“Dinheiro compra felicidade?”
Essa é uma pergunta complexa, que gera muitas reflexões. Afinal o que te faz feliz pode ser comprado com dinheiro? É claro que ter um carro, comer em um restaurante bom e afins dá uma certa realização, mas isso é o mais essencial para você?
Para o icônico Tim Maia, não. Seu desejo verdadeiro era viver um amor tranquilo, e isso não pode ser comprado por nenhuma quantia. Na visão dele, de que adianta ostentar se não tiver com quem compartilhar isso? Em suas prioridades, o amor era a base, e isso fica claro em um dos seus primeiros e maiores hits: “Não Quero Dinheiro (Só Quero Amar)“.
Lançada originalmente em 1971, há exatos 50 anos, em seu segundo disco de estúdio (homônimo), a canção não tardou a se tornar um grande sucesso. Levou o cantor aos maiores palcos do Brasil, aos mais famosos programas televisivos e, é óbvio, a uma incessante reprodução nas rádios.
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Falamos um pouco sobre a música logo abaixo. Viva Tim Maia!
https://www.youtube.com/watch?v=FmMleq61iJ4
O segundo disco de Tim Maia
“Não Quero Dinheiro” integra Tim Maia, o segundo disco do cantor. Lançado em 1971, foi a grande estreia de Tim para boa parte do grande público. Além do sucesso do qual estamos falando aqui, o cantor também lotou rádios com o hit “Você“. No mais, também integram o disco canções compostas por nomes como Carlos Imperial (“Salve Nossa Senhora”) e Hyldon (“I Don’t Know What to Do with Myself”).
Apesar de seu disco de estreia ter sido bem recebido pelo público e alcançado boas marcas de venda, não restam dúvidas de que foi aqui que Tim virou de vez o “síndico” que tanto amamos.
A letra
Apesar de simples, a mensagem transmitida por Tim Maia neste grande sucesso não é um tema muito como em músicas.
Quer dizer, dinheiro é importante, sim. Não podemos dizer que não. Mas existem coisas mais importantes. Para Tim, o amor é a prioridade. A letra de “Não Quero Dinheiro” é uma declaração das mais explícitas, mas apenas falar que ama é fácil (e, convenhamos, comum demais no mundo da música). O que você sacrificaria pelo seu grande amor?
O eu-lírico deixa claro que riquezas materiais não são capazes de superar um bom romance. Com apenas um refrão, o síndico desmoralizou toda uma “cultura de ostentação” que começou a ficar cada vez mais marcante na música popular nas décadas seguintes.
Praticante da Pirâmide de Maslow
O psicólogo Abraham Maslow ficou famoso em vida por ter criado a teoria da “Hierarquia das Necessidades”, na qual representou, através de uma pirâmide, graus diferentes de necessidades humanas, em que a base simboliza o nível mais básico (e, logo, necessário à sobrevivência). De acordo com esse estudo, o ser humano só passa a ter o desejo de satisfazer uma necessidade caso o nível anterior da pirâmide (disponível abaixo) estiver sanado.
Das necessidades fisiológicas, a pirâmide sobe passando por etapas como estabilidade, relacionamentos e realização pessoal. Considerando essa teoria, o dinheiro ajuda apenas nos dois primeiros degraus. Logo, para a realização pessoal, não é necessário dinheiro.
Em um curioso texto publicado em 2014 no site InfoMoney, o administrador e doutor em educação Eli Borochovicius explica melhor sobre essa teoria e ainda leva Tim Maia para a discussão, destacando os seguintes versos de sua emblemática canção:
De jeito maneira
Não quero dinheiro
Eu quero amor sincero
Isto é que eu espero
Grito ao mundo inteiro
Não quero dinheiro
Eu só quero amar
Na mesma época…
1971 foi um grande ano para a música brasileira. Apesar de estar inserido dentro dos “anos de chumbo” da ditadura militar, grandes artistas lançaram obras que marcariam para sempre a nossa música.
Roberto Carlos, em seu auge, lançou um de seus emblemáticos discos homônimos, especificamente o que o consagrou como cantor romântico. Foi também o ano em que Chico Buarque lançou o disco Construção, repleto de canções emblemáticas e marcado principalmente pela ótima “Cotidiano“.
Enquanto isso, Clara Nunes, Elis Regina, Marcos Valle e mais lançaram grandes hits radiofônicos. Tim, no entanto, era inquestionavelmente singular em seu próprio som, marcado por traços de soul e R&B.
“Quero Mais Dinheiro”
E se disséssemos que essa canção levou Tim Maia e Os Mutantes a gravar uma parceria?
Isso realmente aconteceu ao longo da década de 70. Após uma certa aproximação guiada por gostos musicais em comum, Tim, Rita Lee, Arnaldo Baptista e Sérgio Dias chegaram a ir para o estúdio juntos. O nome da música é “Quero Mais Dinheiro“, aparentemente uma paródia do sucesso do síndico.
Um papel com a suposta letra da canção foi encontrado, através do site do Sistema de Informações do Arquivo Nacional (SIAN). A existência da faixa já havia sido anteriormente registrada pela jornalista Chris Fuscaldo em seu livro “Discobiografia Mutante – Álbuns que revolucionaram a música brasileira“. A liberação da música, no entanto, depende não apenas dos Mutantes, mas também da autorização de Carmelo Maia, filho de Tim.
Em 1971, a música teria sido submetida à avaliação da Censura Federal (ditadura, né?), e passou sem problemas. Ao que tudo indica, a letra da brincadeira cabe na melodia de “Não Quero Dinheiro”. Leia abaixo:
A última música cantada por Tim ao vivo
“Não Quero Dinheiro” também acabou, infelizmente, se tornando a última performance ao vivo de Tim Maia.
Aconteceu no dia 8 de Março de 1998, no Teatro Municipal de Niterói (RJ). Após se atrasar mais de uma hora para o início do show, o músico subiu ao palco e, na companhia de sua banda Vitória Régia, tocou apenas duas músicas. A primeira foi “W/ Brasil (Chama o Síndico)“, aquecida pelo instrumental da banda durante 5 minutos até Tim subir enfim ao palco. A segunda, por sinal o hit do qual falamos aqui, foi interrompida logo no início.
Na ocasião, Tim gravaria um especial para o canal Multishow. Ao pegar no microfone para cantar os versos iniciais da música, ele não conseguiu continuar após o segundo “Vou pedir”. De súbito, deixou o palco, os fãs decepcionados e os músicos e a equipe de produção preocupados. Na mesma noite, foi levado ao Hospital Antônio Pedro, ainda em Niterói, onde foi internado e ficou durante uma semana, até o dia 15, quando não resistiu ao impacto de um choque séptico.
Tim Maia vive!
No fim do ano passado, o Ecad (Escritório Central de Arrecadação e Distribuição) concluiu que “Não Quero Dinheiro” foi a música mais tocada em shows no Brasil nos últimos 10 anos!
O hit, por sinal, é uma das canções mais antigas da lista, dominada majoritariamente por canções sertanejas como “Ai Se Eu Te Pego” (Michel Teló) e “Evidências” (Chitãozinho & Xororó). A única mais antiga é “País Tropical“, de Jorge Ben Jor, que data de 1969 (e sobre a qual também já falamos em um outro #TBTMDQA).
Outras versões
Além de tudo isso, “Não Quero Dinheiro” ganhou um espaço fundamental na cultura musical brasileira. Sem se limitar apenas à estética original, várias outras versões foram disponibilizadas ao longo dos tempos.
Assim fez Ivete Sangalo, a rainha do axé, que regravou a canção e faz dela parte do repertório de grande parte de seus shows. Uma versão ao vivo do Exaltasamba também ganhou notoriedade com uma irresistível complementação percussiva.
Para os fãs de música eletrônica, a versão do trio de DJs Make U Sweat com o duo Jetlag é uma boa e dançante pedida. De quebra, o remix ainda conta com os vocais potentes de Tiago Abravanel.
O fato é que sempre tem Tim Maia para todos os gostos!