Entrevistas

Entrevista: Sam Fischer fala sobre parceria com Demi Lovato, sucesso de "This City" e carreira na pandemia

Em entrevista exclusiva ao Tenho Mais Discos Que Amigos!, o cantor e compositor Sam Fischer falou sobre parceria com Demi Lovato, turnês e mais.

Sam Fischer
Foto: Divulgação

Por Nathália Pandeló Corrêa

Um cantor australiano compôs uma música sobre se mudar para Los Angeles e ela se transformou em um sucesso mundial. Tão improvável quanto esse cenário é um artista se tornar conhecido em meio a uma pandemia global, mas nada disso impediu que acontecessem a Sam Fischer, artista em plena ascensão que estourou com “This City” e agora lança “What Other People Say”, parceria com Demi Lovato.

Fazer sucesso depois de tanto tempo dedicado à música, direto da sala de casa, está longe de ser um cenário ideal. Viver seus primeiros anos de casado também não é – sua esposa, Erin, contribui com backing vocals nas suas músicas e shows.

Publicidade
Publicidade

Mas Sam Fischer está ficando craque em ajustar as expectativas. Tanto que, depois de um contrato cancelado por sua antiga gravadora, ele já havia aceitado que possivelmente pagaria as contas compondo pra outros artistas. E fez isso por um tempo, escrevendo sucessos para Ciara, Louis Tomlinson, Jessie J e muitos outros.

Mas “This City” ganhou vida própria e o levou para turnê ao lado de Lewis Capaldi, por exemplo. Tudo pré-Covid, claro. Depois de um ano vivendo o sucesso por uma tela de computador, Sam Fischer aguarda dias melhores. E já começou 2021 com um belo pontapé inicial: um dueto com Demi Lovato.

Tentando trilhar essa linha tênue entre o que é possível ou não em mundo que se move em marcha lenta, o cantor e compositor segue criando – de casa. Foi também de lá que conversou com o Tenho Mais Discos Que Amigos, via Zoom.

Confira logo após o vídeo.

TMDQA!: Oi Sam! Quero começar falando de “This City”, que se tornou um sucesso em vários países. Essa é uma música que você compôs pensando na sua mudança pra Los Angeles. O que você acha que a tornou tão universal e de fácil identificação para pessoas de lugares completamente diferentes?

Sam Fischer: Quando eu escrevi “This City”, eu não estava pensando em mais ninguém, pra ser sincero. Estava muito nos meus próprios sentimentos e só… Não sei, estava prestes a ter o contrato cancelado pela minha gravadora, estava quebrado financeiramente, estava em um momento muito ruim. O que aprendi depois de compor essa música, ver o sucesso que teve e receber mensagens de pessoas do mundo todo, é que às vezes quando estou sozinho, quando escrevo sobre essa solidão, talvez milhões de pessoas por aí também se sintam sozinhas. Então acho que o que a música fez, especialmente com a pandemia, distanciamento social e a quarentena, foi dar às pessoas um lugar seguro pra sentir o que estavam sentindo. E criou essa comunidade de pessoas que também se sentiam sozinhas. Eu não escrevi intencionalmente uma música que fosse um porto seguro internacional, mas vejo que é isso que ela se tornou. E também uma mensagem de esperança e não desistir, sobre se sentir sozinho em uma cidade nova, num relacionamento, num grupo de amigos, o que seja. Só saiba que você não está sozinho. Te vejo, te entendo e estou aqui por você.

TMDQA!: O poder da música, acho.

Sam: O poder da música, com certeza.

TMDQA!: Mas vi que você decidiu mudar pra LA não pra ser um super astro pop, era pra ser compositor mesmo, pra pagar as contas escrevendo música. Mas acho que a vida tá te empurrando em outra direção – você abriu os shows do Lewis Capaldi, você tem seu novo contrato com a gravadora… Como você faz pra equilibrar as expectativas para os seus próximos passos?

Sam: Essa é uma pergunta muito boa. Eu me cerco de pessoas incríveis que trabalham ao meu lado e me apoiam, me dão energia positiva, mas também são muito sinceras comigo. Eles não dizem “sim” pra tudo, realmente mantêm minhas expectativas sob controle. Acho que quando você ouviu tantos “nãos” na sua vida, como foi o meu caso, é difícil ficar muito empolgado com algo que não aconteceu ainda (risos). E estou na terapia, estou trabalhando em ser grato quando as coisas dão frutos, comemorar as vitórias e não apenas ficar tipo “ok, risquei da lista, agora vamos para a próxima”. Gosto de deixar as coisas assentarem, porque é muito especial já ter passado por um contrato de gravadora que fracassou, estar totalmente sem grana e sem esperança. Tenho orgulho de mim mesmo e estou feliz que nesses dias, há algo a ser comemorado e sinto que pela primeira vez na minha vida, estou atendendo e até excedendo as expectativas que as pessoas tinham de mim, então isso é muito maneiro.

TMDQA!: Sim, mas nada como viver um dia após o outro. Te entendo. Mas falando em fazer planos, estamos comentando de coisas que têm acontecido enquanto estamos em uma pandemia global, e imagino que você não pensasse que as coisas iam acontecer dessa forma. Sei que você se manteve ocupado em casa, mas como você lida com as possibilidades diante do que dá ou não dá pra fazer – considerando que não é possível fazer turnê, gravar clipes super elaborados e tudo mais?

Sam: Vou ser sincero: foi bem complicado no início. Trabalhei a minha vida toda para chegar a uma posição em que eu teria uma música que as pessoas conheceriam e poderia fazer todas as coisas que um artista com uma música de sucesso consegue fazer: turnê, viajar pelo mundo, ficar em hotéis chiques, andar em tapetes vermelhos e tudo mais. Então foi bem difícil e me ajustar a esse “normal temporário”, foi complicado. Sei que fiquei emocionalmente abalado, minha equipe e minha esposa tiveram de lidar com isso, eu não era uma pessoa muito legal de se estar por perto. Mas fizemos o que foi possível, sou muito grato pelas pessoas à minha volta, pelo trabalho de todo mundo, por conseguirmos fazer tudo que fizemos. Gravamos seis clipes, shows ao vivo do meu apartamento com uma tela verde, estivemos em um terraço de um prédio em LA filmando para TVs do mundo, tem sido uma conquista enorme de toda a minha equipe, e sou muito sortudo de ser cercado por pessoas tão apaixonadas pelo que fazem. Tem sido difícil, não vejo a hora de sair dessa pandemia e voltar a fazer turnê e rever todo mundo, mas acho que depois do ano passado, estou num lugar melhor mentalmente, para apreciar as coisas, mesmo que não sejam o que eu achava que deveriam ser.

Continua após o vídeo

TMDQA!: Acho que estamos todos nos ajustando, mas acho que você tá se dando bem – quer dizer, um dueto com a Demi Lovato! Vou chutar que você, como todos nós, acompanhou a carreira dela à distância, porque o mundo sabe quem ela é. Como os caminhos de vocês eventualmente se cruzaram?

Sam: Pela graça de Deus! (risos) Você tem razão, nós todos acompanhamos Demi crescer nas nossas telas, pelos discos dela, tudo que ela fez foi público e não posso imaginar o tipo de vida que ela tem. Sou uma cara nova para o público, e a música foi enviada pra ela e ela ouviu. Imediatamente ela se conectou à mensagem de “What Other People Say” e acho que é algo que ela queria dizer há um tempo, e ela é tão sincera e crua na forma que conta sua história, então significou muito escrever algo que deu a ela as palavras para falar sobre o que ela sentia. Mas minha equipe falou com a equipe dela, ela ouviu, se conectou com a música e agora está no mundo. É um pouco louco! (risos)

TMDQA!: Falando nisso, você também criou uma reputação de compositor pra outros artistas. O que eu noto ouvindo essas outras músicas é que elas são bem diversas e poderiam ter sido escritas por pessoas completamente diferentes. Como você canaliza isso – um gênero específico ou até uma personalidade, compondo pra alguém gravar?

Sam: É engraçado, muita gente fala que a música foi escrita para a Demi. Eu escrevi “This City” em 2017 e eu escrevi “What Other People Say” em 2019 e acho que é só amadurecimento, desenvolvimento, coisas que ando ouvindo, a perspectiva da vida e parece que foi num breve momento em que isso aconteceu, e logo “What Other People Say” saiu. Mas quando estou escrevendo pra outras pessoas, não gosto de pesquisar muito sobre aquele artista, porque no fim das contas somos todos pessoas e ninguém é melhor que ninguém. Sinto que sou um bom ouvinte, e uma sessão de composição é tipo uma sessão de terapia. As pessoas entram na sala e começamos a falar sobre nossos dias, nossas vidas, o que estamos enfrentando e só descobrimos o que queremos dizer naquele dia. Pode ser algo superficial, ir para uma boate e abrir garrafas de bebida, ou sobre insegurança de não se tornar a pessoa que você achou que seria quando era mais novo. É diferente em cada sessão, mas acho que é só ser um bom ouvinte e respeitar a posição das pessoas, criando um ambiente seguro para a composição.

TMDQA!: Ainda no tópico de processo de composição, me diga se isso for muito pessoal, mas sei que você trabalha com a sua esposa. Esse período trancado em casa fez vocês se conectarem mais criativamente? Vocês chegam a escrever juntos ou não?

Sam: A gente já escreveu juntos, mas tentamos manter essa parte do trabalho separada. Ela faz backing vocals pra mim e é uma compositora incrível, e uma cantora incrível e musicista. Mas vejo essa parte como meu trabalho e acabamos mantendo separado. Ela é tão inteligente, esperta e ótima com palavras e às vezes estamos conversando e ela fala algo que eu fico tipo “ah, isso dá uma ótima música”. Ela com certeza me inspira, mas tentamos manter as coisas separadas. Ela é minha melhor amiga, só tentamos nos divertir.

TMDQA!: Você estava falando antes sobre compor ser como uma sessão de terapia. E se for tentar encontrar algo em comum entre as músicas que você lançou até aqui, dá pra dizer que elas falam muito sobre as dores de crescer, amadurecimento, as dificuldades em encontrar amor, paixão e propósito na vida. Não vou dizer que você não tem nada disso hoje, claro, mas dá pra dizer que você tá num ponto alto da carreira, é praticamente um recém-casado, etc. As coisas vão bem! Então como você vê a sua próxima fase de escrita, quais temas abordaria?

Sam: Sou muito crítico comigo mesmo, e sim, tem muitas coisas incríveis acontecendo e sou muito grato por tudo. Mas ainda sou um trabalho em progresso, e acho que como todo mundo, estou trabalhando em aprender a me amar todos os dias. Então sei lá, talvez você ouça umas canções de amor, talvez outras coisas… É engraçado, as pessoas falam “você escreve umas músicas tão tristes, mas está numa fase tão feliz”. E eu digo “olha, eu vivi muita coisa antes de as pessoas saberem quem eu sou, antes de conhecer minha esposa”… Tudo isso me afetou muito ao longo da minha vida, então vou continuar fazendo o que sei fazer, entregando Sam Fischer, e quem sabe quando eu chegar num lugar de me amar de verdade, vocês até ouçam umas músicas dançantes pra pista (risos), mas me mantenho sincero, me entrego e isso sempre será o que sou e o que ofereço.

TMDQA!: Dá pra sentir isso. E sei lá, acho que você ainda vai lançar uma música sobre abrir champagne na boate.

Sam: (risos) Olha, chegando 2022 e quando todo mundo estiver podendo ir nas boates de novo, posso lançar mesmo!

TMDQA!: Vamos torcer pra isso! E quem sabe a gente não te vê aqui no Brasil?

Sam: Não vejo a hora, quero muito ir ao Brasil.

TMDQA!: Acho que você vai curtir. Dedos cruzados então.

Sam: Dedos cruzados!

Sair da versão mobile