Drik Barbosa usa a "arte como ferramenta de respiro" em ótimo novo single com Péricles; ouça "Calma, respira"

Em seu novo single "Calma, respira", Drik Barbosa se une a Péricles e se aventura pelo Pagode de forma majestosa. Ouça e confira entrevista com a artista!

Drik Barbosa e Péricles em "Calma, respira"
Foto por Lana Pinho

Quem já ouviu falar no nome de Drik Barbosa certamente conhece a artista por sua associação com o Rap. Não à toa, Drik é um dos nomes mais respeitados do cenário nacional do gênero nos últimos anos, mas vem mostrando cada vez mais que — ainda que não abandone as origens de jeito nenhum — tem muitas outras cartas na manga.

Isso vem ficando bem claro no projeto NÓS, uma iniciativa multiplataforma que vem sendo produzida por ela ao lado da LAB Fantasma desde Novembro de 2020. O mais novo capítulo dessa história é a canção “Calma, respira”, que vê a cantora explorar a influência e o poder do Pagode e se juntar com o incrível Péricles.

O objetivo da canção é bem claro: em meio ao caos, é necessário encontrar um momento de respiro, de calma. E, em entrevista exclusiva ao TMDQA!, Drik nos conta justamente como o Pagode cumpriu essa função e a importância da colaboração com Péricles para o resultado esperado:

O pagode é sim pra mim esse lugar de respiro também, assim como outros gêneros que fazem parte de mim, da minha identidade, de memórias felizes e marcantes que eu tenho da minha vida. Então, pra mim, é muito especial poder trazer o pagode no Projeto Nós e reverenciar esse gênero, os artistas do gênero que cantam tanto sobre amor, afeto e autoestima, e como isso tem me tocado ao longo dos anos. É muito gratificante poder produzir um pagode, de certa forma, como uma homenagem, ao lado do Péricles, que é um ídolo nosso, não só meu. Então está sendo extremamente especial poder trazer essa sonoridade, temática e mensagem tão necessária.

Para quem não vem acompanhando o projeto Nós, a investida da artista em um gênero tão diferente pode surpreender. No entanto, as parcerias anteriores com Rashid em “Sobre Nós” e Psirico em “Seu Abraço” já haviam mostrado que essa nova fase viria cheia de exploração. Ela relembrou essa trajetória até o momento, passeando por tantos gêneros e novidades:

Está sendo muito especial e, de certa forma, uma celebração também ter a participação desses artistas, trazendo a energia, a mensagem de cada um dentro dos seus gêneros. Tem o Rashid que é uma inspiração gigantesca pra mim dentro do Rap, tem o Péricles no pagode, o Psirico no axé, na swingueira que amo tanto. Então, pra mim, é uma forma de  celebração da nossa cultura, das nossas mensagens, das nossas lutas. Eu escolhi com muito carinho essas pessoas para cantar sobre isso comigo porque elas realmente me inspiram a continuar lutando, a continuar criando e celebrando vida. O Péricles nesse momento, nesse pagode, pra mim é uma forma muito bonita de agradecê-lo, pessoalmente, por toda sua contribuição na arte e na cultura brasileira, e de tantos outros artistas, e também por poder me aventurar nesse pagode. É uma vontade que eu tenho há muito tempo de poder cantar um pagode; eu me lembro lá na escola, no colegial, de fazer pagode ali no intervalo com amigos que levavam instrumentos. Então é muito especial pra mim, muito simbólico, eu to super feliz com essas colaborações. É parte de mim, artisticamente, poder colaborar e fazer conexões, faz parte do meu propósito.

Drik Barbosa e o Projeto Nós

Quando Drik celebrar a “nossa cultura” e as “nossas lutas”, ela naturalmente fala também sobre a mensagem de empatia e resistência que é tão necessária atualmente, em especial quando falamos na população negra, cujo “sentimento de solidão é muito forte”.

Ela explica que isso está “diretamente ligado ao genocídio e extermínio que nós e as populações indígenas enfrentamos no Brasil desde a colonização”, e a faixa vem justamente para “reafirmar que somos maiores, que vamos resistir e que não estamos e nunca estivemos sozinhos”.

Além de exaltar o Samba, o Pagode e o Rap como ferramentas que trouxeram “entendimento, auto-estima, força, esperança e reconhecimento da negritude”, a artista também explica como vem sendo a experiência de soltar mais a voz, substituindo um pouco mais as rimas pelo canto, e como tem sido a recepção do público para isso:

No Projeto Nós eu venho cantando mais do que rimando, mas acredito que não seja uma novidade pro público que já me acompanha, porque desde as participações que eu fazia antes mesmo do EP ‘Espelho’ eu já cantava muito, cantava muitos refrães por aí, colaborando com outros artistas.

E aí eu trouxe mais ainda o rap a partir de outros projetos como o EP ‘Espelho’, o disco ‘Drik Barbosa’… é muito legal poder me sentir livre pra cantar ou rimar, escolher quando eu quero fazer isso, e dentro do Projeto Nós eu quis mesmo, intencionalmente, mostrar mais esse lado cantora mas sem deixar minha identidade que tem o rap muito presente. Então, em ‘Calma, respira’ tem um verso com flow de rap porque eu gosto muito de trazer isso, porque eu sou essa mistura.

Eu não tive nenhuma insegurança quanto a fazer isso porque eu sei que as pessoas já compreendem que eu sou essa mistura boa das duas coisas, do canto e da rima, mas lógico que teve todo um preparo pra deixar ainda mais bonita a minha interpretação nessas faixas, entregar da forma que eu quero que as pessoas recebam. E eu tô extremamente feliz com o resultado, continuo trabalhando nisso, evoluindo e aprendendo, entendendo meu canto, entendendo as ferramentas de interpretação que eu posso usar. Então, tá sendo delicioso viver essa experiência criando, ir aprendendo e fazendo.

Além da música, claro, o clipe também é uma parte fundamental do trabalho em “Calma, respira”. É com o estímulo audiovisual que a cantora busca ilustrar a ideia da canção como um momento de cura, de resgate aos antepassados, e ela explica que é “fundamental que a gente consiga alimentar esperança nesse momento, porque a gente precisa conseguir visualizar conscientemente que é possível sair desse caos, é possível lutar para mudar tudo o que tá acontecendo e conseguir combater as violências que nós sofremos, como população negra, nesse país”.

Drik urge para a necessidade de que essa população tenha seus “direitos atendidos” e consiga “se movimentar no mundo de forma livre” — só assim e com as questões “extremamente urgentes políticas e sociais”, segundo ela, será possível “viver plenamente a nossa humanidade”.

Ela complementa:

É um presente, uma herança dos nossos antepassados, a arte como essa ferramenta de respiro e de alimento dessa consciência que a gente vai conseguir transformar tudo isso, que é o que vem movimentando a gente de geração em geração, mesmo no meio dessa estrutura que continua nos oprimindo tanto. Então, é o que eu quero deixar com a minha arte também. Que a minha arte seja um espaço de cura e fortalecimento para gerações que vão vir. Essa é a contribuição que eu quero deixar, que também é um agradecimento aos meus antepassados que deixaram essa ferramentas pra nós. É muito necessário que a gente consiga respirar pra ter energia pra luta.

O futuro certamente reserva ainda mais surpresas boas no Projeto Nós e na carreira já fantástica de Drik, mas ela (infelizmente!) não pode dar muito mais spoilers. A cantora brinca que o próximo e último single terá a “participação de mais uma pessoa (ou mais de uma pessoa [risos])” que tem sua admiração e do público. Apesar da compreensível ausência de detalhes, ela garante:

Vai ser mais um espaço dentro do Projeto Nós pra falar sobre esperança, resistência, autocuidado, saúde mental, que é tão importante que a gente dê atenção pra conseguir continuar vivendo, conseguir continuar pulsando vida. […] E ainda terá um podcast muito massa e logo que eu puder eu também dou mais spoiler, mas eu estou super empolgada pra gravar e mostrar pra vocês.

Enquanto você espera, já sabe: “calma, respira”! Você pode assistir ao clipe da nova e ótima faixa logo abaixo.

Drik Barbosa e Péricles – “Calma, respira”

Ficha técnica

Artistas: Drik Barbosa e Péricles
Composição: Drik Barbosa, Fióti e Kelly Souza
Produção musical: Damien Seth e Fejuca
Arranjo: Fejuca
Violão, baixo, cavaquinho e banjo: Fejuca
Percussão: Dennys Silva
Bateria: Jacques Monastier
Teclado: Renato Xexéu
Samples: Damien Seth
Mixagem: Damien Seth
Masterização: Maurício Gargel
Gravadora: Laboratório Fantasma
Direção artística: Evandro Fióti
Produção executiva: Raissa Fumagalli
Assistente de produção executiva: Laura Freitas
Voz Drik Barbosa e Péricles gravadas por Tofu Valsechi em Lab Estúdio, São Paulo