O mercado brasileiro da música independente tem ganhado cada vez mais relevância. Uma pesquisa realizada pela Associação Brasileira da Música Independente (ABMI) mostra alguns dados que comprovam isso.
A pesquisa foi feita a partir de uma avaliação dos dados das principais plataformas de streaming referentes a 2019 e parte de 2020, e entrevistas com 60 empresas, entre editoras, produtoras de evento, produtoras audiovisuais e estúdios.
Entre os seus pontos de destaque estão informações relacionadas às plataformas digitais, tendências desse mercado e também desafios enfrentados pelo setor durante a pandemia.
O levantamento mostra que em 2019, artistas ligados a gravadoras e selos independentes, além de auto-produzidos representam 53,5% do TOP 200 do Spotify. Segundo a ABMI, o Spotify hoje conta com 61% dos assinantes brasileiros, a Amazon Music com 12% e o Deezer com 9%.
Além disso, os resultados apontam que 50% do faturamento das empresas pesquisadas vêm das plataformas digitais. Carlos Mills, presidente da ABMI, comentou com o TMDQA! sobre o crescimento da utilização desses serviços.
As plataformas digitais sem dúvidas democratizaram o acesso para mais artistas e gravadoras terem acesso à prateleira da loja, que hoje são as plataformas digitais, apesar de que o mercado do disco, ele existe, e o vinil está ressurgindo como uma tendência até mais interessante do que o próprio CD. As plataformas democratizaram o acesso, até porque, ao contrário da prateleira da loja, não existe um limite físico. Você consegue incluir praticamente qualquer um hoje em dia, é muito fácil você ter acesso às plataformas digitais. Você tem uma série de serviços self services que estão no mercado e que permitem o artista autoproduzir sem uma gravadora.
O grande desafio agora é conseguir se destacar, porque as estatísticas mostram que tem entre 30 e 40 mil músicas por dia sendo subidas para as plataformas digitais. Então é um volume muito grande e esse é o maior desafio, você conseguir ser ouvido, ter esse reconhecimento, conseguir engajar o seu público, e é aí que as redes sociais entram com um papel importantíssimo de influenciadores.
Tendências
Sobre as principais tendências encontradas na pesquisa e o que deve permanecer ou não após a pandemia, Mills destacou as lives, que se tornou um dos recursos mais utilizados pelos artistas no período da quarentena e também aproveitou para apontar a necessidade da transformação digital.
É uma previsão difícil de fazer. O que aumentou nitidamente, e os músicos em geral também perceberam, foi a quantidade de lives que as pessoas começaram a fazer, e também a busca por ferramentas como o Instagram, Facebook, YouTube e Twitch. Agora, eu particularmente não sei se isso vai continuar nessa intensidade depois que os shows ao vivo voltarem. Eu acho que irá diminuir.
Outra coisa que acelerou muito foi essa necessidade da transformação digital, da cadeia, da música gravada. Quem estava atrasado correu para fazer mais rápido, e quem já estava adiantado aprimorou ainda mais. Desde a parte musical, até a própria parte de gestão, porque muita gente está trabalhando de casa, e eu acho que isso é uma tendência que certamente irá continuar. Tanto a parte do teletrabalho, como também as produções, a própria parte de gravação, mixagem, masterização, produção de material gráfico. Tudo isso dentro do processo de transformação digital mais eficiente. Isso aí sem dúvidas vai se aprimorar cada vez mais.
Desafios
Além das tendências, o estudo se dedicou a mapear os desafios enfrentados pelas empresas durante o período da pandemia do coronavírus. A Associação identificou que as gravadoras estão buscando se adaptar de forma mais profunda ao mercado digital, as distribuidoras digitais estão focando na ampliação e manutenção do catálogo e na atualização constante dos cadastros e os microempreendedores individuais estão se concentrando em viabilizar a geração de renda buscando ampliar as formas de entrada de recursos financeiros.
Gravações caseiras
Um dos aspectos que mais chamou a atenção da Associação na pesquisa foi o aumento da produção de gravações em casa. O presidente destacou que relatos dos associados da ABMI apontam um aumento de até 30% da quantidade de música produzida durante a quarentena.
Percebemos claramente que como as pessoas estavam confinadas em casa e não tinham mais a possibilidade de assistir a apresentações ao vivo em casas de shows e bares, começou a aumentar muito a produção de gravações em casa mesmo. Aconteceu o contrário do audiovisual. Ele parou, porque o audiovisual precisa de estruturas maiores e equipes maiores; já a parte da música, o pessoal já vinha gravando em casa há muito tempo.
Os músicos têm equipamentos para realizarem gravações em casa e mandam pela internet, eles já trabalham de forma colaborativa há muito tempo. E com a pandemia isso se intensificou muito. Temos relatos entre os nossos associados de aumento de até 30% da quantidade de música produzida durante a quarentena.
Está acontecendo também muita colaboração entre artistas. Pessoas que não tinham trabalhado juntas até então começaram a colaborar mesmo que virtualmente, mas é uma colaboração criativa.
Você pode saber mais sobre essa pesquisa por aqui.