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TMDQA! Entrevista: "Só Alegria", primeiro single do Dibob em 14 anos, é uma viagem nostálgica de dentro para fora

Um "suco de anos 2000", "Só Alegria", o primeiro single do Dibob em 14 anos, ganhou um clipe incrível. Conversamos com a banda a respeito do lançamento.

Dibob
Dedeco, Gesta, Miguel e Faucom. Foto: Divulgação

O que tempos caóticos pedem? Isso mesmo: nostalgia!

Afinal, é sempre bom relembrar e celebrar momentos e histórias. Foi o que fez a icônica banda carioca Dibob em seu novo lançamento. “Só Alegria” é o primeiro single da banda em 14 (sim, quatorze) anos e traz a sonoridade que todo jovem que cresceu nos anos 2000 gosta, influenciada pelo pop punk e pelo hardcore.

A faixa pode ter um nome sugestivo, mas vai além de um mero dilema sobre felicidade. A nova gravação traz à tona a esperança por dias melhores, em que poderemos abraçar nossos amigos e nossa família sem maiores preocupações. Dedeco (voz e guitarra), Gesta (voz e baixo), Miguel (guitarra) e Faucom (bateria) sintetizaram, mesmo que de forma inconsciente, tudo que precisamos ouvir neste momento!

O videoclipe

A canção ganhou um belo videoclipe, com direção do também músico Daniel Ferro. A nostalgia, é claro, está presente em mais elementos do que apenas na música. É um suco de anos 2000, com referências à época servindo de fundo para a performance dos integrantes. A nostalgia ganha ainda mais espaço com as imagens de arquivo que mostram a banda em shows na década de 2000.

Miguel, o único membro não presente de forma física no cenário, optou por não participar do processo por conta de sua condição como grupo de risco da COVID-19. A sua parte da música, por sinal, também foi gravada de forma remota, o que mostra como as potencialidades tecnológicas conseguem nos aproximar.

Conversamos com Faucom, Dedeco e Gesta sobre o lançamento em um papo muito divertido e bem humorado. Os assuntos vão desde o processo de gravação da música em si até uma análise sobre o rock em pleno 2021.

Confira a entrevista na íntegra abaixo!

TMDQA!: Em primeiro lugar, eu queria que vocês avaliassem o que está acontecendo. No mundo todo, parece que o pop punk está voltando à ativa. O que vocês têm a dizer sobre isso?

Gesta: Muita coisa é cíclica e acho que com música não é diferente. Por exemplo, algumas sonoridades da década de 80 voltaram lá pelos anos 2000. Eu acho que é mais ou menos o que está acontecendo agora com as bandas que fizeram sucesso no início da década de 2000, que estão meio que voltando agora. No caso do Dibob, bateu saudade de tocar junto. A gente estava há um tempão sem fazer nada. A gente não tentou surfar nenhuma onda ou qualquer coisa do tipo. Meio que foi a vibe do momento, de forma natural.

Dedeco: Pode ser também porque o mundo está sinistro agora e rolou uma vontade de reviver as coisas da época em que tínhamos menos preocupações. Antes da pandemia, a gente ainda fazia uns shows esporádicos em alguns lugares em um ritmo legal, mas estávamos tocando como uma forma de não deixar a coisa morrer. A gente sempre falava de gravar uma nova música, mas só foi acontecer neste ano.

TMDQA!: Pois é! Lá fora, nomes como Willow, MOD SUN, Olivia Rodrigo e mais estão tentando emplacar novamente esse estilo no cenário pop. Até a Avril Lavigne também tem voltado a fazer colaborações com uma galera, mas precisamos prestar atenção no que essa galera mais jovem tem feito por aí, captando um novo público, mais jovem. O mesmo tem rolado aos poucos no Brasil. É muito interessante acompanhar isso.

Dedeco: Tem também a ideia de o punk rock e o hardcore serem músicas relacionadas ao adolescente, talvez pelo vigor da batida e da energia.

Faucom: É engraçado porque, no mundo todo, especialmente nos Estados Unidos, as bandas que eram referência pra gente continuaram fazendo o trabalho de show e de lançar discos de forma ininterrupta. Aqui, a gente surfou um pouco dessas influências, mas o nosso mercado mudou e passou a dar mais espaço para gêneros como o sertanejo e o funk. Isso enfraqueceu bastante o nosso estilo por aqui, mas lá fora a coisa continuou acontecendo.

Acho interessante que, além disso, está rolando um movimento de uma galera nova também que está trazendo de volta esse movimento, como o Machine Gun Kelly e uma galera produzida pelo Travis Barker que está misturando coisas modernas ao punk rock. De fato, é um movimento de novidade lá fora que está batendo aqui. A gente ter lançado música agora foi apenas uma coincidência, mas foi uma coisa boa.

“A gente está tendo que correr atrás do perdido agora”

TMDQA!: Desde 2007, muita coisa aconteceu não apenas na música, mas na sociedade e no modo como consumimos qualquer tipo de conteúdo. Acredito que “Só Alegria” tenha sido o lançamento mais desafiador para vocês nesse sentido. Como foi esse processo? A quem vocês recorreram? Quais foram as principais diferenças?

Gesta: A gente pegou, na verdade, o movimento da indústria antiga do disco para o MP3. Foi exatamente essa transição. Então, na época, a gente surfou super bem essa onda. Acho que ajudou para caramba a gente a se tornar quem é hoje, por causa da cultura de baixar música. A segunda transição, em que as gravadoras estavam meio perdidas, ajudou no fortalecimento da divulgação através de redes sociais como Facebook, Instagram, Twitter e, mais recentemente, o TikTok.

Acabou que não surfamos muito bem essa segunda onda, tanto que nossas redes sociais ficaram abandonadas. O maior desafio não foi só administrar as redes sociais e fazer o lançamento lá, mas sim o fato de que a gente não construiu uma base muito sólida por lá. Então, a gente está tendo que correr atrás do perdido agora. Estamos tendo que trazer a galera que gostava da gente, encontrar essas pessoas onde quer que estejam e trazê-las para as nossas redes sociais. A gente sabe usar adequadamente, mas talvez a gente esteja aquém do que a gente poderia estar lá.

TMDQA!: E isso vai além da mera interação com os fãs, né? A tática do pré-save, por exemplo, virou muito importante para a indústria.

Dedeco: Tem essa questão de como são feitos os lançamentos hoje em dia. Isso é uma novidade para nós. Para a música sair, você precisa enviar para o Spotify quase um mês antes. Então, fica essa expectativa. A gente está reaprendendo isso.

Gesta: Uma coisa muito legal do momento atual é poder lançar só uma música e não um álbum inteiro. Desse lado, eu gostei muito.

TMDQA!: O EP foi outro formato que se beneficiou com esse novo modelo de produção e distribuição musical, né? Reflete um pouco dessa necessidade industrial de estar sempre produzindo e nutrindo o público com novidades. Assim, o artista lança algumas músicas, mas não precisa da preparação necessária para o lançamento de um disco.

Faucom: Já que todas as produções hoje estão bem independentes, o EP acaba sendo uma forma mais econômica de lançamento. Hoje em dia, mudou tudo. Os artistas conseguem fazer tudo em casa de forma independente, desde produzir até subir a música. Antigamente, a gente subia músicas no DemoClub ou no Napster, que era uma bagunça, com músicas vindo com nome trocado e mais. Hoje em dia, tem gente gravando em casa e ganhando Grammy, tipo a Billie Eilish. O que me incomoda, na verdade, é a validade do lance, sabe? As pessoas estão consumindo muito rápido as coisas. Então, é legal por um lado, mas tudo tem um ladinho chato. Acho que o que vale é apostar na canção.

“A gente nunca tinha tocado a música com bateria”

TMDQA!: O repertório do Dibob é composto por músicas muito animadas, pra cima. “Só Alegria”, como o nome já sugere, não foge a essa regra. Como que a canção surgiu? Quais foram as inspirações?

Gesta: O processo de composição do Dibob é sempre parecido. Inicialmente, eu ou Dedeco chegamos com uma melodia ou com um pedaço de letra. Começamos a trabalhar juntos na letra e chamamos todo mundo para fazer arranjos e ter novas ideias. Com “Só Alegria” não foi diferente. Mas, pela primeira vez, de forma bem diferente, a gente não se encontrou. Para não dizer isso, eu e Dedeco nos vimos algumas vezes. Mandávamos as coisas gravadas por celular para o Miguel pensar em solos e afins. A gente fazia videochamadas. E a gente nunca tinha tocado a música com bateria. No dia antes da gravação, chegamos na casa do Faucom, que fez batuques na mesa para a gente fazer o arranjo das partes e as transições. Eu não tocava baixo desde antes da pandemia e estava enferrujado demais.

TMDQA!: O lançamento foi justamente em uma época em que precisamos ouvir algo positivo. Não estamos em um momento 100% favorável por conta de tudo que tem acontecido no mundo. Isso impactou a forma como vocês produzem música. Aos poucos, as pessoas foram percebendo que isso é uma boa oportunidade. Vocês se veem agora fazendo mais tipos de composições de forma remota, até mesmo no pós-pandemia?

Dedeco: Acho que umas das coisas boas foi que mostrou como isso é possível e que isso não atrapalha o processo, dependendo da vontade da galera. Acho que vai muito da motivação e da intenção da banda. É como um amigo me disse uma vez: “minhoca não tem perna e anda”. Quem quer, dá um jeito, sabe? Hoje em dia, com tantos aparatos tecnológicos. 

“Resgatar as coisas que eram boas”

TMDQA!: Pessoalmente, o que essa música atiçou em vocês? Afinal, são 14 anos sem inéditas da banda. Que tipo de sentimentos foram despertados em vocês?

Dedeco: Para mim, é isso: a relevância do momento. Acho que está todo mundo nessa aflição de acabar logo toda essa confusão. Então, é bom ter uma parada para cima, que eleva o espírito. É assim que eu a sinto. Eu pensava nisso até enquanto gravávamos.

Gesta: Acho que essa música é uma viagem de dentro pra fora. O personagem da música está em uma viagem de pensamento, querendo tipo resgatar as coisas que eram boas. E um pouco disso que estávamos falando, sobre a questão do ciclo, de coisas legais que retornam. Eu acho que tem muito disso. Algumas coisas que foram meio que “sem querer” passaram a fazer mais sentido na letra. No geral, é isso: trazer sentimentos bons. No refrão, a gente fala “Quem é que sabe se é verdade que tudo acaba bem”. Se não deu certo até agora, no final tem que dar certo. Então, se algo está errado, esse ainda não é o final, porque no final tudo se acerta.

Faucom: Fora tudo isso que eles falaram, há um grande desejo de poder estar junto gravando uma música com eles. Quando isso aconteceu, a energia lá estava muito legal. A galera do estúdio estava também amarradona de estar ali com a gente fazendo parte disso. A gente estava tão amarradão e tudo fluiu tão rápido que eu acho que isso acabou sendo impresso na música, sabe? Apesar da letra, do tema, da harmonia e de todo o resto trazer alegria, tem uma coisa espiritual ali, da gente tocando e cantando. A gente até brincou que não tem como mexer naquilo, porque aquele é o próprio retrato da alegria. É algo bem genuíno.

TMDQA!: E é claro que não é só sobre o que vocês estão sentindo. Acho que esse é um sentimento coletivo de qualquer jovem que curtia rock nacional nos anos 2000. O que vocês ouviram de fãs, colegas da cena e afins sobre esse novo trabalho?

Faucom: A gente publicou um react e foi emocionante ver a galera. Fora isso, ouvi vários relatos sobre os sentimentos que isso causou na galera. Está sendo um feedback muito positivo. Está perceptível nas redes também. Mostra que a galera está querendo e que a música bateu.

 

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Dedeco: O que tem rolado também é uma galera nova curtindo a música. Acho que nossa música tem o poder de pegar todas as idades mesmo. Pelo menos é o que eu estou sentindo. Eu tenho um filho de três anos e ele já sabe cantar a música inteira sem que eu precisasse insistir.

Faucom: Minha filha também. Eu tenho até um vídeo aqui, que eu queria que fosse o clipe da música, dela cantando a música inteira, solando.

Dedeco: E não só crianças, mas também pré-adolescentes, aquela galera de 12, 13, 14 anos. Quando a gente tocava, eles eram bebês. É legal ver esse alcance.

Gesta: Eu fico bem feliz de ver tudo isso porque dá a entender que a mensagem foi certeira, tanto na letra quanto no instrumental. Parece que deu match (risos).

Faucom: A gente foi meio que na nossa raiz. Fomos a banda que éramos em 2001 ali. Quisemos fazer o negócio com o coração, sempre tentando nosso melhor, mas entregando algo verdadeiro.

“Fizemos um TikTok”

TMDQA!: Esse lançamento impactou vocês nas redes? 

Dedeco: A gente, durante um tempo, ficou sem se atualizar por lá, né?

Faucom: A gente perdeu a senha do Instagram e tivemos que recuperá-la! Depois, a gente fez outra conta e perdeu também. Eu acho que, na real, a gente, apesar de estar fazendo show, estava em um hiato de produtividade. Não tínhamos como alimentar essas redes. Fomos abandonando por questões dessa natureza.

Gesta: A gente viu que, pelo fato de a galera estar repostando, começou a cair uma cacetada de gente no nosso perfil. Nossas redes têm crescido bem. Às vezes as pessoas olham e pensam: “Caramba, o Dibob existe ainda? Vou lá seguir eles” (risos).

TMDQA!: Vocês têm TikTok? Existe algum interesse da banda em entrar nesse novo mundo?

Faucom: Fizemos um TikTok para divulgar nossas coisas, mas estamos meio “tiozões” para fazer dancinhas já. Apesar de eu quebrar no dance (risos), acho que não vamos fazer isso, não.

Gesta: Quando precisamos fazer vídeo para o Instagram, a gente briga para saber quem não vai fazer (risos). Se for para dançar no TikTok então…

Faucom: Mas, por exemplo, estamos vendo o John Mayer fazer coisas interessantes lá, que não são dancinhas. Usar essa ferramenta de uma maneira criativa pode ser interessante. O TikTok é um mundo interessante para a gente ver como o mundo é bizarro. Uma hora a gente explode lá.

“A experiência foi tão legal que a gente quer repetir”

TMDQA!: Quais são os próximos passos da banda? Mais singles? Um EP? Seria um sonho muito distante sonhar com um novo disco do Dibob?

Dedeco: A gente está na fase de decidir o próximo passo. Estamos esperando mais um pouco para traçar a nossa estratégia. Existem muitas possibilidades.

Gesta: A experiência foi tão legal que a gente quer repetir. Pelo menos mais uma vez, nesse ano, deve rolar. Mas precisamos decidir se vai ser single ou algum projeto maior.

TMDQA!: Que dica vocês dariam para as bandas de rock que querem jogar seu som pro mundo?

Faucom: Eu falei muito a palavra “verdade” nesse papo. Meu conselho é que você faça algo do seu coração, sem forçar a barra. Se for para fazer rock, faça porque você gosta e não pensando em chegar em algum lugar. É aquele provérbio chinês: o importante não é o destino mas sim o caminho. Tem que fazer amarradão. Se não for assim, nem faça.

Gesta: Antes, as pessoas eram muito reféns da programação da rádio e da televisão. Hoje, é tudo descentralizado. Você pode escutar rock sempre que quiser. Uma coisa muito bacana, apesar de o rock não estar em “alta”, é que ele causa sensações que outros gêneros talvez não causem. Então, sempre existe espaço.

Dedeco: É isso: seguir com o coração e acreditar em si mesmo. Você precisa se preocupar com o seu futuro, mas precisa se preocupar muito mais com o seu presente.

Rascunho original da letra de "Só Alegria", do Dibob
Foto: Reprodução / Instagram