Para Leyla Blue, a música Pop é um “cavalo de Troia”. E a cantora de 20 anos é talvez o melhor exemplo para sua própria definição neste momento da música mundial.
Com o hit “What a Shame”, que viralizou nas redes sociais e esteve entre as músicas mais tocadas do Brasil recentemente, Leyla atingiu os ouvidos de milhões de pessoas e trouxe consigo uma mensagem forte. É justamente esse o significado de sua definição: usar uma melodia atraente ou um refrão grudento para cantar sobre aquilo que nem todo mundo quer falar sobre.
No Brasil, o sucesso de Leyla foi especialmente grande e a cantora se viu intimamente ligada à atriz e influenciadora Duda Reis, que compartilhou vídeos no TikTok com “What a Shame”, que fala sobre a vergonha de uma traição, como trilha sonora em referência a seu ex, Nego do Borel, acusado de diversos tipos de abuso.
Leyla nos atendeu para um papo cheio de simpatia e dando sinais de um futuro bastante promissor, e você pode conferir tudo que rolou logo abaixo!
Entrevista com Leyla Blue
TMDQA!: Oi, Leyla! Prazer em te conhecer! Queria começar já voltando um pouco no passado, porque você começou a sua carreira musical bem cedo, com 16 anos. Como foi então lidar com esse sucesso de “What a Shame”? Foi algo inesperado ou você sabia que era questão de tempo?
Leyla Blue: Prazer enorme em te conhecer! Definitivamente não foi esperado. Eu lancei essa música tipo um ano e um mês antes dela bombar, então meio que tinha sido muito… muito trabalho duro nesse EP que vai sair em breve, sabe. E quando eu faço algo eu realmente coloco tudo de mim ali, e eu coloquei minha alma e coração nisso.
É tudo extremamente pessoal e quando “What a Shame” meio que começou a bombar do nada foi, tipo, absolutamente inesperado. E isso fez com que fosse muito mais especial.
TMDQA!: Esse projeto é o The Blue, né? É um EP, não um disco?
Leyla: É um EP, mas é bem grande — são 9 músicas. Mas é realmente uma representação realmente completa de quem eu sou como artista, é meio que um… “Oi, eu sou a Leyla Blue”. [risos]
TMDQA!: Legal! Leyla, uma coisa que me chamou muito a atenção foi ver que você pensa na música como uma espécie de “cavalo de Troia”, porque você acha que o Pop é uma forma de impactar as pessoas com mensagens fortes sem que elas mesmas percebam. Isso acontece muito nas rádios e tudo mais, mas você acha que nas redes sociais — onde “What a Shame” bombou — isso também rola?
Leyla: Sim! Sabe, eu acho que hoje em dia é tudo muito diferente, especialmente por conta da COVID, porque a maioria das pessoas consome música e conteúdo de forma geral nos celulares e através das mídias sociais. E eu acho que… sabe, se eu iria amar que [a música] estivesse tocando em rádios por todo lugar? Claro, e eu realmente espero que toque, mas eu estou feliz que está sendo recebida pelas pessoas e é bem legal de ver.
Porque, na verdade, o objetivo de “What a Shame” e de qualquer outra música que eu lanço — seja essa energia de “mulherão da porra” ou coisas mais vulneráveis — é fazer com que as pessoas se sintam bem consigo mesmas, e que elas possam se sentir confortáveis com quem elas são em todos os momentos.
E poder ver especialmente as mulheres brasileiras pegando isso e sendo rainhas e só, tipo, se sentido todas, é quase melhor. Porque eu vejo as pessoas de forma real!
https://www.youtube.com/watch?v=K-INjDXijWg
TMDQA!: É, eu concordo completamente. Eu tinha que perguntar mas, pra mim, você está certíssima — o futuro é nas mídias sociais, né. E aqui no Brasil, como você citou, a sua música realmente bombou demais por conta da Duda Reis! Fiquei bem curioso pra saber se você viu por conta própria, se alguém te avisou e te explicou o que estava rolando… [risos]
Leyla: Eu não tinha entendido no primeiro momento o que tava rolando. Eu vi o TikTok dela e pensei, tipo, “Caramba, essa mulher é linda”. Mas eu não entendi a situação e tal, mas aí os fãs começaram a me mandar mensagens e me explicaram tudo e recentemente eu e a Duda nos conectamos; eu mandei um vídeo pra ela agradecendo por ela ter usado a música e ela me mandou um de volta e nós começamos a mandar WhatsApp uma à outra.
E ela me contou a história e é tão engraçado e aleatório que a minha música tenha de alguma forma ficado conectada a isso, mas eu acabei me conectando com uma garota incrível que é a Duda, simplesmente uma rainha, e fez com que a minha música fosse ouvida por tantos brasileiros — especialmente as mulheres brasileiras gostosas. É incrível. [risos]
TMDQA!: [risos] E a Duda realmente representa esse espírito da sua música, né.
Leyla: Exatamente!
Leyla Blue além de “What a Shame”
TMDQA!: Bom, obviamente, “What a Shame” não é a sua única música. Sei que você está preparando um lançamento muito em breve — “Gasoline” — e pela prévia que ouvi vem coisa muito boa por aí. Você pode falar mais sobre isso pra gente?
Leyla: Obrigada! “Gasoline” é uma música bem engraçada. Eu meio que a chamo de meu hino de piranha doida. [risos] É definitivamente na mesma vibe… eu meio que divido minhas músicas na minha cabeça, dois lados da coisa — piranha má e piranha triste. [risos] Um deles é super vulnerável, tudo escrito no meu quarto, e aí o outro tem essa energia e “Gasoline” é definitivamente deste lado.
Eu a escrevi sobre uma vez em que eu levei um bolo de um cara e fiquei me perguntando por que aquilo me fez querê-lo mais. E aí eu fiquei, tipo, “Isso é zoado” — que esse desejo pela caça exista, mas isso definitivamente existe dentro de todo mundo. Então eu queria meio que fazer uma música que expusesse essa parte para que as garotas pudessem ficar, tipo, “Eu vou colocar fogo na sua casa”. [risos] É tão divertido. É só divertido.
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TMDQA!: A música realmente soa divertida! Você acha que “What a Shame” e “Gasoline” representam bem esse EP ou ainda rolam algumas surpresas? Sei que tem outras músicas já lançadas também, elas estarão no EP?
Leyla: Estarão! Mas, sim, definitivamente há surpresas. Eu realmente nunca quero fazer duas músicas que soem da mesma forma, e há três músicas que as pessoas ainda não ouviram — e elas são todas bem diferentes uma das outras e de tudo que eu já lancei. Uma delas é extremamente pessoal, e as outras duas são tipo… digo, todas são bem pessoais. Mas, pra resumir, sim, há muito mais.
Pandemia e saúde mental
TMDQA!: Legal! Estou curioso para ouvir! Leyla, sei que o mundo inteiro foi muito atingido pela pandemia mas você tem uma ligação muito forte com Nova York, né? E a cidade foi realmente um dos epicentros do vírus… você estava em NY durante esse período? Como foi? Te influenciou musicalmente de alguma forma?
Leyla: Sim, eu estava. Na verdade, eu estava bem no coração de Manhattan quando as ruas ficaram basicamente abandonadas. Foi muito estranho. Eu morei aqui a minha vida toda e eu nunca tinha visto nada nem perto disso. Realmente teve um efeito na minha criatividade, eu meio que só parei de escrever músicas por um tempo porque eu tinha acabado de terminar meu EP, mas eu comecei a escrever muita poesia.
E eu me senti muito inspirada para meio que capturar essa energia, tipo, triste e incerta. E isso de escrever poesias realmente influenciou minhas composições, quando eu voltei a escrever — é meio que onde eu estou agora, quando estou indo ao estúdio para gravar e criar mais coisas. É a partir desse ponto que eu estou trabalhando.
TMDQA!: Também por conta da pandemia, acaba que seu sucesso veio uma “má hora”, se é que isso existe. Claro que é sempre bom que tenha vindo, mas justo em um momento no qual você não pode viajar o mundo, ver fãs, fazer shows… dá uma certa tristeza?
Leyla: Ah, sim, eu acho que isso é bem triste. Mas você tem que olhar pelo lado positivo e eu só estou, tipo, pelo menos há redes sociais e eu pelo menos posso ver as caras das pessoas. Especialmente no TikTok! Isso é tão legal. E eu fico, tipo, “Ok, talvez esse seja um momento onde eu posso conquistar um público ainda maior para quando eu for fazer turnês”…
TMDQA!: Com o Brasil na lista, né? [risos]
Leyla: Ah, claro, 100%! E minha família inteira já disse que vai comigo… [risos]
TMDQA!: Queria te perguntar também de um assunto bem delicado, e naturalmente sinta-se à vontade para falar apenas o que quiser sobre isso. Você lidou com várias questões de saúde durante a sua vida, incluindo transtorno obsessivo compulsivo e transtornos alimentares. A música te ajudou a lidar com tudo isso? Essas coisas influenciaram na sua trajetória?
Leyla: Definitivamente. Esse é o motivo pelo qual eu comecei a fazer músicas, porque eu ouvi artistas falando disso nas suas músicas antes mesmo de eu ouvir pessoas na vida real falando disso. E aí foi a primeira vez que eu entendi que eu não era louca, que outras pessoas também passam por isso.
Como uma garota de 13 anos, ouvir isso foi muito poderoso. E eu pensei que eu precisava ser uma pessoa que fazia isso para as outras pessoas, porque eu absolutamente não sou a única pessoa que lida com tudo isso. Muita gente, mais pessoas do que a gente imagina, lidam com questões de saúde mental de algum tipo, especialmente durante a pandemia. E nós vivemos em um mundo onde ainda é tabu falar sobre isso e procurar terapia, e isso é absurdo!
Não só as pessoas têm que lidar com esses problemas, elas também têm que lidar com essas outras coisas. E eu quero me livrar disso, e a única forma de fazer isso é falando disso. É só extremamente, extremamente importante pra mim. É por isso que eu faço músicas, porque é por esse motivo e através disso — através de falar das coisas que deixam as pessoas tão desconfortáveis — que você fica bem com quem você é.
E esse sentimento de confiança, especialmente para as mulheres, que são provavelmente as pessoas mais ensinadas a se sentir mal consigo mesmas… eu só quero empoderar as pessoas.
TMDQA!: Muito obrigado por usar sua voz para isso! Leyla, pra fechar, eu sempre gosto de fazer essa pergunta. O nome do nosso site é Tenho Mais Discos Que Amigos, então me conta: você tem algum disco que seja seu melhor amigo ou que tenha cumprido esse papel durante esse período tão difícil?
Leyla: Olha, as músicas da Amy Winehouse pra mim são exatamente isso. Ela simplesmente sangra em suas canções, e tem uma música dela — que nem é dela, na verdade — que chama “To Know Him Is to Love Him”, foi escrita pelo Phil Spector, que morreu recentemente e era uma lenda dos anos 60, e ela canta essa versão acústica ao vivo tão, tão bonita dela. E essa música, por algum motivo, acalma minha alma.