmente todas as vezes até agora ficou fantástico. [risos]

TMDQA!: Funcionou mesmo! Eu fiquei bem surpreso quando ouvi, porque ficou tudo tão grandioso! Eu queria te fazer uma pergunta e realmente não queria te deixar em uma posição desconfortável [risos] então espero que eu esteja certo. Tanto no Dusk quanto em seus outros trabalhos eu sinto um pouquinho de influência da música brasileira… Estou certo?

mxmtoon: Na verdade, sim! Eu ouvia muita bossa nova quando eu era jovem e eu nem percebia, porque eram algumas músicas que meus pais colocavam pra tocar na cozinha, sabe? E meio que de forma não intencional isso influenciou o tipo de música que eu ouço e escrevo, e isso também foi uma parte muito interessante de quando eu comecei a fazer as músicas, perceber o quanto pessoas que ouvem muita bossa nova ou música brasileira em geral ressoaram com o meu estilo.

Eu fiquei, tipo, “Eu não tinha ideia que eu, uma pessoa aleatória da Califórnia, conseguiria fazer essa conexão!”.

TMDQA!: Que bom, então! É sempre um pouco preocupante fazer essa pergunta porque às vezes a pessoa nunca ouviu falar e fica um clima chato… [risos]

mxmtoon: Não! Rola isso sim. [risos]

Dusk e parceria com Carly Rae Jepsen

TMDQA!: Ainda sobre o Dusk, assim que você começa a ouvi-lo você é recebido pela belíssima “bon iver”, que eu imagino que seja um tributo ao Bon Iver…

mxmtoon: Sim, claro. [risos]

TMDQA!: [risos] E aí logo depois disso vem uma colaboração com a Carly Rae Jepsen, que é uma das artistas mais sensacionais dessa nova geração. E por aí vai! O disco vai pra tantas direções, é tudo tão interessante. Quando você está escrevendo uma música, dessa forma crua que falamos antes, você tem essas coisas em mente? Essa direção que a música vai tomar quando estiver totalmente produzida?

mxmtoon: Não. [risos] Eu acho que a parte mais maravilhosa do ukulele é que mesmo quando você não está, tipo, quando você faz uma música que você não consegue necessariamente imaginar que a Rainha do Pop Carly Rae Jepsen vai participar, há muita flexibilidade, sabe? Em relação a para qual direção você pode levar aquela canção.

O produtor com quem eu trabalho é ótimo, porque em uma música como “ok on your own” a gente acaba mantendo a possibilidade aberta, sabe? A gente fez isso em uma vibe na qual qualquer pessoa poderia estar ali, ou nenhuma pessoa também, e isso funcionou muito bem com a Carly Rae Jepsen.

Mas eu acho que o motivo pelo qual eu gosto tanto do ukulele é justamente isso de deixar muito aberto à interpretação e você pode meio que pegá-lo e ir para qualquer direção que quiser.

TMDQA!: Entendo! Olha, de novo, não quero ser grosso nem desmerecer nada. [risos] Mas as coisas estão acontecendo tão rápido pra você, né? Você estava ali tocando seu ukulele no quarto e de repente você está lançando uma parceria com a Carly Rae Jepsen…

mxmtoon: [risos] Sim! Eu tenho que me beliscar constantemente. Honestamente, não parece real. [risos] Eu concordo completamente com o que você falou, parece que a inércia de tudo tem ido tão longe que é meio, tipo, “Uau! Espera aí! Eu estava só sentada no meu quarto e agora eu estou trabalhando com a Carly Rae Jepsen? Isso é insano!”, sabe?

Então eu acho que… é uma loucura, sabe. Três anos atrás eu estava estudando para entrar em um curso de Arquitetura e agora eu estou focando na música em tempo integral e é muito doido para mim que eu tenha a oportunidade de fazer isso, então, é, é bem estranho.

Inspirações em animes e games e “multitarefa” como streamer

TMDQA!: A sorte é nossa de você estar podendo fazer isso! Antes de fazer essa entrevista com você eu fui ler um pouco mais sobre a sua história, e uma coisa me chamou atenção — e é bom esclarecer que eu vi na Wikipédia, então pode ter zero fundamento. Você foi vocalista de uma banda de Rock no colégio, fazendo covers de Jimmy Eat World e coisas do tipo mesmo? Você já pensou em fazer algo do tipo atualmente?

mxmtoon: Ai meu Deus. [risos] Eu amo Rock Alternativo e Rock em geral, era o que eu mais ouvia quando era adolescente, mais do que qualquer outra coisa. É bem engraçado porque eu sou a menininha que canta suave e toca ukulele, então você não espera que eu fique ouvindo “Seven Nation Army”. [risos]

É bem engraçado, eu ainda ouço bastante essas músicas e eu acho que se eu tivesse a oportunidade de fazer covers delas eu super faria, mas seria realmente muito difícil pra mim fazer esse tipo de música — eu não sei nem por onde começar! [risos]

TMDQA!: [risos] Então vamos ficar no que está dando certo! Outra coisa que me chamou atenção foi a sua paixão por animes e jogos, e eu acho que muitas vezes as pessoas diminuem essas formas de arte sendo que elas podem servir de inspiração pra muita gente. Você se inspira com essas coisas? Vi que você anda jogando Genshin Impact, que é sensacional e, pelo menos pra mim, parece algo bem inspirador…

mxmtoon: Sim, 100%! Videogames são provavelmente uma das maiores inspirações que eu tenho como artista, e os animes também — qualquer formato animado, na verdade. Porque eu acho que há um foco tão grande em storytelling, sabe? E com um jogo como o Genshin Impact você tem esse mundo gigantesco, massivo que foi construído ao redor da história — é impossível não me inspirar com isso.

Como artista, eu também sempre fico pensando tipo, “Que tipo de mini mundos eu estou construindo com minhas músicas?”, sabe? E eu amo esse jogo, estou jogando tanto que é até vergonhoso. [risos] Eu definitivamente vou estar pensando nisso inconscientemente da próxima vez que eu sentar pra escrever músicas.

TMDQA!: Estou empolgado pra ver isso! [risos] Meio que sobre isso também, você tem feito muitas streams na Twitch e, na real, muita gente da música — até alguns de gerações um pouco mais antigas, como o Mike Shinoda do Linkin Park — tem feito isso. Você acha que esse é meio que o futuro, não só fazer música mas também deixar as pessoas verem pedaços da sua vida através dos streams?

mxmtoon: Eu definitivamente acho que há uma expectativa nova sobre os artistas que envolve meio que compartilhar tantos aspectos diferentes de quem eles são, sabe? Eu me sinto assim com meu próprio projeto, porque eu fico meio, tipo, “Eu estou tweetando, eu estou fazendo uma stream, eu estou fazendo música, eu estou fazendo vídeo, eu estou fazendo um podcast”, tipo, tem todas essas coisas diferentes, uma quantidade absurda de coisas, e eu tenho que focar em todos esses aspectos diferentes do meu trabalho.

Ver alguém como o Mike Shinoda, que é tem essa história incrível com o Linkin Park e agora também está ali acessível na Twitch, definitivamente ajuda a estabelecer esse meio que novo padrão, novo mínimo do que as pessoas esperam dos artistas. Em um mundo, aliás, em que nós estamos todos sentados em casa o dia todo e não temos como ir para shows e coisas do tipo, a gente pode entrar na Twitch e interagir com pessoas que amamos.

E eu acho que novos artistas vão definitivamente ter que se adaptar a isso e às expectativas que agora as pessoas têm.

TMDQA!: Você se sente confortável com isso, abrir tanto da sua vida para as pessoas?

mxmtoon: Eu acho que é definitivamente algo que varia. Eu meio que cresci nessa era de querer fazer todas essas coisas diferentes ao mesmo tempo, então pra mim parece bastante, tipo, familiar. É meio que algo que eu faço naturalmente em relação a como eu interajo com as redes sociais, mas às vezes pode ser meio intimidante.

Tipo, seu público cresce com você e você fica tipo, “Uau, eu estou compartilhando muita coisa com o meu público. Talvez eu deva guardar um pouco pra mim no fim do dia”, e eu acho que é por aí. Tem alguns prós e contras, como tudo tem, mas acho que no fim das contas é realmente legal porque me dá a oportunidade de pensar em, tipo, que tipo de imagem o meu público tem de mim, sabe? E aí posso dar a eles uma perspectiva mais realista de quem eu sou.

Relação com o Brasil e #SelfiesForMaia

TMDQA!: Entendo! Um dos motivos de eu perguntar isso é porque além da sua conta normal, você tem uma conta trancada no Twitter…

mxmtoon: Ai meu Deus. [risos]

TMDQA!: [risos] Como é ser uma pessoa com uma conta fechada no Twitter com mais de 100 mil seguidores?

mxmtoon: [risos] Parece que eu sou uma hipócrita! [risos] Qual o sentido de ter uma conta fechada no Twitter se tem 100 mil pessoas ali, né? Mas eu fiz só porque eu pensei que chegou em um ponto onde eu estava twittando literalmente 20 vezes por dia, e eu também twitto sobre os meus negócios e meu trabalho, e eu senti que eu estava meio que sobrecarregando as pessoas com informação, então eu pensei que seria bom dar a chance das pessoas poderem seguir meus pensamentos aleatórios em outro lugar da internet. [risos]

Mas realmente parece um pouco demais às vezes. Eu constantemente me pego pensando “Hmm, não há diferença nenhuma entre essas duas contas, eu ainda twitto coisas aleatórias nas duas, então qual o sentido?”. Eu não sei, mas estamos aí. [risos]

TMDQA!: [risos] E o Twitter é o lugar onde eu vejo mais gente aqui do Brasil interagindo com você! Como foi pra você perceber que você estava fazendo sucesso por aqui, com tantos fãs tão longe de você?

mxmtoon: Cara, foi tão legal! Meu mundo parece tão pequeno de vez em quando, porque eu muitas vezes estou só sentada no meu quarto e tudo parece tão pequeno quando eu não estou fazendo coisas tipo shows ao vivo, é difícil me conectar com o fato de que existem pessoas reais que estão tirando um tempo do seu dia para ouvir as minhas músicas.

Eu acho que outro dia desses foi uma conta de fãs brasileiros que — ai, é tão fofo, ela traduz todos os meus Tweets para português — começou uma hashtag #SelfiesForMaia e foi tão fofo! Porque eu pude ver os rostos das pessoas que tiram um tempo para ouvir a minha música e isso faz o meu coração flutuar, porque é tão bom poder saber que existem pessoas reais tirando tempo de seus dias para me apoiar e apoiar a minha arte, e eu espero que eu possa retribuir isso.

TMDQA!: Eu ia falar agora que eu acho que você retribui muito bem, porque eu vejo até você se arriscando em português no Twitter eventualmente…

mxmtoon: Eu estou aprendendo, na verdade! Eu tenho procurado alguns livros bons que eu possa comprar e tudo mais, e por enquanto eu diria que eu conheço tipo 1% da língua. [risos] Eu sei dizer “eu te amo” e, tipo, é isso. [risos]

TMDQA!: É um ótimo começo! Dito isso, como estão seus planos de vir pra cá quando essa pandemia acabar?

mxmtoon: Sabe, eu queria só dar planos concretos para as pessoas mas como o mundo está caindo aos pedaços enquanto a gente conversa [risos] eu não sei dizer com certeza. Mas o Brasil é um dos lugares que mais está na minha lista de “quero visitar”, porque todo mundo que eu já conheci daí é a pessoa mais legal do mundo e poder ir aí para tocar minhas músicas seria um prazer.

TMDQA!: A gente mal pode esperar pra te receber aqui! Estamos quase sem tempo, então eu tenho uma última pergunta. O site que eu trabalho se chama Tenho Mais Discos Que Amigos e eu queria saber se, durante esse tempo tão difícil, você teve algum disco que foi seu melhor amigo — ou na vida, enfim…

mxmtoon: Há um disco que eu costumava ouvir quando eu tinha uns 5 anos, em CD, e eu tenho ouvido ele sem parar na quarentena. É o Facing Future, do IZ — seu nome completo é em havaiano e eu não sei falar direito [Israel Kamakawiwo’ole], mas esse álbum foi o primeiro disco de ukulele que eu ouvi quando era pequena e eu tinha esquecido dele até a quarentena começar neste ano e tem sido algo que eu percebi que me influenciou desde que eu me lembre, é minha zona de conforto, sabe? Se você em algum momento precisar de algo bem relaxante, eu recomendaria esse álbum.

TMDQA!: Perfeito! Maia, muito obrigado pelo seu tempo e espero que a gente possa bater esse papo de novo em um contexto melhor em breve! Até mais!

mxmtoon: Seria incrível! Obrigado pelas perguntas super divertidas e por ter nerdado comigo sobre Genshin Impact. [risos]