Inspirada no livro 1971 – Never a Dull Moment: Rock’s Golden Year (sem tradução no Brasil), lançado em 2016 pelo jornalista musical David Hepworth, a Apple+ lançou em maio a série documental 1971: O Ano em que a Música Mudou o Mundo.
Dividida em oito episódios, a série faz um recorte importante do cenário político e social que antecede e permeia aquela época, para então elencar artistas e movimentos emblemáticos. Antes de sequer começar a falar dos anos 70, há uma contextualização da década de 60, com a contracultura, ascensão da cena hippie e o fim da era Beatles.
Dirigida por Asif Kapadia (Amy, Senna), referência dentro do gênero documental com imagens de arquivo, 1971 fez jus à fama do diretor. Com produção da Mercury Studios (um dos braços da Universal Music Group) a série retém a atenção do espectador com a sua vasta riqueza de arquivos.
A técnica de não colocar os depoentes na tela em si, apenas no áudio, é definitivamente um dos pontos positivos da obra. Alguns registros sonoros e em vídeo são exclusivos, como o encontro icônico entre David Bowie e seu ídolo Andy Warhol ou ainda com John Lennon gravando vários takes da célebre “Gimme Some Truth”.
Vemos depoimentos que foram captados nos dias atuais e também aqueles que já eram emblemáticos e conhecidos pelo grande público, mas que fogem de qualquer clichê, quando olhamos para o conjunto da obra.
O contexto social de 1971
Definitivamente, o ano de 1971 marca um tumulto social e político tanto para os Estados Unidos como para outros países do mundo. Para entendermos o porquê de tamanha revolução de What’s Going On do Marvin Gaye é necessário perceber a inovação que ele trouxe para a sua gravadora, Motown Records.
Apesar da força e da capacidade em revelar gigantes da música, a gravadora Motown também teve seus pontos negativos. Um deles foi a demora em abraçar a liberdade criativa e artística de seu elenco contratado, além de demorar também para abraçar mais canções e LPs com cunhos políticos e sociais. Nesse aspecto, What’s Going On marca uma forte revolução.
Enquanto John Lennon e Marvin Gaye escrevem sobre o contexto de guerra, os efeitos colaterais sobre o uso de drogas também começam a aparecer. Após a morte de Jim Morrison, Jimi Hendrix e Janis Joplin, tanto os Rolling Stones como o grupo Sly and the Family Stone passam a escrever sobre o tema.
Já David Bowie, T. Rex, e Alice Cooper abraçam a androginia que vinha surgindo no glam rock, ao passo que Aretha Franklin e Curtis Mayfield apoiavam o movimento Black Power e tentavam levar conscientização ao público.
Ao mesmo tempo, Carole King e Joni Mitchell iam englobando e visceralizando a alma e os sentimentos, conforme iam se assumindo cada vez mais como autoras de suas canções — nessa época, inclusive, os artistas passaram a querer assinar cada vez mais as suas composições.
Posicionamento artístico
Com toda a agitação que acontecia nessa época, muitos artistas sentiam que precisavam declarar seus pensamentos pelas canções. Naquele momento, essas figuras entendiam a importância do posicionamento artístico.
Esses artistas sabiam da própria força e de como poderiam mover multidões, ajudando assim, na catalisação de mudanças políticas e sociais. Sem falar, claro, da importância dessas rupturas para tantos outros que se inspiraram neles e que surgiram nas décadas seguintes.
Por meio de oito episódios, a série documental 1971: O Ano em que a Música Mudou o Mundo consegue mostrar e comprovar ao telespectador a importância e a revolução do ano de 1971 para a música.
Confira o trailer da série abaixo, disponível no Brasil pelo streaming Apple TV+.