Artista do Mês: BK' vai da Lapa a Tupac ao falar sobre origens no Rap em exclusiva do TMDQA!

O Líder Continua em Movimento: BK', rapper dono de um dos melhores discos nacionais de 2020, é o primeiro Artista do Mês no TMDQA! e dá entrevista exclusiva

BK, Artista do Mês - TMDQA! - Janeiro 2021
Foto por Mariana Naegeli

Em 2021 o Tenho Mais Discos Que Amigos! completa 12 anos de existência e uma característica diária do site é celebrar artistas nacionais e internacionais que quebram padrões, criam narrativas e lançam trabalhos incríveis através da música.

Pensando em tudo isso, hoje estreamos um passo importantíssimo em nossa jornada com o projeto Artista do Mês, onde teremos materiais exclusivos em áudio, vídeo e formato físico, com posts no YouTube, Instagram, Podcast, Pôster impresso e muito mais.

Com muitíssimo prazer, tivemos a honra de começar com o pé direito e contar com o rapper carioca BK’, que ao final de 2020 concedeu uma entrevista exclusiva ao editor-chefe do TMDQA!, Tony Aiex, e passou mais de uma hora falando sobre suas origens e o disco O Líder em Movimento.

Terceiro álbum em uma discografia curta mas pra lá de impactante, o disco é um dos melhores de um dos anos mais difíceis de nossas vidas e serviu como uma trilha sonora pesada e necessária para 2020, celebrando o Rap e questões vividas por BK’ desde jovem.

Artista do Mês TMDQA!: BK’

Ao todo, serão quatro materiais principais ao longo das próximas quatro semanas, além de publicações no Instagram do TMDQA! e em nosso canal de YouTube, com direito a alguns outros segredos que revelaremos nos próximos dias.

Hoje, o especial inicia com a primeira parte da entrevista, tanto em texto quando em vídeo, como você pode ver logo abaixo.

Para quem é fã de Podcast, também transformarmos o papo em um programa no Podcast Tenho Mais Discos Que Amigos!, e você pode ouvir a primeira de duas partes da conversa nesse post aqui e/ou em qualquer plataforma de streaming / podcasts.

Nesse formato, o papo será dividido em dois, com a segunda metade sendo disponibilizada ao mundo na semana que vem.

Divirta-se com a gente, inscreva-se no canal, ative as notificações, siga o Podcast e, principalmente, fique ligado aqui no site e em nosso Instagram: as novidades para os fãs de BK’ serão das mais quentes.

Leia a primeira parte da entrevista após o vídeo

Entrevista: O Líder (Continua) Em Movimento

TMDQA!: Queria começar do começo. Eu sei que você tem uma história muito bonita, muito recente e muito importante no Rap, e eu já vi algumas declarações suas sempre celebrando como o Rap é importante na sua vida e te colocou em outro lugar. E eu também sei da sua conexão muito forte com o Rio de Janeiro, com a cena de onde você veio e tudo mais. Queria que você falasse exatamente dessas origens e como você começou, quando você começou no Rap, e se apresentando para uma pessoa que não sabe quem é BK’, quem é Abebe Bikila.

BK: Vamos lá, vou começar contando como me tornei o BK’. Morava em Jacarepaguá uns anos atrás e meus amigos não conseguiam falar meu nome direito (risos). Sinceramente não vejo nada de difícil em Abebe Bikila, é muito fácil, mas tudo bem.

Aí tipo assim, nos meus 13 anos de idade, era muito comum os apelidos serem siglas, tá ligado? Então já virei BK’ ali, com 13 anos de idade. Já era meu apelido de rua ali.

Meus primeiros contatos com o Rap foram os mesmos da galera que nasceu ali nos anos 90. Muito Racionais, muito MV Bill. Mas eu acho que eu ainda não era maduro o suficiente pra entender o Rap naquela época, até por várias coisas que a gente ouvia. E eu não vivia aquele lifestyle do Rap ainda na minha adolescência.

A galera, a molecada de agora, tem esse privilégio de viver assim. Na minha época, era eu e mais meia dúzia de amigos que gostavam de Rap. Pra eu ter acesso ao próprio conteúdo do Rap ali não era tão fácil quanto é hoje em dia…

TMDQA!: Isso a gente está falando de que ano, mais ou menos?

BK: Ah, sei lá, 2000 e pouco que foi quando vivi ali minha adolescência. Começo dos anos 2000. Os clipes chegavam ali pelo Top TVZ, tá ligado? Era video tracks, tá ligado? Era esse o acesso que a gente tinha, mano. E aí entrou a internet e comecei a baixar umas paradas no KaZaa, mas o acesso não era tão fácil assim. Eu já gostava muito, mas não conseguia viver aquele lifestyle ainda, não era tão acessível, tá ligado? E onde eu circulava a galera não ouvia tanto.

Até que um dia eu vi, também na TV, um documentário do Tupac — acho que é Resurrection o nome. Foi aí que eu pensei, “Caraca, mano, quero fazer algo igual esse cara fez”. Toda essa parada de poder unir e da representatividade dele, tá ligado? Aí eu quis ser aquilo… não que os caras não fossem aquilo também, mas não era mostrado assim. Não chegava pra nós dessa forma.

Você tava ali, se identificava com a música, mas o personagem ali, do herói ali, eles não… Ah mano, o Rap no Brasil nos Anos 90, naquele começo, a gente sabe que tentavam abafar muito os caras ali, tá ligado? Os Racionais, o Bill, tentavam muito calar a voz dos caras. Então, assim como toda a história da militância preta no Brasil — o que mais chegava pra gente era até mais o próprio Pantera Negra do que os movimentos daqui.

Então quando eu vi o Tupac, eu queria ser igual a ele. Eu falei, “mano, eu quero seguir esse cara”. Então acho que a minha primeira referência de Rap onde eu parei pra realmente querer escrever, realmente querer fazer algo que pudesse influenciar a vida das pessoas foi quando eu conheci a história do Tupac. Eu realmente era muito fã. Eu realmente sou muito fã do Tupac. Só não queria morrer cedo que nem ele, tá ligado? (risos)

TMDQA!: E aliás, era um traço infelizmente marcante do Rap durante muito tempo, né? A galera morria muito cedo, por muitos motivos.

BK: E isso ainda acontece, se você observar. Tipo o Nipsey [Hussle], assassinado muito novo também.

Continua após o vídeo

TMDQA!: Você falou muito do lifestyle, né? E acho que o Rap tem muito a ver com lifestyle. Quando é que você começou a viver esse lifestyle do Rap junto com escrever? E no Rap, essa questão é muito importante, pois uma coisa alimenta a outra. Tem outros gêneros musicais em que isso até parece um “pecado”, você ter uma preocupação mais estética, uma preocupação de vivência… No Rap é o contrário, é vital, né?

BK: Exatamente, isso é vital. Porque é isso, você vive o Rap, tá ligado? Você não só escuta o Rap. E é por isso que eu tenho um carinho a mais pela cultura, porque é algo que você realmente vive, você é aquilo e faz parte daquilo.

Isso foi com 19, 20 anos, cara, quando fui morar no Catete, que eu fui conhecendo outras pessoas que já curtiam isso, e lá era bem mais forte com todo esse rolê do skate ali perto da Lapa. A Lapa já tinha rolê de Rap acontecendo. Quando fui me envolvendo mais com essa cultura urbana eu comecei a vivenciar mais o Rap.

A partir daí eu fui caminhando, foi onde as rodas de rimas começaram a crescer muito também. Foi quando comecei a viver o lifestyle do Rap no Rio de Janeiro. E já existiam outros rolês, mas que eu não conhecia pela galera que eu andava, tá ligado? E internet nem era aquilo tudo ainda, não era uma parada acessível pra minha bolha, era uma outra bolha. Eu comecei a ter acesso a essa outra bolha do Rap, esse outro local do Rap quando comecei a andar por ali, pela Lapa. Foi ali que fui conhecendo até a própria história do Rap no Rio de Janeiro mesmo, todos os grupos, personagens e tal.

A gente já conhecia tipo assim, os principais nomes, todo mundo sabia quem era Marechal, todo mundo sabia quem era D2, todo mundo sabia quem era Black Alien

Mas tinha uma cena underground que rolava, tá ligado. É ali onde rolavam as coisas, ali na Lapa, pra mim é um lugar muito importante e foi onde eu aprendi muito do Hip Hop ali. Comecei a viver mesmo o Hip Hop ali.

E foi uma cultura que foi me amadurecendo e de certa forma me criou também. Vou te falar isso. O Rap me criou. Eu tenho muito carinho pelo Rap e por isso que eu decidi também fazer um disco de Rap mesmo, tá ligado?

BK: Artista do Mês no TMDQA!

TMDQA!: Conectando com isso tudo, você chega em 2016 com o disco Castelos & Ruínas, muito bem recebido. E em 2018 vem Gigantes, também muitíssimo bem recebido pela cena e pela música brasileira em geral. Já que a gente falou de tudo isso e citou alguns nomes, mais uma característica do Hip Hop é que você já teve muitas participações especiais nesses dois discos. O conceito do feat é muito presente e vejo que o Hip Hop faz muita questão disso. Como foi essa fase de construir esses nomes e a importância de ter essa galera do teu lado? E como você vê isso pro Hip Hop? Porque no Rock, por exemplo, você nunca vai ver algo parecido. 

BK: Eu via muitos fãs falando, “Pô BK, queria ver você colaborando com mais pessoas, ver um pouco mais disso, ver você se misturando um pouco”. Porque as pessoas acabaram percebendo algo muito fechado vindo da gente, e de certa forma foi isso, tá ligado? A gente só colaborava entre a gente.

Mas é isso, mano, o Hip Hop é muito grande e tem muitas características. Mesmo falando de regiões diferentes, e coisas diferentes, eles se encaixam, acho que esse é o diferencial do Rap. Até se você for botar um mano de um país com um mano de outro falando línguas diferentes, de certa forma isso vai fazer sentido pra você porque eu acho que é o encaixe do Hip Hop, o Rap é meio que um quebra-cabeça assim mesmo, você vai encaixando as peças.

Claro que tem o lance de fazer o feat para ter um nome legal ali, uma atenção. “Ah, fulano tá na faixa”, e a galera prestar atenção porque tem um nome de peso na faixa, mas eu acho que realmente existe esse lance da colaboração mesmo, de encaixar. Sempre que eu faço um feat. com o Luccas Carlos, a parada funciona, tá ligado? A gente é uma dupla de ataque boa. O Akira a mesma coisa. Então é isso, são as peças que vão se encaixando ali.

No Gigantes eu quis fazer mais isso. Pessoas que eu me identifico com o trabalho… eu até queria trazer mais pessoas, mas aí seria só um disco de feat, um “BK Convida” (risos).

Eu tentei botar todo mundo que eu admirava ali, KL Jay, Drik [Barbosa]. Fui tentando fazer isso, fui começando a fazer colaborações com outros beatmakers, porque sempre fiz muito com El Lif e com JXNV$… ali já tinha Papato [Papatinho], ali já tinha o Arit, já tinha o Nave, e é isso, mano.

É ir fazendo as colaborações, tá ligado?

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TMDQA!: No seu novo disco, Líder em Movimento, você não seguiu por esse caminho…

BK: Esse disco já foi um lance que eu pensei, “Mano, eu quero falar muito”. A gente sabe como a música tá sendo consumida hoje em dia, então ou eu falo muito, ou vou fazer uma música de 10 minutos. Hoje em dia não dá pra fazer uma música assim tão grande, mesmo tendo um conceito. Eu acho que a gente tem que pensar nisso também, tá ligado? A forma como você vai apresentar o trabalho.

Então como eu to falando muito, pensei em deixar feats pra outro momento, escolhi falar muito e não queria tirar meus versos para colocar outra pessoa. Pensei, “vai ficar muito grande, vai ser um EP de uma faixa só. Então eu vou deixar os feats pra outro momento.”

TMDQA!: Tem dois nomes nesse disco que não são feat mas são participações de peso! O sample de “Minha Gente”, na faixa “Pessoas”, tem os créditos para os grandes Roberto Carlos e Erasmo Carlos. E até tem uma história curiosa aí sobre um atraso no disco por causa da liberação do sample, não é? 

BK: Sim, claro. E eu fiz questão de ter, mano. Até falaram pra mudar, mas eu não quis mudar, falei “não vou mudar, não vou mudar, não vou mudar”.

TMDQA!: E você já pensou na música com esse trecho?

BK: Já recebi o beat do Jonas (JXNV$) com esse sample, ele mandou pra mim com esse sample e eu gostei muito. E eu realmente escrevi pensando muito no que é falado nesse sample, então eu não quis abandonar.

Falei que tínhamos que tentar conseguir de todas as formas. Demorou um pouco porque é isso mesmo, é um processo lento para liberar.

E graças a Deus rolou.

Segunda Parte da Entrevista

A segunda parte será publicada no dia 18/01 aqui no site, no YouTube e no Podcast Tenho Mais Discos Que Amigos!

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