"O Brasil é o mais divertido": Imagine Dragons fala ao TMDQA! sobre novo disco, saudades dos shows e mais

Em entrevista exclusiva ao TMDQA!, o Imagine Dragons falou sobre o seu novo disco, relembrou passagens pelo Brasil e comentou sobre ativismo LGBTQ+.

Imagine Dragons
Divulgação

Uma nova fase do Imagine Dragons já está entre nós com a chegada dos singles “Follow You” e “Cutthroat”.

As canções marcam o novo ciclo da banda que é dona de alguns dos maiores hits dos últimos anos, desde “Radioactive” lá em 2012 até as mais recentes “Believer” e “Thunder”, que estiveram no disco Evolve (2017) e já possuem mais de 1 bilhão de reproduções cada no Spotify.

Publicidade
Publicidade

Engana-se quem pensa que esses números fazem a banda formada por Dan Reynolds, Daniel Wayne Sermon, Daniel Platzman e Ben McKee se conformar e repetir a mesma fórmula. Com a ajuda do lendário produtor Rick Rubin, que já trabalhou com Red Hot Chili Peppers, System of a Down, Lady Gaga, Johnny Cash, Ed Sheeran e tantos outros, o quarteto promete se reinventar mais uma vez em seu novo disco de inéditas.

Ainda sem nome, o trabalho ganhou duas prévias bem contrastantes e o TMDQA! teve uma conversa exclusiva com Daniel Wayne Sermon, guitarrista do Imagine Dragons, para entender melhor esse momento dos caras e o que vem por aí.

Confira o papo na íntegra abaixo!

TMDQA! Entrevista: Daniel Wayne Sermon (Imagine Dragons)

TMDQA!: Oi, Daniel! Que prazer enorme falar contigo hoje. Sou grande fã do Imagine Dragons — especialmente seu, depois que vi a performance espetacular de vocês no Grammy com o Kendrick Lamar — e é bem legal poder trocar uma ideia contigo sobre esse novo disco. Queria começar com a maior pergunta logo de cara: por que escolher essas duas músicas como prévias? É um gostinho do que vem por aí no sentido de ser um disco com mais experimentação, mais dualidade?

Daniel Wayne Sermon: Obrigado! Eu acho que há, provavelmente, alguns momentos experimentais sim. Mas nós escolhemos esse formato porque queremos que o álbum tenha meio que esses dois lados, como você disse. Nós queremos que exista meio que um contraste ali, porque conforme estávamos escrevendo, tipo, muitas das letras do Dan [Reynolds]… as coisas que ele estava escrevendo meio que vinham de um lugar polarizado para ele, sabe?

Eu acho que como em todos os álbuns nós realmente só descobrimos o que estamos fazendo depois que está pronto. [risos] Nós não temos ideia, tipo, a gente nunca entra pensando, tipo, “Que tal esse tema? Ou aquele tema? Não seria legal se escrevêssemos assim?”. É tipo, literalmente a gente tinha as músicas todas prontas na nossa frente e nós ficamos, tipo, “Ok, o que tudo isso significa?”. Tipo, a gente passou por isso pensando algo como, “Bom, essa música parece ser sobre mim, algo interno, e aí essas músicas são mais olhando para fora, para o mundo”. E meio que existe um forte contraste entre esses dois [tipos].

Então, acho que meio que todo o conceito desse álbum nasceu sozinho. Um olho fechado olhando pra dentro, um olho aberto olhando pra fora, para o mundo. Foi só o que surgiu naturalmente.

TMDQA!: Falando ainda um pouco sobre esse experimentalismo, definitivamente “Cutthroat” é algo bem novo na carreira de vocês. Muita gente enxerga o dedo do Rick Rubin nela, e eu queria saber se foi por aí mesmo. Ele que mexeu nessa faixa, fez ela ficar do jeito que ficou ou basicamente ele só incentivou algo que vocês já tinham, tipo, “Vai, lança isso, está ótimo”?

Daniel: [risos] Você soa igualzinho ao Rick Rubin, por sinal. Impressionante.

TMDQA!: [risos] Vou levar como um elogio!

Daniel: Não, sério, essa música começou como uma demo que fizemos que era muito mais baseada na guitarra. Era quase que mais perto do Blues. E aí o Rick ouviu e falou, “Ah, isso é realmente legal, mas eu escuto essa coisa…”.

E aí ele trouxe tipo um sintetizador modular e um piano de cauda e batidas de Hip Hop e isso é praticamente tudo. Essa música é o bebê do Rick, o toque dele está nela todinha. E eu acho que é provavelmente a música preferida dele no disco, mas é um momento bem legal também para fazermos algo que é tão diferente para nós.

TMDQA!: “Cutthroat” encaixa muito bem no contexto atual do mundo, né? Acho que muita gente está precisando extravasar essa agressividade, essa coisa acumulada. Essa música veio de um lugar assim pra vocês?

Daniel: É, definitivamente veio de um lugar de reflexão interna pra gente. Definitivamente para o Dan, em questão de letra. E, digo, há uma agressividade nessa música mas a essência dela é sobre [o Dan] batalhar com ele próprio e tentar matar a parte dele mesmo que não é sua preferida. E, sabe, só tentar ser uma pessoa melhor.

Então… você pode ler essa canção de muitas formas diferentes. A gente meio que gosta de deixar os nossos fãs fazerem isso, mas para ele é bem uma luta interna.

TMDQA!: Isso que você falou da versão original ter mais guitarras me deixou curioso, porque de fato é algo que parece perceptível, como se tivesse algo ali que foi tirado. Como foi isso?

Daniel: O Imagine Dragons é meio estranho, no sentido de que nós todos nos consideramos mais produtores e “fazedores de música” do que instrumentistas. Então, tipo, é bem fácil olhar através de uma música e enxergar o que precisa estar ali; às vezes não é a guitarra, e se não é a guitarra então, tipo, eu não tenho nenhum ego com isso porque no fim das contas eu vejo o que é a música e o que ela precisa ter.

A gente tentou bastante a guitarra nessa música, mas ela meio que só levava para um lado que… não sei, eu não sei como descrever mas parecia território já explorado. Seja por nós ou por outras pessoas. Só não funcionou. Então a gente sempre só olha para as músicas e pensa em servi-las, seja com uma bateria de verdade, um baixo de verdade e uma guitarra de verdade ou se produzimos um novo som em um laptop que faça sentido. Ou se o Rick fala algo pra gente que nos faz virar a cabeça, como aconteceu diversas vezes nesse processo.

A gente fica confortável de qualquer jeito, mas obviamente eu amo a guitarra. Eu sou um guitarrista, foi meu primeiro amor, e ainda há bastante guitarra no disco. Não é algo que falta, mas nessas duas primeiras músicas não rola tanto.

TMDQA!: Por outro lado, “Follow You” é mais parecida com o que vocês já fazem há algum tempo. Ainda assim, tem muitas coisas novas ali e certamente vocês tiveram novas inspirações e, de repente, algum toque do Rick também, né?

Daniel: Sim, sim. Essa música chegou no Rick Rubin já mais polida e pronta do que algumas das outras faixas. E nós sentíamos que, tipo, “Bom, talvez essa não precise de muito, talvez seja algo que a gente só lance do jeito que está”. Mas aí o Rick trouxe algumas ideias bem legais, como por exemplo uma velha máquina de fitas.

E aí ele gravou a gente, e o que você ouve no começo da música é na verdade o Rick de fato usando essa máquina de fita, rebobinando. Foi, tipo, “Eita! Grave isso!”, ficamos bem empolgados com isso.

E ele também chamou um organista que foi chamado pelo Herbie Hancock de maior organista vivo. Nada de mais, né. [risos] E ele foi simplesmente insano, quando ele tocou o órgão — tanto em “Follow You” quanto em “Cutthroat”, na verdade… a gente nunca mexeu muito com órgão nas nossas músicas, então isso foi bem novo e empolgante, e ele é simplesmente insano. Ele está em outra música também, com a qual nós estamos bem empolgados.

TMDQA!: Você pode falar o nome dessa música?

Daniel: [pausa para pensar] Provavelmente não, desculpa. [risos]

TMDQA!: [risos] Tudo bem. Queria falar também do clipe de “Follow You”, obviamente. Eu amo It’s Always Sunny in Philadelphia e ver a Kaitlin Olson e o Rob McElheney ali foi bem inesperado e divertido. Como vocês fizeram isso rolar e quão divertido foi?

Daniel: Foi tão maluco! Logo que a nossa banda começou, nós nos mudamos para Las Vegas e todos nós morávamos em uma casa juntos e a gente comprou a temporada 1 e 2 de It’s Always Sunny in Phialdelphia e a gente assistia juntos, rindo pra caramba. A gente achava a coisa mais engraçada do mundo. Somos enormes fãs da série, do Rob e da Kaitlin, desde sempre.

E aí o Dan já tinha um rascunho do que ele queria que o vídeo fosse, e a gente ficou trocando uma ideia pensando, tipo, “Quem seria um bom casal pra isso?” e eles dois eram os primeiros da lista. Mas a gente pensou que eles estariam ocupados e não poderiam fazer, sabe, mas a gente tentou mesmo assim e acabou que eles eram fãs da nossa banda — o que foi meio que surreal — e eles disseram, “Beleza, vamos fazer”.

Então, trouxemos eles e fizemos tudo em dois dias e eles foram tão legais. Foi muito, muito prazeroso trabalhar com eles; eles são tão engraçados e normais e a gente se deu muito bem muito rápido.

TMDQA!: Que legal! Bom saber isso. E além de tudo a piadinha de se comparar com o The Killers é ótima também. É um clipe muito leve e divertido de assistir. [risos]

Daniel: [risos] Sim! Toda a vibe do clipe é a gente se zoando. Tipo, se você não tiver um senso de humor em relação a si mesmo… é uma coisa bem vergonha alheia.

Performances ao vivo, memórias do Brasil e ativismo LGBTQ+

TMDQA!: Daniel, eu já tive a sorte de ir em dois shows de vocês aqui, em dois Lollapaloozas diferentes. Vocês ao vivo são realmente espetaculares, sem dúvidas estão entre os melhores que eu já vi! Quão divertido é pra vocês verem as pessoas se empolgando com os novos arranjos, toda a energia que vocês colocam nas apresentações?

Daniel: No Brasil, é o mais divertido. [risos] Sério. A gente… eu nem sei o que dizer. Quando a gente vai ao Brasil, você diz que a gente leva energia mas eu sinto que vocês é que trazem a energia. O país de vocês traz a energia e a gente só tenta igualar isso; nunca vimos nada igual. É sempre um presente tocar no Brasil.

TMDQA!: Que legal! Você tem alguma memória preferida dessas passagens pelo Brasil?

Daniel: Nossa, cara, os Lollapaloozas e Rock in Rios… a primeira vez que fizemos um, não lembro se foi Lollapalooza ou Rock in Rio…

TMDQA!: Foi o Lollapalooza!

Daniel: Isso, você está certo. A primeira vez que fizemos, foi o ponto alto de toda a nossa carreira até então. Foi logo depois do nosso primeiro disco, sendo bem sincero a gente estava meio pra baixo; não estávamos no melhor lugar mentalmente na época, porque as coisas estavam decolando e estávamos tocando tipo, 300 shows por ano, meio que perdendo a perspectiva das coisas. Não estávamos no melhor lugar, como estamos hoje.

Mas aquele show curou todo mundo. Mesmo. Curou todo mundo dessa mentalidade, fez com que pensássemos, tipo, “Ok, o que estamos fazendo é extremamente raro e, se podemos vir aqui, onde provavelmente metade das pessoas não fala inglês mas sabe todas as nossas letras, tipo, o que é isso?”.

Foi muito espiritual para nós, uma grande cura.

TMDQA!: Eu imagino! E os shows de vocês são bem interessantes no sentido de que dá pra ver gente de todas as idades, todos os tipos por lá. Imagino que seja um sentimento incrível.

Daniel: Sim! Sabe, eu e o Dan temos filhos, então ver outras famílias curtindo o que estamos fazendo é incrível mesmo, muito recompensador.

TMDQA!: Bom, queria ter perguntar uma coisa que sempre fico curioso. Vocês todos da banda são homens héteros, mas ao mesmo tempo têm muitas iniciativas ligadas ao meio LGBTQ+, em especial por meio do Dan. Como vocês fazem para tratar essa situação com o respeito que ela precisa ter e quais cuidados vocês tomam para não invadir o local de fala de outras pessoas?

Daniel: É realmente algo complicado. Porque nós queremos ser vocais sobre isso, mas nós também entendemos qual é o nosso local de fala. Então, eu acho que é tipo, é importante criar um espaço para que aqueles que são afetados possam amplificar suas vozes. Eu acho que no documentário do Dan, o que ele fez sobre isso, ele realmente tentou fazer isso e meio que reconheceu o quanto isso é complicado.

É tipo, se você ficar quieto sobre isso e deixar outras pessoas falarem, isso pode ser errado. Mas ao mesmo tempo tentar ser o porta-voz da causa pode ser errado. Você tem que encontrar um equilíbrio, fazer as coisas com o motivo certo. Todo mundo da banda apoia completamente as iniciativas do Dan e todos temos muito orgulho por ele tomar a frente disso, acho que é algo que realmente está no coração dele. E é muito legal poder ver a mudança que ele faz na vida das pessoas e ser parte disso é incrível demais.

TMDQA!: Por fim, Daniel, o nosso site aqui se chama Tenho Mais Discos Que Amigos! e a gente sempre gosta de perguntar: você tem mais discos que amigos?

Daniel: [risos] Olha… agora com certeza, com o Spotify e tudo mais. Mas em questão de vinil… eu acho que eu tenho mais discos que amigos, porque eu tenho os mesmos amigos desde o colégio. [risos]

TMDQA!: Sensacional, Daniel! Muitíssimo obrigado pelo seu tempo e até a próxima! Esperamos ansiosamente pelo novo disco!

Daniel: Eu que agradeço! Até a próxima!

Sair da versão mobile