De cara, o nome Amazonica deve soar bastante familiar para você, mas, ao contrário do que parece, não se trata de um projeto musical brasileiro. Se você ainda não conhece, viemos falar da carreira solo da compositora, música e DJ inglesa Victoria Harrison.
Natural de Londres, Harry escolheu seu nome artístico após conhecer a lenda folclórica brasileiro sobre a Vitória Régia (Victoria Amazonica, em inglês), que envolve magia, morte e renascimento. Batemos um papo com ela e, em entrevista exclusiva ao TMDQA! que você confere na íntegra mais abaixo, falamos sobre sua trajetória, a nova fase de sua carreira e os seus próximos passos.
Transitando entre a música eletrônica e o rock, Amazonica já soma 10 anos de uma carreira sólida, tocando em eventos de proporções mundiais e colaborando com grandes nomes da música. A artista agora está preparando o lançamento de seu álbum de estreia e divulgou nesta sexta-feira, 29 de Janeiro, o videoclipe para o segundo single do trabalho, “Sweet Sound Of RocknRoll“.
A faixa é a perfeita colisão de todas as qualidades que tornam a cantora uma das grandes promessas para 2021. A novidade, que já está disponível nas plataformas de streaming, contou com produção do aclamado Luke Ebbin (Bon Jovi, Richie Sambora, Rival Schools), que também assina a produção do disco.
Intitulado Songs From The Edge, o primeiro álbum de Amazonica tem seu lançamento previsto para o segundo semestre de 2021, pela sua própria gravadora, a Diamongs x Dragons. Gravado no Henson Studios, em Los Angeles, o disco soa como uma carta de amor ao som visceral do rock de sua juventude e é a verdadeira representação de sua ambição como artista, onde a sensibilidade de DJ é argumentada por uma sólida produção que ecoa influências clássicas como Nirvana, L7 e Jane ‘s Addiction.
Amazonica deixou para trás seu nome artístico anterior, Dirty Harry, que a viu chegar às paradas do Reino Unido e aparecer em “Makin Me Crazy”, de Tommy Lee, e “Temptation”, do Cradle of Filth. Em sua nova fase, ela visa um novo futuro brilhante que, desta vez, está inteiramente em suas próprias mãos.
Assista abaixo ao clipe de “Sweet Sound Of RocknRoll” e, em seguida, confira nossa entrevista com a artista.
TMDQA! entrevista Amazonica
TMDQA!: Olá, Amazonica, como você está?
Amazonica: Olá! Eu estou muito bem, considerando todas as coisas que estão acontecendo! Espero que vocês também estejam seguros por aí.
TMDQA!: Muito obrigado por tirar um tempinho para termos essa conversa. Eu queria abrir esse bate-papo falando sobre o seu nome artístico, que é bastante familiar para nós, brasileiros. Sua escolha pelo nome Amazonica veio de uma lenda folclórica brasileira. Como se deu o seu contato com a cultura do Brasil?
Amazonica: Para ser honesta, foi uma espécie de coincidência mágica com o nome Amazonica. Sempre usei o nome ‘Dirty Harry’ durante meus dias de banda de rock, mas, quando comecei a discotecar, me tornei budista e fiquei sóbria. O nome simplesmente não me cabia mais e eu queria experimentar na música eletrônica e ser capaz de adotar vibrações diferentes na minha música, ao invés de ser previsível. Eu pesquisei todas essas terminologias budistas, mas tudo parecia o nome de um restaurante chinês [risos]. Em seguida, o Google puxou magicamente a história de Victoria Amazonica. Victoria é meu verdadeiro nome de nascimento e a lenda é uma metáfora de como me sinto sobre minha vida e minha carreira. Não poderia ter sido mais perfeito, então, obrigada Brasil e Google!
TMDQA!: Você já esteve no Brasil, conhece mais coisas sobre aqui?
Amazonica: Tenho muito mais a aprender sobre o Brasil! Eu nunca visitei, mas eu realmente quero. Eu vou mais para a América do Norte, pois é onde tenho família e amigos, mas estou um pouco entediada de estar sempre ou no Reino Unido ou nos Estados Unidos, enquanto a América do Sul parece uma aventura mágica exuberante que eu quero experimentar o mais rápido possível! Eu estive obcecada com isso no isolamento.
TMDQA!: Antes de se lançar como cantora, você construiu uma carreira sólida como DJ, mas sempre evitou o caminho da EDM, um dos gêneros mais comuns no meio. Quais foram os desafios de ser uma DJ de rock no século XXI? Você encontrou resistências por parte da cena ou tudo foi mais fácil justamente por apresentar uma proposta diferente?
Amazonica: Todo mundo era meio que “você SÓ pode ser uma DJ de house”, “apenas uma DJ isso ou aquilo”, “você tem que permanecer em um gênero”, e eu fiquei tipo FODA-SE, E ASSISTA! O principal desafio foi que quando comecei a discotecar e disse às pessoas sobre minhas ambições de abrir para bandas de rock e sair em turnê, TODOS na indústria pensaram que eu era maluca. Nenhum empresário ou gravadora trabalharia comigo. Mas eu estava discotecando todas as noites para pessoas REAIS e podia ver claramente qual era o meu destino e, no final, acabei fazendo isso sem a ajuda deles.
TMDQA!: As pessoas ainda querem dançar rock?
Amazonica: Eu acho que todo mundo só quer extravasar, especialmente a geração mais jovem, e o que é tão legal sobre eles é que eles estão vibrando com a intensidade da música, eles não se importam se você é uma rapper ou uma DJ ou uma banda ao vivo. Eles se importam com o quão boa é a música e a energia ali presente. Você realmente não precisa de uma produção exagerada, alguns dos melhores shows da minha vida foram na turnê pelos Estado Unidos / Reino Unido que fiz com Scarlxrd e tudo que eu tinha era um deck de DJ no palco. Foram os pits mais selvagens que eu já havia vivenciado em meus shows.
TMDQA!: Você chegou a tocar em festas de eventos mundialmente famosos, como Oscars, Cannes e BAFTAs; abriu o show de grandes artistas, como Marilyn Manson e Machine Gun Kelly. Ainda como Dirty Harry, chegou a colaborar com nomes expressivos do rock, tais como Tommy Lee (“Makin Me Crazy”) e Cradle of Filth (“Temptation”), atingindo as paradas do Reino Unido. O quanto essas experiências influenciaram no seu som como cantora e compositora?
Amazonica: A tour com Marilyn Manson mudou tudo para mim, sou muito grata ao Manson por essas oportunidades. É quando todo mundo ficava tipo ‘merda, ela está no caminho certo’. Eu tinha a reputação de fazer essas festas glamourosas de celebridades, mas eu sabia que, para mim, a verdadeira ação estava em fazer turnê.
As colaborações foram todas realmente únicas e experiências ótimas, mas eu sou tão minha própria vibe que elas não influenciaram realmente o meu som, mas me abriram para novos públicos, o que foi legal.
Continua após o vídeo.
Sweet Sound Of RocknRoll
TMDQA!: Você acabou de lançar o clipe de “Sweet Sound Of RocknRoll”, o primeiro de “Songs From The Edge”. A música é um convite para sentir a sua alma através da sua música, o que é uma ótima maneira de abrir o trabalho! A produção tem uma estética dos anos 80 e 90, com efeitos estilo VHS, e também é possível notar outras referências à décadas passadas em sua carreira. De onde vem suas influências visuais e sonoras?
Amazonica: Eu tenho que dar todo o crédito à minha amiga Layla (Too Poor) pelo vídeo de ‘Sweet Sound Of RocknRoll’. Meu advogado nos apresentou há alguns anos e eu realmente amei sua vibe e estética, então, quando eu estava procurando alguém para fazer o clipe em Los Angeles, eu liguei para ela e ela tinha acabado de fazer um videoclipe radical para o Craig Xen e eu fiquei encantada. Foi tão estranho, porque uma das primeiras coisas que ela disse foi que precisávamos de um conversível rosa e meu amigo Ricky tinha um conversível rosa de prontidão na última sessão que eu iria fazer. O vídeo todo funcionou assim, apenas deu tudo certo. Layla, Killstation e Quinn Donovan filmaram o vídeo durante 2 dias. Too Poor e Killstation são grandes artistas musicais, então foi muito fácil trabalhar com eles, já que eles sempre sabem, instintivamente, o que é legal.
TMDQA!: E quem foram os responsáveis pelo doce som do Rock N’ Roll que marcou a sua formação musical?
Amazonica: Eu ia e voltava entre Nova York e Londres quando era criança e passava muito tempo em St Marks Place, com pessoas muito mais velhas do que eu, e a história do rock n’ roll de Lower East Side teve um grande impacto em mim, bem como rock alternativo americano e o gótico/punk/glam britânico. Eu adorava Nirvana, L7, The Stooges, Patti Smith, The Doors, Nine Inch Nails, Marilyn Manson, White Zombie, Ministry e, do Reino Unido, eu amava Bauhaus, Sex Pistols, The Cure, Siouxie & The Banshees, Led Zeppelin, PJ Harvey, David Bowie, T-Rex, Gary Numan.
Essas lendas da música alternativa realmente ganharam vida quando eu era jovem. Eu lia todos os livros sobre rock n’ roll e depois via Lenny Kaye passeando com o cachorro, e até me lembro de acabar uma noite no The Chelsea Hotel, em uma festa no quarto de Dee Dee Ramones com alguns amigos meus, e Dee Dee estava nos contando essas histórias de quando ele viu os Rolling Stones na noite anterior e como o Keith Richards era. Era simplesmente incrível eu ser tão jovem e conhecer as pessoas que eu conhecia. Eu era 100% uma adolescente nerd do rock n’ roll.
Minha primeira banda, quando eu tinha 16 anos, foi com Jon Klien, guitarrista do Siouxsie & The Banshees, que me ensinou como trabalhar em estúdio. Eu fui instruída por Youth do Killing Joke, que produziu meu primeiro álbum, quando eu assinei um contrato ainda adolescente. Irei relançar esse álbum em minha gravadora ainda este ano. Então, eles são as principais influências sobre quem eu sou como artista hoje.
TMDQA!: Eu tive o prazer de ouvir o álbum “Songs From The Edge” com exclusividade e posso dizer que está fantástico! O disco tem uma energia incrível, com músicas certeiras para explodirem ao vivo. Eu fiquei completamente hipnotizado por “Get High” e amei “Frayed At The Edges”, são as minhas favoritas! O álbum passeia pelo indie, rock alternativo, grunge, e ainda sobra espaço para influências do rock psicodélico. Como foi o processo de composição? Você tinha uma ideia central de como gostaria que ele soasse? Ou é mais como um ‘maiores sucessos’ de composições inéditas?
Amazonica: Estou tão feliz que você gostou! Eu sabia que queria fazer um disco de Rock porque o primeiro álbum que fiz tinha tantos estilos diferentes que a imprensa do Reino Unido simplesmente não entendeu, então eu escrevi todas as músicas na guitarra, intencionalmente. Esse foi o fio principal através do corpo desse trabalho.
O próximo ato…
TMDQA!: Ainda ficamos sabendo que “Songs From The Edge” será a primeira parte de uma trilogia. Isso é demais! O que pode nos adiantar sobre esses lançamentos? Eles conversarão entre si? Seguirão o mesmo gênero? Queremos saber!
Amazonica: É tão emocionante! Então, primeiro temos o ‘Songs From The Edge’, logo estarei relançando meu primeiro álbum, que gravei com o Youth, chamado ‘The Trouble with… Harry’, este é um dos favoritos dos fãs e o maior sucesso comercial que tive em minha carreira, mas, devido a falência da gravadora original, ele não está disponível [nas plataformas de streaming]. É uma loucura ouvir o álbum agora porque parte dele soa tão novo como se tivéssemos acabado de gravá-lo, estava muito à frente de seu tempo. Eu tinha muito mais dos meus elementos industriais nele e fiz um monte de colaborações com o Youth. Eu amava Killing Joke, então isso foi um sonho que se tornou realidade na época, ele tinha acabado de produzir o álbum ‘Urban Hymns’ [1997], do The Verve, e eu era tão jovem e uma artista desconhecida, e fizemos um álbum pop industrial de metal maluco que todos vocês poderão ouvir em breve.
Depois disso, estarei lançando o álbum que acabei de escrever e produzir sozinha, e que estou terminando em quarentena. Esse álbum reúne todos os elementos de todas as minhas influências, mas tira os aspectos de bateria ao vivo e estou usando mais hip-hop eletrônico e batidas de trap. É também muito cinematográfico, muitas cordas, muitas emoções íntimas super pessoais. É uma viagem e tanto, o arco da trilogia termina comigo evoluindo para a artista de estúdio que sempre quis ser, uma produtora, compositora, cantora, sendo capaz de ter independência para gravar e escrever sozinha, mas com todas as pessoas e experiências que eu tive correndo em minhas veias.
TMDQA!: Estamos passando por um período completamente atípico, que afetou em cheio o setor cultural. No momento não é possível excursionar para divulgar seu trabalho. A pandemia teve influências no lançamento? Como você se preparou para apresentar suas músicas para o público em um momento tão complicado para o entretenimento?
Amazonica: A pandemia, na verdade, ajudou no sentido de que eu estava tão ocupada fazendo turnês e discotecando todas as noites, e não tinha mais tempo para pensar em gravar e lançar músicas ou criar um selo. Então, quando o Covid chegou, comecei a cumprir todos os meus contratos e trabalhei com meu advogado para obter de volta todos os direitos sobre minha música, o que é uma bênção… seguir com minha própria gravadora e possuir todos os meus lançamentos e masters, é um milagre. Eu sei que ainda temos mais algum tempo em isolamento, então eu quero gravar um par de batidas de guitarra mais uptempo para o novo álbum.
TMDQA!: Há planos de apadrinhar novos artistas pela sua gravadora, a Diamonds x Dragons?
Amazonica: Sim, há 2 atos que quero lançar que estão em desenvolvimento em Londres. Eles são completamente diferentes do que estou fazendo, ambos têm músicas realmente únicas e legais. Fiquem de olho!
TMDQA!: Quais serão os seus próximos passos após a estreia de “Songs From The Edge”?
Amazonica: Espero lançar pelo menos uma faixa ou duas por mês. As coisas estão um pouco desafiadoras devido à covid-19 e toda a dificuldade que é gravar vídeos, etc… mas estamos focados nisso!
TMDQA!: Para fechar, “Songs From The Edge” receberá uma edição em vinil, um dos nossos formatos favoritos. Você tem uma ligação pessoal com essa mídia?
Amazonica: SIM, EU AMO MEU VINIL. Na verdade, eu toquei apenas com vinil em um local em Londres chamado Chiltern Firehouse. Eu fiz sets loucos de 12 horas lá, para a semana de moda e, depois das festas de premiações, etc… eu chego com muitas bolsas de discos.
TMDQA!: Uma pergunta frequente por aqui, uma brincadeira com o nome do nosso site: Você tem mais discos que amigos?
Amazonica: 1000% SIM e eu tenho muitos amigos! [risos]
TMDQA: Amazonica, muito obrigado por essa conversa! Gostaria de deixar algum recado para os fãs brasileiros?
Amazonica: Povo brasileiro, assim que pudermos nos encontrar, farei os shows mais loucos e intensos para vocês. Eu mal posso esperar para conhecer todos vocês!!!