O Grilo é uma banda que sabe como usar a Internet ao seu favor. O grupo pop-roqueiro paulistano fez sua estreia em 2017, com o ótimo EP Herói do Futuro, e desde então vem cativando uma base fiel de fãs pelo Brasil afora.
Nesses quatros anos de história, a banda passou por uma reformulação. Entre algumas trocas de integrantes, de quinteto virou quarteto. Com Pedro Martins (voz e composição), Felipe Martins (guitarra) — ah, eles não são parentes, tá? —, Lucas Teixeira (bateria) e Gabriel Cavallari (baixo), o grupo encontrou uma nova dinâmica, passou a beber de novas fontes de inspiração e a sonoridade fascina como nunca.
Em sua nova fase, a O Grilo acabou de lançar o seu álbum de estreia, intitulado Você Não Sabe de Nada — ou VNSDN, se você preferir. Batemos um papo com a banda e mais abaixo você encontrará nossa entrevista na íntegra.
O novo álbum d’O Grilo
Após rodar o país tendo como base o contagiante EP de 2017, com destaque para o hit “Serenata Existencialista”, que mora na ponta da língua de muita gente, a banda criou conexão com diferentes artistas e fãs pelo Brasil, reforçando a sonoridade pop-tupiniquim do grupo e que agora se apresenta de modo ainda mais pulsante e colorido.
O álbum apresenta uma sonoridade diversificada, uma pluralidade de estilos musicais que se deve à ecleticidade da própria banda. Produzido pelo quarteto, em parceria com Hugo Silva, o primeiro disco da carreira d’O Grilo começou a dar as caras em 2020, por meio de três singles: “Trela”, “Meu Amor” e “Contramão”.
Você Não Sabe de Nada foi gestado durante 2020 inteiro, com esquemas de gravação constantemente adaptados e alterados por conta da pandemia do Covid-19. O baterista Lucas Teixeira revela um pouco sobre esse processo criativo do álbum, que veio junto de um período extenso de isolamento social.
Fomos desenvolvendo, cada um da sua casa, os próprios processos de composição e gravação. A gente compôs muito durante o ano passado. Claro, tinham faixas anteriores, mas também criamos bastante coisa nova. Acho que o lance mais chato foi não ter tocado junto, a falta do encontro presencial, algo que faz parte das nossas pré-produções.
Alternando entre toadas mais dançantes e momentos mais introspectivos, as 13 faixas do registro desenham uma unidade sonora marcada por altos e baixos, risos e choros, um pouco de passinho, de bossa, de carnaval e baião, somadas também com ares de guitarrada paraense, rock goiano e vibes emprestadas do new wave, da psicodelia e do post rock.
Sobre as nuances temáticas expressas no novo disco, o baixista Gabriel Cavallari destrincha:
A maioria dos temas saíram da cabeça do Pedro, mas acho que ele conseguiu traduzir vários dos papos que tivemos ao longo da nossa amizade. VNSDN fala sobre coisas que acontecem com todos nós: amores e desilusões, crenças e descrenças, autoconfiança e inseguranças. Acho que a nossa grande mensagem, o ‘você não sabe de nada’, é de abraçar todas essas incertezas e celebrar as pequenas conquistas. Fazer dos problemas da vida, motivo pra sorrir e viver mais.
Você Não Sabe de Nada – O Livro
VNSDN chegou acompanhado de um livro HQ exclusivo idealizado pelo cartunista Pietro Soldi, com conteúdo conectado diretamente à estreia do álbum. Você Não Sabe de Nada – O Livro é protagonizado por Lauro, o arquétipo d’O Grilo criado pelo artista gráfico.
O Lauro é baseado nas personalidades dos músicos através das coisas que eles escreveram. Ele é um resultado indireto do que eles são nas músicas deles, misturado comigo, e a minha leitura do disco que eles produziram
Lauro traz em sua personalidade elementos de cada um dos quatro integrantes d’O Grilo. Consequentemente, traz um pouco de todos nós também, que já passamos por poucas e boas, mas no final do dia, por algum motivo, conseguimos dar uma boa risada em frente ao espelho.
O personagem foi trabalhado em quadrinhos mudos, onde as únicas palavras permitidas foram os nomes das músicas. Você pode dar uma olhadinha nas primeiras 5 páginas do projeto clicando aqui e garantir o seu exemplar físico na lojinha do selo Rockambole.
Agora, solte o play no álbum Você Não Sabe de Nada e, em seguida, confira nossa entrevista exclusiva com a O Grilo.
TMDQA! entrevista O Grilo
TMDQA!: Olá, O Grilo, que prazer ter essa conversa com vocês! Como vocês estão?
O Grilo: Olá TMDQA!. Pô, o prazer é todo nosso!
TMDQA!: Vocês acabaram de lançar o álbum de estreia da banda, parabéns! “Você Não Sabe de Nada” traz uma pluralidade de estilos e deixa evidente o quanto vocês bebem de várias fontes e brincam entre tantas influências. O resultado é de fato uma deliciosa confusão! Eu queria começar sabendo mais do pré-álbum… O que vocês estavam ouvindo nesse processo de concepção desse disco?
Lucas Teixeira: Então, realmente o VNSDN é uma grande “mistureba” de gêneros. No período de pré produção e composição das músicas cada um trazia referências distintas, mas existiam alguns artistas que roubavam a atenção de todos, como Geraldo Azevedo, Seu Jorge, Gilberto Gil, BaianaSystem, Novos Baianos, além de algumas referências internacionais que nos chamávamos muita atenção pela sonoridade como Crumb, Parcels, Daft Punk e Tom Misch.
TMDQA!: Vocês estrearam em 2017, com o EP “Herói do Futuro”, que logo de cara teve uma recepção fantástica. Quatro anos se passaram até a chegada do álbum e no meio do caminho houve uma reformulação da banda, com a chegada do Fepa, na guitarra, e a passagem do Gabriel Cavallari para o baixo. O quanto isso influenciou na dinâmica, no processo de composição e na sonoridade d’O Grilo?
Lucas Teixeira: Isso mudou completamente a dinâmica da banda, não por acaso demoramos um ano e meio até chegarmos numa harmonia para trabalhar no álbum. O Fepa trouxe todo um universo diferente do nosso: as influências de carimbó e guitarrada vindas de sua origem manauara e um jeito de se pensar composição e arranjo diferente do nosso.
Já o Cavallari no baixo, acho que foi uma adaptação mais rápida, já que nos conhecíamos há muito tempo e ele já tinha o interesse no instrumento. No final das contas tudo isso enriqueceu muito o projeto, já que todos conseguiram colocar sua individualidade nas faixas, resultando em um álbum muito colorido e diverso.
TMDQA!: O álbum foi desenvolvido durante a quarentena, cada um compondo e colaborando de casa, até se encontrarem no estúdio. Como foi ter que lidar com esse obstáculo em meio a produção de um álbum e como esse processo impactou no disco?
Fepa: De primeira é normal ficar meio que sem saber o que fazer e como fazer, mas com o tempo fomos nos acostumando e usamos isso ao nosso favor, às vezes deixar uma música na mão de um dos integrantes e depois só adicionar a sua parte pode funcionar muito!
Antes do Pedro ficar morando comigo pra fazermos a pré-produção, distribuímos as canções entre nós mesmos para otimizar a produção, depois eu só fazia uns volumes e uns efeitos no programa pra podermos ouvir melhor e assim fomos construindo uma pastinha com várias músicas que depois, algumas, se tornaram o VNSDN (e há outras que podem sair muito em breve, ou não também).
TMDQA!: Eu adorei o jeito como a divulgação do álbum chegou com vários complementos, indo além das próprias músicas. Nas audições pelo YouTube, por exemplo, cada faixa do álbum recebeu um gif próprio; além do vídeo “Ouvindo VNSDN com O Grilo”, para o álbum completo. Me contem sobre o planejamento dessas ações de divulgação. Foram alternativas para contornar a impossibilidade de shows, ou vocês sentem que seria algo que a O Grilo faria mesmo em tempos “normais”?
Lucas Teixeira: A gente sempre gostou muito de produzir bastante conteúdo, principalmente os mais interativos! Isso sempre foi marca registrada dos lançamentos e, talvez por isso, hoje a gente tenha esse relacionamento mais próximo com a nossa base.
No VNSDN não era pra ser diferente, principalmente em tempos de pandemia em que não podemos fazer um festão de lançamento, por isso buscamos alternativas para recompensar nossa presença física, como esses conteúdos do YouTube, o livro das tiras, o crowdfunding e etc. Então dá pra dizer que foi uma necessidade de tempos de pandemia misturado com nossa característica inata de se fazer lançamentos interativos.
TMDQA!: Outro complemento incrível e, de certo, o principal deles, é o lançamento do livro que ilustra as faixas do disco. Só com a prévia eu já achei fantástico! Queria saber como surgiu a ideia do livro e se vocês já tinham trabalhado com o ilustrador Pietro Soldi antes.
Lucas Teixeira: Então, nós sempre gostamos muito de tiras – principalmente aquelas mais “jornalescas” – e comentamos sobre fazer uma identidade visual baseada nessa estética num futuro lançamento. E aí quando gravamos o VNSDN percebemos que havia alguma narrativa escondida por trás das músicas, apesar de ainda muito abstrata na nossa cabeça.
Para materializar isso, juntamos a ideia do quadrinho com a narrativa do álbum e chamamos o Pietro Soldi (artista que eu sempre acompanhei nas redes sociais) para fazer o protagonista da história e jogar sua interpretação sobre o álbum nas tiras. O resultado deu muito certo! Ficamos super felizes com tudo, e aí pensamos que seria um desperdício usar as tiras apenas na Internet, por isso veio a ideia de fazer um livro junto com curiosidades
das gravações e outros extras.
TMDQA!: As tiras do livro tem as músicas como plano de fundo e trazem histórias sem diálogos, sobre o personagem Lauro, uma personificação dos integrantes e, talvez, de todos nós. Acredito que a grande viagem deve ser acompanhar os quadrinhos enquanto escuta o álbum. Como foi para vocês ver as canções que compuseram e gravaram virando quadrinho? E como foi esse processo entre a banda e o Pietro?
Pedro Martins: A estética da charge é algo que sempre encantou a banda. Em um primeiro momento, tentamos desenvolver uma história por nós mesmos, mas isso acabou sendo muito mais difícil do que a gente imaginava. O Teixeira descobriu o Pietro no Instagram e a banda adorou os trabalhos dele. Marcamos uma reunião e alguns dias depois, ele nos apresentou ao Lauro e a tira de Trela.
Cara, foi algo meio mágico por que uma das coisas mais maneiras que a arte proporciona é a questão da ressignificação (ninguém interpreta uma obra do mesmo jeito), e ver a interpretação de um cara com a cabeça do Pietro sobre o nosso som em forma de charge foi irado. Tudo que ele mandava, a gente aceitava de braços abertos. Foi uma baita satisfação ter essa experiência com ele.
TMDQA!: Até o momento, nenhuma faixa de VNSDN recebeu um videoclipe oficial. Vocês já têm algo em mente ou já estão trabalhando com algum single? O que podem nos adiantar?
Pedro Martins: Já estamos conversando sobre roteiros e ideias de clipes faz um tempo, e eu tô curtindo bastante o que vem por aí. Uma coisa que eu posso adiantar é que o primeiro deles é o de “Guitarrada”, que será lançado em breve e conta com a direção do Luigi Parisi (que dirigiu “Serenata Existencialista” e “Competição de Ego”).
Continua após o vídeo.
TMDQA!: O Grilo sempre teve uma interação muito grande com o público nas redes sociais, e há poucos dias liberaram o mini-doc sobre o disco, o que eu acho incrível pra enriquecer o universo do VNSDN. Vocês já tinham feito algo parecido na gravação do single “Terreiro”. Como é realizar essas produções e abrir esses processos internos da banda para a Internet?
Fepa: Mano, nós simplesmente NÃO EXISTIMOS sem nosso público, adoramos a nossa interação e temos fãs muito curiosos e entregar pra eles umas coisas é sempre muito bom. Acho que quando fazemos música, vídeo zueiro, vídeo aula, vídeo de pergunta e resposta (etc) eles reagem muito bem com a gente, e assim nós reagimos de volta né, essa interação se torna inspiração, o que é que faz esse trabalho ser tão mágico.
TMDQA!: O clipe de maior repercussão d’O Grilo é “Serenata Existencialista”, onde vocês fazem referências a diversas capas de discos de vinil, como Djavan, Cartola, Gil, Caetano, João Gilberto, e muitos outros… Essa é uma mídia que vocês consomem? Vocês têm mais discos que amigos?
Pedro Martins: A banda não consome muito a mídia do vinil, mas o tempo que a gente passa consumindo música, realmente faz com que nossos amigos fiquem um pouco de saco cheio [risos]. A banda vive falando de música, o que ao meu ver não é algo surpreendente, mas como tem gente que não tem essa vibe de falar sobre o assunto 24/7, eu imagino que eu tenho uns amigos antigos que devem me achar meio chato e emocionado quando a bola da vez é música (e 99% das vezes é).
TMDQA!: Aproveitando a deixa, há alguma chance de termos o VNSDN em vinil?
Pedro Martins: Isso é algo que a gente troca ideia faz tempo e por hora não iremos lançar o disco nesse formato, mas quem sabe num segundo momento. Como cofundador desse conjunto eu posso afirmar que quando o assunto é o Grilo, não dá pra ter certeza de nada. Existe um interesse por parte da banda, mas só esperando pra ver [risos]…
TMDQA!: Galera, muito obrigado por esse bate-papo. E muito sucesso nessa nova etapa da banda!
O Grilo: Valeu demais o convite, galera! Adoramos o convite e a oportunidade de falar mais sobre a banda e o novo disco! Espero que possamos nos encontrar de novo mais pra frente!