Gracias, Laptra: a história do selo que deu cara ao novo indie argentino

Gravadora argentina que lançou o El Mató a un Policía Motorizado consolidou a cena indie argentina. Conheça história da Laptra Discos.

El Mató a un Policía Motorizado

“C curte um indie?”. Talvez você já tenha perguntado ou ouvido essa frase por aí. Fato é que responder a isso beira o impossível. E “c curte um indie argentino?”, então? A complexidade da coisa já é conceitual. “Indie argentino” poderia (ou deveria?) se referir exclusivamente a bandas independentes que fazem um som alternex? Não sei, mesmo. A ideia principal aqui é um conteúdo com referências, um pouco de contexto, uma gravadora espetacular e muitas bandas e artistas ótimos que surgiram a partir do começo dos anos 2000 e consolidaram uma cena musical na Argentina.

Los 7 Delfines, Juana la Loca, Soda Stereo e Los Planetas são alguns dos pioneiros do rock alternativo argentino. Todos têm álbuns lançados nos anos 90 com influências de shoegaze, dream pop, space rock e power pop – só coisa que a gente ama. Certamente muito influenciada por esses nomes, uma banda marca a nova era do indie rock argentino do começo dos anos 2000 pra cá: El Mató a un Polícia Motorizado. Mas por quê? Responder a isso também é relativo. Envolve o inegável talento dos caras, o momento que escolheram ou puderam lançar seus primeiros trabalhos e quase sempre uma pequena gravadora por trás. Nesse caso, a Laptra!

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Inspirada na Matador, 99 Records, Creation e tantas outras, a Laptra Discos surgiu em 2003 como um coletivo artístico independente, que sempre se manteve em um verdadeiro combate contra as grandes corporações da música. Esse combate sempre foi travado em prol dos artistas igualmente independentes e de uma capacitação justa para a realização e comercialização dos primeiros trabalhos deles. Uma frase da bio da gravadora, disponível no site oficial, define muito bem isso: “al comprar un disco independiente ayudás al artista a seguir creando” (ao comprar um disco independente, você ajuda um artista a seguir criando).

A Laptra foi criada em um cenário de pós-crise econômica argentina de 2001 e em meio às mudanças que aconteciam nos formatos de distribuição de música. Os discos digitais, produzidos pela gravadora, democratizaram o processo de circulação dos trabalhos dos artistas que assinaram com ela. Um desses discos foi o primeiro e homônimo do El Mató a un Policía Motorizado, de 2004.

Surgida na cidade de La Plata, na Argentina, o El Mató a un Policía Motorizado tem Santiago Motorizado (baixo e vocal), Willy “Doctora Morte” (bateria), Manuel “Pantro Puto” (guitarra), Gustavo “Niño Elefante” (guitarra) e Chatrán Chatrán (teclados). No som: power pop, shoegaze, indie rock ou, simplesmente, rock espacial.

Uma trilogia de EP’s com temáticas sobre nascimento, vida e morte, respectivamente, foi lançada logo após o álbum de estreia dos caras: Navidad de Reserva (2005), Un Millón de Euros (2006) e Dia de los Muertos (2008) – todos pela Laptra. A recepção destes trabalhos foi ainda melhor, tanto que antes mesmo de chegar ao segundo disco a banda já estava em Barcelona, tocando ao lado de nomes como Flaming Lips, Interpol, The National, Mercure Rev e Pulp, no Primavera Sound 2011. Enquanto estava por lá, o grupo conheceu os responsáveis pela Limbo Starr, influente gravadora da cena independente do país, e resolveu realizar com eles uma versão de La Dinastía Scorpio, o segundo álbum, lançado em 2012, que também contou com uma versão da Laptra, é claro.

A parceria profissional desde o início com a gravadora argentina e a relação posterior com uma gravadora europeia foram fundamentais para o crescimento nacional e internacional da banda, que desde então sempre inclui a Europa na agenda.

A conexão Argentina – Espanha não rolou só pro El Mató a un Policía. Quando o Apartamentos Acapulco, da cidade espanhola de Granada, foi a Buenos Aires para gravar uma versão do seu último álbum, El Resto del Mundo (batizado em homenagem aos estúdios Resto del Mundo, onde gravaram muitos artistas da Laptra), eles convenceram o Bestia Bebé a voltar à Espanha com eles. Algumas apresentações e o público espanhol não abriu mão mais da aparição da banda vez ou outra por lá.

Outra cria da Laptra que deixou os espanhóis enamorados foi o Las Ligas Menores. O grupo ganhou a atenção e admiração da gravadora espanhola Sonido Muchacho e o resultado foi o primeiro show em Madri abrindo para o Carolina Durante. Desde então, boa parte dos festivais de verão europeus têm o Las Ligas no line-up.

Javi Punga, 107 Faunos, Hojas Secas, Mapa de Bits e Srta. Trueno Negro também são filhos da Laptra.

Conclusão: tem muito networking no indie? Sim, também. Mas o mais relevante talvez seja o primeiro passo, que quase sempre é impossível ser dado sozinho. Ninguém chega à Madri ou Barcelona sem gravar pelo menos meia dúzia de demos e sem ter o respaldo para fabricar, produzir, desenvolver, distribuir e promover estas demos. Portanto, gracias, Laptra!

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