TMDQA! Entrevista: pronta para tocar em estádios, girl in red detalha o ótimo "if i could make it go quiet"

A ótima Marie Ulven, mais conhecida como girl in red, falou com exclusividade ao TMDQA! sobre o disco "if i could make it go quiet". Confira!

girl in red
Foto por Julia Pike

É sempre algo bem interessante quando vemos uma artista atingindo novos auges, e é exatamente esse o caso de Marie Ulven — mais conhecida como girl in red — nos últimos tempos.

A jovem cantora norueguesa se destacou inicialmente por canções intimistas, gravadas no quarto de sua casa e com recursos limitados, atingindo um sucesso de nicho.

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Em pouco tempo, suas músicas chegaram a um público maior e a mudança de direção era inevitável: da sonoridade fechada do quarto, Marie se transportou para algo que parece pronto para ecoar em qualquer estádio pelo mundo com a chegada do ótimo if i could make it go quiet, seu primeiro disco de estúdio.

A movimentação em direção ao “Pop de Arena” é identificada (e nomeada) por ela própria, o que mostra que Marie sabe muito bem o que está fazendo. O álbum é um passo gigantesco na direção certa, e você pode saber mais sobre ele na nossa entrevista exclusiva, transcrita na íntegra logo abaixo!

TMDQA! Entrevista: girl in red

TMDQA!: Oi, Marie! Como você está?

Marie Ulven: Eu estou bem, e você?

TMDQA!: Tudo certo também! Que prazer estar falando contigo hoje! Como você já deve saber, eu estou falando do Brasil. Queria começar te perguntando o quão doido é pra você saber que você está aí na Noruega, tão longe da gente, e é tão popular por aqui? Como isso faz você se sentir?

Marie: Eu nunca fui ao Brasil, então tipo, eu nunca fui aí e tive a experiência, sabe? Então pra mim é meio surreal. Pra mim é tipo, você pode me dizer isso e eu ficaria, “Uau… como é que isso funciona?”, sabe? [risos]

TMDQA!: Entendo! Espero que você possa ter essa experiência o mais rápido possível, a gente te quer por aqui.

Marie: Eu definitivamente quero experimentar isso, estar no Brasil, abraçar meus fãs brasileiros! Quero pular na galera e receber um abraço gigante, isso seria ótimo. Mas é legal demais, e eu simplesmente fico feliz que a minha música tenha alcançado um lugar tão longe. É meio mágico, na verdade.

TMDQA!: De fato! Sobre as suas músicas, a grande maioria delas têm uma abordagem muito pessoal e íntima no que diz respeito às letras. Isso é especialmente verdade quando falamos de “Serotonin”, um dos singles do novo álbum. Como você lida com o fato de ter que abrir tanto a sua vida para pessoas desconhecidas?

Marie: Olha… pra mim, eu não acho que eu lançaria essas músicas se eu não estivesse confortável em contar essas histórias sobre as minhas experiências e coisas do tipo. Então, pra mim, não é realmente uma coisa tão grande assim. Eu meio que só escrevo qualquer coisa que pareça honesta e real pra mim e, se eu gosto, eu lanço.

O legal de ser uma artista é que você pode decidir o que você quer dizer e o que você não quer dizer. Eu definitivamente não diria nada que eu não ache que seja tudo bem dizer.

TMDQA!: Ao mesmo tempo, essas letras atingem muito as pessoas, em especial na pandemia. Elas tratam de temas com os quais todos nós nos identificamos, e certamente você recebe muitas mensagens das pessoas te agradecendo pela ajuda em períodos difíceis ou coisas do tipo, né? Como você lida com isso? É um dos seus objetivos como artista poder alcançar isso?

Marie: Eu acho que é muito especial, poder fazer canções com as quais as pessoas se identificam de uma forma que é realmente genuína e de uma forma que as pessoas meio que inserem essas músicas em suas vidas e as entendem de maneiras muito honestas. Porque, tipo, há maneiras diferentes de ouvir música; se você ouvir uma música Pop bem grudenta, você não necessariamente se identifica com ela, você não a insere tanto na sua vida.

Então eu me sinto muito… eu acho muito especial e muito legal que eu consiga fazer músicas com as quais as pessoas se identificam de uma maneira tão forte.

TMDQA!: Voltando a “Serotonin”, é bem curioso pra mim como ela é uma música tão profunda mas, instrumentalmente, ela contrasta com isso por ter uma atmosfera mais alegre, mais “pra cima”. Como você decidiu fazer isso?

Marie: Eu comecei com as partes de guitarra, e aí experimentei um pouco com umas batidas de Trap e umas coisas bem diferentes até chegar onde cheguei. [risos] Mas, sabe, foi um processo realmente bem longo até entender como essa letra funcionava da melhor forma, porque, tipo, eu poderia ter só um violão — e eu já toquei versões acústicas dessa música — mas aí ela se torna bem, bem, bem triste. E é bem, tipo, “Uau, isso é incrivelmente [triste].”

Então eu acho que, de uma maneira estranha, a forma como eu acabei fazendo é o que faz ela ser grudenta e marcante e não uma coisa tipo, “estou morando na minha tristeza”, porque a música também não é sobre isso. Então, eu não tenho uma resposta boa pra isso. [risos] É só meio, era o que eu queria fazer então foi o que eu fiz.

TMDQA!: Isso é uma resposta excelente! [risos] Bom, pra esse single você contou com a produção do FINNEAS, que vem se tornando cada vez mais proeminente na indústria. Como foi trabalhar com ele e como você decidiu que seria legal fazer essa parceria?

Marie: O FINNEAS é um dos meus produtores preferidos, e eu senti que eu estava meio travada com “Serotonin”. Tipo, eu tinha escrito a parte do Rap e eu tinha escrito o refrão e eu senti que eu tinha algo bem especial surgindo, mas aí eu senti que eu estagnei um pouco. Então eu pensei que eu talvez precisasse de um novo cérebro ali, algo do tipo.

E, bom, a gente ficou conversando um pouco pelo Zoom; obviamente, eu estou na Noruega e ele está em Los Angeles, então não chegamos a ficar no estúdio juntos mas eu mandei minha demo pra ele — na verdade nem era uma demo, era a música mesmo — e não soa muito diferente agora. É bem parecido, na verdade, mas ele só sugeriu que eu deveria manter essa parte meio bagunçada e adicionou umas percussões e algumas melodias e aqui e ali no instrumental.

Mas eu me senti muito sortuda de tê-lo nessa música, porque eu a amo. Foi uma boa experiência.

if i could make it go quiet

TMDQA!: Mas o resto do disco também soa bem diferente do que você estava acostumada a fazer. Antes, parecia que você estava no seu quarto; agora, é como se você estivesse em um grande estádio!

Marie: Esse é o objetivo! Eu estou fazendo música para os estádios agora! Eu chamo isso de Pop de Arena. [risos]

TMDQA!: [risos] Funcionou, viu? Mas como foi o processo pra chegar até esse ponto?

Marie: Então, eu tecnicamente estou fazendo música há um ano e meio, por trás das câmeras e meio que crescendo como produtora e musicista e compositora. E eu acho que isso é meio que uma progressão natural pra mim como artista. Então, não foi algo que eu pensei tipo, “Esse disco têm que soar pronto para um estádio!”. Tipo, sempre foi meio que, “Ok, eu quero fazer as melhores músicas que eu conseguir”, essa sempre foi a minha abordagem.

Então isso é meio que simplesmente como a minha música soa agora, sabe? E daqui pra frente eu tenho quase certeza que eu vou continuar seguindo em direções diferentes. Pra mim, é como se isso fosse muito, muito… é simplesmente o que eu sou agora, na verdade.

TMDQA!: Mesmo nesse disco você tem muitas direções diferentes, né? Uma das minhas preferidas, “You Stupid Bitch”, é quase um hino Pop Punk no meio de outras coisas que não têm nada a ver com isso. Você foi simplesmente experimentando e testando coisas e gravando o que curtia?

Marie: Sim, eu só faço um monte de sons e vejo, tipo, “Ok, como esse som me inspira?”, e aí eu faço qualquer coisa. Mesmo. [risos] Eu não me sinto amarrada a qualquer tipo de gênero, então eu definitivamente só estou deixando as coisas fluírem.

TMDQA!: Isso é bem legal. Eu ouvi o disco ontem e já estou empolgado para o que vem depois, porque realmente parece que você está indo pra todo lado — e digo isso de um jeito bem positivo.

Marie: Eu também! Eu já estou trabalhando nessas coisas e, pra falar a verdade, está bem bonito. Eu já estou empolgada para o que vem por aí também.

TMDQA!: Outra que definitivamente está entre as minhas preferidas é “Apartment 402”. Você pode nos contar um pouco mais sobre essa? Do que ela fala, como ela surgiu?

Marie: O apartamento 402 é o que eu moro. E eu tenho uma relação muito ambivalente com esse lugar, porque às vezes eu me sinto incrivelmente presa aqui e é como se eu nunca fosse conseguir sair de novo e às vezes é, tipo, um lugar de quietude e paz e um lugar onde eu me sinto eu mesma.

E, sabe, quando eu não estou muito bem mentalmente eu não gosto de estar aqui. Eu me sinto presa, sabe? E essa música é meio que sobre… ela mostra onde é esse lugar pelo qual eu tenho tantos sentimentos diferentes. Mas também meio que usa o apartamento 402 como uma metáfora para dizer, tipo, eu vou ficar bem em algum momento e há uma luz no fim do túnel.

Na segunda metade do refrão eu digo, “There’s a crack in every wall/Is there a way out after all?” (“Há uma rachadura em cada parede/Tem uma saída no fim das contas?”) e é meio que tipo, essa ideia desse quarto meio que se desfazendo e mostrando uma luz no fim do túnel.

TMDQA!: Entendi! Nossa, essa música é tão boa. Quando eu estava ouvindo, foi aí que eu pensei e tive certeza que você estava pronta para ir a um estádio cheio. Ela é tão épica. [risos]

Marie: [risos] Obrigada!

girl in red

TMDQA!: Uma outra coisa que não posso deixar de perguntar é sobre o seu impacto na comunidade queer, já que você definitivamente está se tornando ícone para muitas pessoas. Primeiramente, você se sente confortável com isso?

Marie: Olha, eu fico muito feliz por ser o que as pessoas precisem que eu seja, mesmo. Eu acho que, por mais que eu não saiba quem eu sou, eu fico feliz que algumas pessoas acham que sabem quem eu sou. [risos]

TMDQA!: [risos] Faz sentido. E como foi quando você percebeu que “gostar de girl in red” tinha virado meio que um código dentro dessa comunidade? [A frase passou a ser usada como gíria para perguntar se uma garota gostava de outras garotas] Foi uma surpresa pra você?

Marie: Foi uma surpresa. Eu levei um tempo para perceber que isso era uma coisa. Mas eu acho que é bem icônico, é bem divertido. Sabe, é muito legal poder ter um impacto cultural dessa forma quando, sabe, é tão difícil hoje em dia ter algum tipo de impacto e fazer um barulho. Eu fico bem feliz de poder ser incorporada à vida das pessoas dessa forma.

TMDQA!: Legal! Bom, estamos praticamente sem tempo então eu já vou pra minha última pergunta. Como devem ter te avisado, o nome do nosso site é Tenho Mais Discos Que Amigos e eu sempre curto saber: você tem algum disco que tenha sido seu melhor amigo, na vida ou nesse momento?

Marie: Eu tenho um EP que é meu melhor amigo! Se chama Effort, de uma banda chamada Lovelier Other. São só quatro músicas, mas eu amo esse EP tanto; é o meu preferido da vida.

TMDQA!: Que legal! Bom, Marie, muito obrigado pelo seu tempo. Espero que você possa vir ao Brasil se jogar na galera o mais rápido possível e até a próxima!

Marie: Eu também! Eu sinto falta de estar na estrada. Por mais que seja exaustivo quando eu esteja nela, eu definitivamente mal posso esperar para voltar.

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