Nessa edição da coluna teremos uma trinca pernambucana talentosa, com artistas que vêm ganhando destaque em diferentes estilos. O primeiro deles é o cantor e compositor Samico, que, a partir da ideia de cura interior, estreou recentemente o seu novo single. Intitulada “Coração“, a faixa é uma parceria com a fluminense radicada em São Paulo Bárbara Eugênia.
A composição é autobiografia e retrata um momento de mergulho interior e auto resgate do artista. “Toda vez que eu tocava essa música, uma ferida se curava“, explicou Samico sobre o seu processo criativo. “Coração” marca uma nova estética em sua carreira, que se aproxima dos ritmos e influências da música popular brasileira, expondo sua essência poética e minimalista.
Com produção musical assinada por Luccas Maia, o single se destaca pela fusão das vozes de Samico e Bárbara Eugênia, que se deixam conduzir pela melodia certeira do violão, acompanhado pelos beats sutis. Sobre o dueto, o artista comenta:
Depois da música quase pronta, senti a necessidade de somar uma voz que fosse ao mesmo tempo doce e marcante e o timbre e flow de Bárbara encaixou muito naturalmente, igualmente como a energia dela.
O momento de pandemia e distanciamento social foi um fator que contribuiu para a produção dessa faixa, uma vez que a internet derrubou as fronteiras físicas. Embora os artistas não se conheçam pessoalmente, foi possível criar e interagir através das conexões energéticas também, conta Bárbara.
Recebi o convite do Samico através de um amigo e quando ouvi a música achei uma delícia, me identifiquei e já me conectei com a canção e assim o processo criativo saiu fácil.
A canção recebeu um videoclipe inspirado na Euritmia, arte do movimento que busca tornar visível, as batidas, os ritmos, as melodias e harmonias musicais através da expressão corporal. O material traz a concepção da euritmista Raíssa Sarmento. A direção de fotografia e edição do vídeo ficaram a cargo de Tágory Nascimento e você confere o resultado logo abaixo.
Mooniz
O artista Pedro Mooniz escolheu o mês de Fevereiro para colocar no mundo o seu projeto musical Mooniz. A estreia aconteceu com a ótima “Palco“, que se encontra nas plataformas de streaming e conta com a participação da banda americana de rock experimental Polyenso.
O cantor e compositor pernambucano mergulhou em sua própria história, aguçou a criatividade, amadureceu seus processos sonoros, e externalizou sentimentos em forma de poesia e canção. A faixa é o primeiro passo de uma série de lançamentos do seu novo trabalho autoral.
Mooniz celebra a parceria com a Polyenso, um dos artistas mais escutados por ele na última década. Em conversa com o TMDQA!, o músico conta que seu primeiro contato com a banda aconteceu há alguns anos, quando enviou um email oferecendo seus serviços de designer. A resposta demorou 2 anos para vir, o job acabou nem saindo, mas deu início a uma amizade. Em 2020, já nas etapas finais do disco, ele apresentou a ideia do feat. e o grupo topou.
Sempre fui um grande ouvinte da banda e acompanhei com muito gosto todas as suas fases, mas minha relação com a música deles extrapolou o ato de ouvir. Afetou muito o meu fazer também, abrindo meus ouvidos pra essa mistura complexa de hip-hop, pop, indie, RnB e música experimental que tá sempre brincando entre o eletrônico e o orgânico. Enfim, muito grato por essa troca e ansioso pra collabs futuras.
Com um toque sutil e uma melodia leve, Mooniz abordando em “Palco” a temática madura sobre fim de relacionamentos. As vozes da Polyenso respondem harmoniosamente ao artista, conduzindo o ouvinte a passear por elementos sonoros como a música popular brasileira e a música latina com batidas eletrônicas, trazendo fortes marcações no groove.
O lançamento desencadeará no álbum de estreia Mergulho, com lançamento previsto para o primeiro semestre deste ano. Assim como o single, o disco foi todo produzido pelo próprio Mooniz, durante os primeiros meses de quarentena, e contou com a colaboração de artistas e amigos, como Luccas Maia, que assina a coprodução.
Esse será o primeiro trabalho 100% autoral do artista. Tentamos adiantar um pouco do que vem por aí e perguntamos a Mooniz o que podemos esperar de Mergulho. Segundo o músico, “todas as músicas desse projeto soam extremamente intimistas porque falam de temas muito reais de formas extremamente sinceras (beirando a expliciticidade)“.
Essa energia ‘Intimista’ percorre todo o disco, mas ao mesmo tempo cada canção sai de um local sonoro diferente: enquanto umas têm dedilhados de nylon mais presentes durante toda a música, outras tem beats de hip-hop sobre arpeggios de sintetizadores e outras guitarras encharcadas de reverb sobre uma bateria orgânica muito frenética.
Com o lançamento acontecendo em um período atípico para o entretenimento, Mooniz vem estudando sobre a independência do músico em apresentações ao vivo, com o uso de drum machines, sintetizadores e controladores MIDI pra operar um show inteiro sozinho ou acompanhado de 1 ou 2 pessoas. O objetivo é encontrar novos caminhos para dar oportunidade pro material ser consumido de outra forma.
Penso que me debruçar sobre esse modelo mais enxuto de apresentação é a coisa certa pro momento. É um universo que sempre me atraiu e, pra falar a verdade, desde a produção do disco imagino as músicas em versões mais ‘contidas’.
Ouça abaixo o single “Palco”.
Semper Volt
Semper Volt, projeto do músico e compositor João Tenório, propõe uma viagem sideral com a estreia do videoclipe “Arrepiou“. O single integra o álbum de estreia do artista, Cristal, lançado em 2020, durante a quarentena.
O material audiovisual foi todo produzido e gravado em isolamento e resgata a temática do autoconhecimento. Com um smartphone, light sticks, tecidos, estrobos de luz negra, material de arquivo da Nasa e uma boa dose de criatividade e bom humor, o clipe conduz o espectador a embarcar em uma viagem interplanetária para se enxergar por outra dimensão e se questionar acerca da sua existência, conceitua João, que também é cineasta e atua como diretor.
Nesse momento tão ruim da nossa história é difícil achar uma maneira de falar de otimismo, de superação pessoal e positividade, que são os temas da letra. Só mesmo se a gente pegar um foguete e sair da Terra, para presenciar a formação de vida em outro planeta e, quem sabe, até encontrar artefatos de uma possível inteligência extraterrestre.
O vídeo contou também com a colaboração de Cris Motta, com a obra “caixa”, do artista plástico Leandro Lima, que entrou como uma espécie de artefato encontrado em outro planeta. A participação de Vinicius Prado Martins na edição foi fundamental para que a narrativa e o ritmo se encontrassem, conta Semper Volt.
O Vini é um montador brilhante e nossa colaboração já vem de muitos anos. Conversamos sobre Meliés e 2001 como referência, e partimos para uma abordagem de efeitos que poderiam ser feitos mesmo com recursos só de película.
Filho do baterista Carlos Balla (Djavan, Maria Bethânia, Gal Costa), João Tenório teve contato com a música desde cedo. Multi-instrumentista, o músico cursou cinema e por lá descobriu outra de suas grandes paixões: a música eletrônica. O projeto Semper Volt tem suas raízes em 2013, quando resolveu experimentar a combinação entre batidas eletrônicas e harmonias regionais, se aproximando de um pop dos anos 80.
Confira a seguir o clipe de “Arrepiou”.