Cultura

Válvera lança clipe forte sobre "Holocausto Brasileiro", episódio lamentável na história do país

Em seu novo clipe, a Válvera retrata os horrores do "Holocausto Brasileiro", a barbárie do manicômio Colônia, em Barbacena, Minas Gerais.

Válvera
Foto: Reprodução / Facebook

A banda paulista de neo-thrash Válvera lançou em Agosto de 2020 o seu elogiado terceiro álbum de estúdio (e o segundo em inglês), Cycle of Disaster, e segue firme na promoção do registro.

No último dia 30 de Abril, o grupo divulgou o videoclipe para o single “The Damn Colony“.

Novo clipe da Válvera

Classificada como “impactante e contundente, tanto no espectro sonoro como no seu conteúdo e apelo visual”, a produção chega para somar forças à Luta Antimanicomial. A letra de “The Damn Colony” aborda um dos episódios mais vergonhosos e tristes da história brasileira: a barbárie do manicômio Colônia, em Barbacena, Minas Gerais.

Estima-se o genocídio de mais de 60.000 pessoas entre 1903 e 1980, no que ficou conhecido como o “Holocausto Brasileiro”. Segundo o baterista Leandro Peixoto, a escolha da música para receber o clipe se deu pela importância de seu tema extremamente delicado e pouco divulgado no país.

O hospital era destinado à contenção dos indesejáveis. Cerca de 70% dos internados não tinha nenhum diagnóstico de doença mental. Para lá eram enviadas ‘pessoas não-agradáveis e incômodas’, como opositores políticos, prostitutas, homossexuais, mendigos, entre outros grupos marginalizados da sociedade. Como artistas, temos a obrigação de falar, de sermos a voz do povo, de se fazerem questões para que episódios como este jamais se repitam.

Com atuação de Carla Costa, Pedro Pellegrino e Jaque Rofer, o vídeo expõe algumas das formas de torturas que eram realizadas no Hospital Colonial de Barbacena, que desde 1996 abriga o impactante Museu da Loucura. A produção conta com direção de Plinio Scambora.

Assista a seguir ao clipe de “The Damn Colony”.

Continua após o vídeo.

Hospital Colônia de Barbacena

Fundado em 1903, com capacidade para até 200 leitos, o hospital chegou a receber uma média de 5.000 pacientes simultâneos em 1961 e ficou conhecido pelo genocídio em massa ocorrido especialmente entre as décadas de 60 e 80.

Trens com vagões lotados (chamados de “trens de doido”), semelhantes aos dos campos de concentração alemães, despejavam diariamente os “dejetos humanos” para “tratamento” no hospital. Sobre o modo desumano como os internos eram tratados, Gabriel Prado, baixista da Válvera, comenta:

É um assunto realmente horrendo, sinistro e até inacreditável. Nesse hospital, as roupas das pessoas eram arrancadas, seus cabelos raspados e seus nomes apagados. Nus no corpo e na identidade, a humanidade sequestrada, homens, mulheres e até mesmo crianças comiam ratos e fezes, bebiam esgoto ou urina, dormiam sobre capim, eram espancados e violentados até a morte.

O psiquiatra italiano Franco Basaglia, pioneiro na luta antimanicomial na Itália, esteve no Brasil e conheceu o Colônia em 1979. Na ocasião, chamou uma coletiva de imprensa e desabafou: “Estive hoje num campo de concentração nazista. Em lugar nenhum do mundo, presenciei uma tragédia como essa”.

Desde 16 de Agosto de 1996, o prédio do antigo Hospital Colônia de Barbacena abriga o Museu da Loucura, através de uma parceria entre a Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais (Fhemig) e a Fundação Municipal de Cultura de Barbacena (Fundac). O projeto tem como objetivo principal resgatar a história do primeiro hospital psiquiátrico de Minas Gerais. Oferece um espaço para discussão e reflexão acerca das atuais diretrizes no campo da saúde mental.

Cycle of Disaster

Além de Leandro Peixoto (bateria) e Gabriel Prado (baixo), a Válvera conta com Glauber Barreto (vocal/guitarra) e Rodrigo Torres (guitarra). O terceiro álbum de estúdio da banda foi lançado pela Brutal Records (EUA e Canadá), Plastic Head (Europa) e Voice Music (Brasil).

Gravado no Dual Noise Studio, em São Paulo/SP, o registro foi produzido pela própria banda em conjunto com Rogério Wecko (masterização, mixagem e engenharia de som). O disco, que você confere abaixo, tem capa assinada pelo experiente Marcelo Vasco (Slayer, Machine Head, Metal Allegiance, Kreator).