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Crítica: “Nomadland” apresenta estilo de vida alternativo e critica ferozmente o capitalismo

Nomadland tem um caráter documental e nos apresenta ao dia a dia dos nômades modernos, uma tribo pouco conhecida mas cada vez maior nos EUA.

Nomadland oscar 2021
Foto: Divulgação/Searchlight Pictures

Apesar de não ser o filme com mais indicações ao Oscar 2021 (seis, contra dez de Mank), Nomadland aparece como o grande favorito para conquistar os principais prêmios do ano.

E tudo isso porque o desempenho em toda a temporada de premiações foi incrível: Bafta (Melhor Filme, Melhor Direção, Melhor Fotografia, Melhor Atriz), PGA Awards (Melhor Filme), Critics’ Choice Award (Melhor Filme, Melhor Direção, Melhor Fotografia), Globo de Ouro (Melhor Filme Dramático, Melhor Diretora), Satellite Awards (Melhor Filme Dramático, Melhor Diretora), Leão de Ouro no Festival de Veneza (Melhor Filme), entre outros.

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A trama acompanha Fern (Frances McDormand), uma mulher viúva que perdeu tudo na crise econômica de 2008 e adotou um estilo de vida nômade, morando em um veículo adaptado e mudando de cidade e emprego de acordo com as suas necessidades.

Um dos objetivos do filme é simples: apresentar o mundo do nomadismo para boa parte dos espectadores. Levando a sério a adaptação do livro homônimo (lançado em 2017, pela escritora Jessica Bruder), Nomadland retrata de forma quase documental esse estilo de vida, incluindo personagens da obra original no elenco.

A direção de Chloé Zhao é impecável e, por causa dela, fica difícil diferenciar quem é ator de quem não é – para os desavisados, esta distinção sequer é percebida. Com isso, o filme ganha em naturalidade, transmitindo uma credibilidade a qual apenas quem vive naquelas condições poderia compreender.

Colocando uma atriz do calibre de Frances McDormand no meio desse pessoal, a fórmula do sucesso se completou.

Foto: Divulgação/Searchlight Pictures

Sem casa, sim. Sem teto, não

Várias vezes durante o filme nos deparamos com a preocupação de Fern em diferenciar os conceitos de “houseless” e “homeless”. Este é um termo com uma conotação pejorativa, na qual o sujeito não tem condições de manter um teto para viver; aquele, no entanto, é uma escolha, uma opção consciente por um modo de viver alternativo ao que consideramos “comum”.

A atuação de McDormand também nos confunde. Ela combina a solidão e a tristeza com a simples vontade de viver naquele estilo de vida. Temos pena da personagem por causa de suposições que são preestabelecidas, por julgarmos aquele estilo de vida como inferior. Porém, trata-se de uma suposição injusta, que desconsidera o fato de que algumas dessas pessoas apenas não querem voltar a viver em casas e sentem-se muito mais felizes abraçando o nomadismo.

Um aspecto técnico que auxilia a compreensão de que não devemos ter pena dos nômades modernos é a fotografia. Nomadland apresenta momentos contemplativos lindos, planos abertos que, aliados ao tom documental do filme, mostram que a conexão com a natureza é um fator importantíssimo para estas pessoas.

O reflexo imediato disso é percebido em uma cena na qual Fern interage com um familiar dentro de uma casa. A sensação de claustrofobia é quase contagiosa. Ali temos a certeza de que ela não pertence mais a esta vida, assim como os colegas com quem havia interagido até então. Entendemos, enfim, que o nomadismo é apenas uma opção alternativa à que nos foi apresentada como “normal” desde sempre.

Foto: Divulgação/Searchlight Pictures

Crítica socioeconômica

Outro pilar fundamental de Nomadland é o contexto econômico que leva pessoas a escolherem um estilo de vida nômade. A precarização das condições de trabalho promovida por gigantes do mercado faz com que cada vez mais cidadãos norte-americanos sejam obrigados a viver com o mínimo possível.

A produção foi corajosa ao incluir os pátios da Amazon como um elemento importante na construção desse perfil, mostrando como a estrutura capitalista não faz a menor questão de proporcionar condições de ascensão social à classe trabalhadora. Além disso, é fácil entender como tais empresas se beneficiam dos subempregos por meio da exploração dessa mão de obra desesperada.

Apesar de muitos nômades o serem por opção, o sistema no qual eles estão inseridos os expõe a condições precárias, com salários baixos, instabilidade, pouco ou nenhum acesso a segurança, saúde e outros serviços básicos.

Foto: Divulgação/Searchlight Pictures

Nomadland apresenta, portanto, fortes credenciais para ser favorito ao Oscar 2021 e Chloé Zhao tem a chance de fazer história como a segunda mulher (apenas) a vencer o maior prêmio do cinema como diretora. Filme com cara de premiação, mas, ainda assim, com mensagens importantes para todos.

Confira o trailer de Nomadland:

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