O ano de 2020 foi um dos mais desafiadores para a indústria do cinema em toda a história. A pandemia do novo coronavírus inviabilizou praticamente todos os grandes filmes previstos, os que insistiram não se deram muito bem, mas o cenário possibilitou um fortalecimento dos serviços de streaming.
Dentre os títulos que não foram empurrados para 2021, listamos dez destaques sob o seguinte critério: disponibilidade para serem assistidos no Brasil, seja por plataformas de streaming, compra e aluguel digital ou nos próprios cinemas. Confira:
10 – Tenet
Com certeza Tenet não é um dos melhores filmes de Christopher Nolan, mas isso não significa que seja uma obra ruim. O que pesa contra é o mar de clichês, especialmente no que diz respeito à motivação e ao desenvolvimento do vilão.
A premissa, no entanto, é extremamente criativa: existe uma forma de inverter a entropia de alguns objetos, fazendo com que eles existam de trás para a frente, do futuro para o passado. Sem entrar em spoilers, isso pode causar uma guerra de proporções globais.
A complexidade da ideia é o que propicia cenas de ação empolgantes, como já era de se esperar de uma superprodução de Nolan.
9 – A Vastidão da Noite (The Vast of Night)
Disponível no Amazon Prime Video, esta é uma das maiores surpresas do ano. A trama se passa em uma pequena cidade dos Estados Unidos nos anos 1950, quando o rádio era o principal meio de comunicação e também o emprego dos protagonistas. Um dia, uma suposta aparição alienígena intriga os habitantes, que relatam diferentes experiências de contato.
O curioso sobre A Vastidão da Noite é que a história… não tem nada de mais. O que menos importa aqui é “o que” está se desenrolando, no entanto, “como” tudo se desenvolve é o que dá um tempero à obra.
Tudo é muito sugestivo, nada explicativo. Os diálogos são importantes e incrivelmente bem escritos. Falamos mais sobre este filme em uma crítica completa, clique aqui para conferir.
8 – O Diabo de Cada Dia (The Devil All the Time)
Um elenco recheado de estrelas em ótima fase não garante o sucesso de um filme, mas certamente ajuda. Tom Holland tem amadurecido cada vez mais, os versáteis Robert Pattinson e Bill Skarsgard já estão mais estabelecidos do que nunca, Haley Bennett mostra porque é uma das atrizes queridinhas de Hollywood no momento, além de Harry Melling, Sebastian Stan e outros.
Some a isso uma história interessante, um drama pesado que prende o público em uma narrativa sobre personagens do interior dos Estados Unidos, unidos pela forma como a violência marcou cada um deles.
O filme está disponível na Netflix.
7 – Emma
Mais uma adaptação de um livro de Jane Austen, Emma surpreende por ter uma protagonista que a própria autora reconhecia ser difícil de gostar. No filme, ela é vivida por Anya Taylor-Joy, um dos destaques de uma nova geração de atrizes de Hollywood.
Bonita, inteligente e rica, Emma é uma personagem difícil de se conectar com o público. No entanto, o consegue por causa de toques de acidez que a tornam mais humana e mais “gostável”, apesar da petulância por se achar superior a todos ao seu redor.
Este romance de Jane Austen também inspirou o clássico As Patricinhas de Beverly Hills e é divertido o exercício de comparação entre as duas adaptações – que não têm nada a ver entre si, mas totalmente valem o nosso tempo.
O filme está disponível no Telecine Play.
6 – O Homem Invisível (The Invisible Man)
Remake do clássico de 1933, existia um certo temor sobre esse novo filme, uma vez que a atualização dos monstros da Universal não estava indo muito bem, especialmente depois do fracasso retumbante de A Múmia (2017).
Mas a releitura de O Homem Invisível acabou saindo muito melhor do que o esperado. Trazendo muito da essência da obra de H.G. Wells, o filme acompanha uma mulher que vivia um relacionamento abusivo e é surpreendida com o suicídio do seu marido.
Ela passa a ter a sanidade questionada quando começa a suspeitar que ele, na verdade, não está morto. É uma baita metáfora para o silenciamento da mulher ao denunciar casos de abuso e assédio, uma saída muito interessante para adaptar um clássico.
O filme estreou nos cinemas antes do início da pandemia, mas já está disponível no Telecine Play.
5 – Mank
Esse é o grande filme caça-Oscar da Netflix para a temporada. E talvez dê certo. Dirigido por David Fincher e protagonizado por Gary Oldman, Mank conta os bastidores da criação de Cidadão Kane, um dos maiores filmes da história. O foco é no roteirista Herman J. Mankiewicz, que sofre com a falta de reconhecimento pela sua importância no clássico dirigido por Orson Wells.
Ajuda nessa busca por prêmios o fato de que a Academia adora uma metalinguagem. Filme falando sobre a indústria é sempre uma boa na temporada de premiações, então as chances são boas!
4 – Nunca Raramente Às Vezes Sempre (Never Rarely Sometimes Always)
Nunca Raramente Às Vezes Sempre é mais um retrato das dificuldades enfrentadas por mulheres em uma sociedade patriarcal, com foco em um tema extremamente delicado: o aborto.
O diferencial da obra é que o filme não se limita a episódios marcantes da vida das protagonistas, não há grandes decisões expostas em diálogos cruciais, não romantiza a jornada de autoconhecimento da protagonista. A vida dela apenas acontece e vamos pegando o contexto com o passar do tempo, sem a necessidade de tudo ser jogado para fora das entrelinhas.
A diretora Eliza Hittman é, possivelmente, a grande responsável por isso, ditando um ritmo perfeito para o entendimento das nuances que uma questão tão delicada representa na vida de uma mulher – seja como protagonistas desse drama, ou apenas praticantes de um exercício de empatia.
O filme está disponível para compra e/ou aluguel no YouTube.
3 – A Suprema Voz do Blues (Ma Rainey’s Black Bottom)
Assim como Nunca Raramente Às Vezes Sempre, A Suprema Voz do Blues é um filme que pega apenas um recorte da vida de determinadas pessoas para passar mensagens extremamente importantes. A diferença é que, aqui, os personagens existiram na vida real.
O filme conta como foi um dia de gravação para um álbum da Mãe do Blues, Ma Rainey, em 1927. Simples assim, nada de extraordinário.
O segredo está nos detalhes, nos diálogos entre os integrantes da banda, no significado por trás da postura ranzinza e nada simpática da artista, nas discussões raciais que eles tinham nos anos 1920 e que bizarramente ainda são muito atuais. E claro, no que o blues significa para a cultura negra nos EUA.
A Suprema Voz do Blues ainda é uma despedida honrada a Chadwick Boseman, que deixou uma atuação magnífica e certamente vai ter um grande apelo na temporada das premiações do ano que vem.
O filme está disponível na Netflix, assim como um pequeno documentário sobre os bastidores da produção, com depoimentos de Denzel Washington (produtor), George C. Wolff (diretor), Viola Davis (Ma Rainey), entre outros. Muito interessante para se aprofundar na obra.
2 – O Som do Silêncio (The Sound of Metal)
Grata surpresa no catálogo do Amazon Prime Video, O Som do Silêncio conta a história de Ruben (Riz Ahmed), baterista de uma banda de metal que encara o desafio de readaptar-se à sociedade após perder a audição.
Além da história interessante, a parte técnica – mais especificamente o design de som – é um primor. A alternância entre os sons normais e a ausência deles nos faz entender imediatamente a dificuldade que Ruben está passando. Além disso, não há legendas nas cenas com linguagem de sinais, o que nos deixa, a princípio, tão perdidos quanto o protagonista.
É um dos filmes que mais investe na imersão do público nos últimos tempos, o fazendo com uma qualidade invejável.
E como vários filmes desta lista, O Som do Silêncio tem uma pegada menos explicativa, deixando algumas sugestões do que é aquele contexto. Sem apelar para exposições desnecessárias de estereótipos como do ex-usuário de drogas, por exemplo, o filme deixa para nós a missão de interpretar como estas características moldaram os personagens até ele chegarem ali.
1 – Hamilton
Hamilton já chegou no Brasil com o status de clássico. A superprodução dirigida por Thomas Kail traz para o cinema a consagradíssima peça escrita e composta por Lin-Manuel Miranda sobre o político estadunidense Alexander Hamilton.
As cenas do corte final, disponível no Disney+, foram gravadas em três apresentações diferentes, além de alguns trechos sem público performados especificamente para as câmeras.
Esta é uma obra que vai muito além da simples mistura entre cinema e teatro. O resultado como produto audiovisual é deslumbrante e pode até não ser um primor de precisão histórica, mas esse não era o objetivo, não é mesmo?
Hamilton é uma adaptação incrível e merece a fama que conquistou.