Por Tony Aiex e Felipe Ernani
Pare pra pensar nas últimas fotos e vídeos que você viu de artistas do mainstream em suas apresentações. Poucas delas carregam a boa e velha guitarra elétrica, não é mesmo?
Nos últimos anos o mundo testemunhou a ascensão de estilos musicais como o Hip Hop e o Pop, e não à toa as principais paradas de plataformas de streaming como o Spotify são dominadas por artistas solo e não contam com bandas.
Com o Rock And Roll se distanciando dos grandes públicos e tendo maior destaque no underground, a boa e velha combinação de baixo, guitarra e bateria desapareceu das atrações mais populares, mas isso parece estar mudando.
A Volta das Guitarras?
2021 chegou e com ele parece ter vindo uma nova onda de amor pelo instrumento, e dessa vez é por aqueles que realmente podem influenciar toda uma nova geração.
Estamos falando de jovens ícones da música, aqueles que se conectam mais facilmente com adolescentes e jovens adultos através de comportamentos, mensagens, estéticas e, nos dias de hoje, presença nas redes sociais.
É claro que há guitarras para todos os lados em shows, fotos e material de divulgação de lançamento de bandas como Foo Fighters, The Strokes e Red Hot Chili Peppers, mas uma coisa é o grupo “antigo” (sim) carregar as seis cordas por aí e outra completamente diferente vem quando artistas de 17, 18, 19, 20 anos começam a colocar as guitarras em suas canções novamente.
Esse é o caso, por exemplo, de Willow Smith.
Aos 20 anos de idade, a filha do rapper e ator Will Smith chegou a começar a carreira no Pop e no Rap, mas recentemente mostrou que mergulhou de cabeça no Pop/Punk e no Emo, e chamou ninguém menos que Travis Barker (blink-182) para uma parceria em “t r a n s p a r e n t s o u l”.
A canção, que tem toda cara e jeito de andar de bandas como Paramore, é um verdadeiro hino do gênero e sua apresentação ao vivo no programa de Jimmy Fallon contou com muita energia e deixou as guitarras em evidência.
Além disso, o vídeo ainda carrega muito simbolismo e conta com duas outras mulheres na banda, uma com uma guitarra e outra com um baixo, uma com uma bela camiseta do Metallica, inclusive.
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https://www.youtube.com/watch?v=VUEseo5mGnY
Renascimento do Pop/Punk
Outro nome bastante jovem que tem celebrado as guitarras e o Pop/Punk é a cantora Olivia Rodrigo.
Aos 18 anos de idade, ela estourou no mundo todo com o hit “drivers license”, voltado ao indie pop.
Acontece que em seu disco de estreia, SOUR, ela apresenta faixas como “good 4 u”, outro Pop/Punk dos bons que foi apresentado para uma das maiores audiências da televisão dos EUA, o programa Saturday Night Live, com uma banda cheia de guitarras.
Além disso, a faixa de abertura do álbum, “brutal”, deixa qualquer fã de Rock animado.
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https://www.youtube.com/watch?v=kiaCdUACJp8
Rap e Suas Guitarras
Há alguns dias, o rapper Lil Nas X (22), que ficou conhecido pelo mega hit “Old Town Road”, deixou bem claro que é mais um jovem a ouvir sua dose diária de Emo e Punk Rock.
Seu mais recente single, “SUN GOES DOWN”, abre com uma belíssima guitarra e poderia muito bem estar em um disco de Rock Alternativo dos Anos 90.
Logo de cara, ao apertar o play, guitarristas como John Frusciante devem ficar felizes com a clara influência de suas obras na nova geração que vem fazendo barulho para as grandes plateias.
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Não podemos nos esquecer, é claro, do rapper Post Malone.
Aos 25 anos de idade, o cara tem 46 milhões (!) de ouvintes mensais só no Spotify e é um dos nomes mais conhecidos em todo planeta.
Durante a pandemia, o músico fez uma das lives mais sensacionais de todas quando resolveu chamar o arroz de festa Travis Barker para tocar Nirvana no volume mais alto durante 1 hora e 17 minutos.
O vídeo, beneficente, já foi visto por 15 milhões de pessoas e o impacto do artista que tem um single imenso chamado “Rockstar” foi gigantesco para mostrar as guitarras ao seu público.
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Outro rapper que resolveu se ligar a Travis Barker e cair de cabeça no Rock foi Machine Gun Kelly.
Apesar de não ser tão jovem assim, com 31 anos de idade, o “ex-Rapper” tem uma base de fãs concentrada na mesma faixa etária dos artistas anteriores e, inclusive, acabou de ser eleito o “maior artista de Rock” em uma premiação da Billboard.
O cara tem feito questão de carregar uma guitarra em suas apresentações e seu álbum mais recente, Tickets To My Downfall (2020), tem muito mais do Punk Rock do que do Rap que consolidou seu início de carreira e foi coproduzido pelo baterista do blink-182 — aliás, até a capa do trabalho já vem com a tradicional guitarra rosa de MGK.
Só pra você ter uma ideia, o clipe de “love race”, que estreou antes de ontem (26 de Maio), já conta com quase 2 milhões de visualizações no YouTube, e todo mundo está vendo o cara com uma guitarra na piscina.
Quer mais influência que isso?
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Tá, mas e o Rock “mesmo”?!
A presença da guitarra no mainstream é algo sensacional e que pode influenciar uma geração inteira, mas é natural que para muitos não seja suficiente consumir essas obras que, sem dúvidas, trazem um formato mais “mastigado” para acessar mais pessoas.
Por isso, muitas vezes acabamos vendo a cena Rock atual sendo reduzida a nomes como o Greta Van Fleet e outros que reciclam fórmulas do passado e, de uma forma ou de outra, se mostram presos à nostalgia de tempos perdidos.
Felizmente, esse está longe de ser o caso. Lembra quando o Linkin Park pegou o mundo de surpresa e conseguiu popularizar um gênero cheio de gritos e agressividade que parecia fadado a ficar no underground?
Pois é. Os caras não estão mais na ativa, mas a tocha foi passada e uma série de bandas vem surgindo com a capacidade de unir estilos e criar um som único, novo e que conversa até mesmo com aqueles que não estão tão acostumados com o Rock. É o caso do ótimo Spiritbox, que prepara seu disco de estreia, ou do Architects, que lançou um trabalho sensacional em 2021.
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É claro que esses nomes ainda nem se comparam à dimensão dos outros que citamos — talvez o mais próximo seja o Bring Me the Horizon, que chega perto de ter 8,5 milhões de ouvintes mensais, menos de 20% do que tem Post Malone.
Ainda assim, os resultados têm sido promissores e o crescimento dessas bandas, muitas das quais começaram com um som muito mais pesado e menos “digerível” para o público geral, é impressionante. A incorporação de novos elementos e linguagens antes estranhas é algo realmente louvável.
É difícil dizer se elas chegarão ao patamar dos artistas que dominam o mainstream, e a tendência é que realmente não seja o caso, mas são nomes mais do que satisfatórios para quem ainda busca a cultura das bandas mas não aguenta mais a repetição dos clichês das décadas anteriores.
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E o Futuro?
Entra ano e sai ano e muito se fala sobre a “morte do Rock”, o “adeus às guitarras” e muitos afirmam que o jovem de hoje quer o caminho mais prático, fácil e barato, por isso se conecta com ferramentas digitais para produzir sons que não são orgânicos.
Se toda essa galera tocando guitarra irá influenciar uma nova geração a voltar às aulas de guitarra, não sabemos, mas é claro que alguns dos maiores nomes da música atual consumidos pelo público jovem estão se tornando verdadeiros porta-vozes do instrumento, o que é uma baita notícia para os fãs dele.
De ouvidos bem abertos, estaremos aqui para acompanhar esse movimento!