Luana Flores é beatmaker, percussionista, DJ, cantora e compositora. Já soma em sua discografia um total de cinco singles. Seu último lançamento, “Mulher Bicho Solto”, já chega como uma prévia do material que está por vir. Antes de lançar o projeto solo, Luana acumulava trabalhos ao lado de Luísa Nascim e Saskia, além de remixes para artistas como Tuyo, Luísa e os Alquimistas e Bixarte MC.
Luana traz uma sonoridade dançante, intitulada por ela como “Nordeste futurista”, mas que não deixa de celebrar a ancestralidade e a força do seu discurso. Ela explica:
Eu sinto que a minha música é para mexer o corpo, mas é para mexer os afetos também. Eu sinto isso porque as pessoas me escrevem muito. É sempre sobre tocar de alguma forma.
Consagrada como “Novo Talento” em 2020 no prêmio SIM São Paulo, Luana Flores vem se preparando para lançar o seu primeiro EP solo.
Conversamos com Luana para falar de sua trajetória. Confira abaixo!
TMDQA! entrevista Luana Flores
TMDQA: Seu primeiro single foi só em 2019, mas você já trabalhava com outros artistas antes, né? O que te deu o impulso para se lançar solo naquele ano?
Luana Flores: Em abril de 2019, recebi um convite da Jéssica Caitano (poeta, MC), que me convidou para o time da residência artística da Red Bull Music Pulso. Era uma residência que acontecia todo ano, durante 30 dias em São Paulo. Tiveram vários times que foram montados para poder compor essa residência.
Eu fui convidada como beatmaker. Neste ano da residência o tema era “qual o futuro do Rap”; nisso, tinham várias artistas ali. Lá eu me senti provocada a começar a colocar as minhas composições pra fora. Até então, eu tava sempre mais atrás… Dar a cara a tapa foi realmente a partir desse momento.
Lá eu compus e produzi o primeiro single que eu lancei, “Guerreira de Lança”. Aproveitei as outras mulheres que estavam ali também para cantar comigo. Foi meu primeiro trabalho solo lançado.
Continua após o vídeo
TMDQA: Normalmente é você que entra na discografia dos artistas para fazer uma releitura. Mas em 2020, quem ganhou um remix foi você, com a versão que o FurmigaDub fez de “Guerreira de Lança.” Como foi ver a moeda sendo invertida?
Luana Flores: Não só releitura mas tudo, sabe. Quando eu lancei “Guerreira de Lança”, eu tava naquela de “Pô, me conhecem como DJ, beatmaker… eu vou confundir um pouco com a cabeça das pessoas.” Mas eu tava com essa música na gaveta, ela era tão linda, precisava ir para o mundo. Quando eu joguei ela no mundo, foi engraçado me ver nesse outro lugar. Dessa mulher que tava ali cantando, mandando a letra. Até gravar o videoclipe… foi muito estranho ser a protagonista.
A repercussão foi muito boa. Quando eu vi essa repercussão, pensei que precisava de um remix. Convidei Furmiga, que era um produtor também da Paraíba, um parceiro. Escutar a versão com a identidade dele foi massa. Vem sendo uma experiência muito massa, me ouvir desse outro lugar.
TMDQA: No single “Guerreira de Lança” você fala muito de honrar essas ancestralidades. Essa canção narra um “cangaço contemporâneo da mulher”, quer dizer, após tanto sofrimento no passar dos anos, a arte vem mostrando releituras, um caminho para cenários melhores.
Enfim, você pega algo como o cangaço (que tem toda essa representação de dor, sofrimento) e transforma em algo diferente, né. Afinal, essa canção tem um ritmo super pra cima, que pode ser tocado em festas. Queria que você falasse um pouco disso tudo.
Luana Flores: Ainda falando do processo de composição, a minha grande professora foi a Jéssica Caitano. Ela tem uma rima, uma métrica incrível, eu me senti muito conectada com o discurso dela. Ela foi me falando umas ideias, e eu fiquei revisitando todas as palavras, os jargões, todas as formas das mulheres da minha família de falar, os nomes delas. E então vem a questão: Como trazer tudo isso e projetar para o futuro que é esse momento presente?
Até mesmo dentro da construção da parte visual dessa música. Foram várias cabeças de mulheres daqui pensando em como construir isso sem ser caricato. Eu sinto que a minha música é para mexer o corpo, mas é para mexer os afetos também. Eu sinto isso porque as pessoas me escrevem muito. É sempre sobre tocar de alguma forma. Às vezes as pessoas me falam sensações que eu nem pensei, mas que estão ali, conectadas.
TMDQA: Você autointitula sua sonoridade como “Nordeste futurista”. O que seria isso? É uma tentativa também de atentar as pessoas para sonharem um “novo tipo de nordeste”?
Luana Flores: Antes de mais nada, eu sempre fico pensando que esse conceito foi chegando pra mim… Com o tempo, ele vai agregando novas formas de ler isso. Inicialmente, eu pensei sonoramente. As pessoas perguntam “que sonoridade que você faz” e eu não queria me encaixar em qualquer coisa, por isso criei isso.
Surgiu quando pensei num som que quebra um estereótipo, inicialmente foi isso. Depois, passou de uma identidade sonora para uma identidade visual. E eu sinto que, para além do sonoro, tem também uma questão de romper alguns conceitos que nos colocam sempre. Além disso, surge para pensar em criar novas narrativas, para pensar num futuro que a gente tá ali, vivendo e sendo o que a gente quer ser.
Sempre pensando também que o futuro é ancestral, isso está conectado. Eu estou no futuro, mas estou muito conectada com a minha raiz. Ao mesmo tempo, projetando e criando novas narrativas, para a gente conseguir viver nesse mundo. A gente fala “Nordeste” mas: que linhas são essas? Que territórios são esses que estão chamando de Nordeste? Isso existe? Isso é real? Eu acho que o “Nordeste futurista” vai caminhando para esse lugar de criar novas narrativas.
Continua após o vídeo
TMDQA: Tuyo é uma banda incrível, eu adoro o trabalho deles, mas claro, tem muito aquele tom melancólico. Em 2019, saiu uma versão remix do disco deles “Pra Curar”.
Você trouxe uma releitura da faixa “Sem Querer” que leva para esse lado mais eletrônico, tecnobrega. Você possibilitou que a gente dançasse Tuyo na pista! (risos) Como foi a história desse remix?
Luana Flores: Na época, a Lio veio falar comigo do remix. Eu sacava a Tuyo mas não a fundo assim. Quando ela falou para escutar o disco e escolher uma música, eu pensei na hora que seria uma missão. Porque realmente é uma vibe bem melancólica, mas eu acho incrível como eles fazem isso de uma maneira massa. Eles têm uma identidade visual boa, uma galera descolada, isso acaba te tirando desse universo tão “deprê”.
Mas então, eu escolhi uma música que era menos “deprê”, depois de um mês a produção me mandou o projeto aberto de uma outra música. E era tipo, a música mais deprê do disco (risos). Eu vi o BPM e falei “vou colocar um batidão aqui”. No fim deu tudo certo, a galera achou massa. Quando eu vou fazer um remix, eu pego uma referência do momento e coloco uma tiração de onda também — que é o que a galera gosta né — e foi bem isso com a Tuyo.
TMDQA: Em 2020, você foi elencada como “Novo Talento” no prêmio SIM São Paulo. Isso que você ainda nem lançou seu primeiro EP. Isso te pressiona de alguma forma?
Luana Flores: Com certeza. Quando a gente se vê inserido no mercado da música a coisa é louca, tudo é para ontem. Quando eu fui indicada, eu fiz de tudo para poder ganhar o prêmio, porque claro, você pensa que é uma oportunidade da vida, um reconhecimento, o que de fato é. Mas depois que você ganha, você fica assim, “E agora?”
Você precisa respirar, ir com calma. Por sorte, eu tava com uma música na agulha, foi assim que veio “Mulher Bicho Solto”. Mas sim, rola uma pressão. Todo mundo fica perguntando, “E o disco? E o disco?”, mas a grande dificuldade de lançar disco é a grana. Ficamos sempre dependendo de órgãos públicos… mas vamos fazendo o possível. De cara assusta um pouco né, os holofotes vão todos para você, mas a gente vai fazendo como pode.
TMDQA: Por fim, falando desse seu primeiro EP que está por vir, você já pode adiantar alguma coisa? Pretende trazer uma sonoridade completamente diferente daquilo que você já fez?
Luana Flores: Completamente diferente não. Mas eu sinto que comecei a dar um spoiler do que está vindo por aí a partir de “Mulher Bicho Solto”. Ao que tudo indica vai chegar em Agosto/Setembro, já está em fase de construção. Estou acertando algumas participações, alguns feats. Não vou falar agora para não deixar na expectativa, mas vai ser massa, uma construção bonita.