Manhãs de Setembro é a série que marca a estreia no audiovisual da cantora e compositora Liniker.
Lançada em 25 de junho pela Amazon Prime, ao longo de cinco episódios de trinta minutos cada, conhecemos a história de Cassandra (Liniker), uma mulher trans que abandona sua cidade natal para seguir o sonho de ser cantora. Ambientada na cidade de São Paulo, acompanhamos a jornada da protagonista, uma motogirl, que performa e extravasa seu talento todas as noites, no clube onde interpreta seu cover de Vanusa.
O pontapé inicial da série é o momento em que Cassandra comemora sua liberdade e independência por estar se mantendo financeiramente e enfim morando sozinha. Seu relacionamento com o namorado (interpretado por Thomás Aquino) ia bem também. Após trinta anos, sua vida parecia enfim estável.
Até que Leide (Karine Teles), figura de um antigo relacionamento, bate à sua porta, anunciando que Cassandra tivera um filho com ela, há dez anos. E lá se vai toda a estabilidade que a protagonista achava que tinha conquistado, conforme a narrativa vai se desenrolando.
Manhãs de Setembro
No decorrer de cinco episódios, a trama se desenvolve num formato similar ao de uma minissérie, sem grandes estruturas complexas em sua narrativa. Seu fio condutor é muito claro: contar a jornada de aceitação de Cassandra, em mais uma transformação de sua vida.
Em vários episódios, a protagonista reluta em aceitar a criança em sua vida, ainda que o filho Gersinho (Gustavo Coelho) teime e tente chamar a sua atenção a todo custo. Conforme Cassandra vê suas semelhanças no filho, ela passa a reviver e se identificar naquela criança. O acolhimento vai tomando forma, até que no último capítulo ela começa a abraçar e acolher Gersinho.
“Você me respeita”
O Brasil é um dos países que mais mata pessoas trans no mundo. Ou seja, se há um alto número de mortes, há também um forte índice de ações e comportamentos transfóbicos no dia a dia.
Esse preconceito no cotidiano e nos respectivos relacionamentos é muito bem trabalhado em Manhãs de Setembro. Liniker interpreta uma personagem que é muito segura de si. Uma mulher resiliente que, como ela mesmo afirma numa conversa com a personagem interpretada por Linn da Quebrada, representa o que elas precisam ser: essas mulheres fortes e duronas.
“Você me respeita” é uma das frases que Cassandra proclama algumas vezes, conforme essas figuras do cotidiano insistem em chamá-la pelo pronome masculino. Cassandra é uma mulher que não abaixa a cabeça para a dificuldade – até quando o namorado tenta transformar o relacionamento num conjunto de regras, na tentativa de não abandonar sua esposa, uma mulher cis, Cassandra não tem medo de se escolher e de largar alguém que não a merecia.
“Manhãs de Setembro”
A série leva o nome de uma das canções mais conhecidas da cantora e compositora Vanusa. Além dos covers noturnos, Cassandra usa a artista como uma fonte de inspiração e também como uma voz no seu inconsciente, que aparece constantemente para dar alguns conselhos.
A canção “Manhãs de Setembro” fala sobre uma figura resiliente, que se isola e se recolhe na tristeza, enquanto o sol da primavera, de uma manhã de setembro, ainda não chega. “E o Sol, nas manhãs de setembro…” já cantava Vanusa, e de uma maneira muito poética e honrosa, na última cena, a série termina com um plano de Cassandra na contra-luz, de um belíssimo pôr do sol, mostrando que há esperança. Sempre há.
Manhãs de Setembro é um retrato real, visceral e poético de muitas jornadas e relacionamentos. É também uma poesia que mostra como a vida nos atravessa e surpreende, até quando achamos que temos todas as certezas na mão. A série não abre brechas para “encheções de linguiça” ou outros rodeios na trama; por essas e outras, a obra é um acerto de narrativa e tamanho.
Confira o trailer de Manhãs de Setembro, disponível pelo Amazon Prime Video.