Autores de hits Pop se unem contra artistas que querem "levar os créditos" por canções que não escreveram

Uma carta assinada por autores de hits Pop pede união contra artistas que querem créditos por composições que não fizeram. Entenda e leia a carta.

Foto stock, autores de hits Pop
Foto por Firmbee via Pixabay

Escrever um hit Pop significa que o autor está garantido financeiramente por boa parte da sua vida, não é?

Bom, não necessariamente. Há alguns dias, a compositora Fiona Bevan — que já escreveu para nomes como One Direction Lewis Capaldi — contou (via NME) que ganhou apenas 100 libras pelas reproduções de uma de suas músicas que esteve no álbum Disco, de Kylie Minogue.

Em seu depoimento, Bevan ainda deixou uma frase impactante:

Os compositores mais bem-sucedidos do mundo não conseguem pagar seus aluguéis. Hoje em dia, autores de hits estão dirigindo Uber. É bem vergonhoso.

O discurso de Fiona ecoou com outros nomes do mercado, como Joel Little (Lorde, etc.), Victoria Monét (Ariana Grande, Machine Gun Kelly, etc.), Emily Warren (The Chainsmokers, Dua Lipa, etc.), Ross Golan (Justin Bieber, Maroon 5, etc.), Amy Allen (Harry Styles, Rosé, etc.) e Savan Kotecha (Britney Spears, Demi Lovato, etc.).

Entre estes autores estão os créditos de hits Pop como “New Rules”, de Dua Lipa, e “7 rings”, de Ariana Grande, e é assim que eles querem que continue sendo. Em uma carta publicada como espécie de abaixo-assinado chamado de The Pact, os compositores pedem para que recebam créditos exclusivos pelas canções que escreveram sem participação dos intérpretes.

Na publicação feita no Instagram, os músicos que fazem parte do “pacto” dizem que não vão “dar crédito de edição ou composição a qualquer pessoa que não criou ou mudou a letra ou melodia ou contribuiu de alguma outra forma à composição sem uma troca razoavelmente equivalente/significativa para todos os autores da canção”.

Você pode ver o post ao final da matéria e, logo a seguir, ler a carta na íntegra publicada no site oficial do projeto.

Carta de compositores

A quem possa interessar,

A beleza da indústria musical é que ela opera em sua melhor forma como um ecossistema. Por trás da maioria das músicas, há uma história de colaboração. Na época do lançamento, uma canção foi tocada não apenas pelo artista, mas por compositores, produtores, mixadores, engenheiros, gravadoras, editoras, empresários e mais.

Através dos últimos anos, tem surgido um crescente número de artistas que demandam [créditos de] edição em canções que eles não escreveram. Esses artistas vão e recebem renda de turnês, merchandise, parcerias com marcas, e muitas outras fontes de renda, enquanto os compositores possuem apenas a renda de edição como forma de sobreviver. Essa demanda por créditos é muitas vezes possível de acontecer porque o artista e/ou seus representantes abusam de seus poderes, usam táticas de bullying e ameaças, e fazem autores de presas que podem escolher abrir mão de alguns dos seus recursos ao invés de perder a oportunidade completamente. Com o tempo, essa prática de artistas recebendo créditos se tornou normalizada; e até agora, não há uma união real dentro da comunidade de compositores para revidar.

É por isso que decidimos nos juntar, apoiando uns aos outros, e criar uma mudança. O que estamos dizendo é o seguinte:

Esse corpo de compositores não vai dar crédito de edição ou composição a qualquer pessoa que não criou ou mudou a letra ou melodia ou contribuiu de alguma outra forma à composição sem uma troca razoavelmente equivalente/significativa para todos os autores da canção.

Para ser claro — essa ação está sendo tomada por dois motivos principais. Primeiro e mais importante, nós esperamos que essa ação proteja os “nós” do futuro, a próxima geração de compositores — aqueles que acreditam que não têm nenhuma vantagem e nenhuma escolha além de abrir mão de algo que é deles por direito. O segundo propósito é mudar a retórica e a perspectiva ao redor do papel de um compositor. Como compositores, nós estamos completamente cientes da importância do artistas que vai e interpreta e promove as canções que nós escrevemos, do papel do produtor que leva a canção à linha de chegada, e do papel da gravadora que financia o projeto e planeja uma estratégia e promoção. Por conta disso, nós não estamos sugerindo que tenhamos uma participação nessas fontes de renda, nós não estamos pedindo algo que nós não merecemos. Nós estamos simplesmente pedindo por esse respeito conosco. Nós estamos simplesmente pedindo que o ecossistema continue equilibrado; nós estamos simplesmente pedindo que não sejamos colocados em posições nas quais somos forçados a entregar tudo que temos em troca de nada; nós estamos simplesmente pedindo que possamos dar crédito onde o crédito é merecido e possamos receber crédito onde o crédito é merecido.

Se retirarmos a canção da indústria da música, não há indústria da música. A partir de hoje, nós não vamos mais aceitar ser tratados como se estivéssemos no fundo da cadeia alimentar, ou ser forçados a pensar que precisamos fazer sacrifícios para sentar na mesma mesa. Estamos todos nessa juntos, e todos nós precisamos uns dos outros para que essa roda continue girando. Então vamos começar a agir dessa forma.

Sinceramente,

The Pact

 

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