Por Arthur Deucher Figueiredo
2020 foi um ano de desafios, e não é segredo que o ano foi especialmente difícil para o universo da música. Apesar disso, o ano foi um laboratório de inovações e um grito de afirmação de que a música sempre está preparada para as mais inesperadas disrupções.
De 2020 podemos concluir o seguinte: não haverá um retorno às velhas maneiras de se fazer as coisas. Aqui no TMDQA! já escrevemos sobre as diversas tendências da indústria da música que foram aceleradas em virtude da pandemia do COVID-19. O sentido do que é “norma” na música e na mídia em geral está sendo constantemente desafiado e interrompido, e a pandemia tem acelerado grande parte dessa mudança.
O ano de 2020 solidificou a pluralidade de opções de negócios dos artistas devido à tecnologia e às diferentes fontes de capital. De um mundo onde as gravadoras representavam essencialmente a principal fonte de capital dos artistas, a tecnologia tem diminuído as barreiras de entrada para o mercado. Os artistas podem lançar música por conta própria e começar a criar barulho de forma mais orgânica e espontânea.
TikTok em 2020
Talvez o maior fenômeno de 2020 tenha sido o TikTok. O potencial criativo, de alcance e a habilidade do TikTok de criar hits e alçar artistas ao status de gigantes tem se provado uma novidade consistente. O aplicativo se tornou uma ferramenta pela qual artistas podem ficar à frente da curva quando se trata de tendências tecnológicas e posicionamento para o sucesso.
De acordo com o primeiro relatório de dados relacionados à música do TikTok nos EUA, em 2019, mais de 70 artistas que lançaram seus trabalhos na plataforma assinaram contratos com grandes gravadoras. Recentemente, a plataforma também revelou “The Playlist”, com as 100 canções mais significativas no TikTok em 2020. Juntas, essas músicas acumularam mais de 50 bilhões de visualizações de vídeo em mais de 125 milhões de criações, e cinco delas alcançaram o primeiro lugar na Billboard Hot 100. Quase 90 canções que se tornaram tendências na plataforma em 2020 subiram para o Top 100 das paradas nos EUA, com 15 delas alcançando o primeiro lugar em uma parada da Billboard.
Em 2020, a pandemia de coronavírus tirou o fôlego de muitas projeções antes otimistas para a indústria da música, em grande parte devido ao fechamento virtual do negócio de entretenimento ao vivo. Embora o último relatório “Music in the Air”, da gigante de investimentos Goldman- Sachs, tenha projetado uma queda de 25% na receita global de música em 2020 – e uma queda de 75% na receita da indústria ao vivo neste ano – a empresa também espera uma “forte recuperação” no setor ao vivo em 2021 e um crescimento médio de 6% no negócio da música na próxima década, quase dobrando em valor para U$ 142 bilhões em 2030.
De médio a longo prazo, o relatório projeta um retorno às taxas de crescimento anual de 4-5% para chegar a US $ 39 bilhões em 2030 (em comparação com U$ 28 bilhões em 2019), à medida que eventos ao vivo se beneficiam de uma série de ventos favoráveis de demanda e oferta, como a “economia de experiência millennial”, que deve gerar uma maior demanda por eventos ao vivo, novas oportunidades de monetização por meio de transmissão ao vivo, venda de ingressos, promoções e patrocínio, e maior dependência dos artistas da receita das turnês.
Depois de todos esses anos de sucesso no streaming de música com Amazon, Apple e Spotify, ainda é muito difícil pagar e se comunicar diretamente com artistas. Hoje em dia é possível ver empresas como a Twitch, BandCamp e MixCloud fazendo movimentos muito interessantes neste espaço. Haverá mais disso em 2021.
Futuro da Música
No mais, de 2021 podemos esperar mais conteúdo musical, à medida que distribuidores independentes e provedores de serviços continuam a crescer. Os setores de mídia social, jogos e fitness provavelmente aumentarão seu poder para controlar os sucessos virais.
Além disso, a inteligência artificial através dos já famosos algoritmos continuará moldando a descoberta de música.
Setores de retorno imediato, como shows e performances ao vivo, coexistirão com novos desenvolvimentos, como o aumento do volume de transmissões ao vivo, proliferadas e solidificadas em 2020 durante meses de lockdown. Será interessante verificar quais empresas de transmissão ao vivo prosperarão quando a vida se normalizar. Em um mundo onde shows físicos serão mais uma vez uma opção, isso dependerá da qualidade de sua tecnologia, incluindo componentes de realidade virtual e realidade aumentada que oferecerão aos fãs uma experiência imersiva substancial. Não só, o sucesso dessas empresas também vai depender de como elas irão habilitar artistas para alcançar novos públicos em uma escala sem precedentes.
Em um ano difícil, a força das novas tecnologias teve um papel fundamental no apoio de artistas e no engajamento e descoberta de novos talentos. Que em 2021, com a vacina contra a COVID-19, os aprendizados de 2020 possam fazer com que o ano seja menos desafiador e mais frutífero para o mundo da música.
Arthur Deucher Figueiredo é advogado com base em Los Angeles e São Paulo. Mestre em Direito e Política da Mídia, Entretenimento e Tecnologia pela Universidade da Califórnia, Los
Angeles (UCLA) e em Direito Constitucional pela PUC-SP. Membro da diretoria da Câmara de Comércio Brasil Califórnia.