Desde 2008 em atividade, a banda dinamarquesa Iceage vem conquistando cada vez mais espaço conforme vai encontrando sua identidade mais e mais a cada disco lançado.
A estreia em formato de álbum veio com New Brigade em 2011 e, desde então, o som com raízes Post-Punk foi evoluindo e culmina — pelo menos por enquanto — no excelente Seek Shelter, lançado neste dia 7 de Maio com fortes influências do Rock Alternativo, do Post-Hardcore e um toque necessário de experimentalismo digno de Radiohead.
O trabalho já desponta como um dos melhores e mais interessantes do ano, em especial por mostrar um novo lado da banda. Além de ter adicionado o guitarrista Casper Morilla Fernandez à sua formação, o agora quinteto trabalhou pela primeira vez com um produtor externo no recém-chegado álbum.
E não foi qualquer um: o escolhido foi o lendário Peter Kember, mais conhecido como Sonic Boom, líder da icônica banda Spacemen 3 e produtor de bandas como MGMT e Beach House. O resultado do casamento foi perfeito e, para saber um pouco mais sobre tudo isso, batemos um papo com o vocalista e guitarrista Elias Bender Rønnenfelt.
Confira na íntegra abaixo!
TMDQA! Entrevista Elias Bender Rønnenfelt (Iceage)
TMDQA!: Olá, Elias! Obrigado por falar conosco hoje. Queria começar parabenizando vocês pelo novo disco, um dos melhores do ano e que realmente parece levá-los para uma nova direção. Todos os elementos do passado ainda estão ali, mas de alguma forma eu sinto que esse tem uma atmosfera muito única. Você acha que ter um produtor externo pela primeira vez ajudou a encontrar essa nova identidade?
Elias Bender Rønnenfelt: Nós sempre hesitamos um pouco no que diz respeito a trazer pessoas de fora para o estúdio. O estúdio é meio que um espaço sagrado para nós e tem muita coisa em jogo no que diz respeito a fazer justiça a essas músicas nas quais trabalhamos e sangramos tanto. Todos nós somos grandes fãs do Sonic Boom e do Spacemen 3 desde que éramos adolescentes e alguém nos apontou para uma entrevista na qual ele disse que queria trabalhar conosco, e então ficamos curiosos.
Eu tinha minhas preocupações, já que nunca tinha conhecido o cara antes, tipo, “Será que não vamos nos dar bem?” ou se iríamos brigar na tentativa de levar o grupo para direções diferentes. Felizmente, não foi o caso! Nós nos demos bem instantaneamente e ele se provou meio que um dos nossos. Ele era atencioso quando precisávamos, falava umas merdas quando precisávamos relaxar um pouco e estava sempre cheio de ideias sobre quais pedais, instrumentos ou máquinas nós podíamos jogar na equação.
Durante e entre o processo de ficarmos malucos presos no estúdio, nós ficávamos sempre com dor no estômago de tanto rir no fim da noite!
TMDQA!: Assim que é bom! De uma certa forma, aliás, esse disco tem uma pegada nostálgica bem interessante e confortável. Considerando a pandemia, o lockdown e tudo mais, você acha que rolou uma certa influência nostálgica na maneira como esse disco foi escrito?
Elias: De forma geral eu tendo a rejeitar a nostalgia, eu sinto que vai se tornar uma espécie de algema no tornozelo mas como qualquer humano eu não estou imune a ela. Eu acho que é mais uma melancolia amarga que às vezes se esgueira pelos buracos desse álbum e talvez a nostalgia seja de quem ouve — o álbum foi escrito antes da pandemia e, por tanto, em um mundo no qual era mais fácil se perder. Talvez ele lembre esse mundo de antes!
TMDQA!: Faz sentido. Vocês também adicionaram um novo guitarrista para esse álbum, né? Ter mais um instrumento na banda mudou a forma de vocês fazerem e tocarem música?
Elias: Eu sempre toquei guitarra nos discos, e nós queríamos recriar esse sentimento ao vivo enquanto também dávamos mais liberdade de expressão ao Johan [Surrballe Wieth, guitarrista]. Nós falamos com o Casper Morilla Fernandez e no começo ele era só um membro da banda ao vivo mas acontece que ele não é o tipo de guitarrista que você simplesmente fala como tocar uma música e aí ele faz isso.
Ele é um guitarrista muito inventivo e conforme começamos a fazer as músicas que viraram Seek Shelter ele já era uma parte do tecido criativo do grupo. Ele é genuíno.
TMDQA!: Queria perguntar um pouco sobre a ambientação atmosférica que esse álbum tem, e acho que isso é especialmente verdade em “The Holding Hand”, minha preferida do disco. Muita gente, incluindo eu, vê que vocês estão constantemente evoluindo sua sonoridade e pra mim essa música é um grande exemplo de como vocês conseguem apresentar uma dinâmica muito interessante. O que vocês sentem que faz vocês continuarem evoluindo e buscando novas direções musicais?
Elias: Reinvenção é um meio de sobrevivência, se nos repetíssemos nós certamente iríamos falecer. Só é interessante pra nós quando sentimos que há algum tipo de risco envolvido, que estamos pisando em algum território novo. Mais do que isso, esses discos são reflexões das nossas vidas, então conforme crescemos como pessoas a música também cresce.
Seria bem triste se eu ainda estivesse brincando com as mesmas ideias do que quando eu tinha 18 anos!
TMDQA!: Obviamente, as performances ao vivo são uma enorme parte do que faz o Iceage ser tão interessante. Quão empolgados vocês estão para tocar essas novas canções ao vivo e há planos de uma vinda ao Brasil no futuro?
Elias: Empolgados pra caralho. A ideia de sermos malucos e livres e nos unirmos com o público já parece tão distante depois desse último ano e eu mal posso esperar para voltar.
Eu iria amar demais ir ao Brasil, vamos fazer isso acontecer!