TMDQA! Entrevista: Inhaler e a renovação do Post Punk no excelente “It Won't Always Be Like This”

Com seu som único que junta Post Punk, New Wave, Indie e mais, o Inhaler estreia muito bem em "It Won't Always Be Like This". Veja entrevista exclusiva!

Inhaler
Divulgação

Quem viveu os anos 2010 certamente se lembra da explosão de bandas que uniam elementos do Indie moderno com Post Punk, New Wave e outros gêneros. Essa geração ficou um pouco pra trás, mas o Inhaler é uma nova banda que chega para mostrar que ainda há muito a explorar nesse cenário e renova uma cena que urgentemente precisava de um respiro.

Capitaneado por Elijah Hewson — filho de Bono, vocalista do U2 — nos vocais e na guitarra, o grupo irlandês conta ainda com os super talentosos Josh Jenkinson na guitarra, Robert Keating no baixo e Ryan McMahon na bateria para apresentar uma série de canções empolgantes e animadas em It Won’t Always Be Like This, uma das melhores estreias dos últimos tempos.

A gente sabe — e os músicos também — que o estigma de ser filho de um rockstar é algo que vai persegui-los por um bom tempo, mas não se engane. O Inhaler tem vida própria e vai muito além do U2, apresentando uma pegada única, bem trabalhada e, acima de tudo, honesta.

Logo abaixo, você pode conferir um papo exclusivo do TMDQA! com o quarteto, que contou mais sobre suas composições e ainda mostrou muito bom humor!

TMDQA! Entrevista Inhaler

TMDQA!: Oi, pessoal! Como vocês estão, tudo certo por aí? Queria começar parabenizando vocês pelo ótimo disco, que me surpreendeu bastante. Eu tinha gostado muito dos singles e gostei do álbum também, mas as músicas são bem diferentes entre si. É um resultado da quarentena forçando a criatividade de vocês a ir em outras direções durante esse processo? Vocês sentiram alguma pressão quando perceberam que estavam indo pra várias direções?

Ryan McMahon: Olá! Por aqui tudo bem! Olha, sim, nós estávamos fazendo muitas turnês pelos primeiros dois meses de 2020. E aí de repente a gente tem que sair da turnê e ficamos separados por três ou quatro meses, e aí nesse tempo todo mundo estava sendo bem criativo, escrevendo todas essas músicas e tudo mais. Metade do disco foi escrito durante o primeiro lockdown [no Reino Unido].

Foi uma combinação, sabe, de sermos forçados à criatividade mas também de termos crescido como compositores e como pessoas também nesse tempo. Sabe, nós vivemos o que pareceram ser anos de vida no espaço de três meses, porque tudo era tão caótico. Não parava nunca. Todo dia a gente acordava e havia alguma nova notícia ruim pra ouvir. Foi um tempo de muito conflito pra nós, mas eu acho que no longo prazo podemos todos concordar que nos ajudou a fazer um álbum muito melhor do que teríamos feito antes disso.

Elijah Hewson: E eu acho que a abordagem também foi muito diferente. Porque até então a gente ficava indo para o estúdio quando não estávamos em turnê para trabalhar em singles, então era uma coisa bem anos 50, quando todo mundo só lançava singles. Era meio tipo, “Beleza, qual a próxima música?”, e era muito natural. Mas aí foi tipo, “Ok, mas agora temos que gravar um disco”. E aí ficamos por um mês, depois mais um mês, e eu acho que nós só acabamos tendo tempo para pensar [no disco] como uma coisa completa ao invés de uma “coletânea de músicas”.

TMDQA!: Legal! E bom, como eu disse… nossa, meu cachorro está latindo, acho que ele está feliz de ver alguém. [risos]

Ryan: Deve ser a gente! [risos]

TMDQA!: [risos] Como eu vinha dizendo, os singles me chamaram bastante atenção e o primeiro que me pegou foi “My Honest Face”, que foi um dos primeiros. Pelo que lembro de acompanhá-los, foi ali que as coisas viraram pra vocês. Vocês sentiram que esse foi o momento da mudança, quando perceberam que estavam na direção certa? O que essa música significa pra vocês?

Robert Keating: É, eu acho que foi a primeira vez que nós escrevemos uma música que nos acertou em cheio logo de cara, quando fizemos um show e tocamos uma versão muito ruim do que ela virou agora. [risos] Mas era a mesma música e a gente meio que sentiu que era definitivamente [uma música] forte. Às vezes as músicas vêm à frente e se mostram desde o começo, enquanto outras levam mais um tempo para descobrir suas identidades.

Aquele pedaço de um, dois, três, quatro, cinco, estava ali desde sempre, e eu sempre achei que esse pedaço era ótimo. E a música inteira meio que foi uma bola de neve a partir disso. Mas, sim, temos muito orgulho dessa música! Ela significa muito para nós e nós tínhamos que colocá-la no álbum, era óbvio.

TMDQA!: A minha música preferida no disco é “Who’s Your Money On?”…

Elijah: [comemora]

TMDQA!: Opa, legal! [risos] A parte instrumental é realmente fantástica, em especial o baixo, e assim como o disco todo ela é bem curiosa por ir de New Wave pra Post Punk, enfim, pra todo lado. E as letras, da mesma forma, me passam uma coisa muito de abrir o coração. O que vem primeiro pra vocês? E quanta experimentação está envolvida nas composições?

Elijah: Não há exatamente uma fórmula pra nós, elas só saem do jeito que saem e é isso. Algumas músicas começam como demos e aí a gente toca várias vezes na nossa sala de ensaio e tentamos fazer algo com isso, enquanto outras vêm de riffs ou talvez um verso com letra. Eu acho que no caso de “My Honest Face” era uma demo e nós fomos pra sala de ensaio… na verdade não, foi exatamente o que o Rob disse, a gente foi tocá-la ao vivo e foi ali que ela meio que ela virou uma música mesmo.

A gente teve que descobrir, tipo, “Como vamos tocar essa coisa?”. Então, sabe, realmente não tem uma fórmula. Queremos estar em uma banda onde a gente possa se sentir espontâneo, onde escrevemos, sabe… acho que as estruturas podem não ser o nosso forte, nesse sentido. [risos] É realmente bem aleatório.

It Won’t Always Be Like This

TMDQA!: Antes do disco, vocês lançaram alguns singles que acabaram não entrando no álbum, como “We Have to Move On”, que virou uma das minhas preferidas. Tem algum motivo pra isso?

Elijah: A gente teve muitas conversas sobre isso, né.

Ryan: É, no fim das contas acabou se resumindo a quais músicas encaixavam mais com o disco. E, sabe, depois de termos várias conversas e debates, e aí lançar o tracklist, a gente ouviu muitas perguntas tipo, “Ah, como que essa música não entrou no disco?” e “Por que essa está e aquela não?” e a gente só ficou, tipo… As músicas ainda estão lá, sabe? [risos]

Não é como se a gente fosse lançar um álbum e elas vão ser apagadas da existência. Não estamos em 1969.

TMDQA!: Então elas vão continuar nos setlists dos shows?

Inhaler: Sim, sim, com certeza absoluta.

Ryan: Nós definitivamente vamos tocá-las ao vivo nos nossos shows, cujos ingressos continuam à venda. [risos] No fim das contas, realmente se resumiu a quais músicas se encaixavam melhor com a narrativa do álbum e quais falavam mais conosco no sentido do que queríamos dizer naquele exato momento. “When It Breaks” foi uma dessas músicas — era uma música muito nova, é muito nova ainda pra gente, o Josh trouxe a demo dela durante o primeiro lockdown e nós a levamos para o estúdio e, em questão de letra, é um comentário sobre a época em que estávamos, com o Coronavírus e o Black Lives Matter e tudo mais.

Então essa foi uma das músicas que foi nova e que nós pensamos, tipo, essa é uma que tem mais relevância do que, digamos, “Falling In”, que saiu uns três meses antes — e que ainda é uma música que nós absolutamente amamos e nunca vamos parar de amar e sempre vamos tocar. Então foi isso, meio que decidir quais músicas se encaixavam.

TMDQA!: Bom, você falou de turnês, então vamos falar de turnês! Claro que foi horrível ficar esse tempo todo parado, então como está a empolgação para voltar aos palcos? E sei que é complicado, mas podemos esperá-los no Brasil em algum momento no futuro?

Elijah: A gente espera demais. Temos muita vontade de ir pra América do Sul, e não só pra tocar aí, também pra ver os lugares; tem tantos lugares bonitos e tantas coisas pra fazer, então estamos morrendo de vontade de ir praí. Mas, como você disse, a gente simplesmente não sabe quando vai ser. Por enquanto, só podemos nos planejar para a nossa turnê em Setembro e Outubro…

Robert: Se você encontrar um jeito da gente ir, a gente vai. [risos]

TMDQA!: Pode deixar. [risos] Uma pergunta rápida: vocês têm uma música preferida no disco? Qual?

Ryan: Muda todo dia. Nesse momento, a minha preferida é “Who’s Your Money On”. Amanhã eu decidi que vai ser “Totally”. [risos]

Elijah: Acho que a minha é “Slide Out the Window”, só porque eu amo o quanto ela é inesperada no álbum. Acho que se você ouve só os singles e depois ouve o álbum com essa música, onde ela é tipo a terceira, você se surpreende.

Josh Jenkinson: Acho que a minha preferida é “In My Sleep”, porque é bem no final do álbum e assim que você está pronto pra dormir ela te chuta até te acordar. [risos]

Robert: A minha é provavelmente “My King Will Be Kind”, eu sempre gostei dela. Mas como o Ryan disse, muda todo dia. É meio que perguntar a um pai ou mãe quem é o filho preferido…

Ryan: Mesmo que sempre tenha uma resposta. [risos]

TMDQA!: [risos] E já que estamos falando de pais… o Bono ouviu o disco? Tem alguma música preferida?

Elijah: Eu me recuso a tocá-lo pra ele. Ele tem que comprar se quiser ouvir. [risos]

“Banda do filho do Bono” e origens do Inhaler

TMDQA!: Gostei disso. [risos] E essa situação é bem curiosa, porque eu me lembro quando vi as primeiras notícias sobre o Inhaler e fiquei pensando aquela coisa de sempre, ‘Ah, lá vai mais um filho de rockstar’. Mas aí eu fiquei bem surpreso, percebi que não era só “a banda do filho do Bono”…

Robert: O Eli sempre fala que, quando tiver um filho, não vai querer que ele passe por isso. [risos]

Elijah: [risos] Eu acho que isso que você falou é um ponto muito justo. Eu pensaria do mesmo jeito se ouvisse que o filho de algum astro está em uma banda, eu teria o mesmo pensamento. Eu sempre digo, não importa quem meu pai fosse, eu teria acabado na música de qualquer jeito, é uma paixão enorme.

Ryan: Eu ainda estou chocado que ninguém descobriu quem é o meu pai.

TMDQA!: Quem é o seu pai?

Ryan: Eu estou esperando o dia que vão descobrir! [risos] Vai te deixar sem palavras.

TMDQA!: Putz, vou ter que procurar. [risos] Mas falando sério, como vocês se sentem quando vêem que uma música de vocês já tem, sei lá, 10 milhões de reproduções? Acho que vocês já não são mais a “banda do filho do Bono”, vocês são o Inhaler.

Elijah: Obrigado!

Robert: É, assim, pra gente nunca foi isso, sempre foi meio que um saco ter que lidar com isso. Mas é muito gratificante porque uma boa parte [do público] dos nossos shows, uma enorme parte, é de jovens. Você sempre pode ouvir as coisas, ver os números, mas quando você vê os fãs de verdade — pessoas jovens, bem na sua frente, amando a música, realmente é muito gratificante. Obviamente essa é uma das coisas mais terríveis de ficarmos sem os shows nesse período de tempo, a gente sente muita falta dos nossos fãs, cara.

Elijah: Eu acho que muitos dos nossos fãs — os mais jovens — nem sabem quem é o U2. Então isso é uma vantagem pra gente.

TMDQA!: Bom, eu só gostaria de dizer — com todo o respeito, é claro — que não sou exatamente tão jovem assim mas eu gosto mais do Inhaler do que do U2…

Inhaler: [comemora] Aí sim!

Ryan: Você estará na nossa lista de convidados pro resto da vida.

TMDQA!: Obrigado! Fiquei com receio de ofendê-los ou algo assim. [risos]

Elijah: Eu acho que ter isso em cima da gente meio que sempre nos fez querer ser melhor, porque a gente quer sair disso. E, sabe, eu acho que você ouve sobre a nossa banda a porta meio que está aberta pra gente, [mas] isso significa que a porta vai fechar tão rápido quanto se as pessoas não gostarem da nossa banda.

As pessoas vão ter um viés com isso e vão ter pensamentos antes mesmo de ouvir as músicas, então, sabe… enquanto as pessoas estiverem indo pros shows, eu na verdade não ligo. [risos]

TMDQA!: Uma coisa que eu não achei em nenhum lugar sendo detalhado é como foi que vocês começaram a banda. Vi que vocês se juntaram na faculdade, mas como foi isso? Quais eram os interesses em comum de vocês?

Ryan: Eu, o Eli e o Rob todos nos conhecemos quando tínhamos 12 ou 13 anos. E o Josh e eu quando éramos realmente bem novos, a gente estudou na mesma escola primária juntos. E nós três tínhamos interesses parecidos na música; ouvíamos bandas que os jovens da nossa idade não necessariamente ouviam, tipo Pixies ou Black Sabbath ou Ramones ou qualquer coisa assim.

Então a gente começou a fazer música juntos por três ou quatro anos, fazendo covers realmente muito ruins das nossas bandas preferidas. E aí chegamos aos 16, 17 anos e o Josh entrou e nós começamos a melhorar como banda, porque ele era o único entre nós quatro que de fato sabia tocar seu instrumento. A gente estava empurrando com a barriga há algum tempo. [risos]

Elijah: Eu acho que até então era só uma desculpa para ouvir Nirvana e comer pizza. Era realmente isso antes do Josh entrar, e aí quando o Josh entrou foi tipo…

Josh: Chega de pizza.

Elijah: [risos] E aí a gente meio que passou uns dois anos aprendendo a ser uma banda, aprendendo covers e nós começamos a escrever músicas quando tínhamos uns 17 anos. Acho que “It Won’t Always Be Like This” e “Cheer Up Baby” foram as primeiras duas que escrevemos, quando tínhamos uns 17.

Ryan: Começamos a fazer uns shows que nossos amigos não podiam ir [pela idade]. Então o nosso primeiro público foi tipo, nossas irmãs e irmãos. Isso foi difícil. [risos] E nós fizemos isso por uns dois ou três anos e agora estamos aqui, nessa pandemia. [risos]

TMDQA!: Entendi! Bom, nosso tempo está acabando, então eu queria deixá-los com uma informação fundamental. Aqui no Brasil, não sei se já falaram isso pra vocês antes, tem um biscoito chamado Bono. [mostra uma foto]

Ryan: Eu aposto que eles são horríveis.

TMDQA!: Eu acho bem bom até. [risos]

Elijah: Nome estranho pra um biscoito, nome estranho pra uma pessoa. [risos]

TMDQA!: [risos] Pessoal, muito obrigado pelo tempo de vocês! Foi um prazer bater esse papo. Espero que a gente possa se falar de novo em breve, de preferência aqui no Brasil enquanto comemos um pacote de Bono.

Inhaler: [risos] Até mais, obrigado!