Nesta terça-feira (8), a morte da jovem Kathlen Romeu, que tinha 24 anos e estava grávida antes de ser atingida por um tiro de fuzil durante uma ação da Polícia Militar e falecer, movimentou discussões importantes sobre o histórico dessas intervenções policiais no Brasil.
No dia seguinte, o TMDQA! teve a oportunidade de bater um papo com o cantor Rael, que recentemente foi escolhido para fazer parte do projeto #YouTubeBlack e vai divulgar neste dia 17 a ótima canção “Passiflora”, parceria com Céu, e não pudemos deixar de abordar o tema em uma conversa que passou por música, natureza e questões sociais e vai ao ar na íntegra no dia de lançamento do single.
Quando a situação foi mencionada, o que ouvimos do artista foi uma declaração pra lá de impactante:
É muito triste, porque não é só ela. Aqui deve ter rolado, de ontem pra hoje deve ter morrido muita gente. Não há música, não há Twitter, não há nada que a gente possa fazer pra diminuir isso; às vezes eu tenho essa sensação. Porque existe uma estrutura que é bancada pra fazer isso, acabar com essas vidas.
E me lembra muito o que o KL Jay fala: ‘estamos em território inimigo’. É muito triste mas, se você for puxar a fundo… quando eu fui lançar o ‘Capim-Cidreira’, eu adiei porque tinham matado o João Pedro. E aí depois já na sequência foi o George Floyd. Eu já tinha postado de Costa Barros. Eu falei, ‘Mano, não adianta eu ficar postando’. Porque hoje tava bombando aí a foto [da Kathlen]. Mas e aí? Vai sair da rede social? Como que vai ser a parada? [Enquanto isso] os caras gastam 22 milhões em um helicóptero pra meter tiro na favela, mano.
Ele complementou, falando sobre como essa realidade não é de hoje e já o afetou pessoalmente:
É uma mentira essa coisa de combate às drogas. Aí a gente da música — eu que venho do Rap, que venho de favela… a gente fica lutando contra isso há muito tempo. Eu sempre falei disso desde o começo, eu vivi muitas coisas, eu já quase morri, eu já tive que ir embora da minha quebrada porque tentaram me matar. Chega uma hora que você cansa um pouco de falar disso. Eu pensei tipo, ‘Mano, talvez eu tenha que falar de amor. Talvez eu tenha que falar sabe do quê? Da vida, da natureza, o que nos trouxe aqui’. Falar que cada um tem uma importância, a gente é como se fosse guardião, a gente assiste a toda essa biodiversidade e somos capazes de colaborar com ela. Eu penso nisso, pra fugir um pouco dessa guerra. [Porque] nós estamos em uma guerra, parceiro. Virou selvageria.
Sem dúvidas, a música pode muitas vezes ser uma oportunidade de fugir dessa “guerra” mencionada pelo artista. Infelizmente, por outro lado, está cada vez mais difícil lidar com a dura realidade de uma situação que gira em torno da impunidade e da falta de justiça.