Em grande estilo, Caetano Veloso está de volta.
O lendário músico brasileiro acaba de lançar a inédita “Anjos Tronchos”, seu primeiro single na nova gravadora Sony Music e também primeira prévia de seu próximo disco, sucessor de Abraçaço (2012), previsto para chegar nos próximos meses.
Ao falar sobre a inspiração para a faixa, que reflete bastante sobre a tecnologia, a internet e os tempos atuais, inclusive citando Billie Eilish e afirmando que sua história é “um algoritmo”:
É uma canção que pensei que não ia poder fazer por inteiro, por causa do meu desconhecimento da matéria, do assunto. Eu prometi a mim mesmo que se eu quisesse fazer uma coisa dessas, precisaria saber muito mais. Para saber mais, eu precisaria usar mais a internet, saber mais o que acontece nas redes sociais.
Embora eu não conheça muito a questão da tecnologia e das suas consequências, eu fiz uma canção que parece mexer em questões muito maiores do que seu autor é capaz de dominar. Tem muitas canções que tiveram resultados políticos, na formação da cabeça de gerações, de áreas da sociedade, e que não foram feitas por uma pessoa que conhecesse teoricamente a complexidade daquele assunto. Eu terminei pensando: ‘Deu para fazer uma canção que pode ser como uma dessas’.
Você pode ouvir a canção logo abaixo pela playlist do TMDQA! e, a partir desta sexta-feira (17) às 20h, assista ao clipe será disponibilizado com direção de Fernando Young e Del.
Caetano Veloso – “Anjos Tronchos”
Letra
(Caetano Veloso)
Uns anjos tronchos do Vale do Silício
Desses que vivem no escuro em plena luz
Disseram: vai ser virtuoso no vício
Das telas dos azuis mais do que azuis.
Agora a minha história é um denso algoritmo
Que vende venda a vendedores reais
Neurônios meus ganharam novo outro ritmo
E mais e mais e mais e mais e mais.
Primavera Árabe – e logo o horror.
Querer que o mundo acabe-se: Sombras do amor.
Palhaços líderes brotaram macabros
No império e nos seus vastos quintais
Ao que revêm impérios já milenares
Munidos de controles totais.
Anjos já mi ou bi ou trilionários
Comandam só seus mi, bi, trilhões
E nós, quando não somos otários,
Ouvimos Shoenberg, Webern, Cage, canções…
Ah, morena bela
Estás aqui
Sem pele, tela a tela:
Estamos aí.
Um post vil poderá matar
Que é que pode ser salvação?
Que nuvem, se nem espaço há
Nem tempo, nem sim nem não. Sim: nem não.
Mas há poemas como jamais
Ou como algum poeta sonhou
Nos tempos em que havia tempos atrás
E eu vou, por que não? Eu vou, por que não? Eu vou.
Uns anjos tronchos do Vale do Silício
Tocaram fundo o minimíssimo grão
E enquanto nós nos perguntamos do início
Miss Eilish faz tudo o quarto com o irmão.
FICHA TÉCNICA
Voz: Caetano Veloso
Guitarra: Pedro Sá
Baixo: Pedro Sá
Sintetizador: Lucas Nunes
Zabumba: Pretinho Da Serrinha
Triângulo: Pretinho Da Serrinha
Técnico de Gravação: Lucas Nunes
Mixagem: Daniel Carvalho e Lucas Nunes
Masterização: Alexandre Rabaço
Produção Musical: Caetano Veloso e Lucas Nunes